Alexandra Campos, in Público on-line
É preciso preparar os serviços de urgência para fazerem a triagem dos doentes idosos de forma adequada. ?E adaptar os tempos de espera, diz um dos responsáveis pela Estratégia para o Envelhecimento Saudável.
É preciso adaptar os serviços de urgência hospitalares aos doentes idosos, criando um sistema de diferenciação positiva no atendimento e adaptando a triagem logo à entrada. São medidas propostas na Estratégia Nacional para o Envelhecimento Activo e Saudável, um documento que foi divulgado nesta e que preconiza uma reorientação do sistema de saúde para o atendimento das necessidades das pessoas com 65 ou mais anos, que representam já mais de um quinto da população portuguesa.
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A ideia não é ter urgências específicas para as pessoas idosas, à semelhança do que desde há anos existe para as crianças (urgências pediátricas). “Não é necessário chegar a esse extremo, mas é preciso preparar as urgências para triar os doentes idosos de forma adequada, adaptar os tempos de espera e também nunca os deixar desacompanhados”, explicou ao PÚBLICO o coordenador da reforma nacional para os cuidados continuados, Manuel Lopes, que integrou o grupo responsável por este documento — que vai estar em discussão pública durante um mês.
São, sublinha, “medidas de diferenciação positiva para pessoas com necessidades diferentes”. O actual sistema de triagem nos serviços de urgência dos hospitais “é muito bom, mas foi pensado para adultos com doença aguda, não foi idealizado para doentes com comorbilidades [várias patologias]”, nota.
“Um idoso pode ter que esperar muitas horas na urgência e essas horas podem revelar-se fatais, porque ele se infecta mais, cai mais, desenvolve mais feridas”, sintetiza Manuel Lopes. Por isso se preconiza também na estratégia que os mais velhos possam ter sempre um familiar ou um cuidador a acompanhá-los nas urgências hospitalares.
No documento propõe-se ainda a criação de um programa de vigilância, que institua um registo de avaliação da funcionalidade e um sistema de “bandeiras vermelhas” que sirvam de alerta — por exemplo, sempre que há um recurso frequente às urgências, faltas sucessivas a consultas ou sinais de negligência.
A sinalização e a justificação dos casos de idosos que tomam mais do que cinco medicamentos é outra das medidas previstas no plano, que prevê ainda a criação de um programa de vigilância de saúde específico, que pode passar por “avaliações regulares para a detecção precoce de défices funcionais, défices psíquicos ou doenças crónicas” logo a partir dos 50 anos.
Médicos devem justificar casos de idosos que tomam mais de cinco medicamentos
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No caso de doentes com várias patologias sugere-se a adopção de um plano individual de cuidados. Um plano que deve ser delineado pelos profissionais de saúde (médicos ou enfermeiros) em conjunto com o cuidador informal e o próprio doente, explica Manuel Lopes.
Muito ambiciosa, esta estratégia inclui medidas que vão para além da Saúde e que passam pela Educação e a Segurança Social, entre outros sectores. “É preciso olhar para o envelhecimento não como um problema, mas como um desafio”, enfatiza o coordenador da reforma nacional para os cuidados continuados integrados, que destaca, a propósito, o papel das autarquias. Nomeadamente na preparação e adaptação de passeios e zonas pedonais, de maneira a facilitar a deslocação dos mais velhos, ou na criação de tempos de semaforização adequados, exemplifica.
Na Educação, propõe-se que os programas e metas curriculares incluam a valorização das pessoas idosas, de forma a combater o idadismo (discriminação pela idade) e os estereótipos. “O envelhecimento surge habitualmente associado à perda de capacidades, isolamento, solidão. O idadismo é favorecido também porque as relações intergeracionais estão prejudicadas e é complicado fazer com que os mais jovens compreendam que o envelhecimento é uma fase natural da vida. Portanto, é necessário actuar junto das escolas e junto do público em geral para que se torne claro que ser idoso não é uma calamidade. É preciso recuperar o respeito pelos mais velhos”, diz.
Para se promover uma imagem positiva, sugere-se até a aposta em projectos que juntem as várias gerações e o investimento em campanhas públicas. Outras propostas passam pelo investimento no movimento de universidades seniores, mas vai-se mais longe, sugerindo o desenvolvimento do “Erasmus Sénior”. “Por que não haver intercâmbios no espaço europeu”, à semelhança do programa que existe para os jovens? — pergunta Manuel Lopes.