in Público on-line
Mário Soares condena que os partidos estejam concentrados nas eleições nas vésperas da apresentação do pacote de ajuda externa e pede rigor no trabalho que está a ser desenvolvido.
Num artigo de opinião publicado no Diário de Notícias, o histórico socialista lança ainda o repto a Cavaco Silva, defendendo que o Presidente da República também deve avaliar o programa acordado. Depois, Soares pede ao Governo que não assuma uma “posição e subserviência” nas negociações com a troika. “A margem de manobra é curta, mas não deve colocar o país numa posição de subserviência”, defende.
“Somos um estado independente há quase nove séculos e não podemos consentir que nos tratem sem respeito ou que nos pretendam atirar para uma recessão sem remédio”, recorda o antigo Presidente, que pede também diálogo entre o PS e o PSD no momento de se chegar a um acordo para a ajuda externa, recordando que os próximos tempos vão ser mais determinados por este acordo do que pelas legislativas de Junho.
Assim, o socialista sublinha que as disputas eleitorais devem ser guardadas para mais tarde, porque o actual “momento exige união” e até a intervenção do Presidente da República. Soares entende que Cavaco deve também discutir e apreciar o plano de ajuda a Portugal. “Todos juntos, a uma só voz, têm de afastar o perigo de bancarrota e defender o superior interesse nacional”, insiste.
Desta forma, Soares espera que todos preparem contrapropostas, conscientes de que o tempo “urge” e de que a ajuda a Portugal é na verdade um empréstimo que sairá muito caro. O antigo chefe de Estado diz esperar medidas que combatam o défice, mas que não esqueçam a necessidade de investimento e que não coloquem em causa o Estado social – criticando neste ponto a frieza das instituições europeias, por oposição ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
Mário Soares diz que o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia, ao contrário do FMI, só pensam nos equilíbrios financeiros e não nas pessoas e os Estados que deviam ajudar, “não conseguem libertar-se do economicismo neoliberal”. E critica o mediatismo e espaço que tem sido dado pela União Europeia às agências de rating para exercerem aquilo que considera ser uma “especulação” que pode lesar muito o futuro da comunidade.