in Jornal de Notícias
O secretário-geral do PS, José Sócrates, manifestou, quinta-feira, discordância com as posições assumidas pela chanceler alemã, Angela Merkel, sobre a idade da reforma e defendeu que a esperança de vida já conta para o cálculo das pensões.
"Não concordo. Não sei se foi isso exactamente que a chanceler disse, mas não concordo", afirmou José Sócrates numa conferência promovida pelo Diário Económico, num hotel de Lisboa.
Respondendo a uma questão colocada pelo director daquele jornal, Sócrates não se referiu à diminuição dos dias de férias que também foi referida por Angela Merkel, mas ao aumento da idade da reforma, que a chanceler alemã defendeu em relação a países como Portugal num comício do seu partido, na Alemanha.
"Ao nível das questões de segurança social, a Europa deve caminhar para a uniformização dessas regras, mas em Portugal não temos nenhum problema com isso, se olhar para o memorando de entendimento da troika não encontrará lá nada que diga respeito à segurança social", afirmou o secretário-geral do PS.
Essa ausência deve-se, argumentou, ao facto de o Governo ter feito a reforma da segurança social "em bom tempo, em 2007, que garante que a esperança de vida já conta e já pesa no cálculo da pensão".
"Nós estamos com um sistema de segurança social ao nível dos melhores da Europa", declarou, considerando que em 2007 o Executivo liderado por si tirou "a segurança social da situação de alto risco".
Na conferência em que o secretário-geral socialista iniciou defendendo que "este é o momento para governações prudentes", "que se orientem não na ideologia a todo o custo, mas por um princípio realista", José Sócrates irritou-se com uma questão colocada por um empresário, que recebeu palmas da plateia.
O empresário disse que Sócrates "fez um discurso muitíssimo bem conseguido, é profundo conhecedor dos problemas", mas disse ter "um problema essencial" com o primeiro-ministro demissionário: "Os seus actos não reflectem as suas palavras", afirmou, sendo interrompido por aplausos.
Argumentando que " nos últimos seis anos o país perdeu sistematicamente competitividade", o empresário perguntou pelo que "vai mudar para fortalecer a competitividade" caso Sócrates seja eleito.
O líder socialista acusou o empresário de ter feito "uma afirmação para ter palmas no auditório".
"Não gostei do que disse, e não gostei por uma razão muito simples: Eu faço o meu melhor para que as minhas palavras correspondam exactamente aos meus actos. Desculpe, eu não lhe reconheço nenhuma autoridade moral para dizer que as suas palavras correspondem melhor aos seus actos do que as minhas", respondeu.
"Os políticos podem sempre ter objectivos que não são cumpridos, mas o que me espanta é que o senhor não seja capaz de reconhecer, com honestidade, que entre 2005 e 2007, antes da crise que todo o mundo viveu, que a nossa economia estava a crescer. 2007 foi o ano em que a economia mais cresceu durante esta década", afirmou ainda José Sócrates na sua resposta.