27.1.15

"Que vida é esta?": Bloggers de moda experimentam a vida de um trabalhador no Camboja

por Patrícia Jesus, in Diário de Notícias

O jornal norueguês levou três bloggers de moda até Phnom Penh, capital do Camboja, onde durante um mês trabalharam numa fábrica.

"O que acontece quando se leva três adolescentes noruegueses a conhecer os trabalhadores que fazem as nossas roupas?" A pergunta é o mote para uma reportagem e experiência de um jornal noruguês. O Aftenposten levou três bloggers de moda até Phnom Penh, no Camboja, onde durante um mês viveram as vidas de outros, os trabalhadores das fábricas de têxteis. A experiência foi documentada na série "Fábricas de roupa: moda que mata" e acabou em lágrimas.

"Não aguento mais. Que tipo de vida é esta?" pergunta Anniken, em frente à câmara que a seguiu a ela e a Frida e Ludvig, três jovens de 17 anos, numa viagem pelas vidas dos trabalhadores das fábricas têxteis - embora poucas tenham aberto as portas à equipa.

Ao longo da série, os baixos salários dos trabalhadores, que nunca lhes permitirão comprar as peças que costuram e não chegam sequer para a comida, a rotina, e as más condições de trabalho e de vida chocam os jovens, que rapidamente se apercebem que vivem num "bolha", mas demoram até parecer realmente afetados.

"Os jovens da Noruega gastam uma quantidade enorme de dinheiro em roupas, mas não fazem ideia onde elas realmente são produzidas", diz o realizador norueguês Joakim Kleven, responsável pelo projeto, citado pelo Globo. Foi isso que quiseram mostrar aos três bloggers, mas também a todos os outros, explica. E também Kleven acabou por chorar atrás da câmara. "Não foi nada fácil. Penso nisso até hoje."

Para Annike, autora de um dos blogs de moda mais lidos do país, a viagem mudou a sua perspetiva sobre a moda e sobre a vida. "Talvez agora, de uma vez por todas, se possa acabar com isto", escreveu no blog.

Depois do lançamento do projeto, a H&M emitiu um comunicado em que garantia que as fábricas retratadas não são usadas pela cadeia e recordou que a empresa está envolvida no programa da Organização Internacional do Trabalho para melhorar as condições de trabalho no país.

Esta não é a primeira vez que as grandes cadeias de roupa ficam debaixo de fogo pelas más condições em países como o Camboja ou o Bangladesh. O colapso de uma fábrica que produzia roupa para marcas como a Primark e a Benetton, em abril de 2013, e que causou a morte a mais de 1100 pessoas, foi talvez o momento que gerou mais atenção para as práticas empresariais nestes países.

A série do Aftenposten está disponível em cinco episódios de dez minutos, disponíveis com legendas em inglês e espanhol, no site do jornal.