17.5.16

Fosso entre 'ricos e pobres' agrava-se e rendimento das famílias recua 10 anos - INE

In "Dinheiro Digital"

O fosso entre as famílias portuguesas com maiores rendimentos e as de mais baixos recursos aumentou entre 2004 e 2014, sendo que a quebra do rendimento médio da população em geral atingiu 16,5% entre 2010 e 2013, revela informação do Instituto Nacional de Estatística (INE).

- Crise global e 'troika'
Embora evidenciando um crescimento face a 2013, o rendimento dos portugueses situava-se em 2014 praticamente ao nível dos valores de 10 anos antes, uma realidade que refletiu o impacto da crise financeira global e as restrições impostas pelo resgate internacional da troika (FMI; BCE e CE) a Portugal.

De acordo com os resultados definitivos do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (EU-SILC), publicados hoje pelo INE, o rendimento monetário disponível médio por agregado familiar foi de 17 017 euros anuais em 2014, ou seja, 1 418 euros por mês.

Dez anos antes, refere o documento, o rendimento monetário disponível médio por agregado familiar era de 16 999 euros, «o que equivale a situar o nível de rendimento de 2014 no patamar de 2004». Depois de um período de crescimento contínuo deste rendimento até 2009 (10,2% em 2009 face a 2004), sucederam-se quebras no rendimento nos anos de 2010 a 2013 (-9,6% em 2013 quando comparado com 2009), situa o relatório sobre as condições de vida dos portugueses.

No entanto, em 2014, o rendimento monetário disponível médio por agregado familiar registou um aumento face ao ano anterior, de 82 euros por agregado familiar, precisa o INE.
Ao contrário, «a quebra do rendimento médio em 2010- 2013 em termos reais (-16,5%) resulta bastante mais significativa por comparação com os valores nominais».

- Mais emprego e mais educação «significam mais rendimento»

De acordo com o destaque que sumariza o relatóiro «Rendimento e Condições de Vida» de 2015, publicado nesta sexta-feira, «Emprego e mais educação significam mais rendimento». No conjunto dos 20% da população com rendimentos mais elevados em 2014 (rendimentos disponíveis superiores a 1 110 euros mensais), 57,5% tinha completado o ensino superior e 26,2% tinha emprego.

Mais de 50% da população que tinha terminado o ensino secundário posicionava-se nas duas classes de rendimento mais elevadas.

«Em contraste, quase metade da população que apenas tinha completado o ensino básico e mais de 60% da população desempregada vivia em 2014 com um rendimento equivalente inferior a cerca de 610 euros mensais».
- Assimetrias «muito significativas» na distribuição dos rendimentos

O limiar de pobreza, ou linha de pobreza relativa, que corresponde a 60% da mediana da distribuição rendimento monetário disponível mediano por adulto equivalente, foi de 5 061 euros em 2014, ou seja, cerca de 422 euros por mês. Nesse ano, 19,5% da população residente estava em risco de pobreza, mantendo-se o valor estimado para 2013.

Em 2014, assinala o relatório, «reduziu-se a assimetria na distribuição dos rendimentos entre os grupos da população com maiores e menores recursos, observando-se a redução dos indicadores de desigualdade face ao ano anterior». No entanto, «manteve-se uma assimetria muito significativa relativamente aos 10% da população com maiores recursos em comparação com as restantes classes de rendimento», segundo a mesma fonte.
Em 2014, o rendimento monetário disponível por adulto equivalente dos 10% da população com maiores recursos (em média, 26 127 euros anuais) e o rendimento dos 10% da população com mais baixos recursos (em média, 2 469 euros no ano), foi de 10,6.

A análise dos rendimentos médios equivalentes por classes de rendimento entre 2004 e 2014 «evidencia não só esta desigualdade entre extremos da distribuição, mas também a permanente assimetria do rendimento da população com maiores recursos relativamente às restantes classes».

Por exemplo, refere o INE, «em 2014 o rendimento do 9º decil era 6,1 vezes maior do que o rendimento do 1º decil, significativamente inferior à distância entre o 1º e o 10º decis (10,6)».