por Patrícia Jesus, in Diário de Notícias
Comprar mais de cada vez e pagar a pronto para conseguir melhores preços são duas medidas apresentadas
Controlar melhor a prescrição de medicamentos, optando pelos mais baratos e dificultando a aprovação dos inovadores e mais caros. Comprar em maiores quantidades e pagar a pronto para conseguir melhores preços. Estas são algumas das estratégias dos hospitais para reduzir os gastos com medicamentos, um dos principais objectivos dos planos de contenção da despesa que tinham de ser apresentados ao Ministério da Saúde até ontem - a par da redução das horas extraordinárias.
Nem todos cumpriram. Segundo a SIC, 10 dos 59 hospitais não entregaram ontem os seus planos, informação que o Ministério não confirma nem desmente, limitando-se a dizer que "a maioria" entregou.
Nas orientações que deu às unidades, e que diz terem sido cumpridas nos planos que recebeu, a tutela pretendia que os gastos com medicamentos crescessem apenas até 2,8%, um feito difícil quando em alguns hospitais a despesa aumentou na ordem dos dois dígitos no ano passado.
O plano que o Centro Hospitalar do Porto - que inclui o Santo António e a Maternidade Júlio Dinis - entregou no Ministério prevê uma poupança de três milhões de euros, "sendo que um valor muito significativo" vem da "melhor gestão dos medicamentos", admite a administração. A racionalização das receitas de medicamentos como o paracetamol e antimicrobianos, por exemplo, muito comuns, é uma das medidas previstas. Além da sensibilização dos médicos para terem em conta critérios económicos na prescrição. Nesta unidade, os medicamentos inovadores e os remédios para doenças como a sida e o cancro passam a ter de ser aprovados por equipas multidisciplinares.
O São João, por sua vez, vai suspender a compra de "medicamentos para os quais existem alternativas igualmente eficazes" e "menos caras". O plano - um dos primeiro a ser entregue e considerado exemplar pela ministra Ana Jorge - indica ainda que a prescrição de várias remédios fica sujeita a autorização caso a caso. Mesmo os fármacos oferecidos terão de ser enviados aos serviços farmacêuticos que "os dispensarão conforme prescrição médica".
Outra alternativa é conseguir melhores preços junto da indústria farmacêutica. O Amadora-Sintra está a fazer a lista de medicamentos mais consumidos para aumentar o volume de cada encomenda e negociar melhores preços. Os Hospitais da Universidade de Coimbra estão a tentar conseguir orçamento para reduzir os prazos de pagamento em troca de descontos, explica o administrador Fernando Regateiro. Até porque, sendo um centro de transplantes e de tratamentos para o cancro tem "uma despesa importante com medicamentos muito caros" que tem tentado reduzir - no ano passado a despesa cresceu apenas 4%.
"O nosso limite é a qualidade da assistência e o bem-estar do doente", garante Fernando Regateiro, fazendo eco das preocupações que a Ordem dos Médicos e a Associação de Administradores Hospitalares já evidenciaram em relação aos cortes na saúde por causa da crise, nomeadamente ao corte de 5% nas horas extraordinárias e às consequências que este pode ter nas urgências.