In "Renascença"
Esta semana, a Renascença olha para fenómeno do desemprego estrutural. Sociólogo acusa empresas de "grande insensibilidade".
O desemprego de longa duração só se resolve quando o Estado apostar em medidas que visem a contratação de desempregados de longa duração, defende o sociólogo Elísio Estanque.
Esta segunda-feira, a Renascença contou a história de Rosário Ferreira, uma ex-operária fabril que quer trabalhar, mas não consegue porque não há quem lhe abra as portas. Tem 56 anos e há quatro que não tem um emprego com salário. O subsídio de desemprego de Rosário Ferreira termina no próximo ano. Durante esta semana, a Renascença olha para o desemprego estrutural, uma ferida social que a transformação económica abriu em Portugal.
Em declarações à Renascença, Elísio Estanque, professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, reconhece que as dificuldades começam, desde logo, “no paradigma económico que aposta em baixos salários”.
Para Elísio Estanque, que é também investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, “se o flagelo já hoje é enorme, no futuro corremos o risco de agravar ainda mais a situação”, porque as empresas parecem pouco interessadas em recuperar para a vida activa aqueles que estão há dois e mais anos afastados do mercado de trabalho.
À Renascença, o Ministério do Trabalho identificou o mesmo problema: as empresas são “resistentes a contratar as pessoas mais afastadas do mercado de trabalho, mesmo num período de aparente recuperação do emprego”.
Desemprego estrutural. Sabe o que é?
Elísio Estanque diz que “a possibilidade de as empresas contratarem desempregados de longa duração poderia ser viável em muitos sectores”.
O problema diz, “é o modelo de gestão na maioria das empresas: há ainda uma grande insensibilidade por parte do tecido empresarial” que “segue uma mentalidade tradicionalista que impede muitos empresários de utilizarem no sentido mais positivo os meios que têm ao seu dispor”.
Empresas recusam “ostracizar” trabalhadores experientes
Em declarações à Renascença, que serão publicadas esta terça-feira, António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), reconhece que entre um jovem e um trabalhador mais velho as empresas tendem a escolher o primeiro. Mas não admite acusações de discriminação, escudando-se na lei da oferta e da procura.
“As empresas que têm a capacidade de contratar, em igualdade de circunstâncias, têm preferido, provavelmente, contratar um jovem com maiores competências a nível informático, de línguas, etc., do que um sénior que, provavelmente, tem sobre determinada profissão um enorme conhecimento de saber, de experiência feito, mas depois falta-lhe outras que hoje, a tal economia nova para que caminhamos, exige e ele não tem”, defende.
Sem querer generalizar, António Saraiva admite que, em termos gerais, “as empresas que estejam a contratar prefiram determinada camada jovem”, mas não porque estejam “a ostracizar os seniores”.
Em resposta enviada à Renascença, o Governo informou que quer que, até ao final de legislatura, 70% das pessoas abrangidas pelas políticas activas de emprego sejam desempregados de longa duração.