23.2.10

Malparado quase duplica em cenário de contracção do crédito

Por Rosa Soares, in Jornal Público

Em 2009, com a economia em crise, a concessão de empréstimos às empresas caiu para o nível mais baixo dos últimos cinco anos

Pouco mais de 1 por cento


A concessão de empréstimos às empresas, em 2009, cresceu ao ritmo mais baixo dos últimos cinco anos, revelando uma forte travagem face aos números de 2007 e 2008. O crédito malparado disparou quase 50 duplicou.

No ano passado, os bancos concederam às empresas 2 mil milhões de euros, quando em 2008 tinham emprestado 14,1 mil milhões e em 2007 perto de 10 mil milhões, revela o Boletim Estatístico do Banco de Portugal ontem divulgado.

A crise internacional, que começou em 2008, mas foi mais acentuada em 2009, ajuda a explicar esta queda. Por um lado, e face à recessão económica, a procura de novos empréstimos por parte das empresas diminuiu, em parte porque as taxas de juro (na componente do spread ou margem do banco) dispararam. Por outro lado, e face à maior ameaça de falências, os bancos colocaram entraves adicionais à concessão de novos empréstimos por forma a assumirem menos risco.

Construção lidera

Na recta final do ano passado, verificou-se um recuo de mil milhões de euros no crédito concedido, descendo de 118,1 mil milhões de euros, em Novembro, para 117,8 mil milhões, em Dezembro, segundo os dados do banco central.

A mesma conjuntura ajuda a explicar a quase duplicação do crédito de cobrança duvidosa ou malparado, que passou de 2,5 mil milhões de euros, no final de 2008, para 4,5 mil milhões em Dezembro de 2009, o que corresponde a um aumento 45,7 por cento. Os sectores de construção e imobiliário, que registaram um crescimento na obtenção de crédito ligeiramente superior aos das empresas em geral (2,5 contra 1,7 por cento), continuam a ser os responsáveis por mais de 50 por cento do total de crédito malparado.

No que refere ao crédito às famílias (habitação e consumo), o montante de crédito concedido aumentou cerca de 5,4 mil milhões de euros, para 137,9 mil milhões de euros, o que representa uma subida de 3,9 por cento face a 2008. Neste segmento, o crescimento dos últimos cinco anos tem-se mantido aos mesmos níveis.

Na área do crédito à habitação, verificou-se um aumento de 5,3 mil milhões de euros, mais 4,8 por cento do que em 2008, para 109,8 mil milhões de euros. Mas também acelerou o crédito malparado, que no total do ano aumentou 16 por cento, para 1,8 mil milhões.

O crédito à habitação e ao consumo são responsáveis por quase 80 por cento do total de créditos de cobrança duvidosa. Curiosamente, estes dois sectores registaram na recta final do ano, de Novembro para Dezembro, uma ligeira diminuição de valores, pondo fim a quase um ano de subidas consecutivas.

No crédito ao consumo, e face a 2008, o crédito malparado aumentou 273 milhões, para 1032 milhões de euros.