Virgínia Alves, in Jornal de Notícias
Cerâmica, tintas e madeiras antecipam para 2010 a continuação de maus resultados
O sector da construção tem sido um dos mais penalizados pela crise, antecipando para este ano uma nova quebra na actividade. Por contágio, a situação está a provocar constrangimentos em indústrias correlacionadas, como as de cerâmica, tintas e madeiras.
Os números de 2009 não permitem antecipar nada de bom para o sector da construção para 2010. Veja-se como exemplo as vendas de cimento que registaram uma queda de 15%, face a 2008. Ou então, outra leitura, a do número de desempregados oriundos da construção civil, que em Dezembro disparou 56%, face a Dezembro de 2008, segundo dados da Fepicop (Federação Portuguesa da Indústria da Construção e Obras Públicas). Isto, quando muitas empresas dizem estar a atravessar graves dificuldades, mesmo após o corte de despesas. Estes são os números globais, para os quais pesam os dados dos diversos sub-sectores que ligados à construção civil. Por exemplo, Fernando Rolanda, presidente da Associação das Indústrias da Madeira e Mobiliário de Portugal, aponta para "uma quebra de 50%" nas vendas em 2009, "com as fábricas a trabalharem a 70% da sua capacidade".
Neste sub-sector foge um pouco à regra a parte dos aglomerados, "nos quais Portugal apostou muito, melhorou as suas capacidades tecnológicas e hoje é líder mundial", mas o restante "vive dificuldades sérias". "Sem construção não há saída para os produtos", disse ainda Fernando Rolanda, sublinhado que, "apesar de se estar a sentir uma melhoria psicológica, com algumas construções, os números só chegarão no final da obra", porque, tal como outros sectores, é dos últimos a ser usado.
Atrasos nos pagamentos
Por sua vez, nas tintas, a situação parece ser mais complexa, com uma quebra de 8,2% na actividade em 2009, e uma previsão de descida de 2 a 3% em 2010.
Segundo a Associação Portuguesa de Tintas, "mesmo com uma ligeira recuperação do sector em termos globais este ano, para as tintas, isso só acontecerá no final do ano, uma vez que é dos últimos produtos a integrar o processo de construção". Daí, antecipar um ano "mau". "As empresas estão a passar sérias dificuldades, a que acresce a demora de pagamento por parte dos clientes, que tem vindo a piorar nos últimos tempos", acrescenta a associação.
Já a indústria da cerâmica espera "manter o equilíbrio" conseguido no final de 2009, com a abertura do mercado externo que se verificou, para onde exporta cerca de 50% da produção de pavimentos, revestimentos e louças, referiu ao JN José Luís Sequeira, vice-presidente da Associação Portuguesa da Indústria da Cerâmica. Mas, na parte da produção de telhas, "a situação é mais complicada", porque "depende essencialmente do mercado interno e, sem soluções sérias para a reabilitação, os problemas vão acentuar-se", disse, sem adiantar mais números.