in Postal
Um grupo de alunos da Escola Secundária João de Deus vestiu-se de branco e partilhou mensagens contra o discurso do ódio, estampadas nas t-shirts
No passado dia 8 de abril, o Mercado Municipal de Faro foi o palco escolhido para a iniciativa “Unidos na Diversidade pela Paz”. Uma iniciativa organizada pela Europe Direct Algarve (hospedada na CCDR-Algarve) e os promotores da semana da interculturalidade, EAPN – rede europeia anti-pobreza e ACM-CNAIM Algarve.
O objetivo foi debater a interculturalidade como um dos caminhos eficazes para a manutenção da paz na Europa mas também entre os povos em geral.
Inicialmente um grupo de alunos da Escola Secundária João de Deus, vestiu-se de branco e partilhou mensagens contra o discurso do ódio, estampadas nas t-shirts. Os alunos caminharam pelo espaço do mercado, dando corpo à da campanha EAPN – rede Europeia anti-pobreza.Fotos D.R.ptr
O Poema EUROPA de Adolfo Casais Monteiro, foi sendo declamado nas vozes de António Gambóias e Ana Oliveira, atores responsáveis pelo grupo teatro escolar Tapete Mágico e também professores da Escola Secundária Pinheiro e Rosa. Canções do mundo como Imagine de George Lennon preencheram os silêncios.
A segunda parte da iniciativa deu lugar a uma conversa com o tema “Interculturalidade: o caminho para a Paz”. Ouvimos os testemunhos de dois imigrantes no Algarve (utentes do ACM-Cnaim Algarve) Pavel (moldavo), e Olga (ucraniana) e ainda de 3 jovens (2 espanholas e 1 lituana), voluntárias do Corpo Europeu de Solidariedade e do programa EU4EU a que se seguiu uma sessão de perguntas e reflexões onde participaram todos os presentes. “Concluímos que a Interculturalidade é, de facto, um caminho para a PAZ! E a Paz começa no acolhimento que cada um de nós faz a quem chega e é, de algum modo diferente. Estamos inevitavelmente ‘Unidos na Diversidade’ e na Adversidade, PELA PAZ” afirma Ana Paula Burnay do Europe Direct Algarve.
A equipa da Faro2027, o Agrupamento de Escolas Pinheiro e Rosa, a Escola Secundária João de Deus, a Associação Atrevo, a cooperativa ECOS e a Ambifaro apoiaram a iniciativa.
#istoéEuropa #interculturalidade #ofuturoéTeu #SI2022 #standforUkraine
Mais informações sobre a Semana da Interculturalidade
A EAPN Portugal tem vindo a desenvolver várias iniciativas no sentido de ativar e mobilizar a comunidade local para o combate à pobreza e exclusão social. As atividades realizadas neste âmbito têm sido bastante diversificadas, contando sempre com uma parceria alargada, fomentando, por um lado, uma maior sensibilização para a importância do combate à pobreza e da exclusão e, por outro lado, um maior incentivo ao trabalho em parceria e à criação de sinergias ao nível local. A interculturalidade, cada vez mais presente na nossa sociedade, exige um conhecimento mais aprofundado das várias culturas e diversidades que integra. É através do conhecimento de outras culturas e dos contactos que temos com essas culturas/diversidades que nos enriquecemos enquanto cidadãos.
Apostar na interculturalidade é acreditar que se pode aprender e enriquecer através do diálogo e da convivência com o outro. Foi neste entendimento que a EAPN Portugal tem vindo a desenvolver desde 2014, com o ACM – Alto Comissariado para as Migrações, a Semana da Interculturalidade, com o intuito de sensibilizar os cidadãos para a necessidade de uma sociedade intercultural que tenha presente os valores da solidariedade; da não discriminação pela aparência, etnia, género ou nacionalidade; da igualdade; do respeito pela diferença e pela diversidade; da partilha e da inclusão, de forma a garantir uma cidadania mais inclusiva e mais igualitária.
O Europe Direct Algarve faz parte da Rede de Centros Europe Direct da Comissão Europeia. No Algarve está hospedado na CCDR Algarve – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve. CONSULTE! INFORME-SE! PARTICIPE! Somos a A Europa na sua região!
29.4.22
Baixa escolaridade de quem vive num bairro pobre aumenta (muito) o risco de morrer mais cedo
João Carlos Malta, in RR
Estudo liderado pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) chegou à conclusão de que quem mora em contexto desfavorecido, e tem apenas o nível de escolaridade básico, tem risco acrescido de morte em 31%.
Viver em zonas desfavorecidas - já se sabia - contribui para que a probabilidade de morrer mais cedo suba. Mas esse risco aumenta significativamente, se a esse fator se juntar um nível de escolaridade baixo.
Esta é a principal conclusão de um estudo internacional liderado pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), e publicado na revista científica The Lancet Public Health, que veio demonstrar de modo robusto que viver em locais desfavorecidos aumenta o risco de morte, sobretudo entre as pessoas que têm piores condições socioeconómicas.
“Neste estudo, verificamos que os indivíduos que viviam em zonas mais pobres tinham uma maior probabilidade de morte, mas especificamente vimos que este efeito negativo do viver em zonas desfavorecidas foi maior em indivíduos com baixa escolaridade”, define Ana Isabel Ribeiro.
Os investigadores que participaram neste estudo usaram informação de uma amostra bastante ampla: mais de 160 mil pessoas, com idades entre os 18 e os 91 anos, seguidas ao longo de quase 20 anos, no âmbito de seis coortes (estudos longitudinais).
De Portugal, analisou-se informação dos participantes no Porto, seguida por investigadores do ISPUP. O trabalho analisou ainda dados de indivíduos na Suíça, em França, na Itália, na Austrália e em Inglaterra.
A mesma investigadora portuguesa explica que, se até aqui já era consensualmente aceite que morar em locais mais pobres, tipicamente com serviços públicos desajustados, pior qualidade de construção, maiores níveis de poluição e menos espaços de lazer, como áreas verdes, podia ampliar o risco de morte, o que ainda faltava averiguar “era se este efeito se fazia sentir de forma igual em todos os residentes, qualquer que fosse o seu estatuto socioeconómico individual”.
E isso de facto não se verifica. A escolaridade mais baixa, aumenta o risco de morrer mais cedo para quem vive num bairro pobre.
Este estudo contabilizou esse risco: “Para uma pessoa que tem o ensino primário, ou seja, o ensino básico, o risco associado a viver num lugar pobre, significou que teria uma taxa de mortalidade cerca de 31% acima daquela verificada em indivíduos que viviam em espaços mais favorecidos”.
“Nas pessoas com qualificações intermédias, com nível secundário, esta diferença foi na ordem dos 12% e entre aquelas que tinham níveis de académicos superiores a esta a diferença foi da ordem dos 16%”, complementa Ana Isabel Ribeiro.
Ou seja, o risco de mortalidade precoce, entre as zonas ricas e as zonas pobres foi muito mais pronunciado entre indivíduos com baixas qualificações.
“Percebemos, claramente, que o efeito negativo de viver em sítios desfavorecidos foi mais pronunciado nos participantes com um estatuto socioeconómico mais baixo, o que contribui para aumentar as desigualdades em saúde”, menciona a investigadora do ISPUP.
“Este risco acrescido de viver em locais mais pobres manteve-se, mesmo tendo em conta outras covariáveis que poderiam explicar a existência de um risco de morte aumentado, como o sexo, a idade, o tabagismo, a ingestão de álcool, ou a situação marital”, aponta.
Falta de escolaridade, maior iliteracia em saúde
Ana Isabel Ribeiro diz que a escolaridade, ou a falta dela, tem reflexo direto “na literacia em saúde”, e sobre a capacidade de tomar decisões que promovam a saúde e o bem-estar.
Nos locais em que o estudo decorreu, Portugal, Austrália e Inglaterra foram os sítios em que a diferença na mortalidade entre lugares mais favorecidos e desfavorecidos foi mais evidente.
Para os autores do estudo, uma das hipóteses mais plausíveis terá que ver com o elevado nível de segregação socio-espacial do local de residência das pessoas das coortes portuguesa e australiana.
“Nestes países, as pessoas mais pobres tendem a viver perto umas das outras e as mais ricas junto de outras que também têm iguais níveis de riqueza, ou seja, há uma grande separação das pessoas no território em função das suas características socioecónomicas. Tal poderá contribuir para que as zonas mais pobres se tornem ainda mais carentes de infraestruturas e, portanto, os efeitos negativos de lá residir podem ser mais acentuados”, aponta Ana Isabel.“Outra possibilidade também tem a ver com um regime de Estado providência em cada um destes países. Temos aqui países, em que o Estado está mais envolvido no apoio social à população, por exemplo a França tem um regime tipo mais bismarckiano, em que há esta intervenção do Estado. Já num país como o Reino Unido há um regime mais liberal, em que não há apoios tão fortes à população. Isso também pode de certa forma explicar as diferenças que encontrava entre os países”, pondera a investigadora.
Apesar de este ser um estudo observacional, e não de intervenção, a investigadora Ana Isabel Ribeiro diz que para ajudar a resolver estas desigualdades, os governos locais têm naturalmente que agir melhorando a acessibilidade equipamentos de lazer e contribuir para um ambiente menos poluído ou a redução da insegurança.
“Há que diminuir as desigualdades na saúde, através de políticas mais igualitárias de apoio social à população mais desfavorecida, de forma que mesmo que elas tenham baixo nível escolaridade consigam colmatar estas falhas tendo estes apoios a nível mais nacional”, remata a investigadora.
Estudo liderado pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) chegou à conclusão de que quem mora em contexto desfavorecido, e tem apenas o nível de escolaridade básico, tem risco acrescido de morte em 31%.
Viver em zonas desfavorecidas - já se sabia - contribui para que a probabilidade de morrer mais cedo suba. Mas esse risco aumenta significativamente, se a esse fator se juntar um nível de escolaridade baixo.
Esta é a principal conclusão de um estudo internacional liderado pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), e publicado na revista científica The Lancet Public Health, que veio demonstrar de modo robusto que viver em locais desfavorecidos aumenta o risco de morte, sobretudo entre as pessoas que têm piores condições socioeconómicas.
“Neste estudo, verificamos que os indivíduos que viviam em zonas mais pobres tinham uma maior probabilidade de morte, mas especificamente vimos que este efeito negativo do viver em zonas desfavorecidas foi maior em indivíduos com baixa escolaridade”, define Ana Isabel Ribeiro.
Os investigadores que participaram neste estudo usaram informação de uma amostra bastante ampla: mais de 160 mil pessoas, com idades entre os 18 e os 91 anos, seguidas ao longo de quase 20 anos, no âmbito de seis coortes (estudos longitudinais).
De Portugal, analisou-se informação dos participantes no Porto, seguida por investigadores do ISPUP. O trabalho analisou ainda dados de indivíduos na Suíça, em França, na Itália, na Austrália e em Inglaterra.
A mesma investigadora portuguesa explica que, se até aqui já era consensualmente aceite que morar em locais mais pobres, tipicamente com serviços públicos desajustados, pior qualidade de construção, maiores níveis de poluição e menos espaços de lazer, como áreas verdes, podia ampliar o risco de morte, o que ainda faltava averiguar “era se este efeito se fazia sentir de forma igual em todos os residentes, qualquer que fosse o seu estatuto socioeconómico individual”.
E isso de facto não se verifica. A escolaridade mais baixa, aumenta o risco de morrer mais cedo para quem vive num bairro pobre.
Este estudo contabilizou esse risco: “Para uma pessoa que tem o ensino primário, ou seja, o ensino básico, o risco associado a viver num lugar pobre, significou que teria uma taxa de mortalidade cerca de 31% acima daquela verificada em indivíduos que viviam em espaços mais favorecidos”.
“Nas pessoas com qualificações intermédias, com nível secundário, esta diferença foi na ordem dos 12% e entre aquelas que tinham níveis de académicos superiores a esta a diferença foi da ordem dos 16%”, complementa Ana Isabel Ribeiro.
Ou seja, o risco de mortalidade precoce, entre as zonas ricas e as zonas pobres foi muito mais pronunciado entre indivíduos com baixas qualificações.
“Percebemos, claramente, que o efeito negativo de viver em sítios desfavorecidos foi mais pronunciado nos participantes com um estatuto socioeconómico mais baixo, o que contribui para aumentar as desigualdades em saúde”, menciona a investigadora do ISPUP.
“Este risco acrescido de viver em locais mais pobres manteve-se, mesmo tendo em conta outras covariáveis que poderiam explicar a existência de um risco de morte aumentado, como o sexo, a idade, o tabagismo, a ingestão de álcool, ou a situação marital”, aponta.
Falta de escolaridade, maior iliteracia em saúde
Ana Isabel Ribeiro diz que a escolaridade, ou a falta dela, tem reflexo direto “na literacia em saúde”, e sobre a capacidade de tomar decisões que promovam a saúde e o bem-estar.
Nos locais em que o estudo decorreu, Portugal, Austrália e Inglaterra foram os sítios em que a diferença na mortalidade entre lugares mais favorecidos e desfavorecidos foi mais evidente.
Para os autores do estudo, uma das hipóteses mais plausíveis terá que ver com o elevado nível de segregação socio-espacial do local de residência das pessoas das coortes portuguesa e australiana.
“Nestes países, as pessoas mais pobres tendem a viver perto umas das outras e as mais ricas junto de outras que também têm iguais níveis de riqueza, ou seja, há uma grande separação das pessoas no território em função das suas características socioecónomicas. Tal poderá contribuir para que as zonas mais pobres se tornem ainda mais carentes de infraestruturas e, portanto, os efeitos negativos de lá residir podem ser mais acentuados”, aponta Ana Isabel.“Outra possibilidade também tem a ver com um regime de Estado providência em cada um destes países. Temos aqui países, em que o Estado está mais envolvido no apoio social à população, por exemplo a França tem um regime tipo mais bismarckiano, em que há esta intervenção do Estado. Já num país como o Reino Unido há um regime mais liberal, em que não há apoios tão fortes à população. Isso também pode de certa forma explicar as diferenças que encontrava entre os países”, pondera a investigadora.
Apesar de este ser um estudo observacional, e não de intervenção, a investigadora Ana Isabel Ribeiro diz que para ajudar a resolver estas desigualdades, os governos locais têm naturalmente que agir melhorando a acessibilidade equipamentos de lazer e contribuir para um ambiente menos poluído ou a redução da insegurança.
“Há que diminuir as desigualdades na saúde, através de políticas mais igualitárias de apoio social à população mais desfavorecida, de forma que mesmo que elas tenham baixo nível escolaridade consigam colmatar estas falhas tendo estes apoios a nível mais nacional”, remata a investigadora.
Notícias dos bairros pobres
in Diário de Aveiro
https://www.diarioaveiro.pt/noticia/82081
Portugal é a quarta das economias mais pobres a crescer menos
As mais recentes projecções do Fundo Monetário Internacional (FMI) dão conta que, entre 2019 (no período pré-pandemia) e 2027, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita português “deverá crescer, a preços contantes, cerca de 12 por cento”, um valor semelhante à média da União Europeia. No entanto, e de acordo com o Instituto + Liberdade, a média da região é “influenciada sobretudo pelas maiores economias (como a alemã e a francesa, por exemplo), que são economias mais desenvolvidas, consolidadas e ricas, pelo que apresentam menor crescimento potencial” - as previsões indicam um crescimento de apenas oito por cento para a Alemanha, e para a França perspectiva-se um crescimento de seis por cento.
Apesar de o crescimento do PIB per capita português estar dentro da média da União Europeia, o Instituto + Liberdade alerta para um cenário “bem mais pessimista” quando se analisa Portugal com outras economias “mais comparáveis”. “Todos os países do Leste europeu irão crescer consideravelmente mais do que Portugal”, revela, especificando que, “entre as 17 economias que estão abaixo da média da União Europeia (todas do Sul e Leste europeu), Portugal é superado por 13 países, incluindo as sete economias que ultrapassaram Portugal nos últimos 20 anos”, enumerando Malta, República Checa, Eslovénia, Lituânia, Estónia, Polónia e Hungria.
Segundo os dados apresentados, prevê-se que a Bulgária seja o país que apresentará maior crescimento (na ordem dos 28 por cento) do PIB per capita entre 2019 e 2027 no âmbito das economias da União Europeia que são mais pobres, seguindo-se a Polónia, com um crescimento de 26 por cento, e a Hungria e Roménia, cada um com um crescimento de 25 por cento.
“Apenas três países desta lista terão um crescimento inferior a Portugal: Itália [prevê-se um crescimento de 10 por cento], Espanha e Chipre [com crescimentos na ordem dos sete e seis por cento, respectivamente]”, remata o Instituto + Liberdade.
Pobreza: Portugueses devem ser «audaciosos» na construção do bem-comum – Padre Jardim Moreira (c/vídeo)
in Agência Ecclesia
Rede Europeia Anti-Pobreza Portugal organiza congresso nacional e pede implementação local da Estratégia Nacional e «responsabilidade partilhada» na transferência de competências para as autarquias
Lisboa, 28 abr 2022 (Ecclesia) – O padre Jardim Moreira apelou hoje aos portugueses para que assumam “com coragem” a luta pelo bem-comum e pediu que a transferência de competências do poder central para as autarquias seja feito com “transparência e corresponsabilidade”.
“É necessário transparência, boa fé assumida e responsabilidade de construir uma sociedade justa, equitativa e fraterna. Se falamos que queremos uma sociedade igual e fraterna, a fraternidade tem estado muito ausente, na linguagem portuguesa. A fraternidade é independente da confissão religiosa professada. A fraternidade humana tem de ser construída entre todos, alicerçada no bem-comum”, explicou à Agência ECCLESIA o presidente da Direção da Rede Europeia Anti-Pobreza (REAP) Portugal, que organiza, a partir do dia 30, um congresso nacional, dividido em quatro seminários, com o objetivo de dialogar sobre a pobreza.
“Vemos o descredito das populações nos partidos e políticas porque cada um pensa mais em si do que nos outros, quando a função é servir a sociedade civil e o bem-comum, a começar pelos mais pobres, os que são vitimas dos erros de uma sociedade ou das suas estruturas económicas e sociais”, acrescentou.
O congresso «Diálogos sobre a pobreza» vai acontecer nas cidades do Porto, Aveiro, Braga e Lisboa, com o objetivo de mostrar contextos do fenómeno.
“A pobreza tem causas pluridimensionais e devem ser tratadas persi de modo que possamos concluir sobre propostas e soluções, para apresentar às entidades superiores e a todos os que são atores interventivos na ação social em Portugal. Achamos que não devíamos perder esta oportunidade, juntamente com as transferências das competências do poder central para as autarquias, uma vez que as câmaras e as juntas, juntamente com as IPSS, têm um papel fundamental na aplicação da estratégia em Portugal”, sublinha.
O padre Jardim Moreira lembra que com a aprovação da Estratégia Nacional contra a Pobreza importa coloca-la no terreno, com todos os parceiros que ajudem a combater o numero que persiste na sociedade portuguesa: 20% de pobres.
“A pobreza não é um problema dos pobres, mas sim dos que geram a pobreza e a exclusão, ou seja, é de todos. Se queremos uma sociedade democrática, socialmente humanista e corresponsável e integrada, temos de dar o nosso contributo para a constituição deste movimento onde ninguém fique para trás”, incita.
O responsável indica que a transferência de competências tem de ser acompanhada de responsabilidade partilhada, caso contrário, não irá operar mudanças.
“Depende se trabalhamos em rede ou não. Tem de haver um trabalho articulado entre todos, assumindo responsabilidade, sem pensar que a transferência de competências seja negativa – ela é positiva – mas não pode ser o atribuir responsabilidades a terceiros, tem de ser o assumir de forma participativa todas as entidades no terreno e presentes na capacidade de proximidade de conhecer e responder às necessidades”, esclarece.
O presidente da REAP lamenta que os “pobres”, em Portugal, não tenham vivido o seu “25 de abril” porque “continuam a ser pobres e a viver na exclusão”.
“Continuamos a ter uma percentagem de 20% a viver na pobreza e exclusão e isso não incomoda a cultura, a política portuguesa de modo geral. Aceita-se isto como se fosse uma herança a manter e não como algo a eliminar. É preciso mudar a cultura, a mentalidade e o mais difícil é mudar a mentalidade portuguesa: que pensam que os pobres são culpados da sua situação, quando são apenas as vitimas”, lamenta.
O Congresso Nacional, com início no dia 30, no Porto, vai deslocar-se no dia 14 de maio para Aveiro, seguindo depois para Braga a 28 de maio, e conclui-se a 3 de junho, em Lisboa.
HM/LS
Rede Europeia Anti-Pobreza Portugal organiza congresso nacional e pede implementação local da Estratégia Nacional e «responsabilidade partilhada» na transferência de competências para as autarquias
Lisboa, 28 abr 2022 (Ecclesia) – O padre Jardim Moreira apelou hoje aos portugueses para que assumam “com coragem” a luta pelo bem-comum e pediu que a transferência de competências do poder central para as autarquias seja feito com “transparência e corresponsabilidade”.
“É necessário transparência, boa fé assumida e responsabilidade de construir uma sociedade justa, equitativa e fraterna. Se falamos que queremos uma sociedade igual e fraterna, a fraternidade tem estado muito ausente, na linguagem portuguesa. A fraternidade é independente da confissão religiosa professada. A fraternidade humana tem de ser construída entre todos, alicerçada no bem-comum”, explicou à Agência ECCLESIA o presidente da Direção da Rede Europeia Anti-Pobreza (REAP) Portugal, que organiza, a partir do dia 30, um congresso nacional, dividido em quatro seminários, com o objetivo de dialogar sobre a pobreza.
“Vemos o descredito das populações nos partidos e políticas porque cada um pensa mais em si do que nos outros, quando a função é servir a sociedade civil e o bem-comum, a começar pelos mais pobres, os que são vitimas dos erros de uma sociedade ou das suas estruturas económicas e sociais”, acrescentou.
O congresso «Diálogos sobre a pobreza» vai acontecer nas cidades do Porto, Aveiro, Braga e Lisboa, com o objetivo de mostrar contextos do fenómeno.
“A pobreza tem causas pluridimensionais e devem ser tratadas persi de modo que possamos concluir sobre propostas e soluções, para apresentar às entidades superiores e a todos os que são atores interventivos na ação social em Portugal. Achamos que não devíamos perder esta oportunidade, juntamente com as transferências das competências do poder central para as autarquias, uma vez que as câmaras e as juntas, juntamente com as IPSS, têm um papel fundamental na aplicação da estratégia em Portugal”, sublinha.
O padre Jardim Moreira lembra que com a aprovação da Estratégia Nacional contra a Pobreza importa coloca-la no terreno, com todos os parceiros que ajudem a combater o numero que persiste na sociedade portuguesa: 20% de pobres.
“A pobreza não é um problema dos pobres, mas sim dos que geram a pobreza e a exclusão, ou seja, é de todos. Se queremos uma sociedade democrática, socialmente humanista e corresponsável e integrada, temos de dar o nosso contributo para a constituição deste movimento onde ninguém fique para trás”, incita.
O responsável indica que a transferência de competências tem de ser acompanhada de responsabilidade partilhada, caso contrário, não irá operar mudanças.
“Depende se trabalhamos em rede ou não. Tem de haver um trabalho articulado entre todos, assumindo responsabilidade, sem pensar que a transferência de competências seja negativa – ela é positiva – mas não pode ser o atribuir responsabilidades a terceiros, tem de ser o assumir de forma participativa todas as entidades no terreno e presentes na capacidade de proximidade de conhecer e responder às necessidades”, esclarece.
O presidente da REAP lamenta que os “pobres”, em Portugal, não tenham vivido o seu “25 de abril” porque “continuam a ser pobres e a viver na exclusão”.
“Continuamos a ter uma percentagem de 20% a viver na pobreza e exclusão e isso não incomoda a cultura, a política portuguesa de modo geral. Aceita-se isto como se fosse uma herança a manter e não como algo a eliminar. É preciso mudar a cultura, a mentalidade e o mais difícil é mudar a mentalidade portuguesa: que pensam que os pobres são culpados da sua situação, quando são apenas as vitimas”, lamenta.
O Congresso Nacional, com início no dia 30, no Porto, vai deslocar-se no dia 14 de maio para Aveiro, seguindo depois para Braga a 28 de maio, e conclui-se a 3 de junho, em Lisboa.
HM/LS
28.4.22
Causas e rostos da pobreza em Portugal
in JN
A Rede Europeia Anti-Pobreza portuguesa organiza um congresso nacional dividido em quatro seminários. O primeiro é já no dia 30 de abril, sábado. O objetivo é debater os "desafios e oportunidades". O fenómeno tem causas e rostos bem conhecidos. Já as soluções tardam em reunir consenso. Estão abertas as inscrições para assistência presencial, a única forma possível de seguir o evento.
Sabia que há quase dois milhões de pobres em Portugal, mas que se não fossem as transferências sociais (pensões incluídas) esse número facilmente duplicaria? A pobreza tem um rosto feminino (19,2%), atinge sobretudo crianças (20,4%) e a população idosa (20,1%). Claro que deste lote de menos afortunados faz parte quem recebe uma pensão baixa ou caiu no desemprego.
As medidas para combater o fenómeno urgem e não têm sido consensuais ao longo do tempo. Daí a pertinência de organizar um congresso que vá mais fundo e coloque responsáveis governamentais, líderes de ONG relevantes na assistência social e especialistas em confronto de ideias. Portugal tem uma percentagem muito significativa de pessoas que permanecem em situação de penúria por um período longo de tempo. A esta maleita social dá-se o nome de "pobreza persistente" (9,8% da população). Quais são as soluções? Há receitas de curto prazo ou os antídotos obrigam a implementar políticas de longo prazo?
O salão nobre da Faculdade de Economia do Porto irá acolher o primeiro dos quatro seminários previstos pela representação portuguesa da EAPN - European Anti Poverty Network (Rede Europeia Anti-Pobreza). É já no dia 30 de abril, sábado, durante a manhã. "A luta contra a pobreza em Portugal: desafios e oportunidades" é o tema em debate. O programa completo pode ser consultado aqui e as inscrições para marcar presença no local (não há transmissão online) devem ser feitas aqui. Os programas dos vários seminários do congresso nacional da EAPN Portugal estão igualmente disponíveis aqui.
A Rede Europeia Anti-Pobreza portuguesa organiza um congresso nacional dividido em quatro seminários. O primeiro é já no dia 30 de abril, sábado. O objetivo é debater os "desafios e oportunidades". O fenómeno tem causas e rostos bem conhecidos. Já as soluções tardam em reunir consenso. Estão abertas as inscrições para assistência presencial, a única forma possível de seguir o evento.
Sabia que há quase dois milhões de pobres em Portugal, mas que se não fossem as transferências sociais (pensões incluídas) esse número facilmente duplicaria? A pobreza tem um rosto feminino (19,2%), atinge sobretudo crianças (20,4%) e a população idosa (20,1%). Claro que deste lote de menos afortunados faz parte quem recebe uma pensão baixa ou caiu no desemprego.
As medidas para combater o fenómeno urgem e não têm sido consensuais ao longo do tempo. Daí a pertinência de organizar um congresso que vá mais fundo e coloque responsáveis governamentais, líderes de ONG relevantes na assistência social e especialistas em confronto de ideias. Portugal tem uma percentagem muito significativa de pessoas que permanecem em situação de penúria por um período longo de tempo. A esta maleita social dá-se o nome de "pobreza persistente" (9,8% da população). Quais são as soluções? Há receitas de curto prazo ou os antídotos obrigam a implementar políticas de longo prazo?
O salão nobre da Faculdade de Economia do Porto irá acolher o primeiro dos quatro seminários previstos pela representação portuguesa da EAPN - European Anti Poverty Network (Rede Europeia Anti-Pobreza). É já no dia 30 de abril, sábado, durante a manhã. "A luta contra a pobreza em Portugal: desafios e oportunidades" é o tema em debate. O programa completo pode ser consultado aqui e as inscrições para marcar presença no local (não há transmissão online) devem ser feitas aqui. Os programas dos vários seminários do congresso nacional da EAPN Portugal estão igualmente disponíveis aqui.
Cabaz de alimentos aumenta quase 10%
Fátima Casanova, in RR
Ir ao supermercado ou ao mercado está cada vez mais caro. O peixe e a carne são as categorias que mais contribuíram para essa variação.
Por causa da guerra, os preços dos bens alimentares estão a disparar. Em dois meses de invasão russa na Ucrânia, o valor do cabaz de alimentos monitorizado pela DECO /Proteste aumentou quase 10%.
O peixe e carne são as categorias que mais contribuíram para essa variação.
“Na carne uma variação de cerca de 13% e o peixe particamente 20%. São estas duas categorias que ao longo da nossa monotorização têm realmente conhecido as maiores variações”, contabiliza “Vitor Machado, da Deco/Proteste.
“Isto significa que o cabaz custa mais 17 euros do que praticamente há dois meses. É quase um anota de 20 euros que os consumidores têm que dar.”
O cabaz é composto por 63 alimentos, como massas, cereais, leite ou enlatados, em dois meses passou dos 180 para os 200 euros.
No início do mês, a associação alertou para o facto de ter aumentado o número de famílias com dificuldades para pagar os empréstimos, no primeiro trimestre de 2022. De acordo com o gabinete de proteção financeira, subiu o incumprimento para pagar as prestações do crédito pessoal e dos cartões de crédito. Já o empréstimo de casa registou uma acentuada diminuição de quebras de contrato.
Na altura, em declarações à Renascença, Natália Nunes sugere que a explicação pode estar nas moratórias praticadas pela banca por causa da pandemia.
Em média, por dia, 44 famílias pediram ajuda para reestruturar as dívidas, no primeiro trimestre deste ano. Um número que subiu face ao mesmo período de anos anteriores e que surpreende a coordenadora do Gabinete de proteção financeira.
TÓPICOSDECO
FAMÍLIAS
POBREZA
COMBATE À POBREZA
Ir ao supermercado ou ao mercado está cada vez mais caro. O peixe e a carne são as categorias que mais contribuíram para essa variação.
Por causa da guerra, os preços dos bens alimentares estão a disparar. Em dois meses de invasão russa na Ucrânia, o valor do cabaz de alimentos monitorizado pela DECO /Proteste aumentou quase 10%.
O peixe e carne são as categorias que mais contribuíram para essa variação.
“Na carne uma variação de cerca de 13% e o peixe particamente 20%. São estas duas categorias que ao longo da nossa monotorização têm realmente conhecido as maiores variações”, contabiliza “Vitor Machado, da Deco/Proteste.
“Isto significa que o cabaz custa mais 17 euros do que praticamente há dois meses. É quase um anota de 20 euros que os consumidores têm que dar.”
O cabaz é composto por 63 alimentos, como massas, cereais, leite ou enlatados, em dois meses passou dos 180 para os 200 euros.
No início do mês, a associação alertou para o facto de ter aumentado o número de famílias com dificuldades para pagar os empréstimos, no primeiro trimestre de 2022. De acordo com o gabinete de proteção financeira, subiu o incumprimento para pagar as prestações do crédito pessoal e dos cartões de crédito. Já o empréstimo de casa registou uma acentuada diminuição de quebras de contrato.
Na altura, em declarações à Renascença, Natália Nunes sugere que a explicação pode estar nas moratórias praticadas pela banca por causa da pandemia.
Em média, por dia, 44 famílias pediram ajuda para reestruturar as dívidas, no primeiro trimestre deste ano. Um número que subiu face ao mesmo período de anos anteriores e que surpreende a coordenadora do Gabinete de proteção financeira.
TÓPICOSDECO
FAMÍLIAS
POBREZA
COMBATE À POBREZA
Revolução digital está a deixar as crianças pobres ainda mais pobres
in Impala
As diferenças no acesso a Internet rápida e a computadores entre crianças de famílias de baixo e alto rendimento acentuaram-se. Os governos prometeram e falharam na chamada revolução digital.
Apesar de as empresas e os sistemas escolares terem tido de passar a mover-se online durante a pandemia, um novo relatório da Common Sense Media revela que a exclusão digital continua a persistir, principalmente nos EUA mas também em Portugal, um dos países mais ricos do mundo. Nos Estados da América, 33% das crianças que vivem em famílias de baixo rendimento não têm acesso a computador familiar – em comparação com apenas 6% das famílias de alto rendimento.
Falta de equipamento e internet priva alunos de aulas
O cenário é semelhante no acesso a tablets, em que 60% das crianças de famílias de baixo rendimento têm acesso a um, contra 81% das crianças de famílias mais ricas. De acordo com o Pew Research Center, as lacunas de banda larga também alimentam o problema e são particularmente prevalentes em famílias de baixos recursos. Com as crianças a precisarem de participar de aulas online durante a pandemia, bem como ligarem-se para realizarem os trabalhos de casa, o problema, além de uma questão de acesso à tecnologia, tornou-se também numa questão de acesso à Educação. A exclusão digital está por isso a contribuir para aprofundar as desigualdades entre comunidades, ameaçando deixar as crianças de famílias mais pobres para trás e dificultando a recuperação.
Em 2021, o governo Biden investiu 65 mil milhões de dólares (perto de 60 mil milhões de euros) para a implementação e reforço de infraestruturas de banda larga. O governo de Costa prometeu computadores para todas as crianças, mas o ano letivo já ia longo e a promessa continuava por cumprir. Embora este seja certamente um passo na direção certa, de acordo com a Harvard Business Review, ficou muito aquém do que era necessário para dar acesso à Internet de alta velocidade a todas as pessoas. De acordo com a Rollcall, espera-se entretanto a aprovação, nos EUA, de um projeto de lei ainda mais robusto para garantir essa missão.
As diferenças no acesso a Internet rápida e a computadores entre crianças de famílias de baixo e alto rendimento acentuaram-se. Os governos prometeram e falharam na chamada revolução digital.
Apesar de as empresas e os sistemas escolares terem tido de passar a mover-se online durante a pandemia, um novo relatório da Common Sense Media revela que a exclusão digital continua a persistir, principalmente nos EUA mas também em Portugal, um dos países mais ricos do mundo. Nos Estados da América, 33% das crianças que vivem em famílias de baixo rendimento não têm acesso a computador familiar – em comparação com apenas 6% das famílias de alto rendimento.
Falta de equipamento e internet priva alunos de aulas
O cenário é semelhante no acesso a tablets, em que 60% das crianças de famílias de baixo rendimento têm acesso a um, contra 81% das crianças de famílias mais ricas. De acordo com o Pew Research Center, as lacunas de banda larga também alimentam o problema e são particularmente prevalentes em famílias de baixos recursos. Com as crianças a precisarem de participar de aulas online durante a pandemia, bem como ligarem-se para realizarem os trabalhos de casa, o problema, além de uma questão de acesso à tecnologia, tornou-se também numa questão de acesso à Educação. A exclusão digital está por isso a contribuir para aprofundar as desigualdades entre comunidades, ameaçando deixar as crianças de famílias mais pobres para trás e dificultando a recuperação.
Em 2021, o governo Biden investiu 65 mil milhões de dólares (perto de 60 mil milhões de euros) para a implementação e reforço de infraestruturas de banda larga. O governo de Costa prometeu computadores para todas as crianças, mas o ano letivo já ia longo e a promessa continuava por cumprir. Embora este seja certamente um passo na direção certa, de acordo com a Harvard Business Review, ficou muito aquém do que era necessário para dar acesso à Internet de alta velocidade a todas as pessoas. De acordo com a Rollcall, espera-se entretanto a aprovação, nos EUA, de um projeto de lei ainda mais robusto para garantir essa missão.
Tiago Pereira: “Os ciganos são portugueses, mas é como se a sua não fosse a nossa música também”
Vítor Belanciano, in Público on-line
A Música Invisível, que tem a sua estreia este sábado no Festival Política, em Lisboa, documenta as tensões que marcam a produção e a recepção da música criada por um segmento fortemente estigmatizado da sociedade portuguesa.
Quase todas as músicas que irrompem em esferas populares, ligadas a experiências de vida, associadas a microcosmos excludentes, funcionam como marcadores de identidade. Acabam por existir numa tensão – nem sempre desfeita – entre serem aceites, assimiladas e até mercantilizadas ao grande público, ou manterem a senha de resistência.
Vive-se um momento com a música criada pela comunidade cigana portuguesa onde essas tensões são visíveis. Influenciada pelo flamenco, é praticamente invisível, havendo até dificuldade em encará-la simplesmente como música popular portuguesa, apesar de pontuais casos de sucesso (como o recente de Nininho Vaz Maia) e uma aptidão global para o consumo de flamenco, como se tem visto nos últimos anos pela afirmação internacional de vários nomes espanhóis. Uma coisa parece certa: quando forem quebrados estigmas sociais, a relação com a música também se transformará. No interior da comunidade cigana. E sobretudo no todo da sociedade portuguesa.
Os ciganos são portugueses, mas é como se a sua não fosse a nossa música também.” Tiago Pereira, realizador e documentarista
Agora aí está o filme-documentário A Música Invisível, do realizador e documentarista Tiago Pereira, que é exibido este sábado, pelas 18h, no Festival Política, no cinema São Jorge, em Lisboa, e que acaba por expor algumas destas baralhações, mostrando que existe uma estimulante música na margem, como a comunidade que a cria. O filme resulta de 250 vídeos gravados em todo o país, entre 2019 e 2021, que redundaria no projecto A Música Cigana A Gostar Dela Própria, apoiado pelo Alto Comissariado para as Migrações e pela Secretaria para a Cidadania e Igualdade. “Foi a partir dessas gravações, e de outras feitas posteriormente, com actuações de música, danças e curtas entrevistas, que resolvi montar uma média-metragem”, afirma Tiago Pereira, que traça um retrato da música no quotidiano cigano com os testemunhos do músico Armando Cabreiras, ou seja Raspa, ou do guitarrista José Pedro Lima, a operarem como fio condutor.
“Acabam por funcionar como narradores paralelos” reconhece Tiago Pereira. “É curioso porque o Raspa, uma espécie de filósofo da música cigana, e o José Pedro Lima, não cigano, mas que cresceu em Viana do Castelo à beira de um acampamento, tendo, como ele diz, estudado viola e flamenco porque ouvia os ciganos tocar, acabam por coincidir nas mesmas ideias só que de forma diversa. O Raspa diz que em Espanha o flamenco já alcançou o pico, precisando agora de novas ideias, enquanto o José Pedro Lima diz não estar interessado em flamenco puro porque isso é o que toda a gente faz. Interessa-lhe um tipo de flamenco português, capaz de agregar coisas daqui, seja do folclore, ou outras linguagens.”
Resistir à normalização
Várias camadas interpretativas percorrem o documentário: por um lado, a ideia da música de rua, feita por amor de amadores, transmitida de uns para outros em momentos rituais, mas também na distensão do quotidiano que não separa vida e música; e, por outro lado, a questão de por que é que ela é invisível desde sempre. “Mesmo quando pensamos nas recolhas de [Michel] Giacometti ou de Ernesto Veiga de Oliveira percebemos que eles não gravaram os ciganos. Existem milhares de gravações desde os anos 30 em Portugal e nunca ninguém gravou os ciganos. E eles estão cá há 500 anos! Os ciganos são portugueses, mas é como se a sua não fosse a nossa música também.”
“Às tantas a criança diz: ‘Não sei cantar’. E respondem-lhe: ‘Então, tens de ir jogar à bola.’” cortesia tiago pereira Ter uma carreira artística, fazer parte de uma indústria cultural, é a ambição de alguns destes praticantes cortesia tiago pereira
Há uma comunidade viva, que resiste às formatações impostas ao longo dos anos, também através da música e da aprendizagem autodidacta. “Mesmo quando vemos que existem muitos a virar-se para as igrejas evangélicas, percebe-se que a música nunca é abandonada. A música é muito importante para eles, mesmo quando a sociedade os tenta enquadrar numa realidade que lhes é, em grande medida, estranha. É por isso que são continuamente atacados, resistindo a essa normalização.”
A música é muito importante para eles, mesmo quando a sociedade os tenta enquadrar numa realidade que lhes é, em grande medida, estranha." Tiago Pereira, realizador e documentarista
A Música Invisível, que tem a sua estreia este sábado no Festival Política, em Lisboa, documenta as tensões que marcam a produção e a recepção da música criada por um segmento fortemente estigmatizado da sociedade portuguesa.
Quase todas as músicas que irrompem em esferas populares, ligadas a experiências de vida, associadas a microcosmos excludentes, funcionam como marcadores de identidade. Acabam por existir numa tensão – nem sempre desfeita – entre serem aceites, assimiladas e até mercantilizadas ao grande público, ou manterem a senha de resistência.
Vive-se um momento com a música criada pela comunidade cigana portuguesa onde essas tensões são visíveis. Influenciada pelo flamenco, é praticamente invisível, havendo até dificuldade em encará-la simplesmente como música popular portuguesa, apesar de pontuais casos de sucesso (como o recente de Nininho Vaz Maia) e uma aptidão global para o consumo de flamenco, como se tem visto nos últimos anos pela afirmação internacional de vários nomes espanhóis. Uma coisa parece certa: quando forem quebrados estigmas sociais, a relação com a música também se transformará. No interior da comunidade cigana. E sobretudo no todo da sociedade portuguesa.
Os ciganos são portugueses, mas é como se a sua não fosse a nossa música também.” Tiago Pereira, realizador e documentarista
Agora aí está o filme-documentário A Música Invisível, do realizador e documentarista Tiago Pereira, que é exibido este sábado, pelas 18h, no Festival Política, no cinema São Jorge, em Lisboa, e que acaba por expor algumas destas baralhações, mostrando que existe uma estimulante música na margem, como a comunidade que a cria. O filme resulta de 250 vídeos gravados em todo o país, entre 2019 e 2021, que redundaria no projecto A Música Cigana A Gostar Dela Própria, apoiado pelo Alto Comissariado para as Migrações e pela Secretaria para a Cidadania e Igualdade. “Foi a partir dessas gravações, e de outras feitas posteriormente, com actuações de música, danças e curtas entrevistas, que resolvi montar uma média-metragem”, afirma Tiago Pereira, que traça um retrato da música no quotidiano cigano com os testemunhos do músico Armando Cabreiras, ou seja Raspa, ou do guitarrista José Pedro Lima, a operarem como fio condutor.
“Acabam por funcionar como narradores paralelos” reconhece Tiago Pereira. “É curioso porque o Raspa, uma espécie de filósofo da música cigana, e o José Pedro Lima, não cigano, mas que cresceu em Viana do Castelo à beira de um acampamento, tendo, como ele diz, estudado viola e flamenco porque ouvia os ciganos tocar, acabam por coincidir nas mesmas ideias só que de forma diversa. O Raspa diz que em Espanha o flamenco já alcançou o pico, precisando agora de novas ideias, enquanto o José Pedro Lima diz não estar interessado em flamenco puro porque isso é o que toda a gente faz. Interessa-lhe um tipo de flamenco português, capaz de agregar coisas daqui, seja do folclore, ou outras linguagens.”
Resistir à normalização
Várias camadas interpretativas percorrem o documentário: por um lado, a ideia da música de rua, feita por amor de amadores, transmitida de uns para outros em momentos rituais, mas também na distensão do quotidiano que não separa vida e música; e, por outro lado, a questão de por que é que ela é invisível desde sempre. “Mesmo quando pensamos nas recolhas de [Michel] Giacometti ou de Ernesto Veiga de Oliveira percebemos que eles não gravaram os ciganos. Existem milhares de gravações desde os anos 30 em Portugal e nunca ninguém gravou os ciganos. E eles estão cá há 500 anos! Os ciganos são portugueses, mas é como se a sua não fosse a nossa música também.”
“Às tantas a criança diz: ‘Não sei cantar’. E respondem-lhe: ‘Então, tens de ir jogar à bola.’” cortesia tiago pereira Ter uma carreira artística, fazer parte de uma indústria cultural, é a ambição de alguns destes praticantes cortesia tiago pereira
Há uma comunidade viva, que resiste às formatações impostas ao longo dos anos, também através da música e da aprendizagem autodidacta. “Mesmo quando vemos que existem muitos a virar-se para as igrejas evangélicas, percebe-se que a música nunca é abandonada. A música é muito importante para eles, mesmo quando a sociedade os tenta enquadrar numa realidade que lhes é, em grande medida, estranha. É por isso que são continuamente atacados, resistindo a essa normalização.”
A música é muito importante para eles, mesmo quando a sociedade os tenta enquadrar numa realidade que lhes é, em grande medida, estranha." Tiago Pereira, realizador e documentarista
Não é apenas num olhar de fora que se manifestam diferentes perspectivas sobre a música e a realidade ciganas. No interior da própria comunidade subsistem teorias diversas acerca da música. No filme entram músicos amadores e profissionais, crianças e adultos, cantores e guitarristas com diferentes visões, das mais puristas às mais abertas a estímulos exteriores sobre o que é, e o que poderá ser, a música cigana. “Há quem resista a um lado mais comercial da música e do flamenco como são vividos em Espanha, mas ao mesmo tempo vão-se sucedendo as experiências de mistura. É por isso que no filme está lá um rapper e outros que vão trazendo outras batidas e estímulos”, reflecte Tiago Pereira, chamando a atenção para uma cena em que se vê uma criança a cantar, mostrando algumas incertezas. “Às tantas a criança diz: ‘Não sei cantar’. E respondem-lhe: ‘Então, tens de ir jogar à bola.’” É como se o leque de expectativas se resumisse a esses dois vectores. Mas é mais do que isso. “O que a cena mostra é que não existe uma aprendizagem. O que há é o lado autodidacta, o aprender de dentro, através do ouvir. É um aprender interno. Ao mesmo tempo, o filme também mostra esse lado da insistência, do trabalhar, do tentar ir mais longe pelo esforço.”
Ter uma carreira artística, fazer parte de uma indústria cultural, é a ambição de alguns destes praticantes. Com a consciência das dificuldades, que não podem ser dissociadas dos preconceitos sociais. “Existe a noção que aquilo que criam acaba por ser para eles próprios, mas depois falam do Nininho Vaz Maia como alguém que se transformou numa estrela televisiva. Ou seja, se ele conseguiu sair é porque é possível. Mas existe a noção de que é música que não passa, não vai a festivais, não tem espaço. O flamenco é visto sempre como algo de Espanha. É estranho. É como se não existisse flamenco em Portugal.”
Existe a noção de que é música que não passa, não vai a festivais, não tem espaço. O flamenco é visto sempre como algo de Espanha. É estranho. É como se não existisse flamenco em Portugal.” Tiago Pereira, realizador e documentarista
Para já, o filme vai ser exibido este sábado, seguindo-se uma actuação dos Família Gitana com o poeta António Poppe. Depois, será exibido em Braga, a 7 de Maio, com a participação de Raspa, existindo a expectativa que faça o circuito dos festivais e seja projectado em algumas das comunidades ciganas visadas no filme. “No fim de contas, o que gostaria é que a música vingasse por ela própria”, conclui Tiago Pereira, “e que conseguíssemos tratar estas pessoas como músicos, para lá da etnia.”
Ter uma carreira artística, fazer parte de uma indústria cultural, é a ambição de alguns destes praticantes. Com a consciência das dificuldades, que não podem ser dissociadas dos preconceitos sociais. “Existe a noção que aquilo que criam acaba por ser para eles próprios, mas depois falam do Nininho Vaz Maia como alguém que se transformou numa estrela televisiva. Ou seja, se ele conseguiu sair é porque é possível. Mas existe a noção de que é música que não passa, não vai a festivais, não tem espaço. O flamenco é visto sempre como algo de Espanha. É estranho. É como se não existisse flamenco em Portugal.”
Existe a noção de que é música que não passa, não vai a festivais, não tem espaço. O flamenco é visto sempre como algo de Espanha. É estranho. É como se não existisse flamenco em Portugal.” Tiago Pereira, realizador e documentarista
Para já, o filme vai ser exibido este sábado, seguindo-se uma actuação dos Família Gitana com o poeta António Poppe. Depois, será exibido em Braga, a 7 de Maio, com a participação de Raspa, existindo a expectativa que faça o circuito dos festivais e seja projectado em algumas das comunidades ciganas visadas no filme. “No fim de contas, o que gostaria é que a música vingasse por ela própria”, conclui Tiago Pereira, “e que conseguíssemos tratar estas pessoas como músicos, para lá da etnia.”
“Educação em Portugal penaliza o pobre" e "é fator de exclusão"
Henrique Cunha, in RR
O padre Jardim Moreira diz à Renascença que, em matéria de luta contra a pobreza, “deve ser tudo revisto, se queremos que não seja o próprio sistema a criar exclusão”. Congresso que assinala os 30 anos da Rede Europeia Anti-Pobreza em Portugal começa no final do mês.
“A educação em Portugal penaliza o pobre" e "é fator de exclusão", afirma o presidente da EAPN Portugal/Rede Europeia Anti-Pobreza.
Em declarações à Renascença, o padre Jardim Moreira considera que “nós temos uma educação em Portugal que penaliza os pobres”.
As respostas no combate à pobreza devem "apostar no desenvolvimento integral da pessoa humana".
“As respostas têm sido muito a nível individual e a nível assistencialista e achamos que devem ser mais a nível de família, a partir da habitação, da educação e da saúde, e apostando no desenvolvimento integral da pessoa humana”, reforça.
Para o presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza, “um dos problemas sérios que nós encontramos situa-se no âmbito da educação, pois nós temos uma educação em Portugal, que neste momento penaliza os pobres”.
“Se o pobre vai sujo é posto fora; se o pobre não tem alimentação tem dificuldades, porque se não foi alimentado suficientemente na primeira infância tem dificuldades de aprendizagem e é considerado burro, e é posto de lado”, sublinha.
O sacerdote afirma, por isso, que “o próprio sistema exclui mais do que inclui” e deve ser “tudo revisto se queremos que não seja o próprio sistema a criar pobreza e exclusão”.
Milhões a caminho da pobreza extrema
O padre Jardim Moreira considera “assustador” o número projetado pela organização internacional humanitária Oxfam para o conjunto de pessoas em situação de pobreza extrema.
A confederação indica que a pandemia da Covid-19 e o aumento do preço dos alimentos, provocado pela guerra na Ucrânia, vai atirar mais de 260 milhões de pessoas no mundo para a pobreza extrema. É o equivalente à população conjunta do Reino Unido, França, Alemanha e Espanha.
O padre Jardim Moreira refere que “a realidade vai ser ainda mais compungente”, e alerta para “uma sociedade agressora que agride os mais fracos e onde parte da humanidade é posta à parte”.
“Estes números são um juízo terrível sobre esta sociedade e sobre este sistema. A humanidade prefere armar-se até aos dentes, prefere encontrar formas de autodestruição do que humildemente reconhecer que errou”, lamenta.
O responsável entende que “só há uma solução” e que passa pela “ideia e prática da partilha”, como forma de se impor “ao individualismo das pessoas que escondem os seus bens, e fogem com eles para outros sítios”.
“O que está em causa aqui, em meu entender, é a necessidade urgente de conversão da humanidade para se amarem, para se respeitarem, para construírem a paz”, sublinha.
O sacerdote diz que “estamos dominados pelas trevas, pelo ódio e pela ganância que destrói esta humanidade”, e que este “é o momento de reflexão e de mudança profunda na vida da história da humanidade”.
Diálogos sobre a pobreza em Congresso Nacional
Para assinalar os 30 anos de vida em Portugal, a Rede Europeia Anti-Pobreza está a organizar um congresso sobre a pobreza, composto por quatro seminários temáticos a realizar em quatro cidades, Porto, Aveiro, Braga e Lisboa, entre 30 de abril e 3 de junho.
De acordo com um comunicado da European Anti Poverty Network (EPAN), o evento comemorativo “conta com o alto patrocínio do Presidente da República e procurará envolver outras entidades oficiais como o presidente da Assembleia da República, o primeiro-ministro, a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e a ministra da Saúde”.
O padre Jardim Moreira diz à Renascença que “o Presidente da República achou que esta data e que estas circunstância da rede anti-pobreza, tendo em conta a pobreza e a luta contra a pobreza devia ser celebrada de uma forma visível e com impacto nacional”, e que isso levou à decisão de se organizar “um congresso, em conjunto, em quatro cidades”.
O presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza entende que esta manifestação de Marcelo Rebelo de Sousa significa “a importância que merece ao país a luta contra a pobreza e as perspetivas que a rede tem apresentado e que estão em parte consignadas no programa da estratégia de luta contra a pobreza aprovada pelo Governo e pelo conselho de ministros e que se espera que venha agora a ser aplicada”.
O padre Jardim Moreira diz à Renascença que, em matéria de luta contra a pobreza, “deve ser tudo revisto, se queremos que não seja o próprio sistema a criar exclusão”. Congresso que assinala os 30 anos da Rede Europeia Anti-Pobreza em Portugal começa no final do mês.
“A educação em Portugal penaliza o pobre" e "é fator de exclusão", afirma o presidente da EAPN Portugal/Rede Europeia Anti-Pobreza.
Em declarações à Renascença, o padre Jardim Moreira considera que “nós temos uma educação em Portugal que penaliza os pobres”.
As respostas no combate à pobreza devem "apostar no desenvolvimento integral da pessoa humana".
“As respostas têm sido muito a nível individual e a nível assistencialista e achamos que devem ser mais a nível de família, a partir da habitação, da educação e da saúde, e apostando no desenvolvimento integral da pessoa humana”, reforça.
Para o presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza, “um dos problemas sérios que nós encontramos situa-se no âmbito da educação, pois nós temos uma educação em Portugal, que neste momento penaliza os pobres”.
“Se o pobre vai sujo é posto fora; se o pobre não tem alimentação tem dificuldades, porque se não foi alimentado suficientemente na primeira infância tem dificuldades de aprendizagem e é considerado burro, e é posto de lado”, sublinha.
O sacerdote afirma, por isso, que “o próprio sistema exclui mais do que inclui” e deve ser “tudo revisto se queremos que não seja o próprio sistema a criar pobreza e exclusão”.
Milhões a caminho da pobreza extrema
O padre Jardim Moreira considera “assustador” o número projetado pela organização internacional humanitária Oxfam para o conjunto de pessoas em situação de pobreza extrema.
A confederação indica que a pandemia da Covid-19 e o aumento do preço dos alimentos, provocado pela guerra na Ucrânia, vai atirar mais de 260 milhões de pessoas no mundo para a pobreza extrema. É o equivalente à população conjunta do Reino Unido, França, Alemanha e Espanha.
O padre Jardim Moreira refere que “a realidade vai ser ainda mais compungente”, e alerta para “uma sociedade agressora que agride os mais fracos e onde parte da humanidade é posta à parte”.
“Estes números são um juízo terrível sobre esta sociedade e sobre este sistema. A humanidade prefere armar-se até aos dentes, prefere encontrar formas de autodestruição do que humildemente reconhecer que errou”, lamenta.
O responsável entende que “só há uma solução” e que passa pela “ideia e prática da partilha”, como forma de se impor “ao individualismo das pessoas que escondem os seus bens, e fogem com eles para outros sítios”.
“O que está em causa aqui, em meu entender, é a necessidade urgente de conversão da humanidade para se amarem, para se respeitarem, para construírem a paz”, sublinha.
O sacerdote diz que “estamos dominados pelas trevas, pelo ódio e pela ganância que destrói esta humanidade”, e que este “é o momento de reflexão e de mudança profunda na vida da história da humanidade”.
Diálogos sobre a pobreza em Congresso Nacional
Para assinalar os 30 anos de vida em Portugal, a Rede Europeia Anti-Pobreza está a organizar um congresso sobre a pobreza, composto por quatro seminários temáticos a realizar em quatro cidades, Porto, Aveiro, Braga e Lisboa, entre 30 de abril e 3 de junho.
De acordo com um comunicado da European Anti Poverty Network (EPAN), o evento comemorativo “conta com o alto patrocínio do Presidente da República e procurará envolver outras entidades oficiais como o presidente da Assembleia da República, o primeiro-ministro, a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e a ministra da Saúde”.
O padre Jardim Moreira diz à Renascença que “o Presidente da República achou que esta data e que estas circunstância da rede anti-pobreza, tendo em conta a pobreza e a luta contra a pobreza devia ser celebrada de uma forma visível e com impacto nacional”, e que isso levou à decisão de se organizar “um congresso, em conjunto, em quatro cidades”.
O presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza entende que esta manifestação de Marcelo Rebelo de Sousa significa “a importância que merece ao país a luta contra a pobreza e as perspetivas que a rede tem apresentado e que estão em parte consignadas no programa da estratégia de luta contra a pobreza aprovada pelo Governo e pelo conselho de ministros e que se espera que venha agora a ser aplicada”.
"Estancar a sangria dos jovens mais qualificados, apoiar o seu regresso", defende Santos Silva
Paulo Ribeiro Pinto, in Negócios on-line
O discurso do Presidente da Assembleia da República foi interrompido por uma indisposição de um funcionário do protocolo do Parlamento. Augusto Santos Silva dedicou o discurso às comunidades emigrantes portuguesas.
O Presidente da Assembleia da República defendeu esta segunda-feira que o país deve "estancar a sangria dos nossos jovens mais qualificados, apoiar o seu regresso e servir melhor as comunidades no estrangeiro", lembrando que "ao contrário da ditadura, a democracia não esconde os problemas."
No discurso na sessão solene do 25 de abril, na Assembleia da República, Augusto Santos Silva dedicou todo o seu discurso às comunidades portuguesas, apontando os vários casos de portugueses que estão à frente de organizações internacionais, "ilustres emigrantes que hoje nos dignificam à frente das Nações Unidas e de outras organizações, no mundo económico e profissional, nas artes, na Igreja, no desporto, no voluntariado", afirmou.
Nos desafios, Santos Silva apontou que é preciso "compreender que estas comunidades são parte indispensável da nação que formamos, um recurso essencial para a nossa influência do mundo e um exemplo vivo de que identidade e integração, multiculturalidade e coesão são polos que se complementam e não opostos que se digladiem".
A segunda figura do Estado apontou ainda o papel "frutífero de Portugal no concerto das nações: como berço da casa de gente a seu modo cosmopolita, pacífica, humanista, solidária, aberta aos outros, calcorreando pelo mundo e em todo o lado derrubando muros e erguendo pontes."
O discurso do Presidente da Assembleia da República foi interrompido por uma indisposição de um funcionário do protocolo do Parlamento. Augusto Santos Silva dedicou o discurso às comunidades emigrantes portuguesas.
O Presidente da Assembleia da República defendeu esta segunda-feira que o país deve "estancar a sangria dos nossos jovens mais qualificados, apoiar o seu regresso e servir melhor as comunidades no estrangeiro", lembrando que "ao contrário da ditadura, a democracia não esconde os problemas."
No discurso na sessão solene do 25 de abril, na Assembleia da República, Augusto Santos Silva dedicou todo o seu discurso às comunidades portuguesas, apontando os vários casos de portugueses que estão à frente de organizações internacionais, "ilustres emigrantes que hoje nos dignificam à frente das Nações Unidas e de outras organizações, no mundo económico e profissional, nas artes, na Igreja, no desporto, no voluntariado", afirmou.
Nos desafios, Santos Silva apontou que é preciso "compreender que estas comunidades são parte indispensável da nação que formamos, um recurso essencial para a nossa influência do mundo e um exemplo vivo de que identidade e integração, multiculturalidade e coesão são polos que se complementam e não opostos que se digladiem".
A segunda figura do Estado apontou ainda o papel "frutífero de Portugal no concerto das nações: como berço da casa de gente a seu modo cosmopolita, pacífica, humanista, solidária, aberta aos outros, calcorreando pelo mundo e em todo o lado derrubando muros e erguendo pontes."
Desemprego cresceu em Beja
in Rádio Pax
No final do mês de março estavam inscritos no centro de emprego de Beja 1 083 indivíduos, mais 114 do que no final do mês anterior (fevereiro). Os números são do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).
Comparativamente a março do ano passado o desemprego recuou. Foram registadas menos 223 inscrições.
Em março passado o desemprego no concelho de Beja atingia 531 homens e 552. A maioria procurava um novo emprego.
Do total de desempregados no concelho, 167 tinham menos de 25 anos; 267 tinham entre 25 e 34 anos; 441 entre os 35 e os 54 anos e 208 mais de 55 anos.
No concelho de Beja 272 inscritos possuíam um nível de escolaridade inferir ao 1º ciclo do ensino básico. No centro de emprego de Beja estavam inscritos 150 indivíduos com o ensino superior.
No distrito de Beja, Odemira era o concelho com mais desempregados inscritos: 1 619.
No Alentejo estavam inscritos nos centros de emprego, em março passado, 14 550 indivíduos.
No final do mês de março estavam inscritos no centro de emprego de Beja 1 083 indivíduos, mais 114 do que no final do mês anterior (fevereiro). Os números são do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).
Comparativamente a março do ano passado o desemprego recuou. Foram registadas menos 223 inscrições.
Em março passado o desemprego no concelho de Beja atingia 531 homens e 552. A maioria procurava um novo emprego.
Do total de desempregados no concelho, 167 tinham menos de 25 anos; 267 tinham entre 25 e 34 anos; 441 entre os 35 e os 54 anos e 208 mais de 55 anos.
No concelho de Beja 272 inscritos possuíam um nível de escolaridade inferir ao 1º ciclo do ensino básico. No centro de emprego de Beja estavam inscritos 150 indivíduos com o ensino superior.
No distrito de Beja, Odemira era o concelho com mais desempregados inscritos: 1 619.
No Alentejo estavam inscritos nos centros de emprego, em março passado, 14 550 indivíduos.
As crianças dos Ervideiros ajudam a mudar um bairro invisível
in Diário de Aveiro
“Como te chamas?”, pergunta. E com a maravilhosa caligrafia dos 8 anos, Jéssica desenha com um pau de giz um r, um u e um i no pequeno quadro de ardósia que segura na mão. Pergunta depois a idade e o ano em que nasci e, perante a resposta, faz uma cara de espanto que é tão cómica como reveladora, como quem avisa, sem uma palavra, que os meus dias de juventude já ficaram muito para trás.
Com Jéssica estão Taís, Bianca, Tamara e outras crianças ciganas da escola da Quinta do Simão, em Esgueira, e ainda Danilo e Ivan, já adolescentes. Mesmo ao lado da escola existem dois pequenos pré-fabricados outrora usados pela Cáritas e onde agora funciona um projecto que, em especial a partir da visão das crianças, quer melhorar as condições do bairro onde esta comunidade vive nos Ervideiros.
Através do projecto, a que foi dado o nome “Levantar a pedra para construir pontes”, são assegurados pequenos melhoramentos nas casas e nos seus espaços exteriores. Mas o objectivo não se esgota nessas acções concretas. “Queremos alargar a percepção, sobretudo das crianças, de que existe um mundo bom fora do bairro e oportunidades que também são delas”, explica Rosa Madeira, investigadora da Universidade de Aveiro (UA) e coordenadora do projecto, desencadeado ao abrigo do programa Bairros Saudáveis (ver caixa). O que muitas vezes acontece, reconhece, é que o discurso de inclusão esbarra no preconceito com que os ciganos são ainda olhados por muita gente.
Élio Maia, de 28 anos, é o mais velho dos mediadores do projecto – os outros são Cátia, Samaritana e Lara – e conta como sentiu esse estigma na pele. “Estão sempre de pé atrás connosco”, diz. Quando quis completar o 12.º ano, na primeira aula ficou sozinho nas mesas dispostas em u. “Ninguém se sentou ao pé de mim. E na primeira semana ninguém falava para mim”.
Élio Maia, de 28 anos, é o mais velho dos mediadores do projecto – os outros são Cátia, Samaritana e Lara – e conta como sentiu esse estigma na pele. “Estão sempre de pé atrás connosco”, diz. Quando quis completar o 12.º ano, na primeira aula ficou sozinho nas mesas dispostas em u. “Ninguém se sentou ao pé de mim. E na primeira semana ninguém falava para mim”.
Caritas alerta que "trabalho já não é uma garantia para escapar à pobreza" no Luxemburgo
Tiago Rodrigues, in Contacto
A poucos dias do Dia do Trabalhador, que se assinala este domingo, 1 de maio, a Caritas Luxemburgo publicou um comunicado sobre os "trabalhadores pobres", alertando que "o trabalho já não é uma garantia para escapar à pobreza" no país. A associação pede a implementação de políticas que garantam aos trabalhadores um rendimento que lhes permita viver com dignidade.
No comunicado, a Caritas começa por assinalar que "cada vez mais trabalhadores ativos enfrentam dificuldades financeiras e o trabalho já não é uma garantia para escapar à pobreza" no Luxemburgo, que é o segundo país europeu com maior risco de pobreza no trabalho na UE, a seguir à Roménia.
A organização nota ainda que este risco "tem vindo a aumentar nos últimos anos". Em 2020, por exemplo, a percentagem de trabalhadores que pertencem a uma família que vive abaixo do limiar de pobreza era de 11,9%, em comparação com 9,3% em 2007.
"A ligeira diminuição em relação a 2019 (12,1%) pode ser explicada pelas numerosas garantias que o Estado tinha posto em prática durante a pandemia da covid-19", refere a Caritas.
O fenómeno dos 'trabalhadores pobres', também conhecido como 'pobreza no trabalho', refere-se a pessoas cujo rendimento mensal bruto é inferior a 60% do rendimento mediano, apesar de terem emprego. "Note-se que os trabalhadores fronteiriços não estão incluídos nas estatísticas, apesar de representarem 45,2% do emprego remunerado no Luxemburgo", esclareceu a organização no comunicado.
Risco de pobreza é maior para estrangeiros
Em 2020, 17,4% da população do Luxemburgo (103.929 pessoas) viviam abaixo do limiar do risco de pobreza, com uma taxa de risco de pobreza de 30,7% entre os 18-24 anos, em comparação com 7,3% para as pessoas com 65 e mais anos, aponta a Caritas.
Este risco é ainda maior para os imigrantes: "As disparidades de pobreza entre nacionais e estrangeiros continuam a ser significativas: em 2020, a taxa de risco de pobreza dos estrangeiros a viver no Luxemburgo era o dobro da dos nacionais (23% contra 10,6%)", acrescenta.
A associação refere também que os agregados familiares dependentes de um único rendimento estão "sistematicamente mais expostos ao risco de pobreza". Além disso, a pobreza no trabalho "é mais prevalente" em certos setores económicos, especialmente aqueles com salários baixos.
De realçar que o trabalho a tempo parcial ou contratos a termo certo também aumentam o risco de pobreza no trabalho. "De facto, quase um em cada dois trabalhadores que trabalham a tempo parcial com um contrato a termo certo está em situação de pobreza no trabalho (48,5%)", aponta a Caritas.
Famílias monoparentais, nacionais não luxemburgueses, trabalhadores pouco qualificados em setores com salários baixos, trabalhadores com contratos temporários ou a tempo parcial (ou ambos) "têm todos um risco mais elevado de pobreza no trabalho".
Mais difícil para pagar casa
Outro problema apontado pela organização é a subida dos preços das casas no Luxemburgo, sendo que "as pessoas em situação de pobreza no trabalho estão também mais expostas aos custos de habitação".
"Para o período 2010 a 2019, as rendas anunciadas mostram um crescimento de 47,4% para os apartamentos e 31,3% para as casas. Os preços de venda, por outro lado, aumentaram durante o mesmo período cerca de 65% para as habitações existentes e quase 62% para as novas habitações", recorda a Caritas.
De acordo com o Instituto de Investigação Sócio-Económica do Luxemburgo (LISER), em 2019, mais de um terço dos inquilinos utilizou mais de 40% dos seus rendimentos para pagar renda e aquecimento. Em 2016, esta percentagem era ainda de 25%. As famílias inquilinas do primeiro quintil do nível de vida (os 20% das famílias com os rendimentos mais baixos) têm uma taxa de esforço habitacional de 50%.
Medidas políticas para combater pobreza no trabalho
A Caritas Luxemburgo apela assim aos decisores políticos para que tomem medidas que "assegurem uma distribuição mais equilibrada do rendimento", lembrando que não existem políticas específicas para combater a pobreza no trabalho. "O salário social mínimo não é suficientemente elevado para tirar as pessoas da pobreza. O mesmo pode ser dito do rendimento mínimo garantido - o rendimento de inclusão social (REVIS)", critica.
A associação considera que, embora o salário mínimo seja muito elevado em termos comparativos e absolutos na Europa, "o seu nível está quase no limiar da pobreza no Luxemburgo". "Em 2019, o salário social mínimo não qualificado era de 2.071,10 euros, mas o orçamento de referência (o orçamento de que uma pessoa precisa para viver uma vida decente e socialmente inclusiva no Luxemburgo) era de 2.115 euros".
Para a Caritas, o orçamento de referência deve ser a base para determinar o nível do salário social mínimo. "Um único adulto só conseguirá sobreviver se o salário social mínimo for superior ao limiar de pobreza, bem como o orçamento de referência. O orçamento de referência deve ser calculado e atualizado regularmente", assinalou a organização.
Ajustar a tabela fiscal ao custo de vida
No comunicado, refere-se ainda que, durante os últimos 15 anos, os abonos de família não foram adaptados à evolução dos preços. "Como resultado, as famílias com crianças viram o seu poder de compra diminuir", lamentou a Caritas, afirmando que é "necessário um mecanismo regular de ajustamento do custo de vida para outros subsídios, tais como o subsídio de custo de vida e o subsídio de renda".
Para a Caritas, a fim de alcançar uma maior justiça social, é necessária uma "reforma fiscal baseada numa redistribuição social real". Para isso, a associação sugere que seja realizado um estudo aprofundado sobre a melhoria da atual redistribuição, a fim de eliminar as numerosas desigualdades existentes, como, por exemplo, o facto de os salários serem tributados a 100% e os rendimentos do capital a 50%.
A associação relembra que a tabela fiscal não foi adaptada à evolução do custo de vida desde 2009 e apela à introdução de um mecanismo para adaptar periodicamente a tabela fiscal. "Além disso, o imposto sobre o rendimento deve ser reduzido nos parênteses inferiores da escala e aumentado nos parênteses superiores, e devem ser acrescentados parênteses adicionais no topo", explica.
"O sistema fiscal deve ser concebido para isentar sistematicamente os pobres do pagamento de rendimentos e outros impostos, na medida do possível", lê-se ainda. "Quer uma pessoa viva sozinha, em coabitação, numa união civil ou casada, não deve fazer qualquer diferença em termos de tributação. O critério de diferenciação deve ser se existem ou não crianças no agregado familiar, de modo a beneficiar de uma classe fiscal 2".
Pessoas devem ser capazes de viver do trabalho
A organização nota também que seria benéfica uma reforma na formação profissional, para a tornar "mais relevante na prática" e encorajar "a aprendizagem ao longo da vida". "Alargar a gama de cursos de formação com um catálogo em várias línguas e visando uma língua específica para um ciclo de formação (em vez de duas ou mais línguas) também ajudaria".
Por fim, conclui a Caritas, deve ser feito "um esforço contínuo para melhorar a conciliação da vida profissional, familiar e privada, a fim de oferecer a todos a possibilidade de ganhar a vida através do trabalho, podendo ao mesmo tempo assumir responsabilidades familiares, participar na vida comunitária e contribuir para o bem-estar social".
A ideia de que "qualquer trabalho é melhor do que nenhum trabalho" deve ser contrariada pela proposta de que "as pessoas que trabalham devem ser capazes de viver disso", termina o comunicado.
A poucos dias do Dia do Trabalhador, que se assinala este domingo, 1 de maio, a Caritas Luxemburgo publicou um comunicado sobre os "trabalhadores pobres", alertando que "o trabalho já não é uma garantia para escapar à pobreza" no país. A associação pede a implementação de políticas que garantam aos trabalhadores um rendimento que lhes permita viver com dignidade.
No comunicado, a Caritas começa por assinalar que "cada vez mais trabalhadores ativos enfrentam dificuldades financeiras e o trabalho já não é uma garantia para escapar à pobreza" no Luxemburgo, que é o segundo país europeu com maior risco de pobreza no trabalho na UE, a seguir à Roménia.
A organização nota ainda que este risco "tem vindo a aumentar nos últimos anos". Em 2020, por exemplo, a percentagem de trabalhadores que pertencem a uma família que vive abaixo do limiar de pobreza era de 11,9%, em comparação com 9,3% em 2007.
"A ligeira diminuição em relação a 2019 (12,1%) pode ser explicada pelas numerosas garantias que o Estado tinha posto em prática durante a pandemia da covid-19", refere a Caritas.
O fenómeno dos 'trabalhadores pobres', também conhecido como 'pobreza no trabalho', refere-se a pessoas cujo rendimento mensal bruto é inferior a 60% do rendimento mediano, apesar de terem emprego. "Note-se que os trabalhadores fronteiriços não estão incluídos nas estatísticas, apesar de representarem 45,2% do emprego remunerado no Luxemburgo", esclareceu a organização no comunicado.
Risco de pobreza é maior para estrangeiros
Em 2020, 17,4% da população do Luxemburgo (103.929 pessoas) viviam abaixo do limiar do risco de pobreza, com uma taxa de risco de pobreza de 30,7% entre os 18-24 anos, em comparação com 7,3% para as pessoas com 65 e mais anos, aponta a Caritas.
Este risco é ainda maior para os imigrantes: "As disparidades de pobreza entre nacionais e estrangeiros continuam a ser significativas: em 2020, a taxa de risco de pobreza dos estrangeiros a viver no Luxemburgo era o dobro da dos nacionais (23% contra 10,6%)", acrescenta.
A associação refere também que os agregados familiares dependentes de um único rendimento estão "sistematicamente mais expostos ao risco de pobreza". Além disso, a pobreza no trabalho "é mais prevalente" em certos setores económicos, especialmente aqueles com salários baixos.
De realçar que o trabalho a tempo parcial ou contratos a termo certo também aumentam o risco de pobreza no trabalho. "De facto, quase um em cada dois trabalhadores que trabalham a tempo parcial com um contrato a termo certo está em situação de pobreza no trabalho (48,5%)", aponta a Caritas.
Famílias monoparentais, nacionais não luxemburgueses, trabalhadores pouco qualificados em setores com salários baixos, trabalhadores com contratos temporários ou a tempo parcial (ou ambos) "têm todos um risco mais elevado de pobreza no trabalho".
Mais difícil para pagar casa
Outro problema apontado pela organização é a subida dos preços das casas no Luxemburgo, sendo que "as pessoas em situação de pobreza no trabalho estão também mais expostas aos custos de habitação".
"Para o período 2010 a 2019, as rendas anunciadas mostram um crescimento de 47,4% para os apartamentos e 31,3% para as casas. Os preços de venda, por outro lado, aumentaram durante o mesmo período cerca de 65% para as habitações existentes e quase 62% para as novas habitações", recorda a Caritas.
De acordo com o Instituto de Investigação Sócio-Económica do Luxemburgo (LISER), em 2019, mais de um terço dos inquilinos utilizou mais de 40% dos seus rendimentos para pagar renda e aquecimento. Em 2016, esta percentagem era ainda de 25%. As famílias inquilinas do primeiro quintil do nível de vida (os 20% das famílias com os rendimentos mais baixos) têm uma taxa de esforço habitacional de 50%.
Medidas políticas para combater pobreza no trabalho
A Caritas Luxemburgo apela assim aos decisores políticos para que tomem medidas que "assegurem uma distribuição mais equilibrada do rendimento", lembrando que não existem políticas específicas para combater a pobreza no trabalho. "O salário social mínimo não é suficientemente elevado para tirar as pessoas da pobreza. O mesmo pode ser dito do rendimento mínimo garantido - o rendimento de inclusão social (REVIS)", critica.
A associação considera que, embora o salário mínimo seja muito elevado em termos comparativos e absolutos na Europa, "o seu nível está quase no limiar da pobreza no Luxemburgo". "Em 2019, o salário social mínimo não qualificado era de 2.071,10 euros, mas o orçamento de referência (o orçamento de que uma pessoa precisa para viver uma vida decente e socialmente inclusiva no Luxemburgo) era de 2.115 euros".
Para a Caritas, o orçamento de referência deve ser a base para determinar o nível do salário social mínimo. "Um único adulto só conseguirá sobreviver se o salário social mínimo for superior ao limiar de pobreza, bem como o orçamento de referência. O orçamento de referência deve ser calculado e atualizado regularmente", assinalou a organização.
Ajustar a tabela fiscal ao custo de vida
No comunicado, refere-se ainda que, durante os últimos 15 anos, os abonos de família não foram adaptados à evolução dos preços. "Como resultado, as famílias com crianças viram o seu poder de compra diminuir", lamentou a Caritas, afirmando que é "necessário um mecanismo regular de ajustamento do custo de vida para outros subsídios, tais como o subsídio de custo de vida e o subsídio de renda".
Para a Caritas, a fim de alcançar uma maior justiça social, é necessária uma "reforma fiscal baseada numa redistribuição social real". Para isso, a associação sugere que seja realizado um estudo aprofundado sobre a melhoria da atual redistribuição, a fim de eliminar as numerosas desigualdades existentes, como, por exemplo, o facto de os salários serem tributados a 100% e os rendimentos do capital a 50%.
A associação relembra que a tabela fiscal não foi adaptada à evolução do custo de vida desde 2009 e apela à introdução de um mecanismo para adaptar periodicamente a tabela fiscal. "Além disso, o imposto sobre o rendimento deve ser reduzido nos parênteses inferiores da escala e aumentado nos parênteses superiores, e devem ser acrescentados parênteses adicionais no topo", explica.
"O sistema fiscal deve ser concebido para isentar sistematicamente os pobres do pagamento de rendimentos e outros impostos, na medida do possível", lê-se ainda. "Quer uma pessoa viva sozinha, em coabitação, numa união civil ou casada, não deve fazer qualquer diferença em termos de tributação. O critério de diferenciação deve ser se existem ou não crianças no agregado familiar, de modo a beneficiar de uma classe fiscal 2".
Pessoas devem ser capazes de viver do trabalho
A organização nota também que seria benéfica uma reforma na formação profissional, para a tornar "mais relevante na prática" e encorajar "a aprendizagem ao longo da vida". "Alargar a gama de cursos de formação com um catálogo em várias línguas e visando uma língua específica para um ciclo de formação (em vez de duas ou mais línguas) também ajudaria".
Por fim, conclui a Caritas, deve ser feito "um esforço contínuo para melhorar a conciliação da vida profissional, familiar e privada, a fim de oferecer a todos a possibilidade de ganhar a vida através do trabalho, podendo ao mesmo tempo assumir responsabilidades familiares, participar na vida comunitária e contribuir para o bem-estar social".
A ideia de que "qualquer trabalho é melhor do que nenhum trabalho" deve ser contrariada pela proposta de que "as pessoas que trabalham devem ser capazes de viver disso", termina o comunicado.
21.4.22
Causas e rostos da pobreza em Portuga
in JN
A Rede Europeia Anti-Pobreza portuguesa organiza um congresso nacional dividido em quatro seminários. O primeiro é já no dia 30 de abril, sábado. O objetivo é debater os "desafios e oportunidades". O fenómeno tem causas e rostos bem conhecidos. Já as soluções tardam em reunir consenso. Estão abertas as inscrições para assistência presencial, a única forma possível de seguir o evento.
Sabia que há quase dois milhões de pobres em Portugal, mas que se não fossem as transferências sociais (pensões incluídas) esse número facilmente duplicaria? A pobreza tem um rosto feminino (19,2%), atinge sobretudo crianças (20,4%) e a população idosa (20,1%). Claro que deste lote de menos afortunados faz parte quem recebe uma pensão baixa ou caiu no desemprego.
As medidas para combater o fenómeno urgem e não têm sido consensuais ao longo do tempo. Daí a pertinência de organizar um congresso que vá mais fundo e coloque responsáveis governamentais, líderes de ONG relevantes na assistência social e especialistas em confronto de ideias. Portugal tem uma percentagem muito significativa de pessoas que permanecem em situação de penúria por um período longo de tempo. A esta maleita social dá-se o nome de "pobreza persistente" (9,8% da população). Quais são as soluções? Há receitas de curto prazo ou os antídotos obrigam a implementar políticas de longo prazo?
O salão nobre da Faculdade de Economia do Porto irá acolher o primeiro dos quatro seminários previstos pela representação portuguesa da EAPN - European Anti Poverty Network (Rede Europeia Anti-Pobreza). É já no dia 30 de abril, sábado, durante a manhã. "A luta contra a pobreza em Portugal: desafios e oportunidades" é o tema em debate. O programa completo pode ser consultado aqui e as inscrições para marcar presença no local (não há transmissão online) devem ser feitas aqui. Os programas dos vários seminários do congresso nacional da EAPN Portugal estão igualmente disponíveis aqui.
A Rede Europeia Anti-Pobreza portuguesa organiza um congresso nacional dividido em quatro seminários. O primeiro é já no dia 30 de abril, sábado. O objetivo é debater os "desafios e oportunidades". O fenómeno tem causas e rostos bem conhecidos. Já as soluções tardam em reunir consenso. Estão abertas as inscrições para assistência presencial, a única forma possível de seguir o evento.
Sabia que há quase dois milhões de pobres em Portugal, mas que se não fossem as transferências sociais (pensões incluídas) esse número facilmente duplicaria? A pobreza tem um rosto feminino (19,2%), atinge sobretudo crianças (20,4%) e a população idosa (20,1%). Claro que deste lote de menos afortunados faz parte quem recebe uma pensão baixa ou caiu no desemprego.
As medidas para combater o fenómeno urgem e não têm sido consensuais ao longo do tempo. Daí a pertinência de organizar um congresso que vá mais fundo e coloque responsáveis governamentais, líderes de ONG relevantes na assistência social e especialistas em confronto de ideias. Portugal tem uma percentagem muito significativa de pessoas que permanecem em situação de penúria por um período longo de tempo. A esta maleita social dá-se o nome de "pobreza persistente" (9,8% da população). Quais são as soluções? Há receitas de curto prazo ou os antídotos obrigam a implementar políticas de longo prazo?
O salão nobre da Faculdade de Economia do Porto irá acolher o primeiro dos quatro seminários previstos pela representação portuguesa da EAPN - European Anti Poverty Network (Rede Europeia Anti-Pobreza). É já no dia 30 de abril, sábado, durante a manhã. "A luta contra a pobreza em Portugal: desafios e oportunidades" é o tema em debate. O programa completo pode ser consultado aqui e as inscrições para marcar presença no local (não há transmissão online) devem ser feitas aqui. Os programas dos vários seminários do congresso nacional da EAPN Portugal estão igualmente disponíveis aqui.
20.4.22
Pobreza: um assunto de todos
Pedro Perdigão, in Público
Enquanto a pobreza for vista como um problema dos outros, ou daqueles que “não querem trabalhar”, não o poderemos verdadeiramente resolver nem trabalhar em instrumentos e mecanismos de erradicação, que é o primeiro dos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030.
Há uma conta que não pára de crescer e à qual nenhum de nós pode ficar indiferente. O número de pessoas a viver na pobreza e na pobreza extrema, em todo o mundo, tem subido violentamente ao longo dos últimos dois anos, aos quais, para além de todas as assimetrias que já vinham a ser discutidas, debatidas e estudadas, se somam a pandemia e a guerra. E este é um assunto que nos diz respeito a todos.
Várias vezes, nos relatórios das grandes organizações mundiais, como as Nações Unidas ou o Banco Mundial, o problema é levantado e são sugeridas medidas de combate e prevenção. E cada vez o panorama é pior. Os ricos cada vez mais ricos, os pobres cada vez mais pobres. Para termos uma ideia do que estamos a falar, o Banco Mundial já tinha estimado que 198 milhões de pessoas passariam a viver em pobreza extrema e, agora, a Oxfam estima que poderão ser mais de 250 milhões de pessoas. Cerca de metade da população europeia.
Por norma não é muito difícil estimar quem é que vai ser mais penalizado quando falamos de desigualdades e pobreza. São as mulheres e as crianças quem mais sofrem com este flagelo, que é mundial. Regionalmente, é na África Subsariana onde as dificuldades são mais agudas e onde há mais trabalho a fazer. Para trazer alguns números, estima-se que os preços da comida tenham subido 17% nos países ricos e 40% nesta região tão necessitada. Não quer isto dizer que não tenhamos trabalho a fazer na Europa ou em Portugal, bem pelo contrário.
Nas primeiras sessões plenárias na nossa Assembleia da República, vimos o debate vir para cima da mesa porque há, no Parlamento, quem se oponha à ideia de taxar mais aqueles que têm vindo a lucrar, deliberadamente, através da guerra.
No programa de Governo apresentado há dias, a palavra pobreza aparece 30 vezes, incluindo quando de energia se trata. Há um subcapítulo dedicado apenas à erradicação da pobreza, com quatro páginas. Nelas, o Governo propõe-se a retirar da pobreza 660 mil pessoas; destas, 170 mil são crianças e 230 mil trabalhadores pobres. Aproximar a taxa de privação material à média europeia e ainda reduzir a disparidade de pobreza territorial em Portugal para um máximo de três pontos percentuais. Se estas são as metas, quer isto dizer que temos muito a fazer, aqui, em Portugal. Muitas destas pessoas podemos ser mesmo nós, que lemos este texto, o nosso familiar ou mesmo o vizinho da porta ao lado.
Neste problema é importante que a abordagem não seja entre eles e nós. Não existe isso. Existimos todos. Viu-se, com a distribuição das vacinas pelo mundo, que o mundo não ficou um lugar melhor como muitos achavam no início desta pandemia. E, não, não ficou tudo bem.
Enquanto a pobreza for vista como um problema dos outros, ou daqueles que “não querem trabalhar”, não o poderemos verdadeiramente resolver nem trabalhar em instrumentos e mecanismos de erradicação, que é o primeiro dos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030.
Então o que é que se pode fazer? Algumas das medidas sugeridas nos relatórios, e das quais sou a favor, são a progressividade de impostos mais acentuada e o adiamento do pagamento de parte das dívidas externas de países altamente endividados (libertando, assim, 27 mil milhões de euros), quase como as moratórias que salvaram muitas das nossas famílias de entrar em incumprimento com os credores, mas também nos rendimentos e no trabalho. Outra medida seria libertar do fundo de austeridade (sabias que existe?) cerca de 92 mil milhões de euros para canalizar para as populações mais afectadas.
Temos muito trabalho a fazer. Se existe dinheiro para umas coisas, para o básico é que tem de existir mesmo. Não podemos deixar ninguém para trás e esta tem de ser a nossa orientação e vontade política.
Enquanto a pobreza for vista como um problema dos outros, ou daqueles que “não querem trabalhar”, não o poderemos verdadeiramente resolver nem trabalhar em instrumentos e mecanismos de erradicação, que é o primeiro dos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030.
Há uma conta que não pára de crescer e à qual nenhum de nós pode ficar indiferente. O número de pessoas a viver na pobreza e na pobreza extrema, em todo o mundo, tem subido violentamente ao longo dos últimos dois anos, aos quais, para além de todas as assimetrias que já vinham a ser discutidas, debatidas e estudadas, se somam a pandemia e a guerra. E este é um assunto que nos diz respeito a todos.
Várias vezes, nos relatórios das grandes organizações mundiais, como as Nações Unidas ou o Banco Mundial, o problema é levantado e são sugeridas medidas de combate e prevenção. E cada vez o panorama é pior. Os ricos cada vez mais ricos, os pobres cada vez mais pobres. Para termos uma ideia do que estamos a falar, o Banco Mundial já tinha estimado que 198 milhões de pessoas passariam a viver em pobreza extrema e, agora, a Oxfam estima que poderão ser mais de 250 milhões de pessoas. Cerca de metade da população europeia.
Por norma não é muito difícil estimar quem é que vai ser mais penalizado quando falamos de desigualdades e pobreza. São as mulheres e as crianças quem mais sofrem com este flagelo, que é mundial. Regionalmente, é na África Subsariana onde as dificuldades são mais agudas e onde há mais trabalho a fazer. Para trazer alguns números, estima-se que os preços da comida tenham subido 17% nos países ricos e 40% nesta região tão necessitada. Não quer isto dizer que não tenhamos trabalho a fazer na Europa ou em Portugal, bem pelo contrário.
Nas primeiras sessões plenárias na nossa Assembleia da República, vimos o debate vir para cima da mesa porque há, no Parlamento, quem se oponha à ideia de taxar mais aqueles que têm vindo a lucrar, deliberadamente, através da guerra.
No programa de Governo apresentado há dias, a palavra pobreza aparece 30 vezes, incluindo quando de energia se trata. Há um subcapítulo dedicado apenas à erradicação da pobreza, com quatro páginas. Nelas, o Governo propõe-se a retirar da pobreza 660 mil pessoas; destas, 170 mil são crianças e 230 mil trabalhadores pobres. Aproximar a taxa de privação material à média europeia e ainda reduzir a disparidade de pobreza territorial em Portugal para um máximo de três pontos percentuais. Se estas são as metas, quer isto dizer que temos muito a fazer, aqui, em Portugal. Muitas destas pessoas podemos ser mesmo nós, que lemos este texto, o nosso familiar ou mesmo o vizinho da porta ao lado.
Neste problema é importante que a abordagem não seja entre eles e nós. Não existe isso. Existimos todos. Viu-se, com a distribuição das vacinas pelo mundo, que o mundo não ficou um lugar melhor como muitos achavam no início desta pandemia. E, não, não ficou tudo bem.
Enquanto a pobreza for vista como um problema dos outros, ou daqueles que “não querem trabalhar”, não o poderemos verdadeiramente resolver nem trabalhar em instrumentos e mecanismos de erradicação, que é o primeiro dos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030.
Então o que é que se pode fazer? Algumas das medidas sugeridas nos relatórios, e das quais sou a favor, são a progressividade de impostos mais acentuada e o adiamento do pagamento de parte das dívidas externas de países altamente endividados (libertando, assim, 27 mil milhões de euros), quase como as moratórias que salvaram muitas das nossas famílias de entrar em incumprimento com os credores, mas também nos rendimentos e no trabalho. Outra medida seria libertar do fundo de austeridade (sabias que existe?) cerca de 92 mil milhões de euros para canalizar para as populações mais afectadas.
Temos muito trabalho a fazer. Se existe dinheiro para umas coisas, para o básico é que tem de existir mesmo. Não podemos deixar ninguém para trás e esta tem de ser a nossa orientação e vontade política.
Guarda: Comemorações do 25 de abril destacam ‘Abril, Liberdade e Juventude’
in Mais Beiras
O Município da Guarda assinala o Dia da Liberdade, 25 de abril, com uma série de iniciativas englobando homenagens a título póstumo, exposições, música, torneios desportivos, sendo o ponto alto a sessão solene, este ano com o tema: Abril, Liberdade e Juventude.
As comemorações do dia da Liberdade terão início logo às 9h30, no Pavilhão Desportivo de S. Miguel e no Pavilhão INATEL com o Torneio de Basquetebol, numa organização da GuardaBasket.
Seguem-se as comemorações protocolares com o “Hastear da bandeira” junto aos Paços do Concelho pelas 10h30.
A iniciativa contará como habitualmente com a participação da Banda Filarmónica de Famalicão da Serra e das Associações Humanitárias dos Bombeiros Voluntários Egitanienses, de Gonçalo e de Famalicão da Serra.
E logo depois terá início a Sessão Solene Comemorativa que este ano aborda “Abril, Liberdade e Juventude” e que contará com as intervenções do Presidente da Assembleia Municipal, José Relva, de jovens guardenses convidados e do presidente da Câmara da Guarda, Sérgio Costa.
Depois da Sessão são inauguradas exposições com trabalhos das escolas e Associações Juvenis na Rósácea da Câmara Municipal e nos jardins José de Lemos e Frei Pedro, também elas subordinadas aos temas da Liberdade e da Juventude.
No período da tarde, o programa é retomado com Homenagens a Título Póstumo, a partir das 15h30 e até às 16h30, serão descerrados novos topónimos na cidade em homenagem a Daniel Vendeiro; Norberto Gonçalves e Segura Fernandes.
Já ao final da tarde, às 18h00, tem lugar no Estádio Municipal o Torneio dos Campeões, numa organização do Guarda Unida Desportiva.
As Comemorações do “Dia da Liberdade” terminam no Grande Auditório do Teatro Municipal da Guarda com o concerto de Rodrigo Leão, às 21h30. O espetáculo assinala ainda o 17º aniversário do Teatro Municipal da Guarda.
Do cartaz destas comemorações fazem ainda parte integrante o 5º Encontro Imagem & Território: Fotografia sem fronteiras do Centro de Estudos Ibéricos com várias exposições, debates, mostras e lançamento de livros e que decorrem entre 21 e 24 abril e o espetáculo musical para as escolas do 1º CEB do concelho: “Mais Alto!” no dia 29 de abril, numa organização do Município da Guarda com a e Estrutura de Missão das Comemorações do quinquagésimo Aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974. O espetáculo decorre durante a manhã no TMG.
Aqui fica o programa completo da iniciativa:
PROGRAMA
21 a 24 de abril
5º Encontro Imagem & Território: Fotografia sem fronteiras
Exposições | Debates | Mostra de Fotografia| Lançamento de Publicações
+Info: www.mun-guarda.pt
23 de abril
09H00 às 18H00
2º Torneio de Natação da Guarda Cidade dos 5 F’s
Org.: Associação de Natação Interior Centro Apoio: Câmara Municipal da Guarda
Piscinas Municipais da Guarda
25 de abril
9h30 – 12h00 | 14h00 – 18h00
Torneio de Basquetebol
Org.: GuardaBasket Apoio: Câmara Municipal da Guarda
Pavilhão Desportivo Municipal são Miguel
Pavilhão Inatel
10h30
Hastear da Bandeira
• Bombeiros Voluntários Egitanienses
• Bombeiros Voluntários de Gonçalo
• Bombeiros Voluntários de Famalicão da Serra
• Banda Filarmónica de Famalicão da Serra
Praça do Município
10h45
Sessão Solene Comemorativa dos 48.º Aniversário do 25 de Abril
Sala António de Almeida Santos, Paços do Concelho
12h15
Inauguração da Exposição “Abril | Liberdade | Juventude”
Autoria das Associações de Estudantes das Escolas Secundárias da Sé e Afonso de Albuquerque, Associação Académica da Guarda, Ensiguarda, Federação das Associações Juvenis e Grupo Kaire Ictus
Câmara Municipal da Guarda | Rosácea
12h30
Inauguração da Exposição “Liberdade sem fronteiras”
Autoria dos alunos do Pré-escolar, 1.º CEB e IPSS do concelho da Guarda
Jardim José de Lemos | Jardim Frei Pedro
Homenagens a Título Póstumo
15h30
Descerrar de Topónimo Rua “Daniel Vendeiro”
Entre a Avenida Doutor Francisco Sá Carneiro e a Rua da Malmedra
16h00
Descerrar do Topónimo Largo “Norberto Gonçalves”
Rua Francisco de Passos e a Avenida dos Bombeiros Voluntários Egitanienses
16h30
Descerrar do Topónimo Rua “Segura Fernandes”
Avenida Cidade de Salamanca, junto ao Pavilhão Desportivo Municipal São Miguel
18h00
Torneio dos Campeões
Org.: Guarda Unida Desportiva Apoio: Câmara Municipal da Guarda
Estádio Municipal da Guarda
21h30
Concerto Rodrigo Leão
Grande Auditório do Teatro Municipal da Guarda que assinala também a 25 de abril o seu 17º aniversário.
29 de abril
Espetáculo Musical “Mais Alto!”
Para as Escolas do 1.º CEB do Concelho
Org. CMG e Estrutura de Missão das Comemorações do quinquagésimo Aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974
Grande Auditório do Teatro Municipal da Guarda
O Município da Guarda assinala o Dia da Liberdade, 25 de abril, com uma série de iniciativas englobando homenagens a título póstumo, exposições, música, torneios desportivos, sendo o ponto alto a sessão solene, este ano com o tema: Abril, Liberdade e Juventude.
As comemorações do dia da Liberdade terão início logo às 9h30, no Pavilhão Desportivo de S. Miguel e no Pavilhão INATEL com o Torneio de Basquetebol, numa organização da GuardaBasket.
Seguem-se as comemorações protocolares com o “Hastear da bandeira” junto aos Paços do Concelho pelas 10h30.
A iniciativa contará como habitualmente com a participação da Banda Filarmónica de Famalicão da Serra e das Associações Humanitárias dos Bombeiros Voluntários Egitanienses, de Gonçalo e de Famalicão da Serra.
E logo depois terá início a Sessão Solene Comemorativa que este ano aborda “Abril, Liberdade e Juventude” e que contará com as intervenções do Presidente da Assembleia Municipal, José Relva, de jovens guardenses convidados e do presidente da Câmara da Guarda, Sérgio Costa.
Depois da Sessão são inauguradas exposições com trabalhos das escolas e Associações Juvenis na Rósácea da Câmara Municipal e nos jardins José de Lemos e Frei Pedro, também elas subordinadas aos temas da Liberdade e da Juventude.
No período da tarde, o programa é retomado com Homenagens a Título Póstumo, a partir das 15h30 e até às 16h30, serão descerrados novos topónimos na cidade em homenagem a Daniel Vendeiro; Norberto Gonçalves e Segura Fernandes.
Já ao final da tarde, às 18h00, tem lugar no Estádio Municipal o Torneio dos Campeões, numa organização do Guarda Unida Desportiva.
As Comemorações do “Dia da Liberdade” terminam no Grande Auditório do Teatro Municipal da Guarda com o concerto de Rodrigo Leão, às 21h30. O espetáculo assinala ainda o 17º aniversário do Teatro Municipal da Guarda.
Do cartaz destas comemorações fazem ainda parte integrante o 5º Encontro Imagem & Território: Fotografia sem fronteiras do Centro de Estudos Ibéricos com várias exposições, debates, mostras e lançamento de livros e que decorrem entre 21 e 24 abril e o espetáculo musical para as escolas do 1º CEB do concelho: “Mais Alto!” no dia 29 de abril, numa organização do Município da Guarda com a e Estrutura de Missão das Comemorações do quinquagésimo Aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974. O espetáculo decorre durante a manhã no TMG.
Aqui fica o programa completo da iniciativa:
PROGRAMA
21 a 24 de abril
5º Encontro Imagem & Território: Fotografia sem fronteiras
Exposições | Debates | Mostra de Fotografia| Lançamento de Publicações
+Info: www.mun-guarda.pt
23 de abril
09H00 às 18H00
2º Torneio de Natação da Guarda Cidade dos 5 F’s
Org.: Associação de Natação Interior Centro Apoio: Câmara Municipal da Guarda
Piscinas Municipais da Guarda
25 de abril
9h30 – 12h00 | 14h00 – 18h00
Torneio de Basquetebol
Org.: GuardaBasket Apoio: Câmara Municipal da Guarda
Pavilhão Desportivo Municipal são Miguel
Pavilhão Inatel
10h30
Hastear da Bandeira
• Bombeiros Voluntários Egitanienses
• Bombeiros Voluntários de Gonçalo
• Bombeiros Voluntários de Famalicão da Serra
• Banda Filarmónica de Famalicão da Serra
Praça do Município
10h45
Sessão Solene Comemorativa dos 48.º Aniversário do 25 de Abril
Sala António de Almeida Santos, Paços do Concelho
12h15
Inauguração da Exposição “Abril | Liberdade | Juventude”
Autoria das Associações de Estudantes das Escolas Secundárias da Sé e Afonso de Albuquerque, Associação Académica da Guarda, Ensiguarda, Federação das Associações Juvenis e Grupo Kaire Ictus
Câmara Municipal da Guarda | Rosácea
12h30
Inauguração da Exposição “Liberdade sem fronteiras”
Autoria dos alunos do Pré-escolar, 1.º CEB e IPSS do concelho da Guarda
Jardim José de Lemos | Jardim Frei Pedro
Homenagens a Título Póstumo
15h30
Descerrar de Topónimo Rua “Daniel Vendeiro”
Entre a Avenida Doutor Francisco Sá Carneiro e a Rua da Malmedra
16h00
Descerrar do Topónimo Largo “Norberto Gonçalves”
Rua Francisco de Passos e a Avenida dos Bombeiros Voluntários Egitanienses
16h30
Descerrar do Topónimo Rua “Segura Fernandes”
Avenida Cidade de Salamanca, junto ao Pavilhão Desportivo Municipal São Miguel
18h00
Torneio dos Campeões
Org.: Guarda Unida Desportiva Apoio: Câmara Municipal da Guarda
Estádio Municipal da Guarda
21h30
Concerto Rodrigo Leão
Grande Auditório do Teatro Municipal da Guarda que assinala também a 25 de abril o seu 17º aniversário.
29 de abril
Espetáculo Musical “Mais Alto!”
Para as Escolas do 1.º CEB do Concelho
Org. CMG e Estrutura de Missão das Comemorações do quinquagésimo Aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974
Grande Auditório do Teatro Municipal da Guarda
“Vontade de Guerra, um modo de vida da besta” de Carlos M. B. Geraldes
Carlos M.B. Geraldes, opinião, in Mais Beiras
«A guerra é a origem de todas as coisas e de todas elas é soberana, e a uns ela apresenta-os como deuses, a outros, como homens; de uns ela faz escravos, de outros homens livres»
Que raio de bípede político é este que está sempre em guerra?
Como falar acerca da guerra?
Porquê esta estranha vontade de vida?
Quando questionamos e nos confrontamos com a afirmação inicial de Heraclito (540-470 a.C.), filósofo pré-socrático da Ásia Menor, somos prendados com um modo de vida terreno em que o horizonte mental do género Homo, uma espécie bípede de Homo sapiens, vive numa permanente disposição para a guerra.
Porquê esta nossa estranha vontade de vida, hein?!
Ora, perante o apresentado a questão que no imediato se coloca é saber onde encontrar a decência mental para podermos dar, de forma definitiva, um salto qualitativo para aquilo que todos desejam: o bem-estar físico, mental e espiritual, numa pureza harmoniosa.
Falar de guerra exige não esquecermos os registos escritos, textos ditos fundadores da nossa civilização, dado que o bípede político e a sua imbecil vontade de poder emerge como um ser que vive na indecisão entre o estar em guerra ou no receio de ser efetivamente um bom ser humano. Isto é entre a guerra e a negação conveniente de uma alternativa mais conveniente à sua evolução é como se vivesse num permanente eterno retorno do erro político.
No erro porquê? Em primeiro lugar, é toda uma vontade que vive num impertinente estado de pré-guerra e num incessante desejo de poder, com o intuito de fomentar cultos, interpretá-los, impô-los e estabelecer (híper)ligações que visam único e exclusivamente satisfazer as suas conveniências. É disso exemplo os deuses cultuados pelos povos antigos, independentemente da latitude temporal, e toda a sua narrativa mitológica, veiculadas pelos artefactos, pintura, tradição oral e escrita. No que concerne ao ocidente, sob a influência greco-romana, há deuses (Atena, deusa da sabedoria e da guerra, Hefesto, deus do fogo e das artes manuais, Apolo, deus da luz, da poesia e da música, Ares, deus da guerra, etc) a quem sem a sua devida existência mental não se produziriam vontades violentas. Como prova, tomemos em consideração Homero, Ilíada, Livros Cotovia, Lisboa, 2005, Canto I, 1, um dos textos edificadores do nosso modo de vida ocidental, quando tem como mote inicial a exaltação de uma violenta irritação que contraria a vontade de Aquiles:
«Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, o Pelida/ (mortífera! que tantas dores trouxe aos Aqueus/ e tantas almas valentes de heróis lançou no Hades, /ficando seus corpos como presa para cães e aves de rapina, enquanto se cumpria a vontade de Zeus»
Como nos diz Hannah Arendt, no livro A Promessa da Política, «Homero celebra esta guerra de aniquilação.» Daqui decorre que vivemos segundo uma matriz obsoleta, porque para além de ter medo de morrer não é capaz de assumir um projecto de vida que ultrapasse, em definitivo, o seu estado de homo sapiens sapiens: um regime ontocrático.
Antes prefere insistir na sombra da linguagem desabrida do erro político e da retórica rotineira dos regimes políticos que optam ser mediados pelos conceitos de guerra, violência, medo, conformismo, obediência e morte. É toda uma imposição que, paulatinamente, em nome de nada, se alicerçou no silêncio da humanidade. Deixou-se vencer ao não permitir veicular um regime ontocrático fundado no princípio do ser de facto, de liberdade, de amor, de diferença na igualdade e de um sim à vida inteligente.
«Oh, fala-me da selvajaria deste mundo» grita o Dhritarashtra, o rei cego de Kaurava, quando fica a saber que os seus cem filhos foram todos dizimados em combate.
Se somos capazes de identificar o mal porque não assumir uma vontade generativa que consiga criar um outro modo de vida?!
Não será a guerra uma falsa manifestação de inteligência humana?!
Será assim tão difícil esbater a fronteira entre uma realidade má e uma fantasia de um mundo melhor?!
Que fazer com a maldade existente nos seres humanos?!
Em segundo lugar, a Humanidade terá que encontrar novas formas de a combater. Não com mentes alicerçadas em qualidades negativas e prolongadas em armas forjadas nos metais. O Mal instalado tem que se submeter aos princípios éticos de se viver uma vida humanamente saudável, preservação da humanidade, e ser constantemente confrontado com esta questão ética fundamental: como fazer bom uso da liberdade? Não pode ser cobarde de si mesmo, nem criar uma desordem conveniente atribuindo a sua cobardia de ser a um Deus, como se fosse ele o culpado, pois a liberdade existe para bem fazermos dela bom uso. Caso a usemos mal, seremos a sua vergonha, isto é, não seremos dignos da Sua grandeza, e, quiçá, pagaremos pelo mau uso dos verdadeiros valores. Deus, de certeza que, na sua liberalidade, não dará a bem-aventurança a quem seja má pessoa ou mau chefe de estado. O mais lógico e natural será o Abismo, onde possa sentir o mal que infligiu aos outros para saciar os seus apetites mais maléficos e subversivos, ao querer arrastar egoisticamente as pessoas para causas que nunca foram e nem serão dignas de Bem agir no mundo e de Bem liderar, apesar de todas as nossas imperfeições. Ter-se a noção de que somos mortais na terra é ter o bom senso de que somos finitos perante os outros seres humanos.
Em terceiro lugar, há que colocar fim a um certo modo de ser da vontade com inclinação a multiplicar-se negativamente, criando maiorias humanas artificiais, controladas, como se de um estado eterno de guerra se tratasse, travando combates, guerrilhas, falsas revoluções e discursos vazios de conteúdo ou como diz um verso das escrituras hindus, o Bhagavad Gita : «Agora, tornei-me a Morte, o destruidor de mundos». Neste sentido, a guerra bélica é substituída por uma guerra supostamente mais simples, isto é, uma guerra psicológica, com novos padrões, que corresponde a uma mudança de objetivos nas relações entre os pares.
É triste saber-se que quem usa o poder desconhece, na sua consciência, que ele é efémero como a vida e que o poder continua e que quem o usa, mais tarde ou mais cedo será abandonado e julgado por ele. Assim sendo, podemos dizer que perante a História estamos, em certa medida, confrontados com uma tendência para o desastre do “eu indelegável”, isto porque, incubamos um poder na nossa acção, uma intencionalidade de querer dominar o outro por todos os meios que possamos ter ao nosso dispor, nomeadamente, a guerra, a lei, a palavra e a consciência do Mal. Nesta perspetiva, somos autoviolentos e monstruosos face à nossa condição humana, ou seja, transformamo-nos em seres repugnantes, por causa da negação da bem-aventurança que o germe humano relegou para o esquecimento da sua origem.
Que futuro queremos? Reorganizar os conceitos, a consciência, as aspirações, nem que para isso tenhamos de recorrer aos nossos recursos mais profundos (razão, perdão, cultura e tecnologia) para que consigamos sair da era do gatinhar mal e porcamente do ser humano para algo efetivamente Bem- aventurado para todos os seres humanos?!
Carlos M.B. Geraldes (Ph.D.)
Homero, Ilíada, Livros Cotovia, Lisboa, 2005, Canto I, 1;
«A guerra é a origem de todas as coisas e de todas elas é soberana, e a uns ela apresenta-os como deuses, a outros, como homens; de uns ela faz escravos, de outros homens livres»
Que raio de bípede político é este que está sempre em guerra?
Como falar acerca da guerra?
Porquê esta estranha vontade de vida?
Quando questionamos e nos confrontamos com a afirmação inicial de Heraclito (540-470 a.C.), filósofo pré-socrático da Ásia Menor, somos prendados com um modo de vida terreno em que o horizonte mental do género Homo, uma espécie bípede de Homo sapiens, vive numa permanente disposição para a guerra.
Porquê esta nossa estranha vontade de vida, hein?!
Ora, perante o apresentado a questão que no imediato se coloca é saber onde encontrar a decência mental para podermos dar, de forma definitiva, um salto qualitativo para aquilo que todos desejam: o bem-estar físico, mental e espiritual, numa pureza harmoniosa.
Falar de guerra exige não esquecermos os registos escritos, textos ditos fundadores da nossa civilização, dado que o bípede político e a sua imbecil vontade de poder emerge como um ser que vive na indecisão entre o estar em guerra ou no receio de ser efetivamente um bom ser humano. Isto é entre a guerra e a negação conveniente de uma alternativa mais conveniente à sua evolução é como se vivesse num permanente eterno retorno do erro político.
No erro porquê? Em primeiro lugar, é toda uma vontade que vive num impertinente estado de pré-guerra e num incessante desejo de poder, com o intuito de fomentar cultos, interpretá-los, impô-los e estabelecer (híper)ligações que visam único e exclusivamente satisfazer as suas conveniências. É disso exemplo os deuses cultuados pelos povos antigos, independentemente da latitude temporal, e toda a sua narrativa mitológica, veiculadas pelos artefactos, pintura, tradição oral e escrita. No que concerne ao ocidente, sob a influência greco-romana, há deuses (Atena, deusa da sabedoria e da guerra, Hefesto, deus do fogo e das artes manuais, Apolo, deus da luz, da poesia e da música, Ares, deus da guerra, etc) a quem sem a sua devida existência mental não se produziriam vontades violentas. Como prova, tomemos em consideração Homero, Ilíada, Livros Cotovia, Lisboa, 2005, Canto I, 1, um dos textos edificadores do nosso modo de vida ocidental, quando tem como mote inicial a exaltação de uma violenta irritação que contraria a vontade de Aquiles:
«Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, o Pelida/ (mortífera! que tantas dores trouxe aos Aqueus/ e tantas almas valentes de heróis lançou no Hades, /ficando seus corpos como presa para cães e aves de rapina, enquanto se cumpria a vontade de Zeus»
Como nos diz Hannah Arendt, no livro A Promessa da Política, «Homero celebra esta guerra de aniquilação.» Daqui decorre que vivemos segundo uma matriz obsoleta, porque para além de ter medo de morrer não é capaz de assumir um projecto de vida que ultrapasse, em definitivo, o seu estado de homo sapiens sapiens: um regime ontocrático.
Antes prefere insistir na sombra da linguagem desabrida do erro político e da retórica rotineira dos regimes políticos que optam ser mediados pelos conceitos de guerra, violência, medo, conformismo, obediência e morte. É toda uma imposição que, paulatinamente, em nome de nada, se alicerçou no silêncio da humanidade. Deixou-se vencer ao não permitir veicular um regime ontocrático fundado no princípio do ser de facto, de liberdade, de amor, de diferença na igualdade e de um sim à vida inteligente.
«Oh, fala-me da selvajaria deste mundo» grita o Dhritarashtra, o rei cego de Kaurava, quando fica a saber que os seus cem filhos foram todos dizimados em combate.
Se somos capazes de identificar o mal porque não assumir uma vontade generativa que consiga criar um outro modo de vida?!
Não será a guerra uma falsa manifestação de inteligência humana?!
Será assim tão difícil esbater a fronteira entre uma realidade má e uma fantasia de um mundo melhor?!
Que fazer com a maldade existente nos seres humanos?!
Em segundo lugar, a Humanidade terá que encontrar novas formas de a combater. Não com mentes alicerçadas em qualidades negativas e prolongadas em armas forjadas nos metais. O Mal instalado tem que se submeter aos princípios éticos de se viver uma vida humanamente saudável, preservação da humanidade, e ser constantemente confrontado com esta questão ética fundamental: como fazer bom uso da liberdade? Não pode ser cobarde de si mesmo, nem criar uma desordem conveniente atribuindo a sua cobardia de ser a um Deus, como se fosse ele o culpado, pois a liberdade existe para bem fazermos dela bom uso. Caso a usemos mal, seremos a sua vergonha, isto é, não seremos dignos da Sua grandeza, e, quiçá, pagaremos pelo mau uso dos verdadeiros valores. Deus, de certeza que, na sua liberalidade, não dará a bem-aventurança a quem seja má pessoa ou mau chefe de estado. O mais lógico e natural será o Abismo, onde possa sentir o mal que infligiu aos outros para saciar os seus apetites mais maléficos e subversivos, ao querer arrastar egoisticamente as pessoas para causas que nunca foram e nem serão dignas de Bem agir no mundo e de Bem liderar, apesar de todas as nossas imperfeições. Ter-se a noção de que somos mortais na terra é ter o bom senso de que somos finitos perante os outros seres humanos.
Em terceiro lugar, há que colocar fim a um certo modo de ser da vontade com inclinação a multiplicar-se negativamente, criando maiorias humanas artificiais, controladas, como se de um estado eterno de guerra se tratasse, travando combates, guerrilhas, falsas revoluções e discursos vazios de conteúdo ou como diz um verso das escrituras hindus, o Bhagavad Gita : «Agora, tornei-me a Morte, o destruidor de mundos». Neste sentido, a guerra bélica é substituída por uma guerra supostamente mais simples, isto é, uma guerra psicológica, com novos padrões, que corresponde a uma mudança de objetivos nas relações entre os pares.
É triste saber-se que quem usa o poder desconhece, na sua consciência, que ele é efémero como a vida e que o poder continua e que quem o usa, mais tarde ou mais cedo será abandonado e julgado por ele. Assim sendo, podemos dizer que perante a História estamos, em certa medida, confrontados com uma tendência para o desastre do “eu indelegável”, isto porque, incubamos um poder na nossa acção, uma intencionalidade de querer dominar o outro por todos os meios que possamos ter ao nosso dispor, nomeadamente, a guerra, a lei, a palavra e a consciência do Mal. Nesta perspetiva, somos autoviolentos e monstruosos face à nossa condição humana, ou seja, transformamo-nos em seres repugnantes, por causa da negação da bem-aventurança que o germe humano relegou para o esquecimento da sua origem.
Que futuro queremos? Reorganizar os conceitos, a consciência, as aspirações, nem que para isso tenhamos de recorrer aos nossos recursos mais profundos (razão, perdão, cultura e tecnologia) para que consigamos sair da era do gatinhar mal e porcamente do ser humano para algo efetivamente Bem- aventurado para todos os seres humanos?!
Carlos M.B. Geraldes (Ph.D.)
Homero, Ilíada, Livros Cotovia, Lisboa, 2005, Canto I, 1;
Ranking FMI. Portugal ficou mais pobre com a pandemia e deve estagnar com a guerra
Luís Reis Ribeiro, in Diário de Notícias
FMI mostra que país fica estagnado na posição 45 a nível mundial no indicador da riqueza per capita corrigida pelo poder de compra, em 2022. É ultrapassado por Porto Rico, Polónia e Hungria.
Portugal empobreceu com a pandemia (situação económica per capita em 2021 comparada com a de 2019), tendo caído um lugar no ranking mundial do Fundo Monetário Internacional (FMI). Está agora na posição 45 numa lista de mais de 190 países, indicam cálculos do Dinheiro Vivo a partir dos novos dados do FMI ontem divulgados no âmbito do panorama económico mundial (outlook).
O indicador usado é o que permite uma comparação mais direta e fiável entre os níveis de vida dos diferentes países do globo: o produto interno bruto (PIB) per capita, a preços constantes, corrigido das paridades de poder de compra.
Mas 2022 também não corre de feição para a economia nacional neste contexto global. Os dados do FMI indicam que Portugal fica estagnado na mesma posição, sendo inclusive ultrapassado no nível de vida per capita por três países: Porto Rico, Polónia e Hungria.
No encalce de Portugal estão, muito perto, em 2022, o arquipélago das Bahamas e a Eslováquia.
Ou seja, Portugal cresce, mas não o suficiente para sair da posição 45. São as dificuldades impostas pela guerra da Rússia contra a Ucrânia que estão a elevar preços e a travar algumas atividades exportadoras, aliadas a um contexto menos amigo dos países muito endividados, de subida das taxas de juro.
Este ranking do FMI mostra que metade dos territórios do mundo (cerca de 95 países) não consegue reverter os efeitos adversos das duas crises (pandemia e guerra) em 2022. Portugal é um deles.
Segundo a previsão do FMI, o PIB per capita nacional corrigido pelo poder de compra deste ano ainda ficará 0,1% abaixo do nível pré-pandemia.
Com a Alemanha e o Canadá acontece o mesmo. Mas, por exemplo, Itália e França logram uma recuperação total, superando ligeiramente o nível de riqueza individual anterior à pandemia.
Este ranking permite ainda ver quais os países mais ricos e mais pobres do globo, medido pela média de riqueza por pessoa.
No pódio de 2021 (dados quase finalizados) estão Luxemburgo, Singapura e Irlanda.
No fim da tabela, aparecem nações africanas: Burundi, Sudão do Sul e República Centro-Africana.
Crescimento revisto em baixa
A economia portuguesa deve crescer cerca de 4% em vez dos 4,9% previstos pelo governo na proposta de Orçamento do Estado de 2022 (OE2022) e o défice deve ultrapassar 1,9% do produto interno bruto (PIB), a meta assumida pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, há uma semana, segundo o mesmo estudo do FMI, que calcula que o défice português seja 2,4% do PIB no final deste ano.
Este novo Outlook foi discutido pela cúpula da instituição de Washington a 11 de abril, mas a equipa que o elabora não é clara sobre a data concreta em que fechou estas previsões. Mas deixa perceber que ainda não incorpora medidas do novo OE2022 por este não estar ainda aprovado.
Ainda assim o FMI é, neste momento, a entidade que recolheu mais informação e mais recente que melhor reflete os acontecimentos ligados à guerra e à crise da energia e de outras matérias-primas. Isso ajuda a explicar que seja, agora, a entidade mais pessimista quanto à retoma de Portugal.
Em março, o Banco de Portugal assumiu um crescimento de 4,9%. O cenário do governo na nova proposta de OE2022 reiterou a meta de 4,9%. Agora, o FMI diz 4%. No Outlook de outubro passado, antes desta nova crise, o Fundo previa uma retoma de 5,1% em Portugal.
Mesmo com esta revisão em baixa, Portugal cresce mais do que a média da zona euro (fortemente desbastada face à previsão de janeiro, para 2,8%).
Mas a tendência é para a economia portuguesa perder essa dinâmica, já que o ritmo da retoma arrefece para apenas 2,1% no próximo ano, abaixo da expansão da zona euro (2,3%). Portanto, volta a divergir da média europeia.
Na meta do défice, o governo, agora pela mão de Fernando Medina, reiterou a vontade de a baixar até 1,9% do PIB em 2022. Pelas contas do FMI, o desequilíbrio entre receitas e despesas será o equivalente a 2,4%. Ainda assim, abaixo da fasquia de 3% do Pacto de Estabilidade e dos 2,8% do ano passado.
Na inflação, ambos (FMI e Finanças) convergem para uma projeção de 4% este ano.
O mesmo não acontece no desemprego. O Ministério das Finanças assume, no novo OE2022, que o peso do desemprego pode descer para apenas 6% da população ativa este ano. Já o FMI aponta para 6,5%, uma décima a menos do que a marca final de 2021 (6,4%).
Mundo sofre com a guerra
Em janeiro, o Fundo projetava uma retoma global na ordem dos 4,4% em 2022. Agora, considera que não deve ir além dos 3,6%. Diz que dois terços dessa perda são explicados pelos efeitos das sanções à Rússia e o contágio internacional provocado pela guerra deste país contra a Ucrânia, que atingiu em cheio a Europa.
Tanto assim é que o resto da erosão na retoma mundial é explicado pelo enfraquecimento da própria economia europeia, muito pela dependência da energia da Rússia, dos cereais da Ucrânia e pela exposição a uma inflação geral demasiado elevada para os cânones monetários e financeiros seguidos na Europa, a partir de Bruxelas e Frankfurt.
O modelo monetário e económico europeu (zona euro) está montado para uma inflação estável em redor dos 2%. O FMI prevê mais do dobro: 5,3% este ano.
A situação é preocupante e pode piorar, avisa a instituição internacional sediada em Washington.
FMI mostra que país fica estagnado na posição 45 a nível mundial no indicador da riqueza per capita corrigida pelo poder de compra, em 2022. É ultrapassado por Porto Rico, Polónia e Hungria.
Portugal empobreceu com a pandemia (situação económica per capita em 2021 comparada com a de 2019), tendo caído um lugar no ranking mundial do Fundo Monetário Internacional (FMI). Está agora na posição 45 numa lista de mais de 190 países, indicam cálculos do Dinheiro Vivo a partir dos novos dados do FMI ontem divulgados no âmbito do panorama económico mundial (outlook).
O indicador usado é o que permite uma comparação mais direta e fiável entre os níveis de vida dos diferentes países do globo: o produto interno bruto (PIB) per capita, a preços constantes, corrigido das paridades de poder de compra.
Mas 2022 também não corre de feição para a economia nacional neste contexto global. Os dados do FMI indicam que Portugal fica estagnado na mesma posição, sendo inclusive ultrapassado no nível de vida per capita por três países: Porto Rico, Polónia e Hungria.
No encalce de Portugal estão, muito perto, em 2022, o arquipélago das Bahamas e a Eslováquia.
Ou seja, Portugal cresce, mas não o suficiente para sair da posição 45. São as dificuldades impostas pela guerra da Rússia contra a Ucrânia que estão a elevar preços e a travar algumas atividades exportadoras, aliadas a um contexto menos amigo dos países muito endividados, de subida das taxas de juro.
Este ranking do FMI mostra que metade dos territórios do mundo (cerca de 95 países) não consegue reverter os efeitos adversos das duas crises (pandemia e guerra) em 2022. Portugal é um deles.
Segundo a previsão do FMI, o PIB per capita nacional corrigido pelo poder de compra deste ano ainda ficará 0,1% abaixo do nível pré-pandemia.
Com a Alemanha e o Canadá acontece o mesmo. Mas, por exemplo, Itália e França logram uma recuperação total, superando ligeiramente o nível de riqueza individual anterior à pandemia.
Este ranking permite ainda ver quais os países mais ricos e mais pobres do globo, medido pela média de riqueza por pessoa.
No pódio de 2021 (dados quase finalizados) estão Luxemburgo, Singapura e Irlanda.
No fim da tabela, aparecem nações africanas: Burundi, Sudão do Sul e República Centro-Africana.
Crescimento revisto em baixa
A economia portuguesa deve crescer cerca de 4% em vez dos 4,9% previstos pelo governo na proposta de Orçamento do Estado de 2022 (OE2022) e o défice deve ultrapassar 1,9% do produto interno bruto (PIB), a meta assumida pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, há uma semana, segundo o mesmo estudo do FMI, que calcula que o défice português seja 2,4% do PIB no final deste ano.
Este novo Outlook foi discutido pela cúpula da instituição de Washington a 11 de abril, mas a equipa que o elabora não é clara sobre a data concreta em que fechou estas previsões. Mas deixa perceber que ainda não incorpora medidas do novo OE2022 por este não estar ainda aprovado.
Ainda assim o FMI é, neste momento, a entidade que recolheu mais informação e mais recente que melhor reflete os acontecimentos ligados à guerra e à crise da energia e de outras matérias-primas. Isso ajuda a explicar que seja, agora, a entidade mais pessimista quanto à retoma de Portugal.
Em março, o Banco de Portugal assumiu um crescimento de 4,9%. O cenário do governo na nova proposta de OE2022 reiterou a meta de 4,9%. Agora, o FMI diz 4%. No Outlook de outubro passado, antes desta nova crise, o Fundo previa uma retoma de 5,1% em Portugal.
Mesmo com esta revisão em baixa, Portugal cresce mais do que a média da zona euro (fortemente desbastada face à previsão de janeiro, para 2,8%).
Mas a tendência é para a economia portuguesa perder essa dinâmica, já que o ritmo da retoma arrefece para apenas 2,1% no próximo ano, abaixo da expansão da zona euro (2,3%). Portanto, volta a divergir da média europeia.
Na meta do défice, o governo, agora pela mão de Fernando Medina, reiterou a vontade de a baixar até 1,9% do PIB em 2022. Pelas contas do FMI, o desequilíbrio entre receitas e despesas será o equivalente a 2,4%. Ainda assim, abaixo da fasquia de 3% do Pacto de Estabilidade e dos 2,8% do ano passado.
Na inflação, ambos (FMI e Finanças) convergem para uma projeção de 4% este ano.
O mesmo não acontece no desemprego. O Ministério das Finanças assume, no novo OE2022, que o peso do desemprego pode descer para apenas 6% da população ativa este ano. Já o FMI aponta para 6,5%, uma décima a menos do que a marca final de 2021 (6,4%).
Mundo sofre com a guerra
Em janeiro, o Fundo projetava uma retoma global na ordem dos 4,4% em 2022. Agora, considera que não deve ir além dos 3,6%. Diz que dois terços dessa perda são explicados pelos efeitos das sanções à Rússia e o contágio internacional provocado pela guerra deste país contra a Ucrânia, que atingiu em cheio a Europa.
Tanto assim é que o resto da erosão na retoma mundial é explicado pelo enfraquecimento da própria economia europeia, muito pela dependência da energia da Rússia, dos cereais da Ucrânia e pela exposição a uma inflação geral demasiado elevada para os cânones monetários e financeiros seguidos na Europa, a partir de Bruxelas e Frankfurt.
O modelo monetário e económico europeu (zona euro) está montado para uma inflação estável em redor dos 2%. O FMI prevê mais do dobro: 5,3% este ano.
A situação é preocupante e pode piorar, avisa a instituição internacional sediada em Washington.
Mais de 500 crianças e jovens vítimas de crimes sexuais apoiados em 2021 pela APAV
in Semanário Expresso
Mais de metade dos casos acontecem em contexto intrafamiliar. Os dados também revelam que 80% das vítimas apoiadas eram do género feminino. Já o agressor é do género masculino em mais de 90% das ocorrências
De acordo com os dados mais recentes do projeto CARE 2.0, uma rede de apoio a crianças e jovens vítimas de violência sexual da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), 508 crianças e jovens vítimas tiveram ajuda através desta iniciativa.
A CARE 2.0 foi criada em 2016 e o projeto está previsto terminar em 2022, mas ano após ano o número de vítimas apoiadas cresce, e, depois de ter começado com 195 nesse primeiro ano, cresceu para 251 no ano seguinte e chegou às 304 em 2018.
Em 2019, a APAV ajudou 417 crianças e jovens, número que aumenta novamente em 2020 para 432 e que cresce em 2021 para 508 vítimas apoiadas.
Tudo somado, significa que no conjunto dos seis anos a CARE 2.0 chegou a 2107 crianças e jovens, tendo também apoiado 206 pessoas que eram familiares ou amigos das vítimas, além de ter realizado um total de 28.247 atendimentos.
De acordo com a coordenadora da rede, os números demonstram “claramente” que “a violência sexual contra crianças e jovens existe e é um fenómeno transversal enquanto sociedade”, mas também que há “sem dúvida nenhuma uma sociedade mais atenta e mais intolerante a estas situações de violência”.
“E também com alguma capacidade adicional, que se calhar não tínhamos há alguns anos, de identificar as diferentes formas que a violência sexual pode assumir e essa maior capacidade de deteção acaba por ajudar a detetar as situações e a desocultar as situações, o que também leva a este maior número de pedidos de ajuda que temos vindo a receber ao longo destes anos”, apontou Carla Ferreira.
Sendo a formação uma das vertentes do programa, a responsável explicou que a mensagem que tentam passar aos adultos é de que perante a mera suspeita de um caso de violência sexual devem agir e pedir ajuda imediatamente, não mantendo a situação em segredo ou tentando fazer a sua própria investigação, uma vez que há entidades competentes para ambas as situações.
Os dados da APAV mostram que 80% das vítimas apoiadas eram do género feminino, viviam sobretudo nas áreas metropolitanas de Lisboa (789) e Porto (576), e tinham idades entre os oito e os 17 anos (1387), enquanto o agressor é sobretudo do género masculino (91,6%).
Carla Ferreira apontou que a maioria dos crimes acontece em contexto intrafamiliar (51%), mas destacou que mesmo nos casos que ocorrem fora do seio familiar as situações de violência são praticadas por pessoas que a vítimas conhece, havendo apenas 7,5% de casos em que o agressor é uma pessoa desconhecida da vítima.
Dada a relação de proximidade entre vítima e agressor na maior parte dos casos denunciados, a responsável apontou que a prevenção deste tipo de crime está muito associada ao ter informação, destacando que há muitos casos que acontecem em contexto familiar que se arrastam por vários anos.
“A prevenção vem ajudar a melhor desconstruir estas situações porque é uma transmissão de informação e esta informação é poder para as pessoas. É as pessoas poderem identificar as situações como sendo abusivas e depois poderem ter aqui algumas ferramentas para poderem responder e pedir ajuda”, defendeu, acrescentando que o mesmo se passa com as crianças.
Quase 80% dos casos reportados à APAV foram depois denunciados a uma autoridade policial ou a um tribunal, mas entre as situações que não foram denunciadas há uma percentagem não quantificada de casos em que o agressor é inimputável por causa da idade, ou seja, tem menos de 16 anos.
Carla Ferreira explicou que quando o agressor tem entre 12 e 16 anos, o caso é encaminhado para o Tribunal de Família e Menores que irá aplicar um processo tutelar educativo.
“Abaixo dos 12 anos não há esta resposta judicial e o que se tenta que exista é uma intervenção ao nível das CPCJ [comissões de proteção de crianças e jovens], através de um processo de promoção e proteção, para quem pratica um ato que pode configurar uma situação de violência sexual possa ter alguma intervenção porque claramente essa pessoa também precisa de intervenção para ser reeducada para o direito e para as normas da vida em sociedade”, explicou.
A responsável adiantou que na faixa etária entre os 12 e os 16 anos, os casos denunciados dizem sobretudo respeito a contactos que acontecem online, desde partilha de imagens ou captura indevida de imagens.
Acrescentou que tem havido casos detetados pela rede e salientou que “não é por serem menores que não se pode intervir”, apesar de nestes casos não seguirem os tramites penais, garantindo que a preocupação é de que haja sempre um encaminhamento.
Estes e outros dados são apresentados nesta quarta-feira, durante o encontro “Seis anos de prevenção e apoio a crianças e jovens vítimas de violência sexual: o Projeto CARE”, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Mais de metade dos casos acontecem em contexto intrafamiliar. Os dados também revelam que 80% das vítimas apoiadas eram do género feminino. Já o agressor é do género masculino em mais de 90% das ocorrências
De acordo com os dados mais recentes do projeto CARE 2.0, uma rede de apoio a crianças e jovens vítimas de violência sexual da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), 508 crianças e jovens vítimas tiveram ajuda através desta iniciativa.
A CARE 2.0 foi criada em 2016 e o projeto está previsto terminar em 2022, mas ano após ano o número de vítimas apoiadas cresce, e, depois de ter começado com 195 nesse primeiro ano, cresceu para 251 no ano seguinte e chegou às 304 em 2018.
Em 2019, a APAV ajudou 417 crianças e jovens, número que aumenta novamente em 2020 para 432 e que cresce em 2021 para 508 vítimas apoiadas.
Tudo somado, significa que no conjunto dos seis anos a CARE 2.0 chegou a 2107 crianças e jovens, tendo também apoiado 206 pessoas que eram familiares ou amigos das vítimas, além de ter realizado um total de 28.247 atendimentos.
De acordo com a coordenadora da rede, os números demonstram “claramente” que “a violência sexual contra crianças e jovens existe e é um fenómeno transversal enquanto sociedade”, mas também que há “sem dúvida nenhuma uma sociedade mais atenta e mais intolerante a estas situações de violência”.
“E também com alguma capacidade adicional, que se calhar não tínhamos há alguns anos, de identificar as diferentes formas que a violência sexual pode assumir e essa maior capacidade de deteção acaba por ajudar a detetar as situações e a desocultar as situações, o que também leva a este maior número de pedidos de ajuda que temos vindo a receber ao longo destes anos”, apontou Carla Ferreira.
Sendo a formação uma das vertentes do programa, a responsável explicou que a mensagem que tentam passar aos adultos é de que perante a mera suspeita de um caso de violência sexual devem agir e pedir ajuda imediatamente, não mantendo a situação em segredo ou tentando fazer a sua própria investigação, uma vez que há entidades competentes para ambas as situações.
Os dados da APAV mostram que 80% das vítimas apoiadas eram do género feminino, viviam sobretudo nas áreas metropolitanas de Lisboa (789) e Porto (576), e tinham idades entre os oito e os 17 anos (1387), enquanto o agressor é sobretudo do género masculino (91,6%).
Carla Ferreira apontou que a maioria dos crimes acontece em contexto intrafamiliar (51%), mas destacou que mesmo nos casos que ocorrem fora do seio familiar as situações de violência são praticadas por pessoas que a vítimas conhece, havendo apenas 7,5% de casos em que o agressor é uma pessoa desconhecida da vítima.
Dada a relação de proximidade entre vítima e agressor na maior parte dos casos denunciados, a responsável apontou que a prevenção deste tipo de crime está muito associada ao ter informação, destacando que há muitos casos que acontecem em contexto familiar que se arrastam por vários anos.
“A prevenção vem ajudar a melhor desconstruir estas situações porque é uma transmissão de informação e esta informação é poder para as pessoas. É as pessoas poderem identificar as situações como sendo abusivas e depois poderem ter aqui algumas ferramentas para poderem responder e pedir ajuda”, defendeu, acrescentando que o mesmo se passa com as crianças.
Quase 80% dos casos reportados à APAV foram depois denunciados a uma autoridade policial ou a um tribunal, mas entre as situações que não foram denunciadas há uma percentagem não quantificada de casos em que o agressor é inimputável por causa da idade, ou seja, tem menos de 16 anos.
Carla Ferreira explicou que quando o agressor tem entre 12 e 16 anos, o caso é encaminhado para o Tribunal de Família e Menores que irá aplicar um processo tutelar educativo.
“Abaixo dos 12 anos não há esta resposta judicial e o que se tenta que exista é uma intervenção ao nível das CPCJ [comissões de proteção de crianças e jovens], através de um processo de promoção e proteção, para quem pratica um ato que pode configurar uma situação de violência sexual possa ter alguma intervenção porque claramente essa pessoa também precisa de intervenção para ser reeducada para o direito e para as normas da vida em sociedade”, explicou.
A responsável adiantou que na faixa etária entre os 12 e os 16 anos, os casos denunciados dizem sobretudo respeito a contactos que acontecem online, desde partilha de imagens ou captura indevida de imagens.
Acrescentou que tem havido casos detetados pela rede e salientou que “não é por serem menores que não se pode intervir”, apesar de nestes casos não seguirem os tramites penais, garantindo que a preocupação é de que haja sempre um encaminhamento.
Estes e outros dados são apresentados nesta quarta-feira, durante o encontro “Seis anos de prevenção e apoio a crianças e jovens vítimas de violência sexual: o Projeto CARE”, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Mais estudantes com deficiência abandonaram o Ensino Superior durante a pandemia
in Semanário Expresso
Número de estudantes que concluíram o curso diminuiu aproximadamente 19,7%
O número de estudantes com necessidades especiais de educação (NEE) que abandonaram o ensino superior durante a pandemia aumentou. De acordo com os dados da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência a que o “Jornal de Notícias” teve acesso, 323 alunos com NEE desistiram dos seus cursos (7,1%).
Para além disso, o número de estudantes que concluíram o curso diminuiu cerca de 19,7%. O inquérito, realizado em 100 estabelecimentos de Ensino Superior e 287 unidades orgânicas, tanto públicas como privadas, revela a importância do ensino presencial”.
O presidente da Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior, Fontainhas Fernandes, alerta que “é preciso obter mais informação, perguntar aos estudantes quais os motivos [da desistência], se financeiros ou de outro tipo”.
Número de estudantes que concluíram o curso diminuiu aproximadamente 19,7%
O número de estudantes com necessidades especiais de educação (NEE) que abandonaram o ensino superior durante a pandemia aumentou. De acordo com os dados da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência a que o “Jornal de Notícias” teve acesso, 323 alunos com NEE desistiram dos seus cursos (7,1%).
Para além disso, o número de estudantes que concluíram o curso diminuiu cerca de 19,7%. O inquérito, realizado em 100 estabelecimentos de Ensino Superior e 287 unidades orgânicas, tanto públicas como privadas, revela a importância do ensino presencial”.
O presidente da Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior, Fontainhas Fernandes, alerta que “é preciso obter mais informação, perguntar aos estudantes quais os motivos [da desistência], se financeiros ou de outro tipo”.
Apoio aos refugiados: “Há pessoas que receberam ucranianos e perguntam quando é que isto vai acabar”
Marta Gonçalves, Tiago Miranda, in Expresso
Mais de um mês após o começo da Guerra na Ucrânia e com mais de 30 mil ucranianos chegados a Portugal, André Costa Jorge, diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) e coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), diz que há famílias que se disponibilizaram para acolher que já desejam a saída dos acolhidos
Não teme que a mobilização da sociedade civil na ajuda aos ucranianos e à Ucrânia seja temporária?
Todos os gestos solidários também partem de uma procura de nós próprios. A solidariedade parte sempre de um desejo de satisfação. As pessoas disponibilizaram-se para o acolhimento, voluntariado ou envio de coisas. Alguns dos gestos foram mal pensados e imediatistas. Mas são maus? Não. São é apenas em bruto e precisam de ser lapidados e melhorados. Ainda assim prefiro isso do que a indiferença. Um boom de solidariedade caótica é sempre muito melhor do que a indiferença.
A ausência do Estado ou de uma entidade que regule o acolhimento de pessoas não pode trazer problemas piores depois? Há dias, no Expresso, noticiámos que já há redes de tráfico que se aproveitam.
As pessoas bem formadas e intencionadas podem fazer disparates, mas são coisas técnicas. O problema são as mal-intencionadas. A culpa não pode ser daqueles que vão fazer o bem. A culpa é sempre daqueles que não garantiram o devido controlo, que não tem de ser um estrangulamento ou burocratização do processo. Mas é preciso garantir a proteção. Por exemplo, desde o começo deveria ter havido orientações claras de como se devia proceder caso fossem detetados menores desacompanhados. O Estado não devia ter permitido que fossem feitas publicações como: "Se gostava de receber um menor não acompanhado inscreva-se neste sítio”. A Segurança Social estava com esta campanha. Isto foi feito tudo feito de forma publicitada, pareceu um leilão.
As pessoas que acolhem têm de estar disponíveis para esse tipo de vida. Ou vivem bem com isso, ou, se não vivem, o melhor é não acolher
Quem se disponibilizou para ser família de acolhimento tem consciência que não são apenas meia dúzia de semanas?
Já há alguns contactos de pessoas que receberam ucranianos e perguntam quando é que isto vai acabar. Não falar a mesma língua dificulta muito, porque a comunicação é muito básica e limitada. Eu acredito que a experiência da hospitalidade não é algo que todos possam fazer. Recomendo apenas a pessoas que têm perfil. Muitas das instituições que fazem o acolhimento passaram as famílias para o acolhimento de particulares sem que houvesse uma clareza no acordo de acolhimento entre a entidade do Estado que entregou a família e quem acolhe. Temos de ter consciência que as pessoas vão estar em casa, com liberdade para entrar e sair, que vão usar a cozinha e a máquina de lavar a roupa. As pessoas que acolhem têm de estar disponíveis para esse tipo de vida. Ou vivem bem com isso, ou, se não vivem, o melhor é não acolher. Não vão para o inferno por causa disso.
O processo de pedido de asilo e integração de refugiados, vindos do Afeganistão ou da Síria, foi de alguma forma prejudicado devido ao acolhimento dos ucranianos?
Tanto quanto sei não, até porque não são os mesmos mecanismos. Aliás, uma das razões para haver um mecanismo específico para esta população tem a ver, por um lado, com a agilização de processos e, por outro lado, de forma a tornar os ucranianos muito próximos de imigrantes que estão disponíveis para entrar no mercado de trabalho. E, finalmente, para não entupir os processos de asilo. Já são lentos com mil pessoas, que seria com 30 mil? A proposta pública do Estado é inteligente porque não entope os processos internos de resposta aos cidadãos, mas também porque para a opinião pública fica a ideia que as pessoas têm tudo quando isso não é verdade. As pessoas têm tudo para se autonomizarem, mas faltam algumas dimensões de base que só vêm com o tempo: a estabilização psicológica, a aprendizagem da língua do país de acolhimento e os apoios sociais que lhes permitem não estar numa situação de precariedade financeira. Nada disto foi garantido, foi atirado para um papel e depois logo se vê. Os ucranianos não foram considerados refugiados. O que está na base daquilo que define um refugiado é a sua condição de vulnerabilidade, que se verifica nestes casos. E vemos é que não há um apoio correspondente por parte do Estado a estas pessoas. Há uma agilização de processos que permite que as pessoas acedam ao mercado de trabalho e possam abrir uma conta bancária, mas isso não responde ao seu lugar social de pessoas vítimas de um acontecimento traumático brutal e causa grande vulnerabilidade. Não é uma crítica a que os processos sejam rápidos, é uma crítica a que fiquem apenas pelo pacote básico, deixando a tarefa de acompanhamento e suporte destes casos apenas nas mãos da sociedade civil.
Conheço as instituições em causa e acho que sim, que algumas são de pessoas próximas à Rússia
Todas as portas estão abertas, mas as ferramentas para as passar não estão disponíveis?
Sim. Se estas pessoas são refugiadas deviam ter — e têm — direito a um conjunto de apoios específicos das pessoas refugiadas. O estatuto de refugiado, tal como a lei prevê, reconhece um determinado grau de vulnerabilidade, não é preciso estar sempre a repetir que ser refugiado é estar psicologicamente mais frágil. Um imigrante conhece também processos de privação e abuso, mas a natureza do impacto é diferente. É verdade que encontramos muitas pessoas imigrantes numa situação de vulnerabilidade social e psicológica grave. Mas, em regra, as pessoas migrantes vulneráveis em Portugal são sobretudo aquelas que migram de forma precária, colocando-se numa situação social complexa, sujeitas a todo o tipo de trabalhos mal pagos e abuso — como em Odemira, por exemplo. Mas podem sempre regressar ao país de origem sem correr perigo de vida. Apesar de tudo, é importante fazermos essa distinção: alguém que tem que fugir, perde tudo e é deslocado à força é sempre mais vulnerável do que alguém que um dia tomou a decisão difícil e planeou sair do país de origem para ir procurar melhores condições de vida. Isso é duro e o processo muitas vezes também é violento, sobretudo no itinerário, que nem sempre é possível fazer de forma segura e legal. Muitas vezes as não estão em melhores condições que um refugiado. Mas, num sentido linear, as pessoas refugiadas sofreram todo o tipo de privação e acontecimentos traumáticos que vão marcá-las para o resto do processo.
Foram denunciados casos de instituições de acolhimento de ucranianos em Portugal com ligações à Rússia. Tem conhecimento destes casos?
Conheço as instituições em causa e acho que sim, que algumas são de pessoas próximas à Rússia.
Isso preocupa-o? Pode de alguma forma prejudicar a imagem das instituições de acolhimento?
Acho que quem levantou essas questões tem toda a legitimidade para as levantar. Se entendem que têm razões objetivas para alertar o Estado português de que possa haver alguma influência russa em algumas instituições e que alguns cidadãos ucranianos possam estar a ser indevidamente encaminhados para essas associações, então cabe ao Estado português investigar nos organismos próprios. O alerta que foi feito é bastante claro e não contamina nada nenhuma outra organização. Eu não me sinto minimamente contaminado.
Mais de um mês após o começo da Guerra na Ucrânia e com mais de 30 mil ucranianos chegados a Portugal, André Costa Jorge, diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) e coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), diz que há famílias que se disponibilizaram para acolher que já desejam a saída dos acolhidos
Não teme que a mobilização da sociedade civil na ajuda aos ucranianos e à Ucrânia seja temporária?
Todos os gestos solidários também partem de uma procura de nós próprios. A solidariedade parte sempre de um desejo de satisfação. As pessoas disponibilizaram-se para o acolhimento, voluntariado ou envio de coisas. Alguns dos gestos foram mal pensados e imediatistas. Mas são maus? Não. São é apenas em bruto e precisam de ser lapidados e melhorados. Ainda assim prefiro isso do que a indiferença. Um boom de solidariedade caótica é sempre muito melhor do que a indiferença.
A ausência do Estado ou de uma entidade que regule o acolhimento de pessoas não pode trazer problemas piores depois? Há dias, no Expresso, noticiámos que já há redes de tráfico que se aproveitam.
As pessoas bem formadas e intencionadas podem fazer disparates, mas são coisas técnicas. O problema são as mal-intencionadas. A culpa não pode ser daqueles que vão fazer o bem. A culpa é sempre daqueles que não garantiram o devido controlo, que não tem de ser um estrangulamento ou burocratização do processo. Mas é preciso garantir a proteção. Por exemplo, desde o começo deveria ter havido orientações claras de como se devia proceder caso fossem detetados menores desacompanhados. O Estado não devia ter permitido que fossem feitas publicações como: "Se gostava de receber um menor não acompanhado inscreva-se neste sítio”. A Segurança Social estava com esta campanha. Isto foi feito tudo feito de forma publicitada, pareceu um leilão.
As pessoas que acolhem têm de estar disponíveis para esse tipo de vida. Ou vivem bem com isso, ou, se não vivem, o melhor é não acolher
Quem se disponibilizou para ser família de acolhimento tem consciência que não são apenas meia dúzia de semanas?
Já há alguns contactos de pessoas que receberam ucranianos e perguntam quando é que isto vai acabar. Não falar a mesma língua dificulta muito, porque a comunicação é muito básica e limitada. Eu acredito que a experiência da hospitalidade não é algo que todos possam fazer. Recomendo apenas a pessoas que têm perfil. Muitas das instituições que fazem o acolhimento passaram as famílias para o acolhimento de particulares sem que houvesse uma clareza no acordo de acolhimento entre a entidade do Estado que entregou a família e quem acolhe. Temos de ter consciência que as pessoas vão estar em casa, com liberdade para entrar e sair, que vão usar a cozinha e a máquina de lavar a roupa. As pessoas que acolhem têm de estar disponíveis para esse tipo de vida. Ou vivem bem com isso, ou, se não vivem, o melhor é não acolher. Não vão para o inferno por causa disso.
O processo de pedido de asilo e integração de refugiados, vindos do Afeganistão ou da Síria, foi de alguma forma prejudicado devido ao acolhimento dos ucranianos?
Tanto quanto sei não, até porque não são os mesmos mecanismos. Aliás, uma das razões para haver um mecanismo específico para esta população tem a ver, por um lado, com a agilização de processos e, por outro lado, de forma a tornar os ucranianos muito próximos de imigrantes que estão disponíveis para entrar no mercado de trabalho. E, finalmente, para não entupir os processos de asilo. Já são lentos com mil pessoas, que seria com 30 mil? A proposta pública do Estado é inteligente porque não entope os processos internos de resposta aos cidadãos, mas também porque para a opinião pública fica a ideia que as pessoas têm tudo quando isso não é verdade. As pessoas têm tudo para se autonomizarem, mas faltam algumas dimensões de base que só vêm com o tempo: a estabilização psicológica, a aprendizagem da língua do país de acolhimento e os apoios sociais que lhes permitem não estar numa situação de precariedade financeira. Nada disto foi garantido, foi atirado para um papel e depois logo se vê. Os ucranianos não foram considerados refugiados. O que está na base daquilo que define um refugiado é a sua condição de vulnerabilidade, que se verifica nestes casos. E vemos é que não há um apoio correspondente por parte do Estado a estas pessoas. Há uma agilização de processos que permite que as pessoas acedam ao mercado de trabalho e possam abrir uma conta bancária, mas isso não responde ao seu lugar social de pessoas vítimas de um acontecimento traumático brutal e causa grande vulnerabilidade. Não é uma crítica a que os processos sejam rápidos, é uma crítica a que fiquem apenas pelo pacote básico, deixando a tarefa de acompanhamento e suporte destes casos apenas nas mãos da sociedade civil.
Conheço as instituições em causa e acho que sim, que algumas são de pessoas próximas à Rússia
Todas as portas estão abertas, mas as ferramentas para as passar não estão disponíveis?
Sim. Se estas pessoas são refugiadas deviam ter — e têm — direito a um conjunto de apoios específicos das pessoas refugiadas. O estatuto de refugiado, tal como a lei prevê, reconhece um determinado grau de vulnerabilidade, não é preciso estar sempre a repetir que ser refugiado é estar psicologicamente mais frágil. Um imigrante conhece também processos de privação e abuso, mas a natureza do impacto é diferente. É verdade que encontramos muitas pessoas imigrantes numa situação de vulnerabilidade social e psicológica grave. Mas, em regra, as pessoas migrantes vulneráveis em Portugal são sobretudo aquelas que migram de forma precária, colocando-se numa situação social complexa, sujeitas a todo o tipo de trabalhos mal pagos e abuso — como em Odemira, por exemplo. Mas podem sempre regressar ao país de origem sem correr perigo de vida. Apesar de tudo, é importante fazermos essa distinção: alguém que tem que fugir, perde tudo e é deslocado à força é sempre mais vulnerável do que alguém que um dia tomou a decisão difícil e planeou sair do país de origem para ir procurar melhores condições de vida. Isso é duro e o processo muitas vezes também é violento, sobretudo no itinerário, que nem sempre é possível fazer de forma segura e legal. Muitas vezes as não estão em melhores condições que um refugiado. Mas, num sentido linear, as pessoas refugiadas sofreram todo o tipo de privação e acontecimentos traumáticos que vão marcá-las para o resto do processo.
Foram denunciados casos de instituições de acolhimento de ucranianos em Portugal com ligações à Rússia. Tem conhecimento destes casos?
Conheço as instituições em causa e acho que sim, que algumas são de pessoas próximas à Rússia.
Isso preocupa-o? Pode de alguma forma prejudicar a imagem das instituições de acolhimento?
Acho que quem levantou essas questões tem toda a legitimidade para as levantar. Se entendem que têm razões objetivas para alertar o Estado português de que possa haver alguma influência russa em algumas instituições e que alguns cidadãos ucranianos possam estar a ser indevidamente encaminhados para essas associações, então cabe ao Estado português investigar nos organismos próprios. O alerta que foi feito é bastante claro e não contamina nada nenhuma outra organização. Eu não me sinto minimamente contaminado.
As histórias de quem recusa o “limite de idade”: António Barreto, Maria de Belém, Isabel do Carmo e Correia de Campos
Sofia Correia Baptista, in Expresso
Getty Images
O envelhecimento ativo é sinónimo de viver mais tempo e com saúde. Portugal definiu uma estratégia até 2025, alinhada com os objetivos da Organização Mundial de Saúde, para maximizar a capacidade das pessoas idosas
Há um livro de Vitorino Nemésio em que o poeta se insurge contra o fim da vida ativa. Chama-se "Limite de Idade" - é um manifesto contra o tempo, no momento mais triste da sua carreira, a passagem à idade da reforma. Hoje, o envelhecimento ativo é um desígnio das sociedades mais desenvolvidas, uma forma de compensar o desequilíbrio demográfico e aumentar a longevidade de forma saudável. O Expresso ouviu as histórias de quem continua a trabalhar muito para lá dos 65 anos.
ANTÓNIO BARRETO, SOCIÓLOGO, 80 ANOS
Quando nasceu, em 1942, António Barreto tinha uma esperança média de vida (EMV) de 54 anos. “Já vivi mais 25 do que era suposto”, diz ao Expresso o sociólogo, que continua a trabalhar diariamente, e cuja EMV – que é medida todos os anos – passou para os 86. “Não posso dizer que seja uma ansiedade permanente, até porque o meu trabalho não tem um contributo físico, que exija deslocações, movimento, força física, coisas que dão nota de envelhecimento. Mas, uma vez por outra, é impossível não pensar: até quando vou poder trabalhar?”
Cientista social, ex-ministro dos governos de Mário Soares, António Barreto foi presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos – que criou o portal de informação estatística, PORDATA – e defende a abolição do “limite de idade”, citando o poeta Vitorino Nemésio. “Tive o prazer de o ouvir, nos anos 60, a rosnar contra essa imposição selvagem. O único limite de idade é a morte.”
Portugal definiu para o período 2017-2025 uma estratégia para o envelhecimento ativo e saudável através de um conjunto de ações focadas na “saúde, participação, segurança e investigação”. Questionado sobre o assunto, Barreto diz que Portugal tem “políticas errantes” no que respeita à natalidade e envelhecimento.
“Tenho para mim que o mais importante é favorecer o envelhecimento ativo, produtivo, das pessoas que conseguem criar, desenvolver serviços, produção artística, intelectual. Mas grande parte das políticas são de passividade, encaminhar os idosos para os lares. Tudo isto é gravoso, apesar de no discurso político escutarmos com muita frequência a importância da vida ativa.”
MARIA DE BELÉM, EX-MINISTRA, 72 ANOS
João Carlos Santos
Para Maria de Belém, parar não é uma hipótese: acredita que continuar com a sua atividade é “essencial para manter uma vida saudável”, ao mesmo tempo que “quase todas as semanas acontecem desafios para novos projetos, novas intervenções, novas coisas para fazer”. “Mesmo que pensasse [em parar], não me deixavam!”, garante a antiga deputada e ex-ministra da Saúde, de 72 anos.
Maria de Belém é presença assídua em palestras e conferências a convite de diversas organizações, um “sinal de que as pessoas e as entidades confiam naquilo que eu possa transmitir”. Para si própria, também é “estimulante”, uma vez que a obriga a “pensar e estudar”. “Tenho de estudar muito para me manter atualizada.”
Com uma agenda que está sempre “muito ocupada”, Maria de Belém conta ao Expresso, entre risos, que “as pessoas da família têm de se inscrever na agenda” para poderem contar com ela. “Se a minha filha precisa que eu fique a fazer de avó tem de pôr na agenda, porque se não é uma coisa que falha”, explica. O seu dia a dia “varia muito”, por isso “tem de ser tudo muito organizado”.
O que não falha é a vontade de continuar a participar a nível social: “Felizmente, até hoje, nunca me queixei de falta de energia. Se ainda temos energia e podemos dar um contributo positivo à sociedade, devemos fazê-lo.” Isto porque tanto a atividade física como a cerebral são essenciais no “controlo do processo de envelhecimento, que é um processo inexorável”.
Neste momento, a “grande batalha” da candidata à Presidência da República em 2016 é “a luta contra as desigualdades”, uma área em que “há sempre objetivos não concretizados” e que é “uma tarefa infinda, que está sempre com possibilidades de recuar”. “É preciso estar sempre com os olhos abertos e com vontade de corrigir aquilo que possa ser corrigível”, alerta.
Maria de Belém espera que esta rotina tão dinâmica contribua para a sua própria longevidade. “Acho que quem é e foi sempre muito ativo, a última coisa que quer é ficar dependente dos outros, porque sabe o trabalho e o incómodo que isso causa e que já não terá grande qualidade de vida”, conclui.
ISABEL DO CARMO, MÉDICA, 81 ANOS
Parar também não está nos planos de Isabel do Carmo. Aos 81 anos, a médica especialista em endocrinologia dá consultas quatro vezes por semana. Na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa dá algumas aulas no mestrado em doenças metabólicas e comportamento alimentar. “Mantenho tudo, exceto o hospital”, de onde saiu em 2013.
O ativismo político atravessou toda a vida de Isabel do Carmo e, por estes dias, conta a sua experiência na peça Esta é a minha história de amor, em cena no Teatro Nacional D. Maria II. Ainda hoje mantém “muita atividade cívica”. Integra o grupo de profissionais de saúde Estamos do lado da solução, que é “muito ativo”. A propósito da exposição Império do Medo, tem participado em conferências por todo o país sobre a escravatura e a luta contra o racismo.
Está ainda a preparar um novo livro, além dos artigos de opinião que publica pontualmente. “Faço estas coisas porque tenho prazer em fazê-las e sinto muito o dever – não é uma questão moral, é uma questão de posição – de intervir, na medida do possível”, explica. Esta “atividade intensa” é algo que lhe dá “prazer”, mas tem um “lado negativo”. “Tem como consequência que tenho pouco tempo para a família e gostaria de ter mais, sobretudo para os meus netos”, lamenta.
As atividades com os netos contribuem para uma vida saudável e para a longevidade. “Os avós da minha geração são muito ativos com os netos, sobretudo as mulheres”, aponta. Isabel do Carmo considera que, com o “aumento da esperança de vida, aquilo que faz melhor à saúde das pessoas é serem ativas”. “Há muitas formas de ser ativo. Há pessoas que, com a minha idade, fazem uns quilómetros por dia a andar”, exemplifica.
A única diferença que sente é na importância do sono. Enquanto quando era mais nova “fazia diretas”, hoje em dia se dorme menos de nove horas fica “arrasada”. “Não tenho falta de energia nem de vontade”, garante. Essa vontade traduz-se em metas que quer ajudar a cumprir, relacionadas sobretudo com os “combates” que tem travado na área da Saúde, e também com a escrita.
ANTÓNIO CORREIA DE CAMPOS, POLÍTICO, 79 ANOS
A longevidade corre na família de António Correia de Campos: a mãe morreu com 97 anos, o pai aos 104. Este último, aos 80, “fazia projetos como se tivesse 20”, conta o antigo ministro da Saúde. “Foi uma pessoa que me ensinou a lidar com a longevidade. Só aos 102 deixou de conduzir e ficou muito zangado”, recorda. No ano anterior, tinha instalado 21 painéis fotovoltaicos em casa e tratava do seu pequeno olival. “Nunca parou.”
Correia de Campos explica: “o mais importante na vida é ter projetos”. Tem 79 anos e continua a trabalhar: “É a única coisa que sei fazer. Eu tenho de ter projetos.” Entre eles estão a preparação de um livro sobre temas atuais da área da Saúde e um possível livro de memórias – ainda não sabe se irá publicar –, que já conta com mil páginas. Além de contributos com várias instituições nacionais, neste momento o “trabalho mais importante” que desempenha é internacional: integra um grupo de 20 líderes globais que sensibilizam para a “pandemia silenciosa” da resistência aos antibióticos.
O dia a dia “varia muito”, com um ritmo “muito livre”. “Levanto-me às sete horas, ponho-me logo no computador, vejo as notícias do dia e depois, se estou bem-disposto, desato a escrever toda a manhã ou resolvo problemas urgentes”, conta. Surge também “muita gente com pedidos, propostas, intervenções”. “Procuro manter-me atualizado e manter muita documentação.”
Correia de Campos sente a mesma energia e vontade de contribuir. “Eu nasci para o serviço público”, aponta. “Os especialistas dizem que a melhor forma de manter as pessoas ativas é a atividade intelectual e também a física, as duas em conjunto. Escrever, ler, pensar, discutir, é muitíssimo importante.” Acrescenta que há “outra coisa que é muito importante: um almoço semanal com amigos”, assegurando que alguns “estariam muito pior” se não houvesse este encontro, que classifica como “essencial”.
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O envelhecimento ativo é sinónimo de viver mais tempo e com saúde. Portugal definiu uma estratégia até 2025, alinhada com os objetivos da Organização Mundial de Saúde, para maximizar a capacidade das pessoas idosas
Há um livro de Vitorino Nemésio em que o poeta se insurge contra o fim da vida ativa. Chama-se "Limite de Idade" - é um manifesto contra o tempo, no momento mais triste da sua carreira, a passagem à idade da reforma. Hoje, o envelhecimento ativo é um desígnio das sociedades mais desenvolvidas, uma forma de compensar o desequilíbrio demográfico e aumentar a longevidade de forma saudável. O Expresso ouviu as histórias de quem continua a trabalhar muito para lá dos 65 anos.
ANTÓNIO BARRETO, SOCIÓLOGO, 80 ANOS
Quando nasceu, em 1942, António Barreto tinha uma esperança média de vida (EMV) de 54 anos. “Já vivi mais 25 do que era suposto”, diz ao Expresso o sociólogo, que continua a trabalhar diariamente, e cuja EMV – que é medida todos os anos – passou para os 86. “Não posso dizer que seja uma ansiedade permanente, até porque o meu trabalho não tem um contributo físico, que exija deslocações, movimento, força física, coisas que dão nota de envelhecimento. Mas, uma vez por outra, é impossível não pensar: até quando vou poder trabalhar?”
Cientista social, ex-ministro dos governos de Mário Soares, António Barreto foi presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos – que criou o portal de informação estatística, PORDATA – e defende a abolição do “limite de idade”, citando o poeta Vitorino Nemésio. “Tive o prazer de o ouvir, nos anos 60, a rosnar contra essa imposição selvagem. O único limite de idade é a morte.”
Portugal definiu para o período 2017-2025 uma estratégia para o envelhecimento ativo e saudável através de um conjunto de ações focadas na “saúde, participação, segurança e investigação”. Questionado sobre o assunto, Barreto diz que Portugal tem “políticas errantes” no que respeita à natalidade e envelhecimento.
“Tenho para mim que o mais importante é favorecer o envelhecimento ativo, produtivo, das pessoas que conseguem criar, desenvolver serviços, produção artística, intelectual. Mas grande parte das políticas são de passividade, encaminhar os idosos para os lares. Tudo isto é gravoso, apesar de no discurso político escutarmos com muita frequência a importância da vida ativa.”
MARIA DE BELÉM, EX-MINISTRA, 72 ANOS
João Carlos Santos
Para Maria de Belém, parar não é uma hipótese: acredita que continuar com a sua atividade é “essencial para manter uma vida saudável”, ao mesmo tempo que “quase todas as semanas acontecem desafios para novos projetos, novas intervenções, novas coisas para fazer”. “Mesmo que pensasse [em parar], não me deixavam!”, garante a antiga deputada e ex-ministra da Saúde, de 72 anos.
Maria de Belém é presença assídua em palestras e conferências a convite de diversas organizações, um “sinal de que as pessoas e as entidades confiam naquilo que eu possa transmitir”. Para si própria, também é “estimulante”, uma vez que a obriga a “pensar e estudar”. “Tenho de estudar muito para me manter atualizada.”
Com uma agenda que está sempre “muito ocupada”, Maria de Belém conta ao Expresso, entre risos, que “as pessoas da família têm de se inscrever na agenda” para poderem contar com ela. “Se a minha filha precisa que eu fique a fazer de avó tem de pôr na agenda, porque se não é uma coisa que falha”, explica. O seu dia a dia “varia muito”, por isso “tem de ser tudo muito organizado”.
O que não falha é a vontade de continuar a participar a nível social: “Felizmente, até hoje, nunca me queixei de falta de energia. Se ainda temos energia e podemos dar um contributo positivo à sociedade, devemos fazê-lo.” Isto porque tanto a atividade física como a cerebral são essenciais no “controlo do processo de envelhecimento, que é um processo inexorável”.
Neste momento, a “grande batalha” da candidata à Presidência da República em 2016 é “a luta contra as desigualdades”, uma área em que “há sempre objetivos não concretizados” e que é “uma tarefa infinda, que está sempre com possibilidades de recuar”. “É preciso estar sempre com os olhos abertos e com vontade de corrigir aquilo que possa ser corrigível”, alerta.
Maria de Belém espera que esta rotina tão dinâmica contribua para a sua própria longevidade. “Acho que quem é e foi sempre muito ativo, a última coisa que quer é ficar dependente dos outros, porque sabe o trabalho e o incómodo que isso causa e que já não terá grande qualidade de vida”, conclui.
ISABEL DO CARMO, MÉDICA, 81 ANOS
Parar também não está nos planos de Isabel do Carmo. Aos 81 anos, a médica especialista em endocrinologia dá consultas quatro vezes por semana. Na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa dá algumas aulas no mestrado em doenças metabólicas e comportamento alimentar. “Mantenho tudo, exceto o hospital”, de onde saiu em 2013.
O ativismo político atravessou toda a vida de Isabel do Carmo e, por estes dias, conta a sua experiência na peça Esta é a minha história de amor, em cena no Teatro Nacional D. Maria II. Ainda hoje mantém “muita atividade cívica”. Integra o grupo de profissionais de saúde Estamos do lado da solução, que é “muito ativo”. A propósito da exposição Império do Medo, tem participado em conferências por todo o país sobre a escravatura e a luta contra o racismo.
Está ainda a preparar um novo livro, além dos artigos de opinião que publica pontualmente. “Faço estas coisas porque tenho prazer em fazê-las e sinto muito o dever – não é uma questão moral, é uma questão de posição – de intervir, na medida do possível”, explica. Esta “atividade intensa” é algo que lhe dá “prazer”, mas tem um “lado negativo”. “Tem como consequência que tenho pouco tempo para a família e gostaria de ter mais, sobretudo para os meus netos”, lamenta.
As atividades com os netos contribuem para uma vida saudável e para a longevidade. “Os avós da minha geração são muito ativos com os netos, sobretudo as mulheres”, aponta. Isabel do Carmo considera que, com o “aumento da esperança de vida, aquilo que faz melhor à saúde das pessoas é serem ativas”. “Há muitas formas de ser ativo. Há pessoas que, com a minha idade, fazem uns quilómetros por dia a andar”, exemplifica.
A única diferença que sente é na importância do sono. Enquanto quando era mais nova “fazia diretas”, hoje em dia se dorme menos de nove horas fica “arrasada”. “Não tenho falta de energia nem de vontade”, garante. Essa vontade traduz-se em metas que quer ajudar a cumprir, relacionadas sobretudo com os “combates” que tem travado na área da Saúde, e também com a escrita.
ANTÓNIO CORREIA DE CAMPOS, POLÍTICO, 79 ANOS
A longevidade corre na família de António Correia de Campos: a mãe morreu com 97 anos, o pai aos 104. Este último, aos 80, “fazia projetos como se tivesse 20”, conta o antigo ministro da Saúde. “Foi uma pessoa que me ensinou a lidar com a longevidade. Só aos 102 deixou de conduzir e ficou muito zangado”, recorda. No ano anterior, tinha instalado 21 painéis fotovoltaicos em casa e tratava do seu pequeno olival. “Nunca parou.”
Correia de Campos explica: “o mais importante na vida é ter projetos”. Tem 79 anos e continua a trabalhar: “É a única coisa que sei fazer. Eu tenho de ter projetos.” Entre eles estão a preparação de um livro sobre temas atuais da área da Saúde e um possível livro de memórias – ainda não sabe se irá publicar –, que já conta com mil páginas. Além de contributos com várias instituições nacionais, neste momento o “trabalho mais importante” que desempenha é internacional: integra um grupo de 20 líderes globais que sensibilizam para a “pandemia silenciosa” da resistência aos antibióticos.
O dia a dia “varia muito”, com um ritmo “muito livre”. “Levanto-me às sete horas, ponho-me logo no computador, vejo as notícias do dia e depois, se estou bem-disposto, desato a escrever toda a manhã ou resolvo problemas urgentes”, conta. Surge também “muita gente com pedidos, propostas, intervenções”. “Procuro manter-me atualizado e manter muita documentação.”
Correia de Campos sente a mesma energia e vontade de contribuir. “Eu nasci para o serviço público”, aponta. “Os especialistas dizem que a melhor forma de manter as pessoas ativas é a atividade intelectual e também a física, as duas em conjunto. Escrever, ler, pensar, discutir, é muitíssimo importante.” Acrescenta que há “outra coisa que é muito importante: um almoço semanal com amigos”, assegurando que alguns “estariam muito pior” se não houvesse este encontro, que classifica como “essencial”.
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