Eduardo Santos, in Fátima Missionária
A União Europeia dedicou este ano à pobreza e exclusão social, não se justificaria um plano do Governo Português para combater este desequilíbrio social?
A responsabilidade pela existência de condições miseráveis de subsistência, a chamada pobreza, deve-se em grande parte à organização (ou a falta dela) no aspecto administrativo e financeiro de um país. No caso português, desde tempos imemoriais - mesmo no período da nossa história em que a Monarquia governou (se) - o caso da pobreza foi um assunto que não mereceu o tratamento a que tinha direito.
Com a implantação da República em 1910, a promessa de melhores condições para o povo foi feita e propagandeada pelos republicanos de então, embora o bacalhau a pataco nunca tenha sido uma realidade e haja mesmo conduzido a uma descrença total nos políticos dessa época. Ao espírito de liberdade (libertinagem talvez fosse a palavra mais correcta) aberto pelos ideais republicanos, não foi adicionado um plano económico que permitisse uma subida gradual do nível de vida (apesar da luta dos sindicatos em prole da classe operária).
O Estado Novo, regime que surgiu em 1926 tem como crédito a consolidação económica de Portugal (estava na falência, mais ou menos como acontece hoje, quando Salazar assumiu a pasta das Finanças) mas sem ter tido a preocupação de dotar o país de condições e meios que permitissem a criação de riqueza e sua distribuição equitativa. Ou seja, a pobreza antes de ser um problema social, é o resultado de um incumprimento dos deveres assumidos pelos governantes e continua a ser um ferrete que marca as sucessivas gerações de responsáveis.
Este ano e possivelmente os mais próximos serão tempos difíceis, durante os quais se poderão acentuar as desigualdades sociais, no caso de não surgir um plano nacional de concertação política entre os partidos. Mas a pobreza pode e deve ser combatida por cada um de nós, sobretudo aqueles que ainda possuem ou auferem algum provento, mesmo que seja pouco.
Não está em causa o valor com que possamos contribuir, mas a forma e o espírito com que o fazemos. Dinheiro, géneros, trabalho voluntário, tudo é bom para atenuar as carências de quem precisa. Uma palavra de conforto, um conselho ou um sorriso podem fazer tanto que só quem o recebe poderá descrever.
È necessário que funcione o espírito de solidariedade individual e social, caso contrário será um país inteiro a sofrer as consequências. Para todos que ainda têm o seu emprego – e sofrem menos agruras que aqueles que o perderam ou não têm – deixo algumas palavras simples, mas concretas: executai o vosso trabalho com responsabilidade, sobretudo sejam rentáveis, pois não é possível distribuir riqueza se cada um de nós não a produzir através da nossa prestação.