In "Observador"
Embora tenha recolhido menos alimentos, o Banco Alimentar Contra a Fome chegou a mais 100.800 pessoas entre 2011 e 2015. A quantidade de alimentos recolhidos diminuiu em 24%.
Nos últimos quatro anos o Banco Alimentar Contra a Fome recolheu menos alimentos, mas chegou a mais pessoas, segundo dados da instituição, que apontam um crescimento de 24% nos apoios concedidos a carenciados entre 2011 e 2015.
Neste período foram apoiadas mais 100.800 pessoas e 664 instituições, adiantam os dados da Federação Portuguesa de bancos Alimentares Contra a Fome, divulgados na véspera de se iniciar mais uma campanha de recolha de alimentos.
Em 2011, os bancos alimentares ajudaram 1.936 instituições, número que cresceu para 2.600 em 2015. Já em termos de pessoas apoiadas verificou-se um aumento de 319.200 para 420.000, das quais um terço são crianças e outro terço, idosos.
Ao mesmo tempo, diminuíram as quantidades de alimentos recolhidos, passando de 30.269, em 2011, para 27.726, em 2015, uma diminuição de 24%.
Em declarações à agência Lusa, a presidente da federação, Isabel Jonet, explicou que este aumento se deveu “a um acréscimo muito substancial da procura”, em 2011 e 2012, por parte das pessoas e das instituições devido aos “efeitos da crise”, mas também à abertura de mais dois bancos alimentares (21) e à notoriedade da instituição.
Relativamente à redução dos alimentos recolhidos no último ano, Isabel Jonet explicou que se deve, sobretudo, ao facto do Programa Comunitário de Apoio Alimentar a Carenciados ter deixado de ser distribuído através dos bancos alimentares e ter passado para as autarquias
“Nós continuamos a apoiar o mesmo número de instituições, ou um pouco mais, e as instituições apoiam mais pessoas, aquilo que se verifica é que distribuem menos quantidade que vem dos bancos alimentares”, explicou.
Sobre a participação dos portugueses na tradicional campanha de recolha de alimentos, Isabel Jonet disse que, “mesmo em tempo de crise, os portugueses não deixaram de contribuir para o Banco Alimentar”.
“Diversificaram a modalidade de campanha, em alguns casos reduziram a doação, mas nunca deixaram de o fazer”, adiantou, sublinhando que continuam a ser produzidos um milhão de sacos por campanha.
“Aquilo que vemos é que os sacos estão menos cheios. As pessoas continuam a dar, mas dão menos quantidade porque têm menos disponibilidade”, frisou.
Contudo, destacou a responsável, no último ano, foi possível distribuir “uma grande quantidade de fruta fresca” em resultado do embargo da Rússia às exportações da União Europeia.
“Foi possível aumentar o número de instituições e o número de pessoas que receberam produtos frescos e isto é importante”, porque “a fruta fresca e os legumes são fundamentais para a alimentação saudável e são os produtos que as pessoas carenciadas cortam de imediato”.
Neste momento, os pedidos de apoio estabilizaram, mas o número de apoios concedidos mantém-se, o que Isabel Jonet atribui ao facto de não haver mais emprego.
“A pressão dos créditos ao consumo sob as famílias não aumentou que era um dos grandes fatores críticos das famílias portuguesas, mas não vemos que haja mais emprego e isso fez com que não reduzissem os pedidos de ajuda”, sustentou.
Este ano, o Banco Alimentar de Lisboa celebra 25 anos, um tempo que Isabel Jonet considera importante para Portugal e para analisar o que “foi possível concretizar” em termos de apoio social e voluntariado.
“O Banco Alimentar não é mais do que uma das muitas instituições que existem, tem é uma missão diferente”, levar alimentos às instituições com o apoio de voluntários.
Para a responsável, este trabalho ajudou “a mudar o voluntariado” e “o perfil dos voluntários em Portugal”.
Alem disso, “foi possível assistir-se à estruturação de uma rede de solidariedade em Portugal como existem poucas na Europa” e que “permitiu não haver tantas consequências da crise”.
“Hoje em dia é mais fácil ajudar as pessoas carenciadas até porque elas próprias pedem ajuda, há mais resposta de proximidade”, rematou.