in Agência Ecclesia
Iniciamos a Quaresma, quando o cristão é chamado a fazer, tanto a nível comunitário como individual, e segundo os parâmetros do Evangelho, uma viagem ao interior da sua vida. No contexto do Ano Europeu de Luta Contra a Pobreza e Exclusão Social, do Ano Internacional de Encontro de Culturas e no contexto da crise profunda que assola o mundo, os membros do Fórum das Organizações Católicas para a Imigração (FORCIM) lançam o olhar para a realidade migratória do nosso País, a qual pela sua complexidade provoca a reflexão e orienta para o caminho da conversão.
Cada vez mais a situação de crise global leva multidões a decidirem ou a verem-se forçadas a sair da sua terra de origem buscando outras paragens onde possam construir um projecto de vida com dignidade, segurança e estabilidade. Tendo Portugal também sofrido com as consequências da crise, designadamente no que se refere a uma subida substancial do desemprego, comparando com anos recentes diminuiu bastante o número daqueles que o escolhem como destino para viver. No entanto muitas situações de injustiça, exclusão, marginalização, racismo e xenofobia, continuam a verificar-se em relação aos que aqui se fixaram. Salienta-se a exploração laboral, o trabalho mal pago e quase escravo, a precariedade, a exploração sexual em ligação com o tráfico de seres humanos, a não efectivação de direitos consagrados na lei por parte de instituições civis e do próprio Estado.
A par dos imigrantes que vivem no país, não podemos esquecer os compatriotas que, pelos motivos referidos e especialmente por causa do desemprego, se viram forçados a abandonar a pátria, sonhando com países como a Inglaterra, a Suíça, o Luxemburgo, a França, Angola… São centenas de milhar que não encontraram aqui os meios para a construção de uma vida digna, sem esquecer aqueles que se sujeitam a esquemas de trabalho temporário em Espanha, França, Holanda, na agricultura e na construção, tantas vezes feitos vítimas de exploração e de escravatura laboral.
É para todos estes que neste tempo dirigimos o nosso olhar, convidando os cristãos portugueses a fazerem o mesmo, olhando para as vítimas da injustiça e da exploração do homem pelo homem como caminho privilegiado de aproximação ao Deus da vida e da justiça.
Quaresma é tempo de orientar a atenção para os mais pobres e marginalizados, para aqueles a quem a sorte parece não sorrir, para aqueles que vivem despojados da dignidade humana e de filhos de Deus, sabendo que entre eles estão muitos migrantes, sem a alegria de viver e despidos de auto estima.
Quaresma é tempo de escutar os apelos daquela justiça que se funda em Deus que criou todos e todas iguais em dignidade e direitos, mas negada pela injustiça da má distribuição da riqueza que provoca tantos pobres no mundo.
Quaresma é tempo de abrir o coração ao outro, particularmente ao mais frágil, criando uma atitude de escuta para identificar a suas necessidades e para ir ao encontro delas, acolhendo a riqueza que a diversidade humana e cultural do outro nos oferece.
Ao olharmos para a apatia de tantos cristãos e de comunidades fechadas em si mesmas, condenadas a uma morte lenta porque impermeáveis à renovação do Espírito, renovamos o apelo de João Paulo II aos jovens: “Não tenhais medo”. Não tenhais medo de vos abrir e acolher os irmãos que chegam de outras terras e de outras culturas; eles são um dom enviado por Deus e um potencial de renovação para tantas comunidades moribundas.
Renovando e imitando neste caminho quaresmal a atitude de Jesus para com os pobres, na escuta dos seus anseios de justiça, acolhimento e partilha, chegaremos à celebração da Páscoa na alegria e na certeza da fé de que já vivemos ressuscitados com Ele.
FORCIM – Capelania dos Imigrantes Africanos, Capelania Nacional dos Imigrantes Ucranianos, Capelania dos Brasileiros, Caritas Portuguesa, Centro Padre Alves Correia (CEPAC), Liga Operária Católica / Movimento de Trabalhadores Cristãos (LOC/MTC), Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM), Serviço Jesuíta aos refugiados (JRS), Comissão Justiça e Paz dos Religiosos, Comissão Nacional Justiça e Paz, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (FAIS), Comissão Episcopal da Mobilidade Humana (CEMH), Comissão de Apoio às Vítimas de Tráfico de Pessoas (CAVITP).