Luís Reis Ribeiro, in Dinheiro Vivo
O número de despedimentos coletivos subiu em 2019, pelo segundo ano consecutivo, até aos 3616 casos, indicam dados oficiais da Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT), que faz parte do Ministério do Trabalho.
Numa altura em que se acumulam sinais de dificuldades cada vez maiores ao nível da economia e do emprego e em que os riscos externos aumentaram de forma considerável (devido a ameaças como o novo coronavírus, as guerras comerciais envolvendo EUA, China Europa e outras grandes economias, a falta de consenso político no orçamento da União Europeia que pode atrasar dramaticamente o investimento em 2021), os despedimentos coletivos voltaram a subir em Portugal.
O fenómeno atingiu um pico de 10488 pessoas efetivamente despedidas em 2012, ano de grave crise económica e social no país (ajustamento do governo PSD-CDS e da troika), mas depois foi aliviando. Após cinco anos consecutivos de descidas, em 2018, as empresas voltaram a despedir mais, tendo este tipo de despedimento aumentado 3,5%. Em 2019, a subida foi mais ligeira, em todo o caso, cerca de 0,4%. De acordo com o levantamento de dados feito pelo Dinheiro Vivo, a região mais fustigada (em 2019) é o norte do País, onde 123 empresas conseguiram concluir os respetivos processos de despedimento coletivo. Ficaram sem posto de trabalho 1506 pessoas, mais 80% do que em 2018. O Norte arcou assim com 42% do total de despedimentos. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), a região tem 35% do emprego nacional. Na área da grande Lisboa, o ministério de Ana Mendes Godinho contabilizou 1501 pessoas “efetivamente despedidas” durante o ano passado, mas o número até recuou mais de 38% face a 2018. Lisboa escapa, as outras regiões não De facto, comparando 2019 com 2018, só Lisboa e Vale do Tejo escapou, evitando o pior em termos de leitura nacional. De resto, todas as outras regiões registaram agravamentos muito fortes no número de processos concluídos que levaram ao despedimento. No Alentejo, a dimensão deste problema mais do que triplicou comparativamente a 2018 (total de 184 pessoas despedidas). Na região Centro, o aumento foi de quase 68% (345 casos); no Algarve a subida foi de 19% (80 casos).
Os dados oficiais mostram ainda que foram as pequenas empresas (menos de 50 trabalhadores efetivos e menos de 10 milhões de euros de volume de negócio anual) que mais usaram o despedimento coletivo. Foi também o segmento empresarial onde mais aumentou o recurso a este processo de reestruturação. Mais de 41% dos despedimentos a nível nacional aconteceram no grupo das empresas pequenas. O aumento superou os 35% em 2019. A segunda situação mais agressiva aconteceu no grupo das médias empresas (menos de 250 efetivos e faturação anual inferior a 50 milhões de euros), que conseguiram afastar 1216 empregados, mais 31% do que em 2018. Apenas as grandes empresas (250 pessoas ao mais ao serviço ou uma faturação anual acima de 50 milhões de euros) contrariaram a tendência nacional. Em 2019, este grupo despediu 393 pessoas, menos 66% do que no ano precedente. Alguns casos recentes Os despedimentos estão mais concentrados nas empresas pequenas e nas regiões fora de Lisboa o que fará com que alguns casos sejam pouco ou nada mediatizados. Mas é possível recordar alguns exemplos que vieram à tona.
Em agosto de 2019, a Ryanair avançou com um processo de rescisão, visando um mínimo de 100 trabalhadores, que ainda decorre. O motivo foi a decisão de encerrar as operações em Faro, no Algarve. Em janeiro de 2019, o grupo de construção Elevo (que resulta da fusão das construtoras Edifer, Monte Adriano, Hagen e Eusébios) anunciou a intenção de afastar 400 empregados, parte do plano apresentado pelos maiores bancos credores, BCP e Novo Banco. O grupo NH Hotels anunciou em setembro que estaria a desenhar um plano de rescisões para afastar mais de 60 pessoas em vários hotéis da marca em Portugal. Mais recentemente, já em 2020, o setor do calçado, que é um dos casos de sucesso das últimas décadas em Portugal, sofreu mais uma baixa de peso. Segundo a Lusa, a fábrica da Eureka Shoes (na foto), em Vizela, fechou portas a 18 de fevereiro, deixando no desemprego mais de 150 trabalhadores. O sindicato que defende estes trabalhadores disse que o encerramento da fábrica assume contornos de despedimento ilegal que pode ir até 180 trabalhadores, “mas contabilizando os trabalhadores da rede de lojas, a perda total de empregos rondará cerca de 300″.
24.2.20
Demolição de quinta clandestina deixa dezenas de famílias sem casa
Francisco Alves Rito, in Público on-line
Instituto da Habitação invoca condições de salubridade e segurança para intervenção com “carácter urgente” na Quinta da Parvoíce, em Setúbal. Bispo e padre vão estar hoje ao lado dos moradores.
A informação consta de editais afixados nas casas visadas pelo instituto público e que o PÚBLICO leu no local, na tarde deste sábado. Intitulado “demolição e limpeza de terreno”, um dos editais informa os moradores que devem desocupar o espaço. “Este terreno, propriedade do IHRU, por questões de salubridade e saúde pública, irá ser alvo de um procedimento de limpeza/demolição e de instalação de meios de restrição de acesso ao terreno, a partir de dia 24 de Fevereiro”, lê-se no edital afixado na semana passada.
O outro documento, semelhante, que foi afixado há quase 15 dias, informava que o IHRU “detectou a existência de material combustível e de situações de ocupação e ou de utilização não autorizada de uma área do referido terreno, pelo que irá limpá-lo e proceder à instalação de meios de restrição de acesso ao mesmo no dia 24 de Fevereiro e remover quaisquer bens, produtos ou resíduos nele existentes”.
Este edital dá prazo, até esse mesmo dia, para que os “eventuais interessados” retirem os bens, ou, caso contrário, a manutenção dos bens no terreno será “entendida como uma declaração inequívoca de que aqueles não têm dono ou estão abandonados, tendo o IHRU o direito de lhes dar o destino mais apropriado”.
A parte do terreno objecto desta acção do IHRU é a mais distante da estrada, onde a construção de novas casas é visível, com muitas ainda em tijolo. Mas os moradores garantem que todas estão habitadas e justificam a construção de novas habitações com a falta de alternativas. Na parte mais antiga da Quinta da Parvoíce, junto à entrada principal, não haverá intervenção do IHRU por tratar-se de uma área que está sob tutela da Câmara Municipal de Setúbal.
Bispo de Setúbal ao lado dos moradores
O bispo de Setúbal, D. José Ornelas, vai estar junto aos moradores, esta segunda-feira de manhã, à espera do início da intervenção do IHRU, disse ao PÚBLICO o padre Constantino Alves, que há muitos anos acompanha as famílias residentes neste local. “O senhor bispo estará presente por volta das 9 horas da manhã e eu estarei mais cedo”, assegurou o pároco. Os responsáveis da Igreja em Setúbal pedem uma reunião urgente entre instituto, Segurança Social e autarquias para resolver o problema sem desalojar as pessoas.
Este sábado, o bispo e o padre estiveram no local e prometeram apoiar os moradores, não apenas com a sua presença na segunda-feira, mas também com a análise jurídica de um advogado que irá, com os residentes, tentar encontrar forma de travar as demolições. “Fazer uma coisa destas é desumano. As entidades têm de arranjar soluções, respostas sociais e com tempo”, disse o padre Constantino Alves. O pároco apela às entidades envolvidas para uma reunião “urgente” que permita resolver o problema.
Constantino Alves dá o exemplo da antiga Mecânica Setubalense, em que a actuação concertada permitiu alojar “todos os moradores” noutros bairros da cidade. “Parem e vamos dialogar”, pede o pároco.
Famílias com crianças, doentes e idosos dizem não ter para onde ir
A família Bandeira, que inclui três filhos menores, é uma das que vivem nas casas indicadas para demolição. O pai, João Bandeira, conta que é pedreiro e que já foi motorista de camiões. A mãe trabalha actualmente como cozinheira. “Sou polivalente, já trabalhei na hotelaria e na limpeza”, diz. Segundo o casal, a filha mais velha tem um problema de saúde.
Na parte nova da Quinta da Parvoíce, que o IHRU pretende demolir, vivem, segundo os moradores, 40 pessoas, em 14 casas. São famílias com crianças, um jovem com deficiência, e duas mulheres com doenças oncológicas, uma das quais já com idade avançada.
O grupo que integra a comissão de moradores – Jorge Pimenta, Manuel Caiuca, Kisiso Gabriel Paulo e João Bandeira – reconhece que a construção clandestina tem crescido na quinta, mas diz não haver alternativas. “Há mais casas porque é a carência. Não temos para onde ir e dormir na rua é arriscado”, diz Gabriel Paulo. Outro membro recorda que “também ninguém veio proibir a construção até hoje”. Jorge Pimenta, representante dos moradores, depois da afixação dos editais, foi a Lisboa, à sede do IHRU, mas “ninguém soube dar resposta”.
O padre Constantino diz que, pelo facto de as casas serem clandestinas, não podem ter ligação de electricidade, água e saneamento, pelo que são feitas “puxadas”, para contar que há seis meses a Águas do Sado cortou o abastecimento. Entretanto, após intervenção da paróquia e da Cáritas Diocesana, atendendo à dignidade humana, a ligação da água foi restabelecida pela empresa. “Sem água como é que as crianças tomam banho para irem à escola?”, pergunta Gabriel Paulo.
Instituto da Habitação invoca condições de salubridade e segurança para intervenção com “carácter urgente” na Quinta da Parvoíce, em Setúbal. Bispo e padre vão estar hoje ao lado dos moradores.
A informação consta de editais afixados nas casas visadas pelo instituto público e que o PÚBLICO leu no local, na tarde deste sábado. Intitulado “demolição e limpeza de terreno”, um dos editais informa os moradores que devem desocupar o espaço. “Este terreno, propriedade do IHRU, por questões de salubridade e saúde pública, irá ser alvo de um procedimento de limpeza/demolição e de instalação de meios de restrição de acesso ao terreno, a partir de dia 24 de Fevereiro”, lê-se no edital afixado na semana passada.
O outro documento, semelhante, que foi afixado há quase 15 dias, informava que o IHRU “detectou a existência de material combustível e de situações de ocupação e ou de utilização não autorizada de uma área do referido terreno, pelo que irá limpá-lo e proceder à instalação de meios de restrição de acesso ao mesmo no dia 24 de Fevereiro e remover quaisquer bens, produtos ou resíduos nele existentes”.
Este edital dá prazo, até esse mesmo dia, para que os “eventuais interessados” retirem os bens, ou, caso contrário, a manutenção dos bens no terreno será “entendida como uma declaração inequívoca de que aqueles não têm dono ou estão abandonados, tendo o IHRU o direito de lhes dar o destino mais apropriado”.
A parte do terreno objecto desta acção do IHRU é a mais distante da estrada, onde a construção de novas casas é visível, com muitas ainda em tijolo. Mas os moradores garantem que todas estão habitadas e justificam a construção de novas habitações com a falta de alternativas. Na parte mais antiga da Quinta da Parvoíce, junto à entrada principal, não haverá intervenção do IHRU por tratar-se de uma área que está sob tutela da Câmara Municipal de Setúbal.
Bispo de Setúbal ao lado dos moradores
O bispo de Setúbal, D. José Ornelas, vai estar junto aos moradores, esta segunda-feira de manhã, à espera do início da intervenção do IHRU, disse ao PÚBLICO o padre Constantino Alves, que há muitos anos acompanha as famílias residentes neste local. “O senhor bispo estará presente por volta das 9 horas da manhã e eu estarei mais cedo”, assegurou o pároco. Os responsáveis da Igreja em Setúbal pedem uma reunião urgente entre instituto, Segurança Social e autarquias para resolver o problema sem desalojar as pessoas.
Este sábado, o bispo e o padre estiveram no local e prometeram apoiar os moradores, não apenas com a sua presença na segunda-feira, mas também com a análise jurídica de um advogado que irá, com os residentes, tentar encontrar forma de travar as demolições. “Fazer uma coisa destas é desumano. As entidades têm de arranjar soluções, respostas sociais e com tempo”, disse o padre Constantino Alves. O pároco apela às entidades envolvidas para uma reunião “urgente” que permita resolver o problema.
Constantino Alves dá o exemplo da antiga Mecânica Setubalense, em que a actuação concertada permitiu alojar “todos os moradores” noutros bairros da cidade. “Parem e vamos dialogar”, pede o pároco.
Famílias com crianças, doentes e idosos dizem não ter para onde ir
A família Bandeira, que inclui três filhos menores, é uma das que vivem nas casas indicadas para demolição. O pai, João Bandeira, conta que é pedreiro e que já foi motorista de camiões. A mãe trabalha actualmente como cozinheira. “Sou polivalente, já trabalhei na hotelaria e na limpeza”, diz. Segundo o casal, a filha mais velha tem um problema de saúde.
Na parte nova da Quinta da Parvoíce, que o IHRU pretende demolir, vivem, segundo os moradores, 40 pessoas, em 14 casas. São famílias com crianças, um jovem com deficiência, e duas mulheres com doenças oncológicas, uma das quais já com idade avançada.
O grupo que integra a comissão de moradores – Jorge Pimenta, Manuel Caiuca, Kisiso Gabriel Paulo e João Bandeira – reconhece que a construção clandestina tem crescido na quinta, mas diz não haver alternativas. “Há mais casas porque é a carência. Não temos para onde ir e dormir na rua é arriscado”, diz Gabriel Paulo. Outro membro recorda que “também ninguém veio proibir a construção até hoje”. Jorge Pimenta, representante dos moradores, depois da afixação dos editais, foi a Lisboa, à sede do IHRU, mas “ninguém soube dar resposta”.
O padre Constantino diz que, pelo facto de as casas serem clandestinas, não podem ter ligação de electricidade, água e saneamento, pelo que são feitas “puxadas”, para contar que há seis meses a Águas do Sado cortou o abastecimento. Entretanto, após intervenção da paróquia e da Cáritas Diocesana, atendendo à dignidade humana, a ligação da água foi restabelecida pela empresa. “Sem água como é que as crianças tomam banho para irem à escola?”, pergunta Gabriel Paulo.
‘Presidências Abertas da CMF e AMI unidas pelo Funchal
in DNoticias
A iniciativa ‘O Funchal Que Nos Une’, as Presidências Abertas da Câmara Municipal do Funchal, que estão a decorrer, durante este mês de fevereiro, na freguesia de São Pedro, visitaram hoje, as instalações da delegação da Madeira da AMI – Assistência Médica Internacional. O Presidente Miguel Silva Gouveia, acompanhado do respectivo Executivo, foi recebido por Helena Andrade, responsável pela delegação da AMI na Madeira, e Cristina Menezes, responsável pelo Centro de Ação Social da AMI “Porta Amiga”, que fizeram as honras da casa.
Miguel Silva Gouveia começou por expor à Direcção da AMI o propósito da iniciativa “O Funchal Que Nos Une”, que o Executivo tem levado até à população, clubes e associações da cidade, com o intuito de perceber a sua realidade, as necessidades e as dificuldades que enfrentam. A AMI destacou, por sua vez, a colaboração desenvolvida com a CMF nos últimos cinco anos, em que o Município reconheceu o trabalho de interesse público que a AMI tem com a cidade.
A Câmara Municipal do Funchal cedeu o edifício onde está instalada a sede da AMI, para que ali pudessem desenvolver o seu trabalho, e tem contribuído com outros apoios financeiros, “sabemos o importante papel social que a AMI realiza, e procuramos sempre estabelecer pontes, no sentido de também facilitar um trabalho que por si só já é difícil e complexo. E da nossa cooperação saliento a atribuição de 18 mil euros anuais, através do nosso programa de atribuição de Apoios Financeiros ao Associativismo e Atividades de Interesse Municipal, e também o trabalho de reciclagem de radiografias realizado pelos nossos serviços, onde cada 1000 kg de radiografias obtido, rendem 10 kg de prata, que é vendida, e essa verba posteriormente é cedida a favor da AMI”.
A AMI é uma Organização Não Governamental (ONG) portuguesa, privada, sem fins lucrativos, fundada em 1984, que tem como objectivos principais lutar contra a pobreza, a exclusão social, o subdesenvolvimento, a fome, e as sequelas da guerra, em qualquer parte do Mundo. Na Madeira está representada desde 1997, e actualmente possuem cerca de 75 voluntários inscritos.
A iniciativa ‘O Funchal Que Nos Une’, as Presidências Abertas da Câmara Municipal do Funchal, que estão a decorrer, durante este mês de fevereiro, na freguesia de São Pedro, visitaram hoje, as instalações da delegação da Madeira da AMI – Assistência Médica Internacional. O Presidente Miguel Silva Gouveia, acompanhado do respectivo Executivo, foi recebido por Helena Andrade, responsável pela delegação da AMI na Madeira, e Cristina Menezes, responsável pelo Centro de Ação Social da AMI “Porta Amiga”, que fizeram as honras da casa.
Miguel Silva Gouveia começou por expor à Direcção da AMI o propósito da iniciativa “O Funchal Que Nos Une”, que o Executivo tem levado até à população, clubes e associações da cidade, com o intuito de perceber a sua realidade, as necessidades e as dificuldades que enfrentam. A AMI destacou, por sua vez, a colaboração desenvolvida com a CMF nos últimos cinco anos, em que o Município reconheceu o trabalho de interesse público que a AMI tem com a cidade.
A Câmara Municipal do Funchal cedeu o edifício onde está instalada a sede da AMI, para que ali pudessem desenvolver o seu trabalho, e tem contribuído com outros apoios financeiros, “sabemos o importante papel social que a AMI realiza, e procuramos sempre estabelecer pontes, no sentido de também facilitar um trabalho que por si só já é difícil e complexo. E da nossa cooperação saliento a atribuição de 18 mil euros anuais, através do nosso programa de atribuição de Apoios Financeiros ao Associativismo e Atividades de Interesse Municipal, e também o trabalho de reciclagem de radiografias realizado pelos nossos serviços, onde cada 1000 kg de radiografias obtido, rendem 10 kg de prata, que é vendida, e essa verba posteriormente é cedida a favor da AMI”.
A AMI é uma Organização Não Governamental (ONG) portuguesa, privada, sem fins lucrativos, fundada em 1984, que tem como objectivos principais lutar contra a pobreza, a exclusão social, o subdesenvolvimento, a fome, e as sequelas da guerra, em qualquer parte do Mundo. Na Madeira está representada desde 1997, e actualmente possuem cerca de 75 voluntários inscritos.
Risco de pobreza é inferior em Portugal, espanhóis com mais médicos por mil habitantes
Joana Gorjão Henriques, in Instituto Nacional de Estatista
Lado a lado Portugal e Espanha têm indicadores diferentes em várias áreas. Redução da população será moderada em Espanha mas acentuada em Portugal. Espanha foi o principal parceiro de Portugal, tanto nas exportações como nas importações, mas o contrário não se verificou.
Portugal regista um risco de pobreza ou exclusão social inferior ao de Espanha. Mas tem menos médicos por mil habitantes e os portugueses demonstram uma percepção sobre o seu estado de saúde muito menos positiva do que os espanhóis. Há um maior investimento português na investigação. Nas trocas comerciais Portugal tem, porém, uma maior dependência em relação a Espanha do que o contrário.
Lado a lado, Portugal e Espanha apresentam indicadores diferentes, segundo o resumo do relatório publicado esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) intitulado A Península Ibérica em Números, com dados de 2018 e 2017, a partir dos institutos de estatística dos dois países e do Eurostat.
O escritório da Alter Solutions podia ser um jardim
Desde logo, as diferenças estão nas projecções da população para o período de 2040 a 2100 em que se aponta uma redução nos dois países, mas com intensidades diferentes: será moderada em Espanha, que apesar de tudo terá valores superiores aos de 2018, mas acentuada em Portugal, o que significa que nesse período deverá ter menos um terço dos habitantes dos que tinha em 2018 (quando eram 10,2 milhões).
Há duas semanas o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, propôs a criação do Iberolux no espaço ibérico, uma inspiração no modelo do Benelux, espaço de cooperação entre Países Baixos, Bélgica e Luxemburgo, e que Paulo Rangel já havia proposto há anos atrás. Moreira chamou-lhe “uma estratégia coordenada entre Portugal e Espanha”. O jornal El Pais lembrava que esta não era uma ideia nova, datava do século XVIII, mas nunca foi em frente. Embora houvesse intelectuais a apoiarem-na - de José Saramago a Ortega y Gasset - nenhum político se atreveu a concorrer a eleições com a proposta.
A verdade é que para Portugal essa ideia pode ter mais base no plano económico do que para Espanha: em 2018, Espanha foi o principal parceiro de Portugal, tanto nas exportações como nas importações. Já para Espanha, Portugal representou apenas a 4.ª posição como destino das exportações e a 7.ª como origem das suas importações.
E o que é que os dois países mais comercializaram entre si? “Veículos automóveis, tractores, ciclos e outros veículos terrestres…”, que representaram 12,7% das exportações de Portugal para Espanha e 10,8% das exportações da Espanha para Portugal.
Especificando em relação aos indicadores iniciais: o risco de pobreza em Portugal é ligeiramente inferior ao total da União Europeia – 21,6% versus 21,9% – mas em relação a Espanha a diferença ainda é maior, já que a sua taxa atinge os 26,1%. Se olharmos à lupa a população jovem, que tem entre 15 e 29 anos, Portugal e Espanha registaram valores ainda mais elevados: em Portugal esse dado ficou abaixo da União Europeia (24,9% versus 26,4%), mas em Espanha (33,8%) ficou novamente acima.
Mais comparações: se a percepção sobre o estado de saúde é bastante diferente em ambos os países, já as principais causas de morte revelaram-se praticamente idênticas. Em 2018, os espanhóis tinham uma avaliação muito mais positiva sobre o seu estado de saúde (73,6% consideraram-no “bom” ou “muito bom”) do que os portugueses (49,3%, de acordo com o mesmo critério).
Por outro lado, em 2017, Espanha e Portugal apresentaram as mesmas três principais causas de morte e com valores muito próximos: doenças do aparelho circulatório (Portugal 29,4% e Espanha 28,8%), tumores (25,5% e 26,7%, respectivamente) e doenças do aparelho respiratório (11,6% e 12,2%, respectivamente).
Também em relação ao número de médicos por mil habitantes há diferenças: em Portugal, em 2018, só na Área Metropolitana de Lisboa é que houve cinco médicos por 1000 habitantes, quando em Espanha esse número era de 6,5 médicos para o mesmo número de habitantes em 12 regiões. No entanto, as regiões dos Açores e do Alentejo estão ainda mais desfavorecidas, com 3,4 e 3 médicos por mil habitantes, respectivamente.
Em quase dez anos, a idade média das mulheres que são mães pela primeira vez aumentou “de forma contínua” em Portugal e em Espanha. Em Portugal, em 2018, essa idade foi de 29,8 anos e em Espanha foi ligeiramente superior, atingindo os 30,1 anos.
Portugal com menos pesca
Noutro indicador, em ambos os países os preços são inferiores aos praticados na União Europeia, com Portugal a ter a diferença maior no item “Restaurantes e hotéis” (a UE tem uma média de 100 e Portugal de 77,8). Ainda no âmbito do turismo verificou-se que tanto em Portugal como em Espanha foram os britânicos e alemães que mais pernoitaram nos hotéis dos dois países: em Portugal, 21% das dormidas era de britânicos e 13,2% de alemães; em Espanha esses dados foram 25,2% e 20,7%, respectivamente.
Já nas pescas, Espanha destacou-se como o país da União Europeia que mais peixe capturou em 2018, com uma fatia que representa quase 22% do total (879,4 mil toneladas), tendo Portugal ficado a uma grande distância, com 5% (ou seja, 201,9 mil toneladas).
Tal como aconteceu em anos anteriores, continuou a verificar-se uma grande discrepância entre regiões em relação ao número de habitantes por quilómetro quadrado. Em Portugal, em 2017, havia 23 habitantes por metro quadrado no Alentejo e 1006,2 na Área Metropolitana de Lisboa; em Espanha, os valores também sublinhavam essa distância. 25,7 em Castilla-La-Mancha versus 6 059,1 na Ciudad Autónoma de Melilla.
Já em relação à percentagem do PIB usada para actividades de investigação e desenvolvimento Portugal fica à frente de Espanha: foi de 1,35%, em 2018, quando Espanha usou 1,18%. Porém os dois países estão abaixo do valor apurado para a União Europeia no total: 2,11%. O documento mostra, de resto, que há grandes discrepâncias dentro da UE para este sector: se 3,31% do PIB da Suécia é investido aqui, já a Roménia disponibiliza apenas 0,51%.
Lado a lado Portugal e Espanha têm indicadores diferentes em várias áreas. Redução da população será moderada em Espanha mas acentuada em Portugal. Espanha foi o principal parceiro de Portugal, tanto nas exportações como nas importações, mas o contrário não se verificou.
Portugal regista um risco de pobreza ou exclusão social inferior ao de Espanha. Mas tem menos médicos por mil habitantes e os portugueses demonstram uma percepção sobre o seu estado de saúde muito menos positiva do que os espanhóis. Há um maior investimento português na investigação. Nas trocas comerciais Portugal tem, porém, uma maior dependência em relação a Espanha do que o contrário.
Lado a lado, Portugal e Espanha apresentam indicadores diferentes, segundo o resumo do relatório publicado esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) intitulado A Península Ibérica em Números, com dados de 2018 e 2017, a partir dos institutos de estatística dos dois países e do Eurostat.
O escritório da Alter Solutions podia ser um jardim
Desde logo, as diferenças estão nas projecções da população para o período de 2040 a 2100 em que se aponta uma redução nos dois países, mas com intensidades diferentes: será moderada em Espanha, que apesar de tudo terá valores superiores aos de 2018, mas acentuada em Portugal, o que significa que nesse período deverá ter menos um terço dos habitantes dos que tinha em 2018 (quando eram 10,2 milhões).
Há duas semanas o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, propôs a criação do Iberolux no espaço ibérico, uma inspiração no modelo do Benelux, espaço de cooperação entre Países Baixos, Bélgica e Luxemburgo, e que Paulo Rangel já havia proposto há anos atrás. Moreira chamou-lhe “uma estratégia coordenada entre Portugal e Espanha”. O jornal El Pais lembrava que esta não era uma ideia nova, datava do século XVIII, mas nunca foi em frente. Embora houvesse intelectuais a apoiarem-na - de José Saramago a Ortega y Gasset - nenhum político se atreveu a concorrer a eleições com a proposta.
A verdade é que para Portugal essa ideia pode ter mais base no plano económico do que para Espanha: em 2018, Espanha foi o principal parceiro de Portugal, tanto nas exportações como nas importações. Já para Espanha, Portugal representou apenas a 4.ª posição como destino das exportações e a 7.ª como origem das suas importações.
E o que é que os dois países mais comercializaram entre si? “Veículos automóveis, tractores, ciclos e outros veículos terrestres…”, que representaram 12,7% das exportações de Portugal para Espanha e 10,8% das exportações da Espanha para Portugal.
Especificando em relação aos indicadores iniciais: o risco de pobreza em Portugal é ligeiramente inferior ao total da União Europeia – 21,6% versus 21,9% – mas em relação a Espanha a diferença ainda é maior, já que a sua taxa atinge os 26,1%. Se olharmos à lupa a população jovem, que tem entre 15 e 29 anos, Portugal e Espanha registaram valores ainda mais elevados: em Portugal esse dado ficou abaixo da União Europeia (24,9% versus 26,4%), mas em Espanha (33,8%) ficou novamente acima.
Mais comparações: se a percepção sobre o estado de saúde é bastante diferente em ambos os países, já as principais causas de morte revelaram-se praticamente idênticas. Em 2018, os espanhóis tinham uma avaliação muito mais positiva sobre o seu estado de saúde (73,6% consideraram-no “bom” ou “muito bom”) do que os portugueses (49,3%, de acordo com o mesmo critério).
Por outro lado, em 2017, Espanha e Portugal apresentaram as mesmas três principais causas de morte e com valores muito próximos: doenças do aparelho circulatório (Portugal 29,4% e Espanha 28,8%), tumores (25,5% e 26,7%, respectivamente) e doenças do aparelho respiratório (11,6% e 12,2%, respectivamente).
Também em relação ao número de médicos por mil habitantes há diferenças: em Portugal, em 2018, só na Área Metropolitana de Lisboa é que houve cinco médicos por 1000 habitantes, quando em Espanha esse número era de 6,5 médicos para o mesmo número de habitantes em 12 regiões. No entanto, as regiões dos Açores e do Alentejo estão ainda mais desfavorecidas, com 3,4 e 3 médicos por mil habitantes, respectivamente.
Em quase dez anos, a idade média das mulheres que são mães pela primeira vez aumentou “de forma contínua” em Portugal e em Espanha. Em Portugal, em 2018, essa idade foi de 29,8 anos e em Espanha foi ligeiramente superior, atingindo os 30,1 anos.
Portugal com menos pesca
Noutro indicador, em ambos os países os preços são inferiores aos praticados na União Europeia, com Portugal a ter a diferença maior no item “Restaurantes e hotéis” (a UE tem uma média de 100 e Portugal de 77,8). Ainda no âmbito do turismo verificou-se que tanto em Portugal como em Espanha foram os britânicos e alemães que mais pernoitaram nos hotéis dos dois países: em Portugal, 21% das dormidas era de britânicos e 13,2% de alemães; em Espanha esses dados foram 25,2% e 20,7%, respectivamente.
Já nas pescas, Espanha destacou-se como o país da União Europeia que mais peixe capturou em 2018, com uma fatia que representa quase 22% do total (879,4 mil toneladas), tendo Portugal ficado a uma grande distância, com 5% (ou seja, 201,9 mil toneladas).
Tal como aconteceu em anos anteriores, continuou a verificar-se uma grande discrepância entre regiões em relação ao número de habitantes por quilómetro quadrado. Em Portugal, em 2017, havia 23 habitantes por metro quadrado no Alentejo e 1006,2 na Área Metropolitana de Lisboa; em Espanha, os valores também sublinhavam essa distância. 25,7 em Castilla-La-Mancha versus 6 059,1 na Ciudad Autónoma de Melilla.
Já em relação à percentagem do PIB usada para actividades de investigação e desenvolvimento Portugal fica à frente de Espanha: foi de 1,35%, em 2018, quando Espanha usou 1,18%. Porém os dois países estão abaixo do valor apurado para a União Europeia no total: 2,11%. O documento mostra, de resto, que há grandes discrepâncias dentro da UE para este sector: se 3,31% do PIB da Suécia é investido aqui, já a Roménia disponibiliza apenas 0,51%.
21.2.20
Precários do Estado nas escolas: entram no quadro mas perdem 170 euros
in Público on-line
O alerta é lançado pelo sindicato nacional dos psicólogos e a associação dos directores das escolas públicas em declarações à TSF.
A confirmarem-se as previsões do Sindicato Nacional dos Psicólogos (SNP), estes e outros profissionais das escolas que concorreram ao programa de regularização dos precários da administração pública sairão prejudicados.
Isto acontecerá com aqueles que não estiverem no índice de remuneração de entrada, no âmbito do Programa de Regularização Extraordinária de Vínculos Precários na Administração Pública (PREVAP), segundo disseram à TSF os representantes sindicais destes profissionais.
Madeira: “a maior catástrofe do século” pelo olhar de oito fotógrafos da ilha
Se por um lado, ficam efectivos, por outro, passam a ganhar menos 170 euros por mês, garantem o SNP e a associação que representa os directores das escolas. E pedem, desde já, uma solução ao Governo.
"Um passo atrás"
Em entrevista a esta rádio, João Freire, presidente do SNP, explica que “quem estiver noutro índice [remuneratório] que não o de entrada, que são 1200 euros, vai passar a receber menos 170 euros, 13% do salário”.
João Freire considerou que, na prática, os profissionais acabam por dar um passo atrás na carreira: “Há alguns trabalhadores que estão há 22 anos em regime de precariedade. Das poucas conquistas que tiveram foi subir um índice remuneratório e agora, passados estes anos, se quiserem efectivar na Função Pública, têm de sofrer esta traição”.
Há precários integrados no Estado impedidos de aderir à ADSE
O presidente da Associação dos Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Filinto Lima, também ouvido pela TSF, prevê um outro problema, quando se sentirem as graves carências de psicólogos nas escolas devido ao PREVAP. E explica: “A meio do ano lectivo os profissionais de uma escola podem acabar nos quadros de outra escola.”
Por isso, apela ao Ministério da Educação para que “no caso dos psicólogos que efectivem noutras escolas onde neste momento não estão a exercer funções, deixe os directores abrirem concurso para substituir essas transferências de escola”.
O alerta é lançado pelo sindicato nacional dos psicólogos e a associação dos directores das escolas públicas em declarações à TSF.
A confirmarem-se as previsões do Sindicato Nacional dos Psicólogos (SNP), estes e outros profissionais das escolas que concorreram ao programa de regularização dos precários da administração pública sairão prejudicados.
Isto acontecerá com aqueles que não estiverem no índice de remuneração de entrada, no âmbito do Programa de Regularização Extraordinária de Vínculos Precários na Administração Pública (PREVAP), segundo disseram à TSF os representantes sindicais destes profissionais.
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Se por um lado, ficam efectivos, por outro, passam a ganhar menos 170 euros por mês, garantem o SNP e a associação que representa os directores das escolas. E pedem, desde já, uma solução ao Governo.
"Um passo atrás"
Em entrevista a esta rádio, João Freire, presidente do SNP, explica que “quem estiver noutro índice [remuneratório] que não o de entrada, que são 1200 euros, vai passar a receber menos 170 euros, 13% do salário”.
João Freire considerou que, na prática, os profissionais acabam por dar um passo atrás na carreira: “Há alguns trabalhadores que estão há 22 anos em regime de precariedade. Das poucas conquistas que tiveram foi subir um índice remuneratório e agora, passados estes anos, se quiserem efectivar na Função Pública, têm de sofrer esta traição”.
Há precários integrados no Estado impedidos de aderir à ADSE
O presidente da Associação dos Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Filinto Lima, também ouvido pela TSF, prevê um outro problema, quando se sentirem as graves carências de psicólogos nas escolas devido ao PREVAP. E explica: “A meio do ano lectivo os profissionais de uma escola podem acabar nos quadros de outra escola.”
Por isso, apela ao Ministério da Educação para que “no caso dos psicólogos que efectivem noutras escolas onde neste momento não estão a exercer funções, deixe os directores abrirem concurso para substituir essas transferências de escola”.
Estudo revela que raspadinhas estão a tornar-se vício preocupante em Portugal e apela a nova regulamentação
Helena Bento, in Expresso
Portugal é o país da Europa onde se gasta mais dinheiro em raspadinhas. Só em 2018 os portugueses gastaram quase 1,6 mil milhões de euros neste jogo - são mais de quatro milhões de euros por dia (há casos de portugueses a gastarem 500 euros em 24 horas). O problema tem sido “negligenciado” e urge impor medidas para regulamentar o jogo, diz ao Expresso o psiquiatra Pedro Morgado, autor do estudo publicado esta quinta-feira na revista “The Lancet Psychiatry”
Comprar raspadinhas para tentar ganhar dinheiro é um ato tão banal que quase já faz parte do quotidiano, mas um relatório divulgado esta quinta-feira, da autoria de dois investigadores da Escola de Medicina da Universidade do Minho, e publicado na revista internacional “The Lancet Psychiatry”, mostra uma realidade bem mais preocupante do que isso. Em 2018, os portugueses gastaram quase 1,6 mil milhões de euros em raspadinhas - 4,4 milhões por dia, em média. O número é, em si, muito elevado, mas ainda mais se comparado com dados de 2010, em que foram gastos 100 milhões de euros neste jogo. E também se comparado com países como Espanha, onde foram gastos cerca de 600 milhões de euros em 2018.
De acordo com Pedro Morgado, um dos autores do estudo, e psiquiatra no Hospital de Braga, Portugal é, aliás, o país da Europa onde se gasta mais dinheiro em raspadinhas per capita, correspondendo este valor a mais do dobro da média europeia. Uma das perguntas que se coloca de imediato é — mas porquê? E embora a resposta não seja definitiva, o problema pode ser justificado assim: “Em primeiro lugar, trata-se de um jogo facilmente acessível, sem qualquer controlo, um jogo popular e com boa imagem. Ou seja, ninguém se sente envergonhado por comprar raspadinhas”.
Outro aspeto tem que ver com a “falta de literacia sobre os riscos” deste jogo em concreto. “Não passa pela cabeça da maioria das pessoas que podem ficar viciadas”, diz o investigador, para quem o facto de se saber imediatamente qual o resultado do jogo, e se se ganhou um prémio ou não, “faz com que haja um maior potencial de vício e de adição”. Finalmente, há ainda a considerar aquilo a que se refere como o contributo dos meios de comunicação social para o problema. “São publicadas muitas, muitas notícias sobre casos concretos e que passam a ideia de que se pode ganhar muito gastando pouco, e isso ajuda a criar uma ideia distorcida da probabilidade de ganhar”, aponta.
“No caso das raspadinhas, não há quaisquer mecanismos para proteger as pessoas”
Pedro Morgado não tem dados sobre quantos portugueses compram, de facto, raspadinhas, e até admite que “possa haver um elevado número de pessoas que jogam muito” e que “a maioria das pessoas que joga não tem um problema de adição”. “Ainda assim, parece haver, em Portugal, uma maior apetência para este tipo de jogo no que no resto da Europa” e, por isso, “era expectável que entidades com responsabilidade neste jogo tivessem curiosidade em perceber se existem ou não problemas de dependência”.
Algo que, na realidade, não acontece porque “não existe nenhuma estratégia para entender por que razão os portugueses jogam tanto, nem foi ainda realizado qualquer estudo epidemiológico para perceber a magnitude do jogo patológico associado às raspadinhas”. “Tudo indica que o problema pode ser muito importante mas precisamos de o quantificar.” Além disso, diz, “não existem quaisquer medidas no sentido de controlar os problemas que podem derivar dessa adição”. Refere-se, em concreto, à possibilidade de criar um mecanismo que permita à pessoa autoexcluir-se de jogar, através, por exemplo, da criação de um cartão do jogador. “Eu não sou a favor da proibição”, esclarece, “mas sim a favor de se dar às pessoas a possibilidade de se excluírem de jogar, como acontece noutros jogos, como os jogos de casino, em que há um risco elevado de desenvolvimento de doença associada à dependência”.
No caso do jogo do casino, compara ainda, “também não há estudos epidemiológicos que permitam perceber qual a dimensão do problema, mas os doentes com um problema de jogo patológico podem requerer inibição de entrar nesses locais”. “Neste caso não há mesmo quaisquer mecanismos para proteger as pessoas e as pessoas que atendo no consultório não conseguem controlar o acesso às raspadinhas dos seus familiares dependentes”.
“Há pessoas que gastam 500 euros num dia em raspadinhas”
E isso leva-nos para a sua experiência clínica e para os casos que tem atendido. “Às vezes recebo pessoas que gastaram todas as poupanças da sua vida nas raspadinhas sem que nenhum familiar se tivesse apercebido. Ou pessoas que pediram emprestado dinheiro a vários familiares dizendo que era para outros fins que não o jogo, como tratamentos no dentista ou para pagar o arranjo do carro.” Pedro Morgado conhece ainda casos de pessoas que gastaram “500 euros num único dia em raspadinhas” ou “20 a 30 mil euros” ao longo de um ano. “São pessoas que jogam todos os dias e gastam por dia cerca de 100 euros. Há várias pessoas com adição que compram mais do que 10 raspadinhas por dia, ou só de uma vez ou em várias idas à tabacaria ou ao local onde elas são vendidas. Estão sempre na expectativa de que vão ganhar e se não for agora é na próxima vez ou na próxima ou na próxima.”
E, normalmente, não são as próprias pessoas que pedem ajuda, mas sim os seus familiares, que, “apercebendo-se de que o dinheiro está a ser todo gasto, convencem-nas a vir à consulta”. Não há pessoas mais afetadas que outras em termos de sexo ou idade ou outros parâmetros, diz ainda o psiquiatra, segundo o qual o problema está presente “tanto em homens como mulheres, e nas várias idades”, ainda que “havendo uma ligeira prevalência entre as pessoas com idades mais avançadas”. “Os mais novos podem ter outro tipo de adições mais relacionadas com o jogo online e, pelo contrário, os idosos têm menos experiências em jogos online, sendo as raspadinhas um jogo muito popular nesta faixa etária.”
Além de mais controlo e mais estudos e investigação, Pedro Morgado fala também em prevenção, através da divulgação de “informação sobre os riscos associados” e de “sensibilização junto dos meios de comunicação social no sentido de não publicarem tantas histórias de grandes ganhos com pequenos investimentos”. A publicidade a estes jogos também é algo que deveria ser repensado, diz o investigador. Que faz um apelo: “A verdade é que Portugal tem as taxas mais baixas da Europa em termos de toxicodependência, o que se explica pelas políticas públicas que foram adotadas no país. O mesmo terá de ser feito para este problema em concreto e esse é o nosso apelo. São necessárias políticas públicas para diminuir os problemas associados às raspadinhas”.
Portugal é o país da Europa onde se gasta mais dinheiro em raspadinhas. Só em 2018 os portugueses gastaram quase 1,6 mil milhões de euros neste jogo - são mais de quatro milhões de euros por dia (há casos de portugueses a gastarem 500 euros em 24 horas). O problema tem sido “negligenciado” e urge impor medidas para regulamentar o jogo, diz ao Expresso o psiquiatra Pedro Morgado, autor do estudo publicado esta quinta-feira na revista “The Lancet Psychiatry”
Comprar raspadinhas para tentar ganhar dinheiro é um ato tão banal que quase já faz parte do quotidiano, mas um relatório divulgado esta quinta-feira, da autoria de dois investigadores da Escola de Medicina da Universidade do Minho, e publicado na revista internacional “The Lancet Psychiatry”, mostra uma realidade bem mais preocupante do que isso. Em 2018, os portugueses gastaram quase 1,6 mil milhões de euros em raspadinhas - 4,4 milhões por dia, em média. O número é, em si, muito elevado, mas ainda mais se comparado com dados de 2010, em que foram gastos 100 milhões de euros neste jogo. E também se comparado com países como Espanha, onde foram gastos cerca de 600 milhões de euros em 2018.
De acordo com Pedro Morgado, um dos autores do estudo, e psiquiatra no Hospital de Braga, Portugal é, aliás, o país da Europa onde se gasta mais dinheiro em raspadinhas per capita, correspondendo este valor a mais do dobro da média europeia. Uma das perguntas que se coloca de imediato é — mas porquê? E embora a resposta não seja definitiva, o problema pode ser justificado assim: “Em primeiro lugar, trata-se de um jogo facilmente acessível, sem qualquer controlo, um jogo popular e com boa imagem. Ou seja, ninguém se sente envergonhado por comprar raspadinhas”.
Outro aspeto tem que ver com a “falta de literacia sobre os riscos” deste jogo em concreto. “Não passa pela cabeça da maioria das pessoas que podem ficar viciadas”, diz o investigador, para quem o facto de se saber imediatamente qual o resultado do jogo, e se se ganhou um prémio ou não, “faz com que haja um maior potencial de vício e de adição”. Finalmente, há ainda a considerar aquilo a que se refere como o contributo dos meios de comunicação social para o problema. “São publicadas muitas, muitas notícias sobre casos concretos e que passam a ideia de que se pode ganhar muito gastando pouco, e isso ajuda a criar uma ideia distorcida da probabilidade de ganhar”, aponta.
“No caso das raspadinhas, não há quaisquer mecanismos para proteger as pessoas”
Pedro Morgado não tem dados sobre quantos portugueses compram, de facto, raspadinhas, e até admite que “possa haver um elevado número de pessoas que jogam muito” e que “a maioria das pessoas que joga não tem um problema de adição”. “Ainda assim, parece haver, em Portugal, uma maior apetência para este tipo de jogo no que no resto da Europa” e, por isso, “era expectável que entidades com responsabilidade neste jogo tivessem curiosidade em perceber se existem ou não problemas de dependência”.
Algo que, na realidade, não acontece porque “não existe nenhuma estratégia para entender por que razão os portugueses jogam tanto, nem foi ainda realizado qualquer estudo epidemiológico para perceber a magnitude do jogo patológico associado às raspadinhas”. “Tudo indica que o problema pode ser muito importante mas precisamos de o quantificar.” Além disso, diz, “não existem quaisquer medidas no sentido de controlar os problemas que podem derivar dessa adição”. Refere-se, em concreto, à possibilidade de criar um mecanismo que permita à pessoa autoexcluir-se de jogar, através, por exemplo, da criação de um cartão do jogador. “Eu não sou a favor da proibição”, esclarece, “mas sim a favor de se dar às pessoas a possibilidade de se excluírem de jogar, como acontece noutros jogos, como os jogos de casino, em que há um risco elevado de desenvolvimento de doença associada à dependência”.
No caso do jogo do casino, compara ainda, “também não há estudos epidemiológicos que permitam perceber qual a dimensão do problema, mas os doentes com um problema de jogo patológico podem requerer inibição de entrar nesses locais”. “Neste caso não há mesmo quaisquer mecanismos para proteger as pessoas e as pessoas que atendo no consultório não conseguem controlar o acesso às raspadinhas dos seus familiares dependentes”.
“Há pessoas que gastam 500 euros num dia em raspadinhas”
E isso leva-nos para a sua experiência clínica e para os casos que tem atendido. “Às vezes recebo pessoas que gastaram todas as poupanças da sua vida nas raspadinhas sem que nenhum familiar se tivesse apercebido. Ou pessoas que pediram emprestado dinheiro a vários familiares dizendo que era para outros fins que não o jogo, como tratamentos no dentista ou para pagar o arranjo do carro.” Pedro Morgado conhece ainda casos de pessoas que gastaram “500 euros num único dia em raspadinhas” ou “20 a 30 mil euros” ao longo de um ano. “São pessoas que jogam todos os dias e gastam por dia cerca de 100 euros. Há várias pessoas com adição que compram mais do que 10 raspadinhas por dia, ou só de uma vez ou em várias idas à tabacaria ou ao local onde elas são vendidas. Estão sempre na expectativa de que vão ganhar e se não for agora é na próxima vez ou na próxima ou na próxima.”
E, normalmente, não são as próprias pessoas que pedem ajuda, mas sim os seus familiares, que, “apercebendo-se de que o dinheiro está a ser todo gasto, convencem-nas a vir à consulta”. Não há pessoas mais afetadas que outras em termos de sexo ou idade ou outros parâmetros, diz ainda o psiquiatra, segundo o qual o problema está presente “tanto em homens como mulheres, e nas várias idades”, ainda que “havendo uma ligeira prevalência entre as pessoas com idades mais avançadas”. “Os mais novos podem ter outro tipo de adições mais relacionadas com o jogo online e, pelo contrário, os idosos têm menos experiências em jogos online, sendo as raspadinhas um jogo muito popular nesta faixa etária.”
Além de mais controlo e mais estudos e investigação, Pedro Morgado fala também em prevenção, através da divulgação de “informação sobre os riscos associados” e de “sensibilização junto dos meios de comunicação social no sentido de não publicarem tantas histórias de grandes ganhos com pequenos investimentos”. A publicidade a estes jogos também é algo que deveria ser repensado, diz o investigador. Que faz um apelo: “A verdade é que Portugal tem as taxas mais baixas da Europa em termos de toxicodependência, o que se explica pelas políticas públicas que foram adotadas no país. O mesmo terá de ser feito para este problema em concreto e esse é o nosso apelo. São necessárias políticas públicas para diminuir os problemas associados às raspadinhas”.
Viveu 22 anos num campo de refugiados. Agora criou um jogo para nos pôr na pele dele
Joana Gonçalves (edição), in RR
Lual Mayen, de 25 anos, criou o seu primeiro videojogo no campo de refugiados onde passou quase toda a vida, no norte do Uganda. Hoje a viver nos EUA, o jovem sul-sudanês lançou a startup Junub Games e desenvolveu um jogo virtual que simula a jornada de um refugiado, para promover a empatia e a resolução de conflitos.
Veja o vídeo aqui
Lual Mayen, de 25 anos, criou o seu primeiro videojogo no campo de refugiados onde passou quase toda a vida, no norte do Uganda. Hoje a viver nos EUA, o jovem sul-sudanês lançou a startup Junub Games e desenvolveu um jogo virtual que simula a jornada de um refugiado, para promover a empatia e a resolução de conflitos.
Veja o vídeo aqui
David Bloom: Envelhecimento da população compromete futuro da economia portuguesa
in Expresso
Numa conferência em que analisou as estimativas para o crescimento mundial até 2050 e as respetivas consequências, David Bloom foi taxativo ao afirmar que não há dúvidas que é no envelhecimento da população que reside o maior problema demográfico
O professor da Universidade de Harvard e demógrafo norte-americano David Bloom afirmou estar quarta-feira estar "muito inseguro" quanto ao futuro económico português, muito pressionado por um galopante envelhecimento da população, numa conferência organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Numa conferência em que analisou as estimativas para o crescimento mundial até 2050 e as respetivas consequências, David Bloom foi taxativo ao afirmar que não há dúvidas que é no envelhecimento da população que reside o maior problema demográfico, um cenário transversal, ou quase.
"À exceção do Vaticano, todos os países do mundo estão a envelhecer", disse, numa nota bem humorada, o académico norte-americano no decurso da conferência "Quem Somos? Os desafios das alterações demográficas em debate", a primeira do ciclo 'Nós, portugueses", que assinala os 10 anos da Pordata.
Questões como o crescimento da população, a longevidade e a fertilidade estiveram em análise, associadas a aspetos como o impacto no investimento em saúde, os impactos económicos, laborais e de rendimento e produção de riqueza no mundo, ou ainda as questões ambientais, mais prementes nos países menos desenvolvidos, onde se espera que haja nas próximas décadas o maior crescimento populacional mundial.
Mas é o envelhecimento da população o maior problema com o qual as sociedades vão ter que lidar, sobretudo as mais desenvolvidas, defendeu David Bloom, que olha sem otimismo para o cenário português.
O professor da Universidade de Harvard salientou em relação a Portugal que o pico de população total e de população em idade laboral já foi atingido, em 2009, e que o declínio é a tendência das próximas décadas, esperando-se, por exemplo, que em 2050 seja de 52 anos, contra os atuais 46, que o peso dos cidadãos com mais de 65 anos represente cerca de 30% da população portuguesa e que a taxa de fertilidade se fixe em cerca de um filho por mulher.
Dados que, em conjunto, deixam David Bloom "muito inseguro" quanto ao futuro económico de Portugal, que até 2050 terá mais cidadãos dependentes do que a trabalhar e um cenário demográfico muito próximo do Japão, o país onde o envelhecimento da população é reconhecidamente o mais grave em todo o mundo e que já lida atualmente com problemas económicos graves.
As respostas serão necessariamente novas, frisou Bloom, afirmando: "não temos exemplos históricos de como lidar com o envelhecimento da população", e terão que passar por políticas públicas, possivelmente apoiadas no desenvolvimento da tecnologia e da medicina, centrando-se em questões como o envelhecimento ativo, a independência física, económica e social dos mais velhos e a aposta na saúde, focado na prevenção e diagnóstico precoce, uma visão que "sai mais barata ao sistema".
Numa conferência em que analisou as estimativas para o crescimento mundial até 2050 e as respetivas consequências, David Bloom foi taxativo ao afirmar que não há dúvidas que é no envelhecimento da população que reside o maior problema demográfico
O professor da Universidade de Harvard e demógrafo norte-americano David Bloom afirmou estar quarta-feira estar "muito inseguro" quanto ao futuro económico português, muito pressionado por um galopante envelhecimento da população, numa conferência organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Numa conferência em que analisou as estimativas para o crescimento mundial até 2050 e as respetivas consequências, David Bloom foi taxativo ao afirmar que não há dúvidas que é no envelhecimento da população que reside o maior problema demográfico, um cenário transversal, ou quase.
"À exceção do Vaticano, todos os países do mundo estão a envelhecer", disse, numa nota bem humorada, o académico norte-americano no decurso da conferência "Quem Somos? Os desafios das alterações demográficas em debate", a primeira do ciclo 'Nós, portugueses", que assinala os 10 anos da Pordata.
Questões como o crescimento da população, a longevidade e a fertilidade estiveram em análise, associadas a aspetos como o impacto no investimento em saúde, os impactos económicos, laborais e de rendimento e produção de riqueza no mundo, ou ainda as questões ambientais, mais prementes nos países menos desenvolvidos, onde se espera que haja nas próximas décadas o maior crescimento populacional mundial.
Mas é o envelhecimento da população o maior problema com o qual as sociedades vão ter que lidar, sobretudo as mais desenvolvidas, defendeu David Bloom, que olha sem otimismo para o cenário português.
O professor da Universidade de Harvard salientou em relação a Portugal que o pico de população total e de população em idade laboral já foi atingido, em 2009, e que o declínio é a tendência das próximas décadas, esperando-se, por exemplo, que em 2050 seja de 52 anos, contra os atuais 46, que o peso dos cidadãos com mais de 65 anos represente cerca de 30% da população portuguesa e que a taxa de fertilidade se fixe em cerca de um filho por mulher.
Dados que, em conjunto, deixam David Bloom "muito inseguro" quanto ao futuro económico de Portugal, que até 2050 terá mais cidadãos dependentes do que a trabalhar e um cenário demográfico muito próximo do Japão, o país onde o envelhecimento da população é reconhecidamente o mais grave em todo o mundo e que já lida atualmente com problemas económicos graves.
As respostas serão necessariamente novas, frisou Bloom, afirmando: "não temos exemplos históricos de como lidar com o envelhecimento da população", e terão que passar por políticas públicas, possivelmente apoiadas no desenvolvimento da tecnologia e da medicina, centrando-se em questões como o envelhecimento ativo, a independência física, económica e social dos mais velhos e a aposta na saúde, focado na prevenção e diagnóstico precoce, uma visão que "sai mais barata ao sistema".
20.2.20
Restaurante feito só por idosos
por Antena 1
Abre esta manhã às 10h00, em Lisboa o restaurante Mão-Cheia, que também serve pequenos-almoços e lanches. Quem por lá trabalha são seniores, portugueses e imigrantes de várias nacionalidades.
A ideia foi da Associação Pão a Pão, que já criou o restaurante Mezze que integra refugiados do Médio Oriente em Lisboa. O objetivo agora é contribuir para o envelhecimento ativo dos cidadãos.
O novo restaurante Mão-Cheia vai ter uma abertura mais lenta esta manhã, o que chamam de "soft opening", mas a ideia é que esteja a funcionar em pleno no início de março.
Esta terça-feira já é possível tomar o pequeno-almoço no local, almoçar e lanchar. Abre às 10h00 e fecha às 18h00. Fica na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, na Praça das Amoreiras, em Lisboa.
Abre esta manhã às 10h00, em Lisboa o restaurante Mão-Cheia, que também serve pequenos-almoços e lanches. Quem por lá trabalha são seniores, portugueses e imigrantes de várias nacionalidades.
A ideia foi da Associação Pão a Pão, que já criou o restaurante Mezze que integra refugiados do Médio Oriente em Lisboa. O objetivo agora é contribuir para o envelhecimento ativo dos cidadãos.
O novo restaurante Mão-Cheia vai ter uma abertura mais lenta esta manhã, o que chamam de "soft opening", mas a ideia é que esteja a funcionar em pleno no início de março.
Esta terça-feira já é possível tomar o pequeno-almoço no local, almoçar e lanchar. Abre às 10h00 e fecha às 18h00. Fica na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, na Praça das Amoreiras, em Lisboa.
Estarreja: Agrupamento de Escolas de Estarreja assume programa combate ao abandono escolar
in Notícias de Aveiro
O município de Estarreja aprovou um protocolo colaboração com o Agrupamento de Escolas de Estarreja no âmbito da promoção do sucesso escolar.
O acordo permitirá dar continuidade ao projeto local dos “Empresários pela Inclusão Social” que é dinamizado pela Associação EPIS – Empresários pela Inclusão Social nos 2º e 3º ciclo do Ensino Básico.
A autarquia decidiu apoiar o Agrupamento de Escolas de Estarreja com um subsídio de 26.400 euros para gerir o programa de combate ao insucesso escolar.
A EPIS – Empresários Pela Inclusão Social, fundada por empresários e gestores, tem dinamizado em Estarreja, desde 2012, o seu programa de Bolsas Sociais EPIS atribuídas por empresas aderentes a alunos com carências, dando condições para a frequência escolar.
O Agrupamento de Escolas de Estarreja, no entendimento da Câmara, tem “especiais competências no domínio técnico pedagógico para desenvolver tal projeto” que prevê outras ações, desde estágios a voluntariado.
A educação é assumida pela edilidade como um “fator estratégico de desenvolvimento”, justificando-se “uma estreita parceria” com os estabelecimentos de ensino locais, os “primeiros responsáveis pela educação formal das gerações mais novas”.
A colaboração passa por apoiar “projetos que contribuam para a igualdade de oportunidades para o acesso à cultura e educação, concretizando o combate ao abandono escolar e a promoção do sucesso escolar”.
O Plano Estratégico Educativo Municipal de Estarreja (PEEM) prevê “novas propostas estratégicas de desenvolvimento educativo e formativo” para promover “uma maior flexibilidade das ofertas existentes e consequente articulação entre as mesmas bem como a promoção de boas práticas educativas, a melhoria dos resultados e qualidade do serviço prestado à comunidade”.
O município de Estarreja aprovou um protocolo colaboração com o Agrupamento de Escolas de Estarreja no âmbito da promoção do sucesso escolar.
O acordo permitirá dar continuidade ao projeto local dos “Empresários pela Inclusão Social” que é dinamizado pela Associação EPIS – Empresários pela Inclusão Social nos 2º e 3º ciclo do Ensino Básico.
A autarquia decidiu apoiar o Agrupamento de Escolas de Estarreja com um subsídio de 26.400 euros para gerir o programa de combate ao insucesso escolar.
A EPIS – Empresários Pela Inclusão Social, fundada por empresários e gestores, tem dinamizado em Estarreja, desde 2012, o seu programa de Bolsas Sociais EPIS atribuídas por empresas aderentes a alunos com carências, dando condições para a frequência escolar.
O Agrupamento de Escolas de Estarreja, no entendimento da Câmara, tem “especiais competências no domínio técnico pedagógico para desenvolver tal projeto” que prevê outras ações, desde estágios a voluntariado.
A educação é assumida pela edilidade como um “fator estratégico de desenvolvimento”, justificando-se “uma estreita parceria” com os estabelecimentos de ensino locais, os “primeiros responsáveis pela educação formal das gerações mais novas”.
A colaboração passa por apoiar “projetos que contribuam para a igualdade de oportunidades para o acesso à cultura e educação, concretizando o combate ao abandono escolar e a promoção do sucesso escolar”.
O Plano Estratégico Educativo Municipal de Estarreja (PEEM) prevê “novas propostas estratégicas de desenvolvimento educativo e formativo” para promover “uma maior flexibilidade das ofertas existentes e consequente articulação entre as mesmas bem como a promoção de boas práticas educativas, a melhoria dos resultados e qualidade do serviço prestado à comunidade”.
Violência sexual: “Podia proteger o meu filho e não consegui fazê-lo”
Ana Dias Cordeiro, in Público on-line
Leonel tinha 15 anos quando contou à mãe que tinha sido alvo de abusos. Lara nunca conseguiu falar sobre o assunto com a família. Num caso, o abusador está preso, no outro está em liberdade a aguardar decisão do recurso. Seminário da APAV sobre vítimas de abusos realiza-se esta quinta-feira em Lisboa.
Quando o filho adolescente lhe disse que tinha uma coisa para lhe contar, Marília foi levada a pensar que era mais um disparate sem consequências. Um daqueles que não deixariam mágoa, nem dor, nem culpa, nem vergonha. Enganou-se.
A partir daí, o filho, então com 15 anos, perdeu-se no consumo de álcool que misturava com comprimidos, e no haxixe. Não falava, não saía do quarto. “Consumia para esquecer.” Desistiu da escola. A revolta assumiu formas destrutivas e autodestrutivas de descontrolo e agressividade, conta a mãe.
De facto, a urgência que Leonel incutiu nas palavras, quando foi ao trabalho dela perguntar-lhe a que horas sairia, deixou-a pensativa. “Ele estava branco quando me apareceu no trabalho”. Mas porque haveria Marília de pensar o pior? Esperaria calmamente o que Leonel tinha para lhe dizer.
Desde os 11 anos, Leonel ia para casa de um vizinho mais velho, amigo dos pais. Nessa casa na mesma rua onde Leonel vivia, o adulto sentava-o a ele e três outros rapazes a ver filmes pornográficos. Abusava deles sexualmente. As idas a casa dele começaram por ser do conhecimento dos pais, porque o adulto de 65 anos, que vivia sozinho, era uma pessoa de confiança, ajudava em coisas da casa, era afável, disponível, recorda Marília. “Os miúdos lanchavam em casa dele e depois iam para os treinos de futsal com ele.”
Humberto, que veio a ser condenado a dez anos de prisão efectiva por nove crimes de abuso sexual de crianças em Outubro de 2017, conquistara a simpatia e a confiança de todos. Hoje está preso. O convívio com os rapazes, envolto numa falsa inocência, entrou numa rotina estranha – uma rotina que os miúdos não questionaram, nem denunciaram.
Medo do impacto
A razão para não o fazerem depende da idade das crianças, explica Carla Ferreira, gestora do Programa CARE de apoio a crianças e jovens vítimas de violência sexual, criado em 2016 pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). O seminário Passado, presente e futuro do apoio a crianças e jovens vítimas de violência sexual – o papel do Projecto CARE realiza-se esta quinta-feira em Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, um dos financiadores do programa juntamente com a Iniciativa Portugal Inovação Social.
Em quase todas as idades antecipam o impacto de uma eventual revelação na família, continua a criminóloga. “Nalguns casos, não querem desestruturar a família. Têm receio de como os pais ou os seus cuidadores se vão sentir. Quando são mais pequenos, temos situações em que dizem que não perceberam que era errado. Não entendem o comportamento do adulto como problemático. Os mais pequeninos não têm nem sequer forma de relatar o sucedido”, conclui.
No caso de Leonel, que sofreu abusos entre os 11 e os 15 anos, a mãe arranjou a sua própria explicação, embora admita outras. E diz que pode ter sido por Humberto, o abusador, ser amigo do pai. Por muito estranho que possa parecer, explica Marília, ele tinha medo de desiludir o pai.
A falta do pai
Em miúdo, Leonel sentiu a falta do pai que trabalhava em turnos nocturnos, num quotidiano desencontrado do dele. E quando fez 13 ou 14 anos, foi como recuperar o tempo perdido. “O pai acompanhava mais o filho e ele não queria deixar de ter aquela companhia, não queria desiludi-lo.”
“Eu podia proteger o meu filho e não consegui fazê-lo”, diz Marília sem saber de que forma poderia ter impedido o pior de acontecer. Nunca desconfiou de nada. Leonel não vinha triste ou perturbado quando regressava da casa dele ou dos treinos de futsal que Humberto se encarregava de dar aos miúdos, de forma amadora num pavilhão da cidade e noutro pertencente à escola secundária.
O pretexto para Leonel frequentar a casa de Humberto começou por ser o computador, porque o miúdo tinha jeito para a informática. Foi ele quem abriu a conta a Humberto no Facebook através da qual o adulto passou a falar directamente com os miúdos, sem o conhecimento ou a interferência dos pais.
Na Polícia Judiciária, esteve cinco horas a falar. Entre os amigos que tinham sido vítimas nem todos tinham o apoio da família para irem para a frente com uma denúncia que levasse a uma condenação. Quando saiu, apenas disse à mãe: “Que não seja só por mim, que seja também pelos outros.”
Marília sabe que a ela o filho não lhe disse tudo como se ele próprio duvidasse da capacidade do adulto de aguentar toda a verdade. Hoje com 19 anos, Leonel refaz a sua vida e já é pai.
Do Porto a São Miguel
Ao contrário de Leonel, Lara não disse a ninguém, nem à mãe. “A Lara foi sexualmente violada pelo treinador de basquete”, diz Júlia. A mãe cruzava-se todos os dias com ele quando este ia tomar o pequeno-almoço no minimercado onde Júlia trabalhava na altura dos abusos do treinador a várias meninas entre 2013 e 2018 nos Açores.
Os treinos de basquete, do Clube Operário Desportivo de São Miguel, realizavam-se em vários dias da semana – sempre à noite. As meninas vinham de carrinha por volta das 22h30. Chegaram a participar em estágios em Lisboa ou noutra cidade do continente. “Uma pessoa nunca imagina que uma situação destas possa acontecer na nossa família”, diz Júlia.
Histórias que se cruzam: Sinaga, o violador de homens, e Ângelo Fernandes, o activista que defende as vítimas
“Só percebi quando me apareceram à porta dois polícias da PJ para eu prestar declarações e dizer o que sabia daquele homem.” Lembra-se que ele se mostrava preocupado com as atletas em várias ocasiões. Não lhe sai da cabeça um episódio em particular que só agora, em retrospectiva, consegue associar ao que se passou: quando o homem lhe disse que a filha, Lara, aparentava estar triste e tentou saber a razão. Ficou então a saber que o pai de Lara tinha saído de casa deixando a mãe sozinha a cuidar de cinco filhos. “O pai das crianças abandonou-nos.”
O agressor passou a saber quem no grupo das atletas “era mais vulnerável”, salienta a mãe de Lara. Com 30 anos ou pouco mais, solteiro, o homem não era dos Açores e nunca mais foi visto em São Miguel.
Em liberdade
“A condenação era o que eu mais queria”, frisa Júlia. Houve condenação, em Outubro de 2019: oito anos e quatro meses de prisão efectiva e proibição por dez anos de exercer funções que impliquem o contacto com crianças. Actualmente, porém, o homem está em liberdade, a aguardar decisão do Tribunal da Relação de um recurso que apresentou. “Eu julgava que ele estava preso.” Na família, foi um choque saber que não estava.
O processo judicial foi longo e duro, sobretudo para Lara. Começou com uma denúncia anónima, mas obrigou as vítimas – como ela – a recordar em pormenor a violência que sofreram.
A mãe não conseguiu ler até ao fim o testemunho que a filha fez na PJ de São Miguel nos Açores. Começou a ter pesadelos. Seja como for, diz: “Este é um assunto que vai estar sempre presente na nossa vida. Não vai ser apagado.”
1167 crianças e jovens foram apoiados entre 2016 e 2019 pelo Projecto CARE criado pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima. Trata-se de apoio jurídico ou psicológico
“Estas crianças deviam ser ajudadas e acompanhadas até ficarem bem. Mas não é isso que acontece”, diz, por seu lado, Marília, a mãe de Leonel.
Na grande maioria dos casos, o apoio psicológico, de uma forma frequente e continuada, só está disponível no sector privado com elevados custos associados, impossíveis de assegurar pela maioria das famílias das vítimas, que já antes viviam sem grande hipótese de escolha, diz.
154 familiares e amigos das crianças e dos jovens alvo de abusos foram igualmente apoiados. Os pais podem ser ajudados a lidar com o sentimento de que falharam na protecção dos filhos
Terapia e não medicamentos
“No sistema de saúde não há apoios adequados. Devia haver mais terapia e menos medicamentos. Mandam os miúdos para o [Hospital] Magalhães Lemos e não é adequado.” Este hospital presta cuidados de saúde especializados de psiquiatria e de saúde mental. “Eles não precisam de medicamentos, eles precisam é de terapia regular, um profissional que os ajude a ver uma luz ao fundo do túnel”, continua a mãe de Leonel.
Fala das outras vítimas com a mesma emoção com que fala da vítima que lhe é mais próxima, o seu filho. “É preciso garantir que estas pessoas sejam acompanhadas e ajudadas a voltarem a sentir-se bem”, apela, lembrando especificamente os amigos do filho que também foram alvo de abusos pelo mesmo homem.
“Um deles foi testemunha no julgamento em que Leonel era vítima. Mas bloqueou, não conseguiu falar. Saiu da sala de audiências e agarrou-se a mim a pedir desculpa, e a chorar, por não poder fazer nada para ajudar no caso do Leonel.” E o caso dele? Não avançou. “Nem imagino como estará esse miúdo agora.”
Lara, Leonel, Marília e Júlia são nomes fictícios
Leonel tinha 15 anos quando contou à mãe que tinha sido alvo de abusos. Lara nunca conseguiu falar sobre o assunto com a família. Num caso, o abusador está preso, no outro está em liberdade a aguardar decisão do recurso. Seminário da APAV sobre vítimas de abusos realiza-se esta quinta-feira em Lisboa.
Quando o filho adolescente lhe disse que tinha uma coisa para lhe contar, Marília foi levada a pensar que era mais um disparate sem consequências. Um daqueles que não deixariam mágoa, nem dor, nem culpa, nem vergonha. Enganou-se.
A partir daí, o filho, então com 15 anos, perdeu-se no consumo de álcool que misturava com comprimidos, e no haxixe. Não falava, não saía do quarto. “Consumia para esquecer.” Desistiu da escola. A revolta assumiu formas destrutivas e autodestrutivas de descontrolo e agressividade, conta a mãe.
De facto, a urgência que Leonel incutiu nas palavras, quando foi ao trabalho dela perguntar-lhe a que horas sairia, deixou-a pensativa. “Ele estava branco quando me apareceu no trabalho”. Mas porque haveria Marília de pensar o pior? Esperaria calmamente o que Leonel tinha para lhe dizer.
Desde os 11 anos, Leonel ia para casa de um vizinho mais velho, amigo dos pais. Nessa casa na mesma rua onde Leonel vivia, o adulto sentava-o a ele e três outros rapazes a ver filmes pornográficos. Abusava deles sexualmente. As idas a casa dele começaram por ser do conhecimento dos pais, porque o adulto de 65 anos, que vivia sozinho, era uma pessoa de confiança, ajudava em coisas da casa, era afável, disponível, recorda Marília. “Os miúdos lanchavam em casa dele e depois iam para os treinos de futsal com ele.”
Humberto, que veio a ser condenado a dez anos de prisão efectiva por nove crimes de abuso sexual de crianças em Outubro de 2017, conquistara a simpatia e a confiança de todos. Hoje está preso. O convívio com os rapazes, envolto numa falsa inocência, entrou numa rotina estranha – uma rotina que os miúdos não questionaram, nem denunciaram.
Medo do impacto
A razão para não o fazerem depende da idade das crianças, explica Carla Ferreira, gestora do Programa CARE de apoio a crianças e jovens vítimas de violência sexual, criado em 2016 pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). O seminário Passado, presente e futuro do apoio a crianças e jovens vítimas de violência sexual – o papel do Projecto CARE realiza-se esta quinta-feira em Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, um dos financiadores do programa juntamente com a Iniciativa Portugal Inovação Social.
Em quase todas as idades antecipam o impacto de uma eventual revelação na família, continua a criminóloga. “Nalguns casos, não querem desestruturar a família. Têm receio de como os pais ou os seus cuidadores se vão sentir. Quando são mais pequenos, temos situações em que dizem que não perceberam que era errado. Não entendem o comportamento do adulto como problemático. Os mais pequeninos não têm nem sequer forma de relatar o sucedido”, conclui.
No caso de Leonel, que sofreu abusos entre os 11 e os 15 anos, a mãe arranjou a sua própria explicação, embora admita outras. E diz que pode ter sido por Humberto, o abusador, ser amigo do pai. Por muito estranho que possa parecer, explica Marília, ele tinha medo de desiludir o pai.
A falta do pai
Em miúdo, Leonel sentiu a falta do pai que trabalhava em turnos nocturnos, num quotidiano desencontrado do dele. E quando fez 13 ou 14 anos, foi como recuperar o tempo perdido. “O pai acompanhava mais o filho e ele não queria deixar de ter aquela companhia, não queria desiludi-lo.”
“Eu podia proteger o meu filho e não consegui fazê-lo”, diz Marília sem saber de que forma poderia ter impedido o pior de acontecer. Nunca desconfiou de nada. Leonel não vinha triste ou perturbado quando regressava da casa dele ou dos treinos de futsal que Humberto se encarregava de dar aos miúdos, de forma amadora num pavilhão da cidade e noutro pertencente à escola secundária.
O pretexto para Leonel frequentar a casa de Humberto começou por ser o computador, porque o miúdo tinha jeito para a informática. Foi ele quem abriu a conta a Humberto no Facebook através da qual o adulto passou a falar directamente com os miúdos, sem o conhecimento ou a interferência dos pais.
Na Polícia Judiciária, esteve cinco horas a falar. Entre os amigos que tinham sido vítimas nem todos tinham o apoio da família para irem para a frente com uma denúncia que levasse a uma condenação. Quando saiu, apenas disse à mãe: “Que não seja só por mim, que seja também pelos outros.”
Marília sabe que a ela o filho não lhe disse tudo como se ele próprio duvidasse da capacidade do adulto de aguentar toda a verdade. Hoje com 19 anos, Leonel refaz a sua vida e já é pai.
Do Porto a São Miguel
Ao contrário de Leonel, Lara não disse a ninguém, nem à mãe. “A Lara foi sexualmente violada pelo treinador de basquete”, diz Júlia. A mãe cruzava-se todos os dias com ele quando este ia tomar o pequeno-almoço no minimercado onde Júlia trabalhava na altura dos abusos do treinador a várias meninas entre 2013 e 2018 nos Açores.
Os treinos de basquete, do Clube Operário Desportivo de São Miguel, realizavam-se em vários dias da semana – sempre à noite. As meninas vinham de carrinha por volta das 22h30. Chegaram a participar em estágios em Lisboa ou noutra cidade do continente. “Uma pessoa nunca imagina que uma situação destas possa acontecer na nossa família”, diz Júlia.
Histórias que se cruzam: Sinaga, o violador de homens, e Ângelo Fernandes, o activista que defende as vítimas
“Só percebi quando me apareceram à porta dois polícias da PJ para eu prestar declarações e dizer o que sabia daquele homem.” Lembra-se que ele se mostrava preocupado com as atletas em várias ocasiões. Não lhe sai da cabeça um episódio em particular que só agora, em retrospectiva, consegue associar ao que se passou: quando o homem lhe disse que a filha, Lara, aparentava estar triste e tentou saber a razão. Ficou então a saber que o pai de Lara tinha saído de casa deixando a mãe sozinha a cuidar de cinco filhos. “O pai das crianças abandonou-nos.”
O agressor passou a saber quem no grupo das atletas “era mais vulnerável”, salienta a mãe de Lara. Com 30 anos ou pouco mais, solteiro, o homem não era dos Açores e nunca mais foi visto em São Miguel.
Em liberdade
“A condenação era o que eu mais queria”, frisa Júlia. Houve condenação, em Outubro de 2019: oito anos e quatro meses de prisão efectiva e proibição por dez anos de exercer funções que impliquem o contacto com crianças. Actualmente, porém, o homem está em liberdade, a aguardar decisão do Tribunal da Relação de um recurso que apresentou. “Eu julgava que ele estava preso.” Na família, foi um choque saber que não estava.
O processo judicial foi longo e duro, sobretudo para Lara. Começou com uma denúncia anónima, mas obrigou as vítimas – como ela – a recordar em pormenor a violência que sofreram.
A mãe não conseguiu ler até ao fim o testemunho que a filha fez na PJ de São Miguel nos Açores. Começou a ter pesadelos. Seja como for, diz: “Este é um assunto que vai estar sempre presente na nossa vida. Não vai ser apagado.”
1167 crianças e jovens foram apoiados entre 2016 e 2019 pelo Projecto CARE criado pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima. Trata-se de apoio jurídico ou psicológico
“Estas crianças deviam ser ajudadas e acompanhadas até ficarem bem. Mas não é isso que acontece”, diz, por seu lado, Marília, a mãe de Leonel.
Na grande maioria dos casos, o apoio psicológico, de uma forma frequente e continuada, só está disponível no sector privado com elevados custos associados, impossíveis de assegurar pela maioria das famílias das vítimas, que já antes viviam sem grande hipótese de escolha, diz.
154 familiares e amigos das crianças e dos jovens alvo de abusos foram igualmente apoiados. Os pais podem ser ajudados a lidar com o sentimento de que falharam na protecção dos filhos
Terapia e não medicamentos
“No sistema de saúde não há apoios adequados. Devia haver mais terapia e menos medicamentos. Mandam os miúdos para o [Hospital] Magalhães Lemos e não é adequado.” Este hospital presta cuidados de saúde especializados de psiquiatria e de saúde mental. “Eles não precisam de medicamentos, eles precisam é de terapia regular, um profissional que os ajude a ver uma luz ao fundo do túnel”, continua a mãe de Leonel.
Fala das outras vítimas com a mesma emoção com que fala da vítima que lhe é mais próxima, o seu filho. “É preciso garantir que estas pessoas sejam acompanhadas e ajudadas a voltarem a sentir-se bem”, apela, lembrando especificamente os amigos do filho que também foram alvo de abusos pelo mesmo homem.
“Um deles foi testemunha no julgamento em que Leonel era vítima. Mas bloqueou, não conseguiu falar. Saiu da sala de audiências e agarrou-se a mim a pedir desculpa, e a chorar, por não poder fazer nada para ajudar no caso do Leonel.” E o caso dele? Não avançou. “Nem imagino como estará esse miúdo agora.”
Lara, Leonel, Marília e Júlia são nomes fictícios
Portugal em 22.º lugar entre 180 países no desenvolvimento saudável das crianças
in JN
Portugal surge no 22.º lugar entre 180 países do mundo
Portugal surge no 22.º lugar entre 180 países do mundo no que respeita ao desenvolvimento saudável das crianças e adolescentes, num "ranking" construído pelas Nações Unidas e pela revista científica "The Lancet".
A Organização Mundial da Saúde (OMS), a UNICEF e a "The Lancet" criaram um "ranking" que pretende traduzir o estado da saúde infantil e de bem-estar, que mede as condições fundamentais para as crianças prosperarem.
Nesse "ranking", Portugal surge em 22.º lugar, numa tabela liderada pela Noruega, Coreia do Sul e pelos Países Baixos. Segue-se França, Irlanda, Dinamarca, Japão, Bélgica, Islândia, Reino Unido e Luxemburgo.
Atrás de Portugal ficaram países como a Itália, Israel, Polónia ou Nova Zelândia.
Número de crianças obesas aumentou 11 vezes em quatro décadas
Portugal obteve uma pontuação de 0,90 no nível que conjuga possibilidade de sobrevivência e prosperidade, quando a pontuação máxima é 1. Contudo, o máximo atribuído foi 0,95, pontos conquistados por apenas cinco países.
"O objetivo final dos objetivos do desenvolvimento sustentável é garantir que todas as crianças são capazes de se desenvolver e levar vidas felizes e significativas, agora e no futuro", recorda o relatório divulgado na terça-feira.
O documento divulga ainda um índice da sustentabilidade dos vários países, que tem em conta critérios ambientais, como as emissões de dióxido de carbono, que contribuem para as alterações climáticas.
Portugal surge nesta tabela no 129.ª lugar, a par de vários países europeus. Aliás, ao nível das emissões poluentes, os países mais pobres são os que apresentam melhores indicadores, encontrando-se nos primeiros lugares o Burundi, Chade e Somália.
O relatório destaca que nenhum dos 180 países analisados apresenta bom desempenho nos três indicadores: desenvolvimento saudável para as crianças, sustentabilidade e equidade.
Portugal surge no 22.º lugar entre 180 países do mundo
Portugal surge no 22.º lugar entre 180 países do mundo no que respeita ao desenvolvimento saudável das crianças e adolescentes, num "ranking" construído pelas Nações Unidas e pela revista científica "The Lancet".
A Organização Mundial da Saúde (OMS), a UNICEF e a "The Lancet" criaram um "ranking" que pretende traduzir o estado da saúde infantil e de bem-estar, que mede as condições fundamentais para as crianças prosperarem.
Nesse "ranking", Portugal surge em 22.º lugar, numa tabela liderada pela Noruega, Coreia do Sul e pelos Países Baixos. Segue-se França, Irlanda, Dinamarca, Japão, Bélgica, Islândia, Reino Unido e Luxemburgo.
Atrás de Portugal ficaram países como a Itália, Israel, Polónia ou Nova Zelândia.
Número de crianças obesas aumentou 11 vezes em quatro décadas
Portugal obteve uma pontuação de 0,90 no nível que conjuga possibilidade de sobrevivência e prosperidade, quando a pontuação máxima é 1. Contudo, o máximo atribuído foi 0,95, pontos conquistados por apenas cinco países.
"O objetivo final dos objetivos do desenvolvimento sustentável é garantir que todas as crianças são capazes de se desenvolver e levar vidas felizes e significativas, agora e no futuro", recorda o relatório divulgado na terça-feira.
O documento divulga ainda um índice da sustentabilidade dos vários países, que tem em conta critérios ambientais, como as emissões de dióxido de carbono, que contribuem para as alterações climáticas.
Portugal surge nesta tabela no 129.ª lugar, a par de vários países europeus. Aliás, ao nível das emissões poluentes, os países mais pobres são os que apresentam melhores indicadores, encontrando-se nos primeiros lugares o Burundi, Chade e Somália.
O relatório destaca que nenhum dos 180 países analisados apresenta bom desempenho nos três indicadores: desenvolvimento saudável para as crianças, sustentabilidade e equidade.
Sónia Pereira é a nova Alta-Comissária para as Migrações
Joana Gorjão Henriques, in Público on-line
Coordenadora do projecto de assistência ao Governo na reinstalação de refugiados na Organização Internacional para as Migrações, Sónia Pereira tem pesquisa académica em várias áreas das migrações. Assume direcção de um ACM que não terá o combate ao racismo na sua alçada e substitui Pedro Calado, que saiu no final do ano passado.
O Governo já encontrou substituto para Pedro Calado, que saiu da direcção do Alto Comissariado para as Migrações (ACM) no final do ano passado para assumir a posição de director adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian.
A nova Alta-Comissária para as Migrações chama-se Sónia Pereira, tem 43 anos e era coordenadora do projecto de assistência ao Governo na reinstalação de refugiados na Organização Internacional para as Migrações, uma agência das Nações Unidas.
De Hepburn a Hitchcock : os ícones de Hollywood chegam ao Porto
Formada em Economia e doutorada em Geografia, Sónia Pereira foi investigadora da Organização Internacional do Trabalho e tem-se especializado nas migrações e políticas migratórias desde 2000. No seu currículo nota-se um foco de grande parte das suas pesquisas no tráfico de seres humanos, embora faça investigação sobre a relação da imigração com outras áreas, cruzando a academia com as organizações não-governamentais. A migração laboral, a inclusão socioeconómica, a participação artística ou política de migrantes são alguns dos focos da sua investigação nesta área.
Ao seu lado, Sónia Pereira vai trabalhar com o jurista José Reis, que assume o papel de vogal e substitui a jurista Romualda Fernandes, entretanto eleita deputada pelo PS. Licenciado em Direito, com pós-graduação em Criminologia, José Reis trabalha na Reinserção Social há vários anos, e estava desde 2017 como director do Centro Educativo da Bela Vista. É também dirigente da associação luso cabo-verdiana Sintra.
Ao PÚBLICO, a nova Alta-Comissária disse que aceita o cargo “com grande entusiasmo”, num organismo “responsável pela definição e implementação de política pública em áreas tão relevantes como são as migrações e as minorias”. “É muito motivante actuar no âmbito de um quadro político que valoriza as migrações e a diversidade enquanto recursos para o desenvolvimento de um país e trabalhar em conjunto e dinamizando a equipa do ACM.”
Disse ainda que aceita o projecto com base na sua experiência académica e profissional em organizações como a OIM, “cuja missão e valores têm por base o princípio de que a migração humana e ordenada beneficia os migrantes e as sociedades de origem e acolhimento (e Portugal é ambas), e que defende a dignidade humana e o bem-estar dos migrantes”.
Um ACM sem a discriminação
Antes da sua saída, Pedro Calado escreveu um post no Facebook onde referia que fechava um ciclo iniciado em 2001 no Programa Escolhas, do qual se tornou director em 2007. Era Alto-Comissário desde 2014. Nesse post fazia um balanço onde destacava as várias actividades do ACM: a implementação de uma nova Lei de Combate à Discriminação, publicada em 2017, o Fundo de Apoio à Integração das Comunidades Ciganas, o programa de Mediadores Interculturais e projectos-piloto para a inserção laboral das comunidades ciganas, o relançamento do Observatório das Migrações e a criação do Observatório das Comunidades Ciganas foram alguns exemplos.
Sónia Pereira irá liderar um ACM diferente. Com um bolo financeiro previsto no Orçamento de Estado (OE) de 18,2 milhões, o ACM deixará de ter sob a sua alçada o combate à discriminação racial, que funcionará como observatório do racismo e da xenofobia, e deverá arrancar no próximo ano. A Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial (CICDR) sairá, assim, da sua tutela.
O Governo criou nesta legislatura a primeira secretaria de Estado para a Integração e as Migrações, liderada por Cláudia Pereira. Por enquanto, a CICDR ficará fisicamente no ACM por causa do apoio técnico, mas os seus funcionários irão responder a entidades diferentes. “A CICDR devia ser completamente independente e não presidida pelo alto-comissário, mas isso só mudando a lei. Pensei em fazer uma mudança progressiva”, afirmou na altura a ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva.
O documento do Governo define o ACM como o organismo que tem por missão “colaborar na definição, execução e avaliação das políticas públicas, transversais e sectoriais em matéria de migrações, relevantes para a atracção dos migrantes nos contextos nacional, internacional e lusófono, para a integração dos imigrantes e grupos étnicos, em particular as comunidades ciganas, e para a gestão e valorização da diversidade entre culturas, etnias e religiões”.
Coordenadora do projecto de assistência ao Governo na reinstalação de refugiados na Organização Internacional para as Migrações, Sónia Pereira tem pesquisa académica em várias áreas das migrações. Assume direcção de um ACM que não terá o combate ao racismo na sua alçada e substitui Pedro Calado, que saiu no final do ano passado.
O Governo já encontrou substituto para Pedro Calado, que saiu da direcção do Alto Comissariado para as Migrações (ACM) no final do ano passado para assumir a posição de director adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian.
A nova Alta-Comissária para as Migrações chama-se Sónia Pereira, tem 43 anos e era coordenadora do projecto de assistência ao Governo na reinstalação de refugiados na Organização Internacional para as Migrações, uma agência das Nações Unidas.
De Hepburn a Hitchcock : os ícones de Hollywood chegam ao Porto
Formada em Economia e doutorada em Geografia, Sónia Pereira foi investigadora da Organização Internacional do Trabalho e tem-se especializado nas migrações e políticas migratórias desde 2000. No seu currículo nota-se um foco de grande parte das suas pesquisas no tráfico de seres humanos, embora faça investigação sobre a relação da imigração com outras áreas, cruzando a academia com as organizações não-governamentais. A migração laboral, a inclusão socioeconómica, a participação artística ou política de migrantes são alguns dos focos da sua investigação nesta área.
Ao seu lado, Sónia Pereira vai trabalhar com o jurista José Reis, que assume o papel de vogal e substitui a jurista Romualda Fernandes, entretanto eleita deputada pelo PS. Licenciado em Direito, com pós-graduação em Criminologia, José Reis trabalha na Reinserção Social há vários anos, e estava desde 2017 como director do Centro Educativo da Bela Vista. É também dirigente da associação luso cabo-verdiana Sintra.
Ao PÚBLICO, a nova Alta-Comissária disse que aceita o cargo “com grande entusiasmo”, num organismo “responsável pela definição e implementação de política pública em áreas tão relevantes como são as migrações e as minorias”. “É muito motivante actuar no âmbito de um quadro político que valoriza as migrações e a diversidade enquanto recursos para o desenvolvimento de um país e trabalhar em conjunto e dinamizando a equipa do ACM.”
Disse ainda que aceita o projecto com base na sua experiência académica e profissional em organizações como a OIM, “cuja missão e valores têm por base o princípio de que a migração humana e ordenada beneficia os migrantes e as sociedades de origem e acolhimento (e Portugal é ambas), e que defende a dignidade humana e o bem-estar dos migrantes”.
Um ACM sem a discriminação
Antes da sua saída, Pedro Calado escreveu um post no Facebook onde referia que fechava um ciclo iniciado em 2001 no Programa Escolhas, do qual se tornou director em 2007. Era Alto-Comissário desde 2014. Nesse post fazia um balanço onde destacava as várias actividades do ACM: a implementação de uma nova Lei de Combate à Discriminação, publicada em 2017, o Fundo de Apoio à Integração das Comunidades Ciganas, o programa de Mediadores Interculturais e projectos-piloto para a inserção laboral das comunidades ciganas, o relançamento do Observatório das Migrações e a criação do Observatório das Comunidades Ciganas foram alguns exemplos.
Sónia Pereira irá liderar um ACM diferente. Com um bolo financeiro previsto no Orçamento de Estado (OE) de 18,2 milhões, o ACM deixará de ter sob a sua alçada o combate à discriminação racial, que funcionará como observatório do racismo e da xenofobia, e deverá arrancar no próximo ano. A Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial (CICDR) sairá, assim, da sua tutela.
O Governo criou nesta legislatura a primeira secretaria de Estado para a Integração e as Migrações, liderada por Cláudia Pereira. Por enquanto, a CICDR ficará fisicamente no ACM por causa do apoio técnico, mas os seus funcionários irão responder a entidades diferentes. “A CICDR devia ser completamente independente e não presidida pelo alto-comissário, mas isso só mudando a lei. Pensei em fazer uma mudança progressiva”, afirmou na altura a ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva.
O documento do Governo define o ACM como o organismo que tem por missão “colaborar na definição, execução e avaliação das políticas públicas, transversais e sectoriais em matéria de migrações, relevantes para a atracção dos migrantes nos contextos nacional, internacional e lusófono, para a integração dos imigrantes e grupos étnicos, em particular as comunidades ciganas, e para a gestão e valorização da diversidade entre culturas, etnias e religiões”.
Esfaqueamentos, violações e sobrelotação em Moria. É aqui que vive e morre o sonho da Europa
Filipe d'Avillez, in RR
As péssimas condições dos campos de acolhimento de refugiados e migrantes que tentam chegar à Europa deixaram de dar capas e abrir noticiários. Mas uma portuguesa que lá está há dois anos garante que a situação nunca foi pior.
Construído para 2.300 pessoas, o campo de Moria, na ilha grega de Lesbos, alberga atualmente 19 mil. A situação tornou-se explosiva e muito perigosa, sobretudo para mulheres e crianças. Uma funcionária portuguesa que está na ilha há quase dois anos avança que há, pelo menos, 1.200 menores desacompanhados.
A dimensão da tragédia não deixa incólume quem lá chega pela primeira vez. Foi o que se passou com Raul Manarte, um voluntário que chegou no final de janeiro e no dia 4 de fevereiro publicou um post em que narrava alguns dos horrores a que já tinha assistido.
Conta como nesse espaço de tempo seis crianças foram esfaqueadas e que conversou com um afegão que viu os seus irmãos degolados; que um em cada quatro menores que atende manifestam desejos de morrer e quase todos têm cortes autoinfligidos.
“Todas as noites acabo com sangue nas mãos”, resume.
Um ex-voluntário contactado pela Renascença diz não ter dúvidas da autenticidade do relato. “Eu estive em Mória em 2017 e posso confirmar que era assim. As condições são absolutamente desumanas. A sobrelotação era de tal ordem que as pessoas não tinham outra opção senão ficar nas tendas.”
“Todas as noites existiam conflitos e fogos. Como os guardas não têm capacidade para resolver a situação, a solução era fechar as partes dos campos onde os conflitos se desenrolavam. Ficavam presos como numa jaula a arder. Havia de facto uma casa de banho para cada 500 pessoas mas as mulheres e crianças tinham medo de lá ir à noite por temerem ser violadas pelo que faziam atrás da tenda (ou seja na entrada da tenda seguinte). Como Mória é uma colina, quando chovia, todos os dejetos escorriam para a base do campo onde as pessoas ficavam atoladas até aos tornozelos em dejetos”, continua o médico João Maria Ameal, concluindo que “isto foi em 2017, desde então tenho ouvido dizer que está pior.”
Dramatismo ou verdade? A Renascença conversou com Fabiana Faria, uma jovem de 23 anos que está na ilha de Lesbos, onde se encontra o campo, há quase dois anos. Começou como voluntária e agora está contratada, a trabalhar com uma organização que presta apoio jurídico aos refugiados.
Começamos com um número aterrador. Só em Moria, por entre os 19 mil refugiados, há pelo menos 1.200 menores desacompanhados. Ingenuamente perguntamos se estes não deviam estar num campo à parte? “O que faria sentido era nem sequer estarem na Grécia neste momento e os países europeus estarem a ajudar. A maioria são rapazes de 13, 14, 15, 16 ou 17 anos que não têm sequer uma tenda no campo.”
“Obviamente há partes do campo que estão designadas para os menores desacompanhados, mas neste momento há tantos aqui que não há espaço nessas secções do campo. Os menores desacompanhados neste momento são dos que caiem mais, entre todos os sistemas, que há aqui em Lesbos. É um dos maiores dramas.”
“E claro que este número é uma estimativa por baixo porque estes são os que são identificados como menores, porque há muitos deles que depois de serem registados são considerados adultos, mas na realidade são menores. Então é preciso lutar para que sejam considerados com a idade que efetivamente têm. Ou seja, há bem mais do que 1.200 menores desacompanhados em Lesbos nesta altura”, conclui.
Moria é seguro. Durante o dia…
Talvez por estar há mais tempo, Fabiana é mais contida na descrição do dia-a-dia em Moria. Em relação aos esfaqueamentos e às violações, por exemplo, diz que “se são diárias, quotidianas, se é banal, isso não posso dizer. Não tenho acesso aos registos. Mas o que posso dizer é que num campo com 19 mil pessoas severamente traumatizadas, infelizmente há muitas dessas situações a acontecer, e sim, os campos não são seguros neste momento para as pessoas lá ficarem.”
“Moria é seguro durante o dia – eu ando sozinha e nunca tive qualquer problema – mas à noite é outra história. As mulheres não vão sequer à casa de banho, usam fraldas, porque só no tempo que leva saírem com os filhos para ir à casa de banho, o que por vezes implica caminhar 20 minutos no escuro, infelizmente há muitos homens que as tentam magoar. E às vezes conseguem fazê-lo.”
Ainda assim, assegura, não se recorda de ouvir falar de um único caso de violência contra os voluntários e funcionários do campo. Pelo menos não da parte dos refugiados.
“A violência recente que houve na ilha contra voluntários – e eu não testemunhei o assunto – foi com grupos de extrema-direita que vieram à ilha, e habitantes da ilha também, que estão a ficar muito frustrados com a situação e atacaram voluntários e refugiados. E a atuação policial é mais no sentido de escalar a situação e os protestos pacíficos dos requerentes e refugiados do que acalmar a situação”, diz Fabiana.
"Moria é seguro durante o dia – eu ando sozinha e nunca tive qualquer problema – mas à noite é outra história"
Nunca chegou tanta gente como hoje
O drama dos refugiados que tentam chegar à Europa não melhorou nos últimos anos, simplesmente desapareceu das capas dos jornais e perdeu alguma importância no radar jornalístico.
Perante a enchente de pessoas o processo para obtenção de asilo foi acelerado, mas não no melhor sentido, considera Fabiana.
“Nunca houve tanta gente em Lesbos. Quando eu cheguei cá em março de 2018 não havia talvez um terço das chegadas diárias que há, ainda hoje, apesar do mau tempo. A situação está bem pior porque as estruturas que existem são as mesmas que existiam quando o campo tinha 11 mil pessoas. Portanto as coisas estão efetivamente bastante piores.”
“A nova lei posta em prática em janeiro mudou as coisas, há mais gente a ser rejeitada, o sistema de asilo é completamente diferente para as pessoas que acabaram de chegar. Uma pessoa chegaria e teria meses, para as pessoas que começaram a chegar a partir de 1 de janeiro demora 10 dias. Portanto estamos a ver imensas rejeições em comparação a dezembro e de pessoas em situações muito vulneráveis. Vimos um caso de uma mãe solteira da Síria, com três filhos, todos menores, e foi rejeitada”, lamenta.
Todos fazem falta
Fabiana está a tempo inteiro mas não são poucos os portugueses que oferecem semanas ou meses para estar com os refugiados. Costumam ser médicos, enfermeiros, mas todos fazem falta, diz.
“Falta tudo, desde ajuda médica a ajuda jurídica, brincar com os miúdos, treinos de futebol, o que seja.”
“Se não têm tempo, podem auxiliar com apoio financeiro às organizações que estão aqui nos campos e eu diria, mais que tudo, mandar emails aos líderes nacionais e europeus e assegurar que estamos a fazer chegar a mensagem de que isto é um tratamento desumano, de pessoas que estão a fugir de guerras e torturas e desespero para chegar cá e serem recebidas num campo como Mória, numa tenda”, critica.
“Está um frio de morrer hoje. Estão quatro graus, está a chover torrencialmente, está toda a gente molhada e não faz sentido nenhum. Devíamos estar a erguer estátuas às pessoas que chegaram cá e em vez disso estamos a pô-las em campos que pioram e traumatizam ainda mais as do que tudo o que as pessoas já passaram para chegar do Afeganistão, Irão, Congo e Angola”, conclui.
As péssimas condições dos campos de acolhimento de refugiados e migrantes que tentam chegar à Europa deixaram de dar capas e abrir noticiários. Mas uma portuguesa que lá está há dois anos garante que a situação nunca foi pior.
Construído para 2.300 pessoas, o campo de Moria, na ilha grega de Lesbos, alberga atualmente 19 mil. A situação tornou-se explosiva e muito perigosa, sobretudo para mulheres e crianças. Uma funcionária portuguesa que está na ilha há quase dois anos avança que há, pelo menos, 1.200 menores desacompanhados.
A dimensão da tragédia não deixa incólume quem lá chega pela primeira vez. Foi o que se passou com Raul Manarte, um voluntário que chegou no final de janeiro e no dia 4 de fevereiro publicou um post em que narrava alguns dos horrores a que já tinha assistido.
Conta como nesse espaço de tempo seis crianças foram esfaqueadas e que conversou com um afegão que viu os seus irmãos degolados; que um em cada quatro menores que atende manifestam desejos de morrer e quase todos têm cortes autoinfligidos.
“Todas as noites acabo com sangue nas mãos”, resume.
Um ex-voluntário contactado pela Renascença diz não ter dúvidas da autenticidade do relato. “Eu estive em Mória em 2017 e posso confirmar que era assim. As condições são absolutamente desumanas. A sobrelotação era de tal ordem que as pessoas não tinham outra opção senão ficar nas tendas.”
“Todas as noites existiam conflitos e fogos. Como os guardas não têm capacidade para resolver a situação, a solução era fechar as partes dos campos onde os conflitos se desenrolavam. Ficavam presos como numa jaula a arder. Havia de facto uma casa de banho para cada 500 pessoas mas as mulheres e crianças tinham medo de lá ir à noite por temerem ser violadas pelo que faziam atrás da tenda (ou seja na entrada da tenda seguinte). Como Mória é uma colina, quando chovia, todos os dejetos escorriam para a base do campo onde as pessoas ficavam atoladas até aos tornozelos em dejetos”, continua o médico João Maria Ameal, concluindo que “isto foi em 2017, desde então tenho ouvido dizer que está pior.”
Dramatismo ou verdade? A Renascença conversou com Fabiana Faria, uma jovem de 23 anos que está na ilha de Lesbos, onde se encontra o campo, há quase dois anos. Começou como voluntária e agora está contratada, a trabalhar com uma organização que presta apoio jurídico aos refugiados.
Começamos com um número aterrador. Só em Moria, por entre os 19 mil refugiados, há pelo menos 1.200 menores desacompanhados. Ingenuamente perguntamos se estes não deviam estar num campo à parte? “O que faria sentido era nem sequer estarem na Grécia neste momento e os países europeus estarem a ajudar. A maioria são rapazes de 13, 14, 15, 16 ou 17 anos que não têm sequer uma tenda no campo.”
“Obviamente há partes do campo que estão designadas para os menores desacompanhados, mas neste momento há tantos aqui que não há espaço nessas secções do campo. Os menores desacompanhados neste momento são dos que caiem mais, entre todos os sistemas, que há aqui em Lesbos. É um dos maiores dramas.”
“E claro que este número é uma estimativa por baixo porque estes são os que são identificados como menores, porque há muitos deles que depois de serem registados são considerados adultos, mas na realidade são menores. Então é preciso lutar para que sejam considerados com a idade que efetivamente têm. Ou seja, há bem mais do que 1.200 menores desacompanhados em Lesbos nesta altura”, conclui.
Moria é seguro. Durante o dia…
Talvez por estar há mais tempo, Fabiana é mais contida na descrição do dia-a-dia em Moria. Em relação aos esfaqueamentos e às violações, por exemplo, diz que “se são diárias, quotidianas, se é banal, isso não posso dizer. Não tenho acesso aos registos. Mas o que posso dizer é que num campo com 19 mil pessoas severamente traumatizadas, infelizmente há muitas dessas situações a acontecer, e sim, os campos não são seguros neste momento para as pessoas lá ficarem.”
“Moria é seguro durante o dia – eu ando sozinha e nunca tive qualquer problema – mas à noite é outra história. As mulheres não vão sequer à casa de banho, usam fraldas, porque só no tempo que leva saírem com os filhos para ir à casa de banho, o que por vezes implica caminhar 20 minutos no escuro, infelizmente há muitos homens que as tentam magoar. E às vezes conseguem fazê-lo.”
Ainda assim, assegura, não se recorda de ouvir falar de um único caso de violência contra os voluntários e funcionários do campo. Pelo menos não da parte dos refugiados.
“A violência recente que houve na ilha contra voluntários – e eu não testemunhei o assunto – foi com grupos de extrema-direita que vieram à ilha, e habitantes da ilha também, que estão a ficar muito frustrados com a situação e atacaram voluntários e refugiados. E a atuação policial é mais no sentido de escalar a situação e os protestos pacíficos dos requerentes e refugiados do que acalmar a situação”, diz Fabiana.
"Moria é seguro durante o dia – eu ando sozinha e nunca tive qualquer problema – mas à noite é outra história"
Nunca chegou tanta gente como hoje
O drama dos refugiados que tentam chegar à Europa não melhorou nos últimos anos, simplesmente desapareceu das capas dos jornais e perdeu alguma importância no radar jornalístico.
Perante a enchente de pessoas o processo para obtenção de asilo foi acelerado, mas não no melhor sentido, considera Fabiana.
“Nunca houve tanta gente em Lesbos. Quando eu cheguei cá em março de 2018 não havia talvez um terço das chegadas diárias que há, ainda hoje, apesar do mau tempo. A situação está bem pior porque as estruturas que existem são as mesmas que existiam quando o campo tinha 11 mil pessoas. Portanto as coisas estão efetivamente bastante piores.”
“A nova lei posta em prática em janeiro mudou as coisas, há mais gente a ser rejeitada, o sistema de asilo é completamente diferente para as pessoas que acabaram de chegar. Uma pessoa chegaria e teria meses, para as pessoas que começaram a chegar a partir de 1 de janeiro demora 10 dias. Portanto estamos a ver imensas rejeições em comparação a dezembro e de pessoas em situações muito vulneráveis. Vimos um caso de uma mãe solteira da Síria, com três filhos, todos menores, e foi rejeitada”, lamenta.
Todos fazem falta
Fabiana está a tempo inteiro mas não são poucos os portugueses que oferecem semanas ou meses para estar com os refugiados. Costumam ser médicos, enfermeiros, mas todos fazem falta, diz.
“Falta tudo, desde ajuda médica a ajuda jurídica, brincar com os miúdos, treinos de futebol, o que seja.”
“Se não têm tempo, podem auxiliar com apoio financeiro às organizações que estão aqui nos campos e eu diria, mais que tudo, mandar emails aos líderes nacionais e europeus e assegurar que estamos a fazer chegar a mensagem de que isto é um tratamento desumano, de pessoas que estão a fugir de guerras e torturas e desespero para chegar cá e serem recebidas num campo como Mória, numa tenda”, critica.
“Está um frio de morrer hoje. Estão quatro graus, está a chover torrencialmente, está toda a gente molhada e não faz sentido nenhum. Devíamos estar a erguer estátuas às pessoas que chegaram cá e em vez disso estamos a pô-las em campos que pioram e traumatizam ainda mais as do que tudo o que as pessoas já passaram para chegar do Afeganistão, Irão, Congo e Angola”, conclui.
Alerta da Unicef e OMS. O mundo está a minar o futuro das crianças
por RTP
Os países do mundo estão a falhar na proteção da saúde e do futuro das crianças devido à intensificação da degradação ecológica, das mudanças climáticas, dos conflitos e até das práticas agressivas de marketing, lê-se num novo relatório.
O relatório afirma que, embora tenham sido realizadas várias melhorias na sobrevivência, nutrição e educação ao longo dos últimos 20 anos, as crianças enfrentam um “futuro incerto” e “ameaças existenciais”.
“Em 2015, os países do mundo concordaram com as metas de desenvolvimento sustentável. Contudo, cerca de cinco anos depois, foram poucos os países que registaram progresso”, declarou a comissão de 40 especialistas que fizeram parte da investigação, citada pelo jornal britânico The Guardian.
Os especialistas apontam as mudanças climáticas, a degradação ecológica, as populações migrantes, os conflitos, as desigualdades e as práticas comerciais agressivas como ameaças à saúde e ao futuro das gerações mais novas em todos os países.
A Organização Mundial de Saúde e a Unicef – responsáveis pelo relatório – pedem para que sejam realizadas mudanças urgentes na proteção da saúde infantil e na emergência climática.
A investigação destaca também a ameaça das práticas comerciais agressivas que expõem as crianças à comercialização de fast food e bebidas açucaradas, que provocaram um aumento 11 vezes maior da obesidade infantil.
O relatório inclui também um índice de 180 países em que são comparados dados sobre a sobrevivência, bem-estar, saúde, educação e nutrição, bem como a sustentabilidade, as emissões de gases de efeito de estufa e as diferenças de rendimentos.
“Emissões de CO2 ameaçam futuro das crianças”
Ainda segundo o relatório, o aquecimento global – provocado principalmente pelos países mais ricos – representa uma ameaça para a saúde, desde a propagação de ondas de calor até ao alastramento de doenças tropicais.
Os 40 especialistas consideram que os “países mais pobres precisam de fazer mais para apoiar mais a capacidade das crianças viverem de forma saudável”, enquanto que os países mais ricos “estão a ameaçar o futuro de todas as crianças”.
O chefe de saúde da Unicef, Stefan Peterson, declarou que as crianças que vivem nos países mais pobres estão a enfrentar o impacto de uma mudança climática, embora tenham uma pequena pegada de carbono.
“Essas crianças enfrentam enormes desafios relacionados com a saúde e o bem-estar e agora também estão em maior desvantagem no que toca à crise climática. Precisamos de ganhos sustentáveis na saúde e no desenvolvimento infantil, o que significa que os grandes emissores de carbono precisam de reduzir as suas emissões para que todas as crianças prosperem, quer sejam pobres ou ricas”.
De acordo com o relatório, se o aquecimento global continuar a aumentar, de acordo com as projeções atuais, as consequências vão ser “devastadoras para a saúde das crianças”, devido ao aumento do nível dos oceanos, das ondas de calor, da propagação de doenças e da desnutrição.
“Os únicos países que estão a caminho de vencer as metas de emissão de CO2 per capita até 2030 são a Albânia, Arménia, Jordânia, Moldávia, Sri Lanka, Tunísia, Uruguai e Vietnam”, refere o relatório.
Obesidade infantil aumenta 11 vezes em 40 anos
O relatório, divulgado pela revista The Lancet, expõe que mais de 124 milhões de crianças e adolescentes em todo o mundo eram obesas em 2016, o que significa que, nas últimas quatro décadas, a obesidade aumentou 11 vezes.
Em 1975 existiam 11 milhões de crianças, em todo o mundo, com obesidade. Em 2016 o número subiu para 124 milhões.
Uma das causas apontadas pelos especialistas é a exposição exagerada das crianças a anúncios e comerciais sobre comida não saudável e bebidas açucaradas, que leva a que as crianças façam escolhas alimentares inadequadas.
O relatório sugere que, em alguns países, as crianças veem mais de 30 mil anúncios televisivos por ano, relacionados com aquilo que chamam de “marketing para obesidade infantil”.
“A autorregulação da indústria falhou”, afirmou Anthony Costello, um dos autores do documento.
Os autores apontam o dedo ao que consideram ser “práticas exploradoras” do marketing das indústrias, que promove a fast food e as bebidas açucaradas.
“A realidade pode ser ainda pior”
A exposição de menores a anúncios relacionados com o consumo de álcool e tabaco é outra das preocupações dos investigadores.
O relatório afirma que as crianças estão em risco. “A exposição dos jovens a anúncios de cigarros eletrónicos aumentou mais de 250 por cento nos Estados Unidos em dois anos, atingindo mais de 24 milhões de jovens”.
A comissão que elaborou o relatório pede aos governos que adotem medidas “para garantir que as crianças recebam o direito a terem um planeta habitável nos próximos anos”.
Costello afirmou que ainda existem “poucos factos e números sobre a expansão da publicidade nos media e algoritmos voltados para as crianças”. No caso de não serem realizadas mudanças, “a realidade pode ser ainda pior”.
Os países do mundo estão a falhar na proteção da saúde e do futuro das crianças devido à intensificação da degradação ecológica, das mudanças climáticas, dos conflitos e até das práticas agressivas de marketing, lê-se num novo relatório.
O relatório afirma que, embora tenham sido realizadas várias melhorias na sobrevivência, nutrição e educação ao longo dos últimos 20 anos, as crianças enfrentam um “futuro incerto” e “ameaças existenciais”.
“Em 2015, os países do mundo concordaram com as metas de desenvolvimento sustentável. Contudo, cerca de cinco anos depois, foram poucos os países que registaram progresso”, declarou a comissão de 40 especialistas que fizeram parte da investigação, citada pelo jornal britânico The Guardian.
Os especialistas apontam as mudanças climáticas, a degradação ecológica, as populações migrantes, os conflitos, as desigualdades e as práticas comerciais agressivas como ameaças à saúde e ao futuro das gerações mais novas em todos os países.
A Organização Mundial de Saúde e a Unicef – responsáveis pelo relatório – pedem para que sejam realizadas mudanças urgentes na proteção da saúde infantil e na emergência climática.
A investigação destaca também a ameaça das práticas comerciais agressivas que expõem as crianças à comercialização de fast food e bebidas açucaradas, que provocaram um aumento 11 vezes maior da obesidade infantil.
O relatório inclui também um índice de 180 países em que são comparados dados sobre a sobrevivência, bem-estar, saúde, educação e nutrição, bem como a sustentabilidade, as emissões de gases de efeito de estufa e as diferenças de rendimentos.
“Emissões de CO2 ameaçam futuro das crianças”
Ainda segundo o relatório, o aquecimento global – provocado principalmente pelos países mais ricos – representa uma ameaça para a saúde, desde a propagação de ondas de calor até ao alastramento de doenças tropicais.
Os 40 especialistas consideram que os “países mais pobres precisam de fazer mais para apoiar mais a capacidade das crianças viverem de forma saudável”, enquanto que os países mais ricos “estão a ameaçar o futuro de todas as crianças”.
O chefe de saúde da Unicef, Stefan Peterson, declarou que as crianças que vivem nos países mais pobres estão a enfrentar o impacto de uma mudança climática, embora tenham uma pequena pegada de carbono.
“Essas crianças enfrentam enormes desafios relacionados com a saúde e o bem-estar e agora também estão em maior desvantagem no que toca à crise climática. Precisamos de ganhos sustentáveis na saúde e no desenvolvimento infantil, o que significa que os grandes emissores de carbono precisam de reduzir as suas emissões para que todas as crianças prosperem, quer sejam pobres ou ricas”.
De acordo com o relatório, se o aquecimento global continuar a aumentar, de acordo com as projeções atuais, as consequências vão ser “devastadoras para a saúde das crianças”, devido ao aumento do nível dos oceanos, das ondas de calor, da propagação de doenças e da desnutrição.
“Os únicos países que estão a caminho de vencer as metas de emissão de CO2 per capita até 2030 são a Albânia, Arménia, Jordânia, Moldávia, Sri Lanka, Tunísia, Uruguai e Vietnam”, refere o relatório.
Obesidade infantil aumenta 11 vezes em 40 anos
O relatório, divulgado pela revista The Lancet, expõe que mais de 124 milhões de crianças e adolescentes em todo o mundo eram obesas em 2016, o que significa que, nas últimas quatro décadas, a obesidade aumentou 11 vezes.
Em 1975 existiam 11 milhões de crianças, em todo o mundo, com obesidade. Em 2016 o número subiu para 124 milhões.
Uma das causas apontadas pelos especialistas é a exposição exagerada das crianças a anúncios e comerciais sobre comida não saudável e bebidas açucaradas, que leva a que as crianças façam escolhas alimentares inadequadas.
O relatório sugere que, em alguns países, as crianças veem mais de 30 mil anúncios televisivos por ano, relacionados com aquilo que chamam de “marketing para obesidade infantil”.
“A autorregulação da indústria falhou”, afirmou Anthony Costello, um dos autores do documento.
Os autores apontam o dedo ao que consideram ser “práticas exploradoras” do marketing das indústrias, que promove a fast food e as bebidas açucaradas.
“A realidade pode ser ainda pior”
A exposição de menores a anúncios relacionados com o consumo de álcool e tabaco é outra das preocupações dos investigadores.
O relatório afirma que as crianças estão em risco. “A exposição dos jovens a anúncios de cigarros eletrónicos aumentou mais de 250 por cento nos Estados Unidos em dois anos, atingindo mais de 24 milhões de jovens”.
A comissão que elaborou o relatório pede aos governos que adotem medidas “para garantir que as crianças recebam o direito a terem um planeta habitável nos próximos anos”.
Costello afirmou que ainda existem “poucos factos e números sobre a expansão da publicidade nos media e algoritmos voltados para as crianças”. No caso de não serem realizadas mudanças, “a realidade pode ser ainda pior”.
Centros históricos não são amigos dos idosos
Por Rute Fonseca, in TSF
A população mais velha sente-se pouco segura nos centros históricos das cidades. Esta é uma das conclusões do estudo para a Promoção da Mobilidade Sustentável da População Idosa, realizado pelas Universidades de Coimbra e do Porto.
Há obstáculos físicos e visuais, os espaços públicos não estão adequados para que os idosos possam caminhar ou circular de forma segura. A conclusão surge após terem sido analisados o Centro Histórico do Porto e a alta de Coimbra e de terem sido entrevistados idosos que lá residem, assim como turistas seniores.
Fernando Brandão Alves, invetsigador da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e um dos coordenadores do projeto, explica que foram identificados vários obstáculos: "Pavimentos maltratados, falta de manutenção geral do espaço público, falta de dispositivos como corrimões ou pavimentos antiderrapantes".
Neste estudo do Centro de Investigação do Território, Transporte e Ambiente (CITTA) e da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, também foram identificados problemas nos transportes públicos - são insuficientes e pouco seguros para os idosos.
"Queixam-se de pouca frequência dos transportes e de alguma insegurança provocada pela forma como se conduz", aponta o investigador. "Os condutores revelam pouca sensibilidade à fragilidade do idoso, que, quando sobe ao autocarro, precisa de tempo para se sentar em segurança - e esse tempo nem sempre é cumprido com o veículo imobilizado."
Fernando Brandão Alves diz que o estudo, designado por MOBI - AGE, recomenda um investimento na melhoria e requalificação do espaço público. "Investimento no desenho do espaço, nos materiais, na qualidade da paisagem urbana, ou seja, espaços limpos, com menos ruído visual, menor invasão dos murais com grafites e lixo presente no espaço público."
Com base nestas conclusões, o próximo passo é criar uma aplicação que informe os idosos e as instituições sobre os melhores percursos pedonais. O objetivo é contribuir para o envelhecimento ativo e saudável.
O estudo para a promoção da mobilidade sustentável da população idosa foi apresentado esta terça-feira, no Porto.
A população mais velha sente-se pouco segura nos centros históricos das cidades. Esta é uma das conclusões do estudo para a Promoção da Mobilidade Sustentável da População Idosa, realizado pelas Universidades de Coimbra e do Porto.
Há obstáculos físicos e visuais, os espaços públicos não estão adequados para que os idosos possam caminhar ou circular de forma segura. A conclusão surge após terem sido analisados o Centro Histórico do Porto e a alta de Coimbra e de terem sido entrevistados idosos que lá residem, assim como turistas seniores.
Fernando Brandão Alves, invetsigador da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e um dos coordenadores do projeto, explica que foram identificados vários obstáculos: "Pavimentos maltratados, falta de manutenção geral do espaço público, falta de dispositivos como corrimões ou pavimentos antiderrapantes".
Neste estudo do Centro de Investigação do Território, Transporte e Ambiente (CITTA) e da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, também foram identificados problemas nos transportes públicos - são insuficientes e pouco seguros para os idosos.
"Queixam-se de pouca frequência dos transportes e de alguma insegurança provocada pela forma como se conduz", aponta o investigador. "Os condutores revelam pouca sensibilidade à fragilidade do idoso, que, quando sobe ao autocarro, precisa de tempo para se sentar em segurança - e esse tempo nem sempre é cumprido com o veículo imobilizado."
Fernando Brandão Alves diz que o estudo, designado por MOBI - AGE, recomenda um investimento na melhoria e requalificação do espaço público. "Investimento no desenho do espaço, nos materiais, na qualidade da paisagem urbana, ou seja, espaços limpos, com menos ruído visual, menor invasão dos murais com grafites e lixo presente no espaço público."
Com base nestas conclusões, o próximo passo é criar uma aplicação que informe os idosos e as instituições sobre os melhores percursos pedonais. O objetivo é contribuir para o envelhecimento ativo e saudável.
O estudo para a promoção da mobilidade sustentável da população idosa foi apresentado esta terça-feira, no Porto.
OIT. Emprego com remuneração insuficiente afeta quase 500 milhões de pessoas
in RR
"Para milhões de pessoas é cada vez mais difícil construir uma vida melhor graças ao trabalho", alerta responsável.
Quase 500 milhões de pessoas no mundo trabalham menos horas pagas do que gostariam ou não têm acesso a um emprego suficientemente remunerado, de acordo com um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Segundo o relatório "Social and Employment Outlook in the World - Trends 2020 (WESO)" da OIT, o desemprego global permaneceu relativamente estável nos últimos nove anos, mas a desaceleração do crescimento económico fez com que não estejam a ser criados novos empregos suficientes para absorver os que entram no mercado de trabalho.
"Para milhões de pessoas é cada vez mais difícil construir uma vida melhor graças ao trabalho", afirma, na nota à imprensa, o diretor geral da organização Guy Ryder.
"A persistência e a amplitude da exclusão e as desigualdades relacionadas com o trabalho impedem que as pessoas encontrem trabalho decente e construam um futuro melhor", sublinha Guy Ryder, para quem esta é uma conclusão "extremamente preocupante, com sérias e alarmantes repercussões na coesão social".
O relatório mostra que, além do número mundial de desempregados, de 188 milhões de pessoas, há ainda 165 milhões que não têm trabalho remunerado o suficiente e outros 120 milhões que desistiram de procurar ativamente emprego ou não têm acesso ao mercado de trabalho.
"No total, mais de 470 milhões de pessoas no mundo são afetadas", refere a OIT, sublinhando que "a taxa de subutilização total da força de trabalho tende a agravar-se e excede em muito a do desemprego".
Uma das principais conclusões do relatório é de que existem "deficiências significativas na qualidade do trabalho", mesmo quando as pessoas têm um emprego.
"O trabalho decente tem a ver com a adequação dos salários ou rendimentos do trabalho por conta própria, com direito à segurança no emprego e um local de trabalho seguro e saudável, acesso à proteção social, oportunidade de expressar as suas próprias opiniões e preocupações através de um sindicato, organização de empregadores ou outro órgão de representação, bem como com outros direitos fundamentais, como a não discriminação", defende a OIT.
Segundo a organização, os défices de trabalho decente são especialmente pronunciados na economia informal, "que regista as maiores taxas de pobreza entre os trabalhadores".
O relatório analisa ainda as desigualdades no mercado de trabalho e refere que os novos dados apontam para que haja maior desigualdade do que se previa, especialmente nos países em desenvolvimento.
"Para milhões de pessoas é cada vez mais difícil construir uma vida melhor graças ao trabalho", alerta responsável.
Quase 500 milhões de pessoas no mundo trabalham menos horas pagas do que gostariam ou não têm acesso a um emprego suficientemente remunerado, de acordo com um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Segundo o relatório "Social and Employment Outlook in the World - Trends 2020 (WESO)" da OIT, o desemprego global permaneceu relativamente estável nos últimos nove anos, mas a desaceleração do crescimento económico fez com que não estejam a ser criados novos empregos suficientes para absorver os que entram no mercado de trabalho.
"Para milhões de pessoas é cada vez mais difícil construir uma vida melhor graças ao trabalho", afirma, na nota à imprensa, o diretor geral da organização Guy Ryder.
"A persistência e a amplitude da exclusão e as desigualdades relacionadas com o trabalho impedem que as pessoas encontrem trabalho decente e construam um futuro melhor", sublinha Guy Ryder, para quem esta é uma conclusão "extremamente preocupante, com sérias e alarmantes repercussões na coesão social".
O relatório mostra que, além do número mundial de desempregados, de 188 milhões de pessoas, há ainda 165 milhões que não têm trabalho remunerado o suficiente e outros 120 milhões que desistiram de procurar ativamente emprego ou não têm acesso ao mercado de trabalho.
"No total, mais de 470 milhões de pessoas no mundo são afetadas", refere a OIT, sublinhando que "a taxa de subutilização total da força de trabalho tende a agravar-se e excede em muito a do desemprego".
Uma das principais conclusões do relatório é de que existem "deficiências significativas na qualidade do trabalho", mesmo quando as pessoas têm um emprego.
"O trabalho decente tem a ver com a adequação dos salários ou rendimentos do trabalho por conta própria, com direito à segurança no emprego e um local de trabalho seguro e saudável, acesso à proteção social, oportunidade de expressar as suas próprias opiniões e preocupações através de um sindicato, organização de empregadores ou outro órgão de representação, bem como com outros direitos fundamentais, como a não discriminação", defende a OIT.
Segundo a organização, os défices de trabalho decente são especialmente pronunciados na economia informal, "que regista as maiores taxas de pobreza entre os trabalhadores".
O relatório analisa ainda as desigualdades no mercado de trabalho e refere que os novos dados apontam para que haja maior desigualdade do que se previa, especialmente nos países em desenvolvimento.
Mandem aí umas bananas biológicas, que eu como
Marisa Morais, in Público on-line
Num tempo em que a inclusão é palavra da moda, a exclusão é prática social constante. O racismo é uma das formas em que se apresenta. Tem de ser combatido. Em todos os domínios da vida social. No futebol também.
Obrigada, Marega, pela lembrança de que não somos obrigad@s a suportar o racismo e que não temos de ser menin@s bem-comportados quando nos faltam ao respeito. Não temos de contemporizar e podemos ficar agastados e irritados.
Fico irritada com a sistemática e desculpabilizante desvalorização que surge sempre que se fala de racismo. Pode não ser generalizado, mas existe e é gritante o esforço que fazem para normalizar atitudes e comportamentos racistas.
O jogador provocou comentários que podem ser traduzidos num “O preto portou-se mal, a culpa de sermos racistas é dele”. Na mesma linha, mais discretos, mas mais insidiosos, os que apontam exemplos de jogadores que, em circunstâncias similares, se mantiveram no relvado, algo que pode ser traduzido como “Não sejas chorão, outros passaram por isso, não fizeram fita e até comeram a banana”. A talhe de foice: o sarcasmo do Daniel Alves foi brilhante, mas duvido da capacidade dos destinatários da mensagem para a compreenderem.
Os comentários clubísticos, como se fosse problema do clube A ou Z, envergonham-me. Quem acredita que ser adepto de um clube implica odiar os outros clubes, ódio que transfere para os protagonistas do espetáculo, merece atenção por questões que extravasam o racismo e não cabem neste artigo, apesar das relações intrínsecas que possam ser encontradas.
Nesta feira de frustrações de que a indústria paralela ao futebol se alimenta, ouvir comentadores como o Rui Santos na noite de domingo foi um must. Impagável a superioridade ética de quem é lesto a defender a necessidade de verdade desportiva, num qualquer fora de jogo de centímetros em microssegundos, mas lerdo a reconhecer que é tempo de dar um basta a estas situações que não se tornam toleráveis por serem corriqueiras.
Tão difícil de admitir que o racismo e o preconceito existem. Tão difícil reconhecer que sujeitar um ser humano a um coro de insultos com base na cor da pele é errado. Tão errado como se na base desses insultos estivesse o género, a orientação sexual, ou qualquer um dos fundamentos que servem de veículo ao preconceito.
Centrar a questão na reação do jogador é duma vacuidade e hipocrisia que choca, porque ignora e desvaloriza as atitudes racistas com que foi confrontado uma e outra vez. Condena a emoção de quem sofre com comportamentos criminosos. Espera um comportamento elevado e superior da vítima em circunstâncias em que a sua dignidade é deliberadamente posta em causa. Porquê? As vítimas têm o dever de suportar com elegância e elevação a agressão?
Pode até acontecer, e tem acontecido, que jogadores nas mesmas circunstâncias se mantenham em campo. Mas não são obrigados a isso; têm o direito e a legitimidade de abandonar o jogo e expressar sentimentos. Pelos vistos, esse direito, para ser exercido, deve ser acompanhado por um discurso bonito, preparado para não ferir suscetibilidades e facilitar o continuar a ser considerado preto bom. De certeza que não querem mais nada? Caramba! Mandem aí umas bananas biológicas, que eu como. Mandem às paletes. Prometo comportar-me, não mostrar o dedo médio e não dizer palavrões.
Subscrevo as palavras do pivot da SIC, foi uma atitude corajosa, plena de carácter, inédita em Portugal, pouco frequente por esse mundo fora, apesar da recorrência de situações em que podia e devia acontecer. Porque não é, nem nunca será fácil, para qualquer que seja o atleta, abandonar um jogo, a não ser nos limites em que se defronta consigo próprio enquanto ser humano. As atitudes racistas cansam, degradam e desgastam.
Escrevo de novo: o racismo existe na sociedade portuguesa. Por isso mesmo também se mostra nos estádios. Não é uma realidade que surge nos estádios, reflete a realidade existente. Qualquer negro que praticou ou pratica desporto em Portugal sabe que a distância que vai do bestial ao “filho da p*#a do preto” são dois passos. Nada de novo a oeste ou a este, tanto a sul como a norte mais do mesmo, sempre do mesmo. Criaturinhas pequenas num mundo pequeno, parafraseando um escritor português. Não tem de ser assim. Mas muito se faz para que assim seja e por quem tem responsabilidade para que seja diferente.
Recentemente, um deputado português afirmou publicamente que uma deputada portuguesa negra devia ser devolvida. Este é o exemplo que vem da instância que supostamente nos representa e representa a democracia portuguesa.
O mesmo deputado veio ontem afirmar que o caso do Marega não foi racismo, afirmação que certamente fundamenta nas inúmeras vezes que foi alvo de preconceito, não pelas suas opiniões, mas pelo facto de ser mentecapto. Um coro de “preto do…” não é racismo, se calhar expressa opinião sobre as competências profissionais. Algo me diz que ouvirei este deputado afirmar que as mulheres são violadas porque se rebolam ou são bonitas e que o agressor se limitou a reagir aos estímulos.
A lei permite uma reação severa no plano desportivo e espero que ela aconteça. No plano criminal, espero que haja atuação, mas não será por aí que se resolve. As mudanças têm de acontecer na sociedade portuguesa e punir nunca é suficiente quando se trata de mudar mentalidades. Trilhar o caminho da naturalização e desculpabilização das atitudes racistas ou contrapor que os portugueses não são genericamente racistas (e não são, embora muitos padeçam de superioridade cultural) ou ainda, como alguns gostam, comparar com outros racismos é perpetuar o preconceito.
Num tempo em que a inclusão é palavra da moda, a exclusão é prática social constante. O racismo é uma das formas em que se apresenta. Tem de ser combatido. Em todos os domínios da vida social. No futebol também. Começando nos escalões infantis, banindo os papás e mamãs useiros e vezeiros nos insultos às equipas adversárias e até aos jogadores da sua equipa quando falham um golo ou o filhote perde lugar para o preto. Sim, continuo irritada com a hipocrisia generalizada.
Um lembrete aos fundamentalistas do costume: não esqueço que não é um exclusivo da cor. O facto de salientar um aspeto não quer dizer que ignore os outros. Esta é uma das facetas que sobressaem sempre que se pretende debater o racismo. Também não é exclusivo da temática, por paradoxal que pareça o maniqueísmo que parece fazer escola em tempos marcados pela globalização e acesso fácil à informação.
Uma ambição medida em centésimas
O racismo existe em Portugal. As cortinas de fumo impedem um debate sério, condicionam as condenações de atos e práticas discriminatórias e, por isso mesmo, é fundamental quebrar o silêncio e adotar uma postura ativa que deixe claro que ações racistas ou que tenham na base um qualquer preconceito não são admissíveis na sociedade portuguesa ou em qualquer outra.
A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico
Num tempo em que a inclusão é palavra da moda, a exclusão é prática social constante. O racismo é uma das formas em que se apresenta. Tem de ser combatido. Em todos os domínios da vida social. No futebol também.
Obrigada, Marega, pela lembrança de que não somos obrigad@s a suportar o racismo e que não temos de ser menin@s bem-comportados quando nos faltam ao respeito. Não temos de contemporizar e podemos ficar agastados e irritados.
Fico irritada com a sistemática e desculpabilizante desvalorização que surge sempre que se fala de racismo. Pode não ser generalizado, mas existe e é gritante o esforço que fazem para normalizar atitudes e comportamentos racistas.
O jogador provocou comentários que podem ser traduzidos num “O preto portou-se mal, a culpa de sermos racistas é dele”. Na mesma linha, mais discretos, mas mais insidiosos, os que apontam exemplos de jogadores que, em circunstâncias similares, se mantiveram no relvado, algo que pode ser traduzido como “Não sejas chorão, outros passaram por isso, não fizeram fita e até comeram a banana”. A talhe de foice: o sarcasmo do Daniel Alves foi brilhante, mas duvido da capacidade dos destinatários da mensagem para a compreenderem.
Os comentários clubísticos, como se fosse problema do clube A ou Z, envergonham-me. Quem acredita que ser adepto de um clube implica odiar os outros clubes, ódio que transfere para os protagonistas do espetáculo, merece atenção por questões que extravasam o racismo e não cabem neste artigo, apesar das relações intrínsecas que possam ser encontradas.
Nesta feira de frustrações de que a indústria paralela ao futebol se alimenta, ouvir comentadores como o Rui Santos na noite de domingo foi um must. Impagável a superioridade ética de quem é lesto a defender a necessidade de verdade desportiva, num qualquer fora de jogo de centímetros em microssegundos, mas lerdo a reconhecer que é tempo de dar um basta a estas situações que não se tornam toleráveis por serem corriqueiras.
Tão difícil de admitir que o racismo e o preconceito existem. Tão difícil reconhecer que sujeitar um ser humano a um coro de insultos com base na cor da pele é errado. Tão errado como se na base desses insultos estivesse o género, a orientação sexual, ou qualquer um dos fundamentos que servem de veículo ao preconceito.
Centrar a questão na reação do jogador é duma vacuidade e hipocrisia que choca, porque ignora e desvaloriza as atitudes racistas com que foi confrontado uma e outra vez. Condena a emoção de quem sofre com comportamentos criminosos. Espera um comportamento elevado e superior da vítima em circunstâncias em que a sua dignidade é deliberadamente posta em causa. Porquê? As vítimas têm o dever de suportar com elegância e elevação a agressão?
Pode até acontecer, e tem acontecido, que jogadores nas mesmas circunstâncias se mantenham em campo. Mas não são obrigados a isso; têm o direito e a legitimidade de abandonar o jogo e expressar sentimentos. Pelos vistos, esse direito, para ser exercido, deve ser acompanhado por um discurso bonito, preparado para não ferir suscetibilidades e facilitar o continuar a ser considerado preto bom. De certeza que não querem mais nada? Caramba! Mandem aí umas bananas biológicas, que eu como. Mandem às paletes. Prometo comportar-me, não mostrar o dedo médio e não dizer palavrões.
Subscrevo as palavras do pivot da SIC, foi uma atitude corajosa, plena de carácter, inédita em Portugal, pouco frequente por esse mundo fora, apesar da recorrência de situações em que podia e devia acontecer. Porque não é, nem nunca será fácil, para qualquer que seja o atleta, abandonar um jogo, a não ser nos limites em que se defronta consigo próprio enquanto ser humano. As atitudes racistas cansam, degradam e desgastam.
Escrevo de novo: o racismo existe na sociedade portuguesa. Por isso mesmo também se mostra nos estádios. Não é uma realidade que surge nos estádios, reflete a realidade existente. Qualquer negro que praticou ou pratica desporto em Portugal sabe que a distância que vai do bestial ao “filho da p*#a do preto” são dois passos. Nada de novo a oeste ou a este, tanto a sul como a norte mais do mesmo, sempre do mesmo. Criaturinhas pequenas num mundo pequeno, parafraseando um escritor português. Não tem de ser assim. Mas muito se faz para que assim seja e por quem tem responsabilidade para que seja diferente.
Recentemente, um deputado português afirmou publicamente que uma deputada portuguesa negra devia ser devolvida. Este é o exemplo que vem da instância que supostamente nos representa e representa a democracia portuguesa.
O mesmo deputado veio ontem afirmar que o caso do Marega não foi racismo, afirmação que certamente fundamenta nas inúmeras vezes que foi alvo de preconceito, não pelas suas opiniões, mas pelo facto de ser mentecapto. Um coro de “preto do…” não é racismo, se calhar expressa opinião sobre as competências profissionais. Algo me diz que ouvirei este deputado afirmar que as mulheres são violadas porque se rebolam ou são bonitas e que o agressor se limitou a reagir aos estímulos.
A lei permite uma reação severa no plano desportivo e espero que ela aconteça. No plano criminal, espero que haja atuação, mas não será por aí que se resolve. As mudanças têm de acontecer na sociedade portuguesa e punir nunca é suficiente quando se trata de mudar mentalidades. Trilhar o caminho da naturalização e desculpabilização das atitudes racistas ou contrapor que os portugueses não são genericamente racistas (e não são, embora muitos padeçam de superioridade cultural) ou ainda, como alguns gostam, comparar com outros racismos é perpetuar o preconceito.
Num tempo em que a inclusão é palavra da moda, a exclusão é prática social constante. O racismo é uma das formas em que se apresenta. Tem de ser combatido. Em todos os domínios da vida social. No futebol também. Começando nos escalões infantis, banindo os papás e mamãs useiros e vezeiros nos insultos às equipas adversárias e até aos jogadores da sua equipa quando falham um golo ou o filhote perde lugar para o preto. Sim, continuo irritada com a hipocrisia generalizada.
Um lembrete aos fundamentalistas do costume: não esqueço que não é um exclusivo da cor. O facto de salientar um aspeto não quer dizer que ignore os outros. Esta é uma das facetas que sobressaem sempre que se pretende debater o racismo. Também não é exclusivo da temática, por paradoxal que pareça o maniqueísmo que parece fazer escola em tempos marcados pela globalização e acesso fácil à informação.
Uma ambição medida em centésimas
O racismo existe em Portugal. As cortinas de fumo impedem um debate sério, condicionam as condenações de atos e práticas discriminatórias e, por isso mesmo, é fundamental quebrar o silêncio e adotar uma postura ativa que deixe claro que ações racistas ou que tenham na base um qualquer preconceito não são admissíveis na sociedade portuguesa ou em qualquer outra.
A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico
Dia Mundial da Justiça Social apela ao combate às desigualdades
Ana Teresa Alves, in A Voz da Planície
Desde 2009 que, anualmente, a 20 de Fevereiro, se comemora o Dia Mundial da Justiça Social.A assinalar a data a Voz da Planície foi ao encontro de duas entidades que desempenham um papel fundamental no combate às desigualdades e que promovem a justiça social: a Cáritas Diocesana de Beja e a Rede Europeia Anti-Pobreza.
Proclamado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2007 e celebrado pela primeira vez, em 2009, o Dia Mundial da Justiça Social tem por objetivo apoiar os esforços da comunidade internacional para a erradicação da pobreza, a promoção do trabalho digno, a igualdade de género, o bem-estar e a justiça para todos.
Todos os dias são colocados obstáculos às pessoas pelo seu género, raça, etnia, idade, religião ou deficiência. A assinalar a data a Voz da Planície foi ao encontro de duas entidades que desempenham um papel fundamental no combate às desigualdades e que promovem a justiça social: a Cáritas Diocesana de Beja e a Rede Europeia Anti-Pobreza.
Entre outros objetivos, a Cáritas Diocesana de Beja desenvolve ações concretas com vista ao acompanhamento e promoção de pessoas carenciadas.
É através do CLAIM (Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes) que esta instituição promove um trabalho de acolhimento e integração de migrantes. De acordo com o presidente da Cáritas Diocesana de Beja, a questão da migração está muito presente no nosso território. Isaurindo Oliveira explica que os migrantes são oriundos de várias partes do mundo e chegam “aqui completamente desenraizados”.
Apesar das respostas sociais dadas pelas instituições, Isaurindo Oliveira frisa que há muito trabalho a fazer e considera que deveria haver um maior envolvimento da sociedade civil, em prol da promoção da justiça social. Isaurindo Oliveira exemplifica o “alheamento” do cidadão comum sobre esta matéria com a atividade Círculos de Silêncio, organizada pela Cáritas.
Neste dia ouvimos, também, João Martins, coordenador do Núcleo de Beja da Rede Europeia Anti-Pobreza, que tem como missão atenuar e erradicar a pobreza e a exclusão social.
João Martins considera que Portugal é dos países em que mais se fomenta a justiça social e realça que têm sido dados muitos passos na sua promoção. Ainda assim, João Martins destaca a ideia de que enquanto houver situações de pobreza e de exploração significa que existe um problema que tem que ser ultrapassado e, aí, é importante o contributo da sociedade civil no sentido da denúncia deste tipo de injustiças
Desde 2009 que, anualmente, a 20 de Fevereiro, se comemora o Dia Mundial da Justiça Social.A assinalar a data a Voz da Planície foi ao encontro de duas entidades que desempenham um papel fundamental no combate às desigualdades e que promovem a justiça social: a Cáritas Diocesana de Beja e a Rede Europeia Anti-Pobreza.
Proclamado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2007 e celebrado pela primeira vez, em 2009, o Dia Mundial da Justiça Social tem por objetivo apoiar os esforços da comunidade internacional para a erradicação da pobreza, a promoção do trabalho digno, a igualdade de género, o bem-estar e a justiça para todos.
Todos os dias são colocados obstáculos às pessoas pelo seu género, raça, etnia, idade, religião ou deficiência. A assinalar a data a Voz da Planície foi ao encontro de duas entidades que desempenham um papel fundamental no combate às desigualdades e que promovem a justiça social: a Cáritas Diocesana de Beja e a Rede Europeia Anti-Pobreza.
Entre outros objetivos, a Cáritas Diocesana de Beja desenvolve ações concretas com vista ao acompanhamento e promoção de pessoas carenciadas.
É através do CLAIM (Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes) que esta instituição promove um trabalho de acolhimento e integração de migrantes. De acordo com o presidente da Cáritas Diocesana de Beja, a questão da migração está muito presente no nosso território. Isaurindo Oliveira explica que os migrantes são oriundos de várias partes do mundo e chegam “aqui completamente desenraizados”.
Apesar das respostas sociais dadas pelas instituições, Isaurindo Oliveira frisa que há muito trabalho a fazer e considera que deveria haver um maior envolvimento da sociedade civil, em prol da promoção da justiça social. Isaurindo Oliveira exemplifica o “alheamento” do cidadão comum sobre esta matéria com a atividade Círculos de Silêncio, organizada pela Cáritas.
Neste dia ouvimos, também, João Martins, coordenador do Núcleo de Beja da Rede Europeia Anti-Pobreza, que tem como missão atenuar e erradicar a pobreza e a exclusão social.
João Martins considera que Portugal é dos países em que mais se fomenta a justiça social e realça que têm sido dados muitos passos na sua promoção. Ainda assim, João Martins destaca a ideia de que enquanto houver situações de pobreza e de exploração significa que existe um problema que tem que ser ultrapassado e, aí, é importante o contributo da sociedade civil no sentido da denúncia deste tipo de injustiças
Plataforma de Apoios aos Refugiados (PAR) já acolheu quase 800 refugiados e agora quer aproximá-los dos portugueses
Mário Cruz/LUSA, in o Observador
A PAR pretende desconstruir preconceitos negativos em torno dos migrantes e aproximá-los da sociedade portuguesa. A plataforma admite que "reforçou o sentido ético dos responsáveis políticos".
Depois de contribuir para acolher quase 800 refugiados em Portugal em quatro anos, a Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) quer melhorar e aumentar a capacidade de acolhimento e desconstruir preconceitos promovendo contacto entre quem acolhe e quem chega.
A PAR realiza esta quinta-feira uma Assembleia Geral, na Universidade de Aveiro, para um balanço da sua atividade, iniciada em 2015, mas também de olhos postos na estratégia para o futuro que, disse à Lusa o coordenador da plataforma e diretor-geral do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS Portugal), André Costa Jorge, passa por melhorar o acolhimento, aumentar a sua capacidade e por aproximar os refugiados e a sociedade portuguesa, desconstruindo preconceitos e contrapondo factos aos preconceitos.
Percebemos que no contexto europeu, de onde Portugal também não está afastado, surgem muitos preconceitos e estereótipos negativos em torno dos migrantes e refugiados, que é preciso desconstruir através da apresentação de factos e também do contacto entre as pessoas. É importante que as pessoas se conheçam, contactem, que haja uma relação de proximidade entre quem acolhe e quem é acolhido de modo a que muitos medos se possam desfazer”, disse André Costa Jorge.
O balanço de quatro anos de atividade “é positivo”, desde logo pela resposta revelada “num esforço sem precedentes da sociedade civil”, sem histórico em Portugal no que diz respeito a acolhimento de refugiados à escala criada com a crise de migrações no Mediterrâneo e que permitiu “provar aos decisores políticos que com uma sociedade civil animada, preparada, estruturada e organizada para uma resposta a nível europeu é possível ir mais longe politicamente”.
Tempestade ou bonança? Proteja-se das catástrofes naturais.
Foi muito importante perceber que a plataforma de alguma maneira reforçou o sentido ético dos responsáveis políticos portugueses”, disse André Costa Jorge à Lusa.
A PAR ajudou a acolher entre 2015 e 2019 um total de 756 pessoas, agrupadas em 162 famílias. Em Portugal já nasceram 24 crianças, “um dado animador” ao qual o coordenador da PAR acrescenta a satisfação com o facto de muitos refugiados terem escolhido permanecer no país.
Também é positivo que boa parte dos refugiados que acolhemos e que escolheram permanecer em Portugal estão em franco processo de integração na sociedade portuguesa”, disse, sublinhando ainda o esforço de integração e “a coragem” de quem decidiu ficar e aprender uma nova língua, num contexto completamente diferente e longe da família.
Às autoridades portuguesas com competências e responsabilidades no acolhimento e integração pede, no entanto, “melhorias nas respostas administrativas e burocráticas”, nomeadamente no que diz respeito à documentação, para evitar “obstáculos desnecessários” a uma rápida integração.
André Costa Jorge afirma que “não há qualquer antagonismo em relação ao acolhimento a essas pessoas na sociedade portuguesa”, algo que nem a chegada ao parlamento de um partido com um discurso mais nacionalista alterou, até porque o universo de refugiados acolhidos pesa pouco no total da sociedade portuguesa.
Menos favorável é o clima político na Europa, considerou.
No âmbito europeu vamos percebendo que há um crescimento de sentimentos xenófobos, de partidos de extrema-direita, nacionalistas, que visam hostilizar claramente o estrangeiro e criar um sentimento de insegurança nas pessoas que é, na nossa opinião, infundado, mas que alimenta discursos políticos que vão crescendo. A Europa já viveu tempos muito tristes no que diz respeito ao racismo, à xenofobia, não podemos voltar a trilhar esses caminhos”, defendeu o coordenador da PAR, que pede “a construção de pontes, não de muros”.
Da Europa espera trabalho para criar “processos de acolhimento inteligentes”, que ponham o foco nos processos “legais e seguros”, que garantam a dignidade dos migrantes e dos refugiados e que não criminalizem a ajuda humanitária, referindo situações como a da Líbia, onde surgem novas escravaturas em pleno século XXI, ou as situações de abusos a mulheres e crianças nos campos de refugiados em solo europeu, como os da Grécia, onde já se reportam suicídios de crianças e abusos e violações frequentes.
Os casos recentes de chegada à costa portuguesa de migrantes, no caso com origem em Marrocos, eram expectáveis, mas não deverão representar uma tendência de crescimento do fenómeno em Portugal, considerou André Costa Jorge, que entende que será maioritariamente de países de língua portuguesa que Portugal irá continuar a receber migrantes, como até agora.
Para 2020 a PAR quer ainda reforçar uma das componentes que está na sua génese, o voluntariado, colocando-o ao serviço dos processos de autonomização dos refugiados, acompanhando o seu processo de integração nas comunidades e no mercado de trabalho.
A PAR pretende desconstruir preconceitos negativos em torno dos migrantes e aproximá-los da sociedade portuguesa. A plataforma admite que "reforçou o sentido ético dos responsáveis políticos".
Depois de contribuir para acolher quase 800 refugiados em Portugal em quatro anos, a Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) quer melhorar e aumentar a capacidade de acolhimento e desconstruir preconceitos promovendo contacto entre quem acolhe e quem chega.
A PAR realiza esta quinta-feira uma Assembleia Geral, na Universidade de Aveiro, para um balanço da sua atividade, iniciada em 2015, mas também de olhos postos na estratégia para o futuro que, disse à Lusa o coordenador da plataforma e diretor-geral do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS Portugal), André Costa Jorge, passa por melhorar o acolhimento, aumentar a sua capacidade e por aproximar os refugiados e a sociedade portuguesa, desconstruindo preconceitos e contrapondo factos aos preconceitos.
Percebemos que no contexto europeu, de onde Portugal também não está afastado, surgem muitos preconceitos e estereótipos negativos em torno dos migrantes e refugiados, que é preciso desconstruir através da apresentação de factos e também do contacto entre as pessoas. É importante que as pessoas se conheçam, contactem, que haja uma relação de proximidade entre quem acolhe e quem é acolhido de modo a que muitos medos se possam desfazer”, disse André Costa Jorge.
O balanço de quatro anos de atividade “é positivo”, desde logo pela resposta revelada “num esforço sem precedentes da sociedade civil”, sem histórico em Portugal no que diz respeito a acolhimento de refugiados à escala criada com a crise de migrações no Mediterrâneo e que permitiu “provar aos decisores políticos que com uma sociedade civil animada, preparada, estruturada e organizada para uma resposta a nível europeu é possível ir mais longe politicamente”.
Tempestade ou bonança? Proteja-se das catástrofes naturais.
Foi muito importante perceber que a plataforma de alguma maneira reforçou o sentido ético dos responsáveis políticos portugueses”, disse André Costa Jorge à Lusa.
A PAR ajudou a acolher entre 2015 e 2019 um total de 756 pessoas, agrupadas em 162 famílias. Em Portugal já nasceram 24 crianças, “um dado animador” ao qual o coordenador da PAR acrescenta a satisfação com o facto de muitos refugiados terem escolhido permanecer no país.
Também é positivo que boa parte dos refugiados que acolhemos e que escolheram permanecer em Portugal estão em franco processo de integração na sociedade portuguesa”, disse, sublinhando ainda o esforço de integração e “a coragem” de quem decidiu ficar e aprender uma nova língua, num contexto completamente diferente e longe da família.
Às autoridades portuguesas com competências e responsabilidades no acolhimento e integração pede, no entanto, “melhorias nas respostas administrativas e burocráticas”, nomeadamente no que diz respeito à documentação, para evitar “obstáculos desnecessários” a uma rápida integração.
André Costa Jorge afirma que “não há qualquer antagonismo em relação ao acolhimento a essas pessoas na sociedade portuguesa”, algo que nem a chegada ao parlamento de um partido com um discurso mais nacionalista alterou, até porque o universo de refugiados acolhidos pesa pouco no total da sociedade portuguesa.
Menos favorável é o clima político na Europa, considerou.
No âmbito europeu vamos percebendo que há um crescimento de sentimentos xenófobos, de partidos de extrema-direita, nacionalistas, que visam hostilizar claramente o estrangeiro e criar um sentimento de insegurança nas pessoas que é, na nossa opinião, infundado, mas que alimenta discursos políticos que vão crescendo. A Europa já viveu tempos muito tristes no que diz respeito ao racismo, à xenofobia, não podemos voltar a trilhar esses caminhos”, defendeu o coordenador da PAR, que pede “a construção de pontes, não de muros”.
Da Europa espera trabalho para criar “processos de acolhimento inteligentes”, que ponham o foco nos processos “legais e seguros”, que garantam a dignidade dos migrantes e dos refugiados e que não criminalizem a ajuda humanitária, referindo situações como a da Líbia, onde surgem novas escravaturas em pleno século XXI, ou as situações de abusos a mulheres e crianças nos campos de refugiados em solo europeu, como os da Grécia, onde já se reportam suicídios de crianças e abusos e violações frequentes.
Os casos recentes de chegada à costa portuguesa de migrantes, no caso com origem em Marrocos, eram expectáveis, mas não deverão representar uma tendência de crescimento do fenómeno em Portugal, considerou André Costa Jorge, que entende que será maioritariamente de países de língua portuguesa que Portugal irá continuar a receber migrantes, como até agora.
Para 2020 a PAR quer ainda reforçar uma das componentes que está na sua génese, o voluntariado, colocando-o ao serviço dos processos de autonomização dos refugiados, acompanhando o seu processo de integração nas comunidades e no mercado de trabalho.
19.2.20
Município da Figueira da Foz assina Protocolo de parceria com a Associação Plano i, para a prevenção, combate ao bullying e violência interpessoal
in FozaoMinuto
O Município da Figueira da Foz, numa parceria com a Associação Plano i, encontra-se a implementar, nos Agrupamentos de Escolas do Paião e Figueira Norte, o «Projeto Plano B», que visa a prevenção, combate ao bullying e violência interpessoal. A apresentação pública deste Projeto decorreu no passado dia 30 de janeiro, Dia Escolar da Não Violência e da Paz, no auditório da Escola Secundária João Gonçalves Zarco, em Matosinhos, onde foi também lançado o Observatório Nacional do Bullying, uma plataforma de denúncia informal de casos de bullying. O «Projeto Plano B», que será também implementado nos Concelhos do Porto e Matosinhos, direciona-se a alunos dos 2º e 3º ciclos, num total de 40 turmas, e decorre de candidatura que a Associação Plano i apresentou ao concurso n.º J-19-31-1, da Direção- Geral de Saúde, tendo por objeto a Prevenção do Bullying e Promoção da Saúde Mental, com o objetivo geral de promoção de um contexto escolar seguro e igualitário, prevenindo e combatendo todas as formas de bullying e de violência interpessoal, em prol da promoção da saúde mental e do desenvolvimento integral positivo dos/as jovens. A intervenção prevista no projeto, divide-se em três fases. A primeira já está em implementação no terreno e consiste na observação e recolha das ´necessidades` específicas de cada contexto escolar. A segunda na realização de um programa de sete sessões em sala, com cada turma, que terão em conta o que foi observado. A esta fase segue-se uma avaliação do programa. A Figueira da Foz surge como entidade parceira no «Plano B», por indicação do Núcleo distrital de Coimbra da EAPN - Rede Europeia Anti-Pobreza, com quem o Município tem vindo a trabalhar em projetos na área da ação social, e numa perspetiva de implementação nacional do projeto, por parte da Associação Plano i. A Associação Plano i é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) sediada no Porto que, desde a sua fundação, tem vindo a ser responsável pela promoção de vários projetos, alguns deles pioneiros, no domínio da promoção da igualdade de género e da prevenção e do combate à violência de género e doméstica.
O Município da Figueira da Foz, numa parceria com a Associação Plano i, encontra-se a implementar, nos Agrupamentos de Escolas do Paião e Figueira Norte, o «Projeto Plano B», que visa a prevenção, combate ao bullying e violência interpessoal. A apresentação pública deste Projeto decorreu no passado dia 30 de janeiro, Dia Escolar da Não Violência e da Paz, no auditório da Escola Secundária João Gonçalves Zarco, em Matosinhos, onde foi também lançado o Observatório Nacional do Bullying, uma plataforma de denúncia informal de casos de bullying. O «Projeto Plano B», que será também implementado nos Concelhos do Porto e Matosinhos, direciona-se a alunos dos 2º e 3º ciclos, num total de 40 turmas, e decorre de candidatura que a Associação Plano i apresentou ao concurso n.º J-19-31-1, da Direção- Geral de Saúde, tendo por objeto a Prevenção do Bullying e Promoção da Saúde Mental, com o objetivo geral de promoção de um contexto escolar seguro e igualitário, prevenindo e combatendo todas as formas de bullying e de violência interpessoal, em prol da promoção da saúde mental e do desenvolvimento integral positivo dos/as jovens. A intervenção prevista no projeto, divide-se em três fases. A primeira já está em implementação no terreno e consiste na observação e recolha das ´necessidades` específicas de cada contexto escolar. A segunda na realização de um programa de sete sessões em sala, com cada turma, que terão em conta o que foi observado. A esta fase segue-se uma avaliação do programa. A Figueira da Foz surge como entidade parceira no «Plano B», por indicação do Núcleo distrital de Coimbra da EAPN - Rede Europeia Anti-Pobreza, com quem o Município tem vindo a trabalhar em projetos na área da ação social, e numa perspetiva de implementação nacional do projeto, por parte da Associação Plano i. A Associação Plano i é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) sediada no Porto que, desde a sua fundação, tem vindo a ser responsável pela promoção de vários projetos, alguns deles pioneiros, no domínio da promoção da igualdade de género e da prevenção e do combate à violência de género e doméstica.
Livro inédito contra a pobreza junta múltiplos contributos
Leiria, Notícias
Cidadãos, escritores, ilustradores, jornalistas e investigadores juntaram-se para dar corpo a um projeto literário-artístico-jornalístico, onde se cruzam relatos e ficções à volta de contextos de vulnerabilidade.
A ideia do livro “Para onde vai o tempo”, que surgiu no seio do Núcleo Distrital de Leiria da EAPN (Rede Europeia Anti-Pobreza), conta com as colaborações de Alice Catarino, Beatriz Passão e Jorge Cardinali, que “abrem janelas para as suas vidas”.
A obra reúne também os relatos de Manuel Leiria, Nuno Henriques e Jacinto Duro, jornalistas do REGIÃO DE LEIRIA, Diário de Leiria e Jornal de Leiria, dos ilustradores Bruno Gaspar, Lisa Teles e Maraia, dos escritores Elsa Margarida Rodrigues, Mónia Camacho e Paulo Kellerman e da investigadora Ana Gilbert.
O livro é apresentado este sábado, dia 15, às 15 horas, no mimo, em Leiria.
Cidadãos, escritores, ilustradores, jornalistas e investigadores juntaram-se para dar corpo a um projeto literário-artístico-jornalístico, onde se cruzam relatos e ficções à volta de contextos de vulnerabilidade.
A ideia do livro “Para onde vai o tempo”, que surgiu no seio do Núcleo Distrital de Leiria da EAPN (Rede Europeia Anti-Pobreza), conta com as colaborações de Alice Catarino, Beatriz Passão e Jorge Cardinali, que “abrem janelas para as suas vidas”.
A obra reúne também os relatos de Manuel Leiria, Nuno Henriques e Jacinto Duro, jornalistas do REGIÃO DE LEIRIA, Diário de Leiria e Jornal de Leiria, dos ilustradores Bruno Gaspar, Lisa Teles e Maraia, dos escritores Elsa Margarida Rodrigues, Mónia Camacho e Paulo Kellerman e da investigadora Ana Gilbert.
O livro é apresentado este sábado, dia 15, às 15 horas, no mimo, em Leiria.
Namorar não é ser dono. Governo lança campanha contra violência no namoro
Por Sara de Melo Rocha e Rita Carvalho Pereira, in TSF
A violência no namoro é uma realidade que continua a manchar o Dia dos Namorados. Só em 2019, a PSP recebeu 2.100 denúncias. Estudo revela que quase 70% dos jovens desvalorizam comportamentos violentos dentro das relações.
Campanha de prevenção e combate à violência no namoro procura mostrar que não se deve ter vergonha de denunciar atos de violência© Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade
O Estudo Nacional sobre a Violência no Namoro 2020, realizado pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) com o apoio da Secretaria de Estado para a Cidadania e a Igualdade, revela que 58% dos jovens reportam já ter sofrido pelo menos uma forma de violência por parte de um atual ou ex-companheiro. O estudo também que 67% de jovens consideram como natural algum dos comportamentos de violência e aponta para a elevada prevalência da violência psicológica, exercida através das redes sociais ou em atitudes de controlo (sobre o vestuário, hábitos de convívio ou outros comportamentos).
O Governo quer contrariar esta tendência e, por isso, neste Dia dos Namorados, lança uma campanha com o lema: #NamorarNãoÉSerDon@.
Em declarações à TSF, a ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Mariana Vieira da Silva, explica que o objetivo é desconstruir a ideia de que a violência é algo normal.
"Durante muitos anos, em Portugal, acreditou-se que a violência doméstica era um fenómeno datado, geracional e que, com o tempo, seria ultrapassado. Aquilo que fomos percebendo é que isso não é assim", começa por referir Mariana Vieira da Silva.
A ministra recorda que os dados "mostram uma percentagem muito significativa dos jovens a relatar situações, nas suas relações atuais ou anteriores, de alguma forma de violência" e que "cresce o número de jovens que acham que isso é natural". Pelo que o Governo está agora preocupado em "desconstruir essa imagem de naturalidade".
"Não é normal que se exijam passwords de redes sociais, não é normal que as pessoas vejam os telemóveis uma das outras, não é normal que as impeçam de vestir de uma determinada forma", sublinha Mariana Vieira da Silva.
Nesta campanha de prevenção e combate à violência no namoro, procura-se ainda mostrar que não se deve ter vergonha de denunciar os atos de violência.
"Procuramos fazer saber a todos, tanto aos jovens como aos adultos, como lidar com estas situações: dizer a quem se devem queixar, para que número devem ligar, e dizer que podem falar com a família e com amigos; e, por outro lado, formar os profissionais (professores, enfermeiros,...) sobre como lidar com essas situações de violência", explica a ministra.
A Campanha Nacional de Prevenção e Combate à Violência 2020 - #NamorarNãoÉSerDon@ e vai ser apresentada esta sexta-feira, pelas pelas 14h30, a cerca de uma centena de jovens, no Chapitô, em Lisboa.
A campanha é realizada em parceria com o Movimento #NãoÉNormal e conta com a colaboração na divulgação do Parlamento dos Jovens e de mais de 50 entidades da Plataforma Contra a Violência no Namoro, coordenada pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.
A Linha de atendimento da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, um serviço gratuito de informação às vítimas de Violência Doméstica e que funciona 24 horas por dia durante todo o ano, registou 465 atendimentos em 2019 (mais 143 situações, em relação a 2018).
A violência no namoro é uma realidade que continua a manchar o Dia dos Namorados. Só em 2019, a PSP recebeu 2.100 denúncias. Estudo revela que quase 70% dos jovens desvalorizam comportamentos violentos dentro das relações.
Campanha de prevenção e combate à violência no namoro procura mostrar que não se deve ter vergonha de denunciar atos de violência© Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade
O Estudo Nacional sobre a Violência no Namoro 2020, realizado pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) com o apoio da Secretaria de Estado para a Cidadania e a Igualdade, revela que 58% dos jovens reportam já ter sofrido pelo menos uma forma de violência por parte de um atual ou ex-companheiro. O estudo também que 67% de jovens consideram como natural algum dos comportamentos de violência e aponta para a elevada prevalência da violência psicológica, exercida através das redes sociais ou em atitudes de controlo (sobre o vestuário, hábitos de convívio ou outros comportamentos).
O Governo quer contrariar esta tendência e, por isso, neste Dia dos Namorados, lança uma campanha com o lema: #NamorarNãoÉSerDon@.
Em declarações à TSF, a ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Mariana Vieira da Silva, explica que o objetivo é desconstruir a ideia de que a violência é algo normal.
"Durante muitos anos, em Portugal, acreditou-se que a violência doméstica era um fenómeno datado, geracional e que, com o tempo, seria ultrapassado. Aquilo que fomos percebendo é que isso não é assim", começa por referir Mariana Vieira da Silva.
A ministra recorda que os dados "mostram uma percentagem muito significativa dos jovens a relatar situações, nas suas relações atuais ou anteriores, de alguma forma de violência" e que "cresce o número de jovens que acham que isso é natural". Pelo que o Governo está agora preocupado em "desconstruir essa imagem de naturalidade".
"Não é normal que se exijam passwords de redes sociais, não é normal que as pessoas vejam os telemóveis uma das outras, não é normal que as impeçam de vestir de uma determinada forma", sublinha Mariana Vieira da Silva.
Nesta campanha de prevenção e combate à violência no namoro, procura-se ainda mostrar que não se deve ter vergonha de denunciar os atos de violência.
"Procuramos fazer saber a todos, tanto aos jovens como aos adultos, como lidar com estas situações: dizer a quem se devem queixar, para que número devem ligar, e dizer que podem falar com a família e com amigos; e, por outro lado, formar os profissionais (professores, enfermeiros,...) sobre como lidar com essas situações de violência", explica a ministra.
A Campanha Nacional de Prevenção e Combate à Violência 2020 - #NamorarNãoÉSerDon@ e vai ser apresentada esta sexta-feira, pelas pelas 14h30, a cerca de uma centena de jovens, no Chapitô, em Lisboa.
A campanha é realizada em parceria com o Movimento #NãoÉNormal e conta com a colaboração na divulgação do Parlamento dos Jovens e de mais de 50 entidades da Plataforma Contra a Violência no Namoro, coordenada pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.
A Linha de atendimento da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, um serviço gratuito de informação às vítimas de Violência Doméstica e que funciona 24 horas por dia durante todo o ano, registou 465 atendimentos em 2019 (mais 143 situações, em relação a 2018).
Vaticano: Papa apela à erradicação da pobreza num mundo com cada vez mais recursos
in Ecclesia
Francisco encontrou-se com ministros, banqueiros e economistas
Cidade do Vaticano, 05 fev 2020 (Ecclesia) – O Papa defendeu hoje no Vaticano que o mundo tem recursos económicos e financeiros suficientes para erradicar a pobreza, falando perante ministros, banqueiros e economistas de vários países.
“Um mundo rico e uma economia vibrante podem e devem acabar com a pobreza. É possível gerar e promover dinâmicas capazes de incluir, alimentar, cuidar e vestir os últimos da sociedade, ao invés de excluí-los”, disse, no Simpósio ‘Novas formas de fraternidade solidária, de inclusão, integração e inovação’.
Francisco referiu que, num mundo cada vez mais rico, os “pobres aumentam”, apelando a um “olhar solidário a partir dos bancos, das finanças, dos governos e das decisões económicas”.
“Precisamos de muitas vozes capazes de pensar, a partir de uma perspetiva poliédrica, as várias dimensões de um problema global que diz respeito aos nossos povos e às nossas democracias”, enfatizou, numa intervenção divulgada pelo Vaticano.
O discurso evocou as centenas de milhões de pessoas que vivem na pobreza extrema, sem alimento, habitação, assistência médica, escolas, eletricidade ou água potável.
“Calcula-se que cerca de cinco milhões de crianças abaixo dos 5 anos vão morrer este ano devido à pobreza. Outras 260 milhões não receberão uma educação por falta de recursos, por causa das guerras e das migrações”, indicou Francisco.
O Papa falou ainda das vítimas do tráfico de pessoas e das novas formas de escravidão, como o trabalho forçado, a prostituição e o tráfico de drogas”.
“O nível de riqueza e de técnica acumulados pela humanidade, bem como a importância e o valor que os direitos humanos adquiriram, não permitem mais pretextos. Devemos ter consciência de que todos somos responsáveis”, advertiu.
O Vaticano acolheu hoje uma conferência com economistas, ministros e banqueiros para debater um pacto global contra as desigualdades e por uma melhor distribuição da riqueza.
Os trabalhos, com a presença de Kristalina Georgieva, diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, foram promovidos pela Academia Pontifícia de Ciências Sociais (APCS).
Francisco encontrou-se com ministros, banqueiros e economistas
Cidade do Vaticano, 05 fev 2020 (Ecclesia) – O Papa defendeu hoje no Vaticano que o mundo tem recursos económicos e financeiros suficientes para erradicar a pobreza, falando perante ministros, banqueiros e economistas de vários países.
“Um mundo rico e uma economia vibrante podem e devem acabar com a pobreza. É possível gerar e promover dinâmicas capazes de incluir, alimentar, cuidar e vestir os últimos da sociedade, ao invés de excluí-los”, disse, no Simpósio ‘Novas formas de fraternidade solidária, de inclusão, integração e inovação’.
Francisco referiu que, num mundo cada vez mais rico, os “pobres aumentam”, apelando a um “olhar solidário a partir dos bancos, das finanças, dos governos e das decisões económicas”.
“Precisamos de muitas vozes capazes de pensar, a partir de uma perspetiva poliédrica, as várias dimensões de um problema global que diz respeito aos nossos povos e às nossas democracias”, enfatizou, numa intervenção divulgada pelo Vaticano.
O discurso evocou as centenas de milhões de pessoas que vivem na pobreza extrema, sem alimento, habitação, assistência médica, escolas, eletricidade ou água potável.
“Calcula-se que cerca de cinco milhões de crianças abaixo dos 5 anos vão morrer este ano devido à pobreza. Outras 260 milhões não receberão uma educação por falta de recursos, por causa das guerras e das migrações”, indicou Francisco.
O Papa falou ainda das vítimas do tráfico de pessoas e das novas formas de escravidão, como o trabalho forçado, a prostituição e o tráfico de drogas”.
“O nível de riqueza e de técnica acumulados pela humanidade, bem como a importância e o valor que os direitos humanos adquiriram, não permitem mais pretextos. Devemos ter consciência de que todos somos responsáveis”, advertiu.
O Vaticano acolheu hoje uma conferência com economistas, ministros e banqueiros para debater um pacto global contra as desigualdades e por uma melhor distribuição da riqueza.
Os trabalhos, com a presença de Kristalina Georgieva, diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, foram promovidos pela Academia Pontifícia de Ciências Sociais (APCS).
Instituições não acompanham 92% dos idosos que vivem sós em Lisboa
Xavier Costa, in Público on-line
Projecto Radar chegou ao fim e, para poder melhorar a resposta institucional, foi conhecer as necessidades de uma amostra de 30 mil idosos. E concluiu que poucos são acompanhados mas a maioria não está em situação urgente.
Radar esteve activo desde o dia 7 de Janeiro do ano passado até ao dia 12 de Fevereiro deste ano Nuno Ferreira Santos
Dos cerca de 132 mil idosos que moram em Lisboa, 85 mil vivem sós ou acompanhadas por pessoas da mesma idade. Para se conhecerem as condições em que vivem, o projecto Radar andou na rua desde 7 de Janeiro até esta terça-feira para falar com 30 mil destes lisboetas. E concluiu que, desta amostra, perto dos 92%, ou seja 27 mil, não têm acompanhamento de instituições sociais. Por freguesias, mais de 95% dos inquiridos em Belém, Benfica e Lumiar não dispõe de acompanhamento social. A melhor situação é a da freguesia de Santa Clara, onde 15% dos idosos contactados são acompanhados por instituições sociais.
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa - uma das entidades criadoras do projecto - detém cerca de 33% da resposta institucional. Por isso, entender melhor a realidade em que vivem os mais velhos de Lisboa - a razão de ser do projecto - é o primeiro passo para poder “dar respostas aos problemas”, aponta Maria da Luz Cabral, responsável pelo Radar. Agora, através dos dados recolhidos, conhecem-se melhor as condições em que estas pessoas vivem, que necessidades têm e que respostas precisam para que tenham uma vida autónoma e confortável.
Embora não haja grande acompanhamento das instituições, entre os 30 mil participantes, quase 28 mil idosos afirmaram ter uma “intervenção de nível planeado” (nível 5), ou seja, a menos urgente na classificação atribuída - o que significa que estão em situações controladas e por isso não necessitam de receber apoio no imediato. As intervenções críticas (de nível 1), que pressupõem uma actuação no espaço de 4 horas, apresentam um valor de 0,01% (3 pessoas) dos casos.
Do total da amostra, dois terços (66%) são mulheres. Em termos de faixas etárias, o maior número de pessoas inquiridas, concretamente 43%, situa-se entre os 75 e os 84 anos. Quanto à distribuição por freguesias, Benfica teve o maior número de idosos entrevistados (2.365), quase 8% da amostra. Por outro lado, o Parque das Nações é a freguesia por onde menos entrevistados se distribuem, apenas 488 idosos, pouco mais de 1,6%.
Os idosos sinalizados pelo Radar indicam ter dificuldades, sobretudo, nas questões da higiene habitacional (19%), nos cuidados de saúde (12%) e na realização das tarefas da vida diária (11%). “Carência económica” e “sinais de isolamento” foram outras das condições manifestadas, ambas com 9%. Não obstante serem alvo de maior preocupação, as questões de “carência alimentar”, “maus tratos” e “nível de orientação” são as que apresentam valores mais reduzidos, todas com 1%.
De acordo com os dados do Radar, 88% dos participantes confirmam ter médico de família e os restantes 12% desconhecem ou efectivamente não têm. Mas há discrepâncias entre freguesias. Em Carnide, 96% dos idosos têm médico de família. Já a Ajuda (17,90%) e o Parque das Nações (18,44%) são as freguesias onde as percentagens de idosos sem médico de família são mais elevadas. Contudo, em termos absolutos, Benfica é a freguesia na qual há mais idosos com médico de família (2.271) e Arroios tem o maior número de pessoas com mais de 65 anos sem médico de família (254).
Na terceira e última fase do projecto Radar, que terminou nesta terça-feira, foram identificados os últimos 14.274 idosos que faltavam para se atingir os 30 mil idosos que o projecto pretendia ter como amostra.
Depois de uma fase piloto, que chegou a 4500 idosos das freguesias dos Olivais, Areeiro e Ajuda, o projecto estendeu-se a mais nove freguesias – Santa Clara, Marvila, Alcântara, Arroios, Alvalade, São Domingos de Benfica, São Vicente, Beato e Parque das Nações. Por fim, para abranger todas as 24 freguesias de Lisboa, nesta terceira e última fase, o Radar alcançou as últimas doze: Avenidas Novas, Belém, Benfica, Campo de Ourique, Campolide, Carnide, Estrela, Lumiar, Misericórdia, Penha de França, Santa Maria Maior e Santo António.
Quatro mil idosos em situação de isolamento em três freguesias de Lisboa
Este projecto nasceu no âmbito do Programa “Lisboa, Cidade de Todas as Idades”, que funciona em rede com várias entidades – a Câmara Municipal de Lisboa, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, o Instituto da Segurança Social, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, a PSP, as juntas de freguesia e a Rede Social de Lisboa.
Texto editado por Ana Fernandes
Projecto Radar chegou ao fim e, para poder melhorar a resposta institucional, foi conhecer as necessidades de uma amostra de 30 mil idosos. E concluiu que poucos são acompanhados mas a maioria não está em situação urgente.
Radar esteve activo desde o dia 7 de Janeiro do ano passado até ao dia 12 de Fevereiro deste ano Nuno Ferreira Santos
Dos cerca de 132 mil idosos que moram em Lisboa, 85 mil vivem sós ou acompanhadas por pessoas da mesma idade. Para se conhecerem as condições em que vivem, o projecto Radar andou na rua desde 7 de Janeiro até esta terça-feira para falar com 30 mil destes lisboetas. E concluiu que, desta amostra, perto dos 92%, ou seja 27 mil, não têm acompanhamento de instituições sociais. Por freguesias, mais de 95% dos inquiridos em Belém, Benfica e Lumiar não dispõe de acompanhamento social. A melhor situação é a da freguesia de Santa Clara, onde 15% dos idosos contactados são acompanhados por instituições sociais.
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa - uma das entidades criadoras do projecto - detém cerca de 33% da resposta institucional. Por isso, entender melhor a realidade em que vivem os mais velhos de Lisboa - a razão de ser do projecto - é o primeiro passo para poder “dar respostas aos problemas”, aponta Maria da Luz Cabral, responsável pelo Radar. Agora, através dos dados recolhidos, conhecem-se melhor as condições em que estas pessoas vivem, que necessidades têm e que respostas precisam para que tenham uma vida autónoma e confortável.
Embora não haja grande acompanhamento das instituições, entre os 30 mil participantes, quase 28 mil idosos afirmaram ter uma “intervenção de nível planeado” (nível 5), ou seja, a menos urgente na classificação atribuída - o que significa que estão em situações controladas e por isso não necessitam de receber apoio no imediato. As intervenções críticas (de nível 1), que pressupõem uma actuação no espaço de 4 horas, apresentam um valor de 0,01% (3 pessoas) dos casos.
Do total da amostra, dois terços (66%) são mulheres. Em termos de faixas etárias, o maior número de pessoas inquiridas, concretamente 43%, situa-se entre os 75 e os 84 anos. Quanto à distribuição por freguesias, Benfica teve o maior número de idosos entrevistados (2.365), quase 8% da amostra. Por outro lado, o Parque das Nações é a freguesia por onde menos entrevistados se distribuem, apenas 488 idosos, pouco mais de 1,6%.
Os idosos sinalizados pelo Radar indicam ter dificuldades, sobretudo, nas questões da higiene habitacional (19%), nos cuidados de saúde (12%) e na realização das tarefas da vida diária (11%). “Carência económica” e “sinais de isolamento” foram outras das condições manifestadas, ambas com 9%. Não obstante serem alvo de maior preocupação, as questões de “carência alimentar”, “maus tratos” e “nível de orientação” são as que apresentam valores mais reduzidos, todas com 1%.
De acordo com os dados do Radar, 88% dos participantes confirmam ter médico de família e os restantes 12% desconhecem ou efectivamente não têm. Mas há discrepâncias entre freguesias. Em Carnide, 96% dos idosos têm médico de família. Já a Ajuda (17,90%) e o Parque das Nações (18,44%) são as freguesias onde as percentagens de idosos sem médico de família são mais elevadas. Contudo, em termos absolutos, Benfica é a freguesia na qual há mais idosos com médico de família (2.271) e Arroios tem o maior número de pessoas com mais de 65 anos sem médico de família (254).
Na terceira e última fase do projecto Radar, que terminou nesta terça-feira, foram identificados os últimos 14.274 idosos que faltavam para se atingir os 30 mil idosos que o projecto pretendia ter como amostra.
Depois de uma fase piloto, que chegou a 4500 idosos das freguesias dos Olivais, Areeiro e Ajuda, o projecto estendeu-se a mais nove freguesias – Santa Clara, Marvila, Alcântara, Arroios, Alvalade, São Domingos de Benfica, São Vicente, Beato e Parque das Nações. Por fim, para abranger todas as 24 freguesias de Lisboa, nesta terceira e última fase, o Radar alcançou as últimas doze: Avenidas Novas, Belém, Benfica, Campo de Ourique, Campolide, Carnide, Estrela, Lumiar, Misericórdia, Penha de França, Santa Maria Maior e Santo António.
Quatro mil idosos em situação de isolamento em três freguesias de Lisboa
Este projecto nasceu no âmbito do Programa “Lisboa, Cidade de Todas as Idades”, que funciona em rede com várias entidades – a Câmara Municipal de Lisboa, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, o Instituto da Segurança Social, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, a PSP, as juntas de freguesia e a Rede Social de Lisboa.
Texto editado por Ana Fernandes
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