por Paula Cordeiro, in Diário de Notícias
Afonso Diz, presidente do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB), antevê convulsões na banca. Vai haver despedimentos e aponta as instituições com mais problemas. Mas o SNQTB quer criar emprego e avança com uma entidade mutualista e uma caixa económica.
Alguns bancos falam em fecho de balcões e em funcionários a mais que serão absorvidos. Acredita na absorção desses efectivos?
Penso que sobrará muito trabalho para os nossos juristas.
Mas ainda não há dados que indiquem despedimentos?
Não. Neste momento, os únicos casos concretos que temos, para além do BPP, são os dos colegas do BPN, que foram obrigados a entregar as viaturas. Temos dezenas de casos. Ainda não estão desempregados, são bancários do sector empresarial do Estado.
Há também muitos contratados a prazo que acabaram o contrato e estão no desemprego...
Também nos preocupa, como calcula. O acordo colectivo de trabalho não permite despedimentos na banca. Permite reformas antecipadas, rescisões amigáveis e obviamente a não renovação de contratos a prazo. Só há despedimentos se as partes não chegam a acordo e daí o papel dos sindicatos.
Ainda não chegámos aí...
Mas lá chegaremos. Vai acontecer, porque uns irredutíveis gauleses não vão aceitar as condições oferecidas. É o que acontece com o BPN, com vários quadros que foram para tribunal pedindo chorudíssimas indemnizações, porque o direito laboral à atribuição de tarefas não se verifica. As pessoas não têm funções, apenas recebem o ordenado. Há dezenas muito largas nestas circunstâncias, nomeadamente directores e administradores.
No BPP, quantos são os desempregados do vosso sindicato?
Já são 80. E no Santander também haverá casos. Mas existe um outro banco onde prevejo problemas que é o Montepio, face à aquisição do Finibanco. O que vão fazer às pessoas a mais?
Garantiram que não haverá despedimentos...
E acredita que os banqueiros são pessoas de bem? Nós não partilhamos dessa opinião. Vamos ter mais um banco com problemas sociais.
A banca vai despedir mesmo?
Vai. Chegam-nos todos os meses inúmeras propostas de novos sócios. As pessoas percebem que a instabilidade está aí e só nos têm a nós para os defender. Em 2010 tivemos 800 novas adesões, um aumento de 10%. O desemprego será uma imposição certa da troika.
Está muito pessimista em relação ao futuro da banca?
Nunca estive. Acredito que os bancos são fundamentais para a economia portuguesa. Agora, Basileia III traz novas imposições, como o aumento do rácio de capital social sobre os capitais próprios.
O maior problema da banca é de liquidez e não de solidez...
Têm toda a razão. Se os bancos precisam de se financiar no BCE, se estão desesperados e tentam imaginar todas as formas de funding para ter liquidez, é a afirmação de que o problema é mais de liquidez do que de solidez. A banca portuguesa era das mais sólidas na Europa. Agora, dada a depreciação dos activos, as famosas imparidades, muitos aproximaram-se do prejuízo.
Deu exemplos de bancos que estarão na iminência de despedir. Qual é a dimensão do problema?
A banca tem 58 mil bancários no activo. Pelo menos um décimo é capaz de enfrentar problemas de estabilidade de emprego, o que é terrível num sector onde durante anos não houve qualquer despedimento de monta. Mas também há risco nos seguros.