S.O., in Jornal de Notícias
Quem olha para Marisa Nunes, de 59 anos, de sorriso afável e olhar meigo, não imagina o sofrimento pelo qual já passou. Em 2007 foi vítima de uma tentativa de homicídio, por parte do próprio marido, depois de vinte anos de vida em comum, pautadas por agressões e desrespeito.
"Calava-me e encobria tudo porque tinha medo, porque tenho um filho, porque não queria ter um casamento falhado. Ele bebia e tinha ciúmes", lembra. Um dia encheu-se de coragem e apresentou queixa às autoridades. O marido, 20 anos mais novo, ficou furioso.
A noite de 24 de Maio foi o culminar de um percurso de dor. "Eu já tinha decidido que queria a separação. Quando ele chegou a casa eu estava a tomar banho e começou a gritar comigo. Quando me dirigi ao quarto, veio por trás com um cutelo do talho e desferiu-me vários golpes na cabeça", recorda com dor no olhar e num lamento profundo por o crime ter sido cometido perante o filho de 14 anos: "Foi o meu menino que chamou ajuda. Ele estava louco. Eu só pedia para não me fazer mal. Apesar do sangue que me escorria pela cara, não sentia a dor, só não queria deixar os meus filhos sozinhos no mundo", contou.
Hoje, Marisa diz ser uma mulher feliz. "Sou livre, não sofro e estou viva. Faço-me de forte, mas às vezes também sinto medo", confessou, avançando que depois de o seu ex-marido cumprir os seis anos de prisão a que foi condenado não sabe o que vai fazer: "Ele sabe onde eu vivo e já me disse que vai acabar o trabalho que começou". Às mulheres que são vítimas de violência doméstica só deixa um conselho: "Fujam. É a única maneira de sobreviverem".