In "Jornal de Notícias"
Sou um homem de 55 anos a quem o meu país, Portugal, negou o RSI. Isto após 34 anos de carreira contributiva. Por isso. qual não foi o meu espanto quando, a 17.12.2015. vi na televisão a ministra da Administração Interna receber refugiados, dizendo: "Vim assistir e participar nesta cerimónia de acolhimento, partilhar com estas pessoas um subsídio de 6000 euros por adulto durante 18 meses e 4000 euros por criança". Muito bem, senhora ministra. Mas deixe que lhe pergunte: por que nunca fui ajudado pela Segurança Social ou pela Misericórdia do Porto, ou outras por entidades, como a AMI ou a Cruz Vermelha? Senhora ministra, por que tive que ser acolhido em casa de uma amiga, que me dá dormida e comida? Senhora ministra, por que nunca tive ajuda após um cancro no rim. que tive que retirar? Por que nunca recebi sequer apoio para os medicamentos, após a operação e durante a recuperação? Sim, falo aqui, exponho-me. Com revolta. Estou desempregado desde 2008. quando fechou a empresa onde trabalhava, a Quimonda. Abandonei a casa de minha mãe. quando acabou o meu subsídio de desemprego, em janeiro de 2012, porque ela não me conseguiria ajudar, com a miséria de reforma que recebe. Eu, refugiado interno. fui recebido por uma amiga. que me fez uma cerimónia de acolhimento, oferecendo-me cama, comida e roupa lavada. Por isto, lamento viver no meu país, Portugal. que contudo acolhe e participa em benefícios sociais para refugiados. Eu sou um refugiado. sim, mas marginalizado pelo meu Portugal. Eu, refugiado, só peço um trabalho, não peço tratamento privilegiado. c.c.