Eduardo Santos, in "Fátima Missionária"
«A luta contra a pobreza não é só um problema económico, mas antes de tudo moral», afirmou o Papa. Portugal continua a contar com quase meio milhão de pessoas que se mantêm em risco de pobreza, apesar de trabalharem
A pobreza continua a ser um flagelo, não só em Portugal, mas de ordem global, o que leva Francisco a ter uma sensibilidade especial pelos mais desfavorecidos. O Papa recebeu no final da manhã de sexta-feira passada cerca de 300 participantes na Conferência internacional da Fundação «Centesimus Annus – pro Pontifice». O encontro debruçou-se sobre «A iniciativa empresarial na luta contra a pobreza. Emergência refugiados, o nosso desafio».
O Pontífice denunciou as consequências da falta de trabalho para as famílias e sobretudo para os jovens. «As taxas de desemprego juvenil, afirmou, são um escândalo que não só requer que seja enfrentado primeiramente em termos económicos, mas deve ser tratado também, e não menos urgentemente, como uma doença social, dado que à nossa juventude é roubada a esperança e são desperdiçados os seus grandes recursos de energia, criatividade e intuição».
Francisco dedicou ainda uma palavra ao problema dos refugiados, um dos temas que o marca, dizendo: «A crise dos refugiados, cujas proporções estão a aumentar dia a dia, é uma daquelas à qual me sinto bastante próximo. Na minha visita à Ilha de Lesbos fui testemunha das tristes experiências de sofrimento humano, sobretudo das famílias e das crianças. Por isso, a comunidade internacional é convidada a dar respostas políticas, sociais e económicas a tais dramas que ultrapassam os confins nacionais e continentais».
Francisco expressou a sua esperança de que esta Conferência internacional possa contribuir para gerar novos modelos de progresso económico orientados para o bem comum, inclusão e desenvolvimento integral, incremento do trabalho e investimento nos recursos humanos. A sua vocação é servir a dignidade humana, a construção de um mundo mais solidário e a civilização do amor, que abraça a justiça e a paz.
A atividade económica deve estar ao serviço da pessoa humana e do bem comum e isso é uma verdade incontestável, mas que infelizmente alguns economistas menosprezam, e os políticos não materializam. No caso português, e de acordo com as estatísticas do Instituto Nacional de Estatística (INE) referentes a Março passado, havia 640.200 pessoas desempregadas, números oficiais que não abrangem a totalidade daqueles que não têm trabalho. De referir que houve perda de emprego em todos os sectores de actividade. A acrescentar a isso, verificamos que o número de população activa também baixou, sendo nessa data de 5.153.400.
Se juntarmos a estes factores a queda nas exportações (2 % em relação ao ano passado) constata-se um quadro confrangedor no presente, mas com forte tendência de piorar no futuro próximo. Como as importações aumentaram, devido à alta do consumo e de bens duradouros (veja-se o caso dos automóveis), a economia acusa novamente um agravamento do défice comercial, o que torna o arranque deste ano mais lento e incerto.
A que se deverá este quadro económico pouco abonatório para o país? De acordo com o investigador Carlos Farinha Rodrigues grande parte do problema advém do «ajustamento económico quase trágico» que ocorreu com o período do resgate. O professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) diz que os mais pobres foram de longe os que mais sofreram entre 2009 e 2013, «O rendimento dos 10% mais ricos desceu 8%. Quando analisámos a quebra do rendimento dos 10% mais pobres verificámos que desceu 24%» no período entre 2009 e 2013. Analisados os números disponíveis, Carlos Farinha Rodrigues conclui que a taxa de pobreza em Portugal se agravou muito. «O balanço social deste processo de ajustamento é, quase que poderíamos dizer, trágico. Regredimos em termos de indicadores de pobreza e exclusão social praticamente para o início do século».
A necessidade do apoio ao crescimento é notório e indispensável, é preciso políticas correctas de molde a permitir a criação de riqueza, pois só dessa forma é possível criar mais emprego, que faz falta como o pão para a boca de qualquer um. E isso são os privados que o conseguem. Ao Estado é preciso lembrar que não deve gastar para além dos limites razoáveis e tal não está a acontecer.
As medidas tomadas nos últimos meses pelo actual Governo vão, na sua maior parte, no sentido de criar mais despesa, isto mesmo com a economia em baixo. A pergunta é simples: estando o país endividado e cada vez mais pobre, quem paga? Claro que serão novamente os contribuintes, apesar de a carga fiscal já estar nos 34,5% do PIB, uma percentagem esmagadora e quase insuportável. O risco de pobreza ou de exclusão já afecta acima de 2,8 milhões. Como é possível? Por este andamento estaremos «obrigados» a ter um país cada vez mais empobrecido. Será necessário lembrar aos governantes que têm um papel importante na recuperação deste país?