Catarina Reis, in Mensagem de Lisboa
Esta comunidade envolta desde sempre em preconceitos, colocados à margem e perseguidos desde os tempos em que havia reis em Portugal, tem ganhado em Rogério Roque Amaro a figura de uma espécie de guardião. Economista de formação e dinamizador comunitário, tem dedicado a vida a estudar e ajudar a comunidade cigana em Portugal. Apanhamos a boleia dele, a horas de se celebrar o Dia Internacional das Pessoas Ciganas, no passado 8 de abril.
Naquele dia, Rogério Roque Amaro, economista de formação e dinamizador comunitário, saiu de casa com uma missão: saber como andava um casal de ciganos a adormecer no próprio carro há meses, no bairro das Galinheiras. Joaquim e Madalena ficaram sem alternativa de habitação, depois de terem visto a casa assaltada e destruída por uns vizinhos. Um cinzento que veio tornar ainda mais negra a depressão crónica com que Joaquim vive há anos.
A horas de se celebrar o Dia Internacional das Pessoas Ciganas (no passado 8 de abril), seguimos à boleia de Roque Amaro, com uma vida dedicada ao trabalho de inclusão da comunidade cigana na sociedade portuguesa. Ele que conhece todas as estatísticas sobre esta mesma comunidade. Mas não é a contabilização que o preocupa: há anos que estuda como ser cigano em Portugal é sinónimo de viver sob grandes preconceitos que desaguam na pobreza.
Haverá cerca de 50 mil pessoas ciganas em Portugal e 37% ainda vive em bairros de lata ou acampamentos. É o que nos diz um estudo divulgado em 2021 pelo Comité Europeu de Direitos Sociais. Os dados e estudos, no entanto, são ainda insuficientes para estimativas demográficas rigorosas – sobretudo perante a exclusão da etnia dos questionários e censos.
Soraia Corneta, 28 anos, vive a metros do carro que serve hoje de quarto a Joaquim e Madalena, e conta uma história diferente: é hoje um exemplo de emancipação feminina na comunidade, terá sido a primeira da família a ir além do 5.º ano de escolaridade e até a graduar-se. Trabalha num cabeleireiro solidário e frequenta a pós-graduação em Desenvolvimento Local do ISCTE. Emancipou-se sem nunca descolar das tradições da família, das quais tanto se orgulha.
Está habituada a ouvir falar da comunidade em que cresceu como um povo à margem e indesejado em qualquer lugar. Até que, a 1 de dezembro de 2022, pela primeira vez, a celebração da Restauração da Independência contemplou o nome de dezenas de ciganos que lutaram pelo país – eles, uma comunidade envolta desde sempre em preconceitos, colocados à margem e perseguidos desde os tempos em que havia reis em Portugal.
Produção: Catarina Reis (Mensagem de Lisboa) e Isabel Leonor (RDP África)
Voz e edição: Catarina Reis