in Agência Ecclesia
Palavra de Abertura do XII Encontro dos Agentes de Pastoral Social e Mobilidade
Iniciamos o XII Encontro de Formação de agentes Sócio-Pastorais das Migrações sob o tema “Portugal entre a Emigração e a Imigração”. Apraz-me registar que este encontro se integra na celebração do Oitavário da Oração pela Unidade dos Cristãos onde reconhecemos – todos: católicos, protestantes e ortodoxos – a necessidade de nos deixarmos transformar por Cristo para permitir que Ele opere uma verdadeira vitória oferecendo um contributo positivo e de esperança nesta hora que vivemos. “Todos seremos transformados pela vitória de nosso Senhor Jesus Cristo” (Conf. 1 Cor 15, 51-56) é o texto bíblico escolhido para esta Semana pela Unidade.
O Santo Padre, na sua mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, chama, entre outros aspetos importantes, a nossa atenção para uma realidade que quero selecionar. Diz ele: “desejo recordar a situação de numerosos estudantes vindos de outros países que enfrentam problemas de inserção, dificuldades burocráticas, aflições na busca de alojamento e de estruturas de acolhimento. De modo particular, as comunidades cristãs mostrem-se sensíveis com tantos jovens que, além do crescimento cultural, têm necessidade – precisamente devido à sua tenra idade – de pontos de referência, cultivando no seu coração uma profunda sede de verdade e o desejo de encontrar Deus”.
Como Cristãos, Católicos ou de outras denominações, teremos de dar o testemunho de unidade agindo em favor dos jovens que nos procuram ou partem por razões de estudo, mas também daqueles que, com ou sem estudos, estão sofrendo o flagelo do desemprego. Quero, também, neste ambiente recordar a crescente desigualdade social para que o amor de todos contribua para um novo paradigma de Sociedade. A emigração ou imigração resultam desta situação especial em que nos encontramos e, se todos sofremos, muito mais os jovens.
O tema da Semana da Unidade deste ano 2012 “Todos seremos transformados pela Vitória de nosso Senhor Jesus Cristo” (conf 1 Cor 15, 51-58) pretende sublinhar a força transformante da fé em Jesus Cristo. Com esta temática pretende-se sublinhar que urge dedicar “um pensamento aos perdedores, àqueles que constantemente sofrem derrotas porque é negada a vitória por causa de várias condições e circunstâncias “e sublinhar que a vitória acontece através do serviço, da ajuda mútua”, promovendo a autoestima daqueles que são os “últimos, os esquecidos, os excluídos”.
Neste terceiro dia do Oitavário pela Unidade dos Cristãos somos convidados a deixar-nos “transformar pelo Servo sofredor”. Cristo como servo que aceita sofrer, é o “grande Vitorioso” sobre todas as formas de morte e sinais de trevas em que o mundo está mergulhado. Ele, outrora, uniu todos os seus discípulos que estavam paralisados com medo; hoje só ele abrirá novas perspetivas para a ação conjuntada Igreja de modo a acontecer um Reino de Justiça e de Paz. São muitas as dificuldades. Ele deve unir todos os cristãos e estes devem encontrar a força na Sua unidade para contribuir, neste mundo de permanente mobilidade e desigualdade, para uma dignificação da humanidade. Se quem sofre mais neste contexto atual são os pobres, cada vez em maior número e com maior pobreza, os jovens que não conseguem encontrar trabalho
são uma franja da sociedade que deve movimentar-nos para discernir caminhos capazes de lhes proporcionar perspetivas de futuro.
O desemprego dos jovens com menos de 25 anos não pode deixar-nos insensíveis e impõe-nos uma responsabilidade coletiva para eliminar, travar ou atenuar o flagelo que pode tornar-se causa de rutura social. Os últimos dados da existência de 30% de jovens sem emprego e sem possibilidade de vislumbrar uma hipótese de contribuir na construção dum Portugal mais desenvolvido não nos deve deixar tranquilos. Não é problema português mas o evoluir da situação pode agudizar-se causando uma desestabilização com proporções alarmantes.
A desigualdade social cresce e isto fruto, em larga escala, das novas medidas de austeridade que afetam os que possuem menos. As camadas mais frágeis da sociedade portuguesa são as mais sacrificadas mesmo que, em alguns aspetos, pareça haver alguma consideração. O fosso fica maior e nem todos suportam os encargos duma vida acentuando-se uma desigualdade que, em muitos casos, devemos considerar gritante. Criaram-se expetativas e agora a sociedade não as pode oferecer. As famílias que conseguiram suportar os encargos, com maior ou menor facilidade, vêem-se, também, com rendimentos em permanente diminuição e com encargos a aumentar. O descontentamento e a frustração provocam a emigração, sugerida ou voluntariamente aceite, como possível solução. Só que o cenário é complexo. Os jovens circulam pelo mundo. Partem alguns e outros entram no nosso país. O estudo é um motivo; outras situações também acontecem.
A Igreja, em testemunho de unidade com as outras confissões cristãs, não pode deixar de procurar as causas das migrações e individualizar respostas concretizando uma evangelização que terá de ser nova o que acontecerá no acolhimento solicito e no acompanhamento responsável de modo que ninguém se sinta à margem da felicidade. A mobilidade dos jovens, por razões de estudo ou de procura de realização profissional, é um fenómeno a solicitar uma presença da Igreja nestes meandros para que a deslocação do país de origem seja realizadora e nunca frustradora. O amor a Cristo exige empenho novo para que a vitória dum humanismo integral possa emergir do meio de tantos futuros sombrios e repletos de enigma. Trata-se dum âmbito novo na pastoral da Igreja que não se pode ignorar.
Assim sejamos capazes de preparar agentes pastorais a agir com fórmulas e comportamentos marcados pela competência solícita e nunca por um mero amadorismo de boas vontades ou, o que é pior, por um ignorar o problema. Ele está aí. Não o podemos desconsiderar.
Fátima, 20 de Janeiro de 2012
† Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga e Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana