26.1.12

Projecto ajuda comunidade cigana de Abrantes dispersa a integrar-se na região

in O Mirante

Uma mulher cigana está há três meses a trabalhar junto de 40 famílias da mesma etnia, em Abrantes, para as ajudar a integrarem-se melhor no meio e a resolverem os problemas que têm entre si.

Em Abrantes, esta comunidade de 135 pessoas é considerada atípica, porque dispersa, sem patronos e sem relações entre si.

Na sua actividade no terreno, a nova mediadora cultural, Tânia Sousa, de 31 anos, disse à agência Lusa que "tem conseguido fazer-se ouvir e respeitar”.

A ideia é ajudar a comunidade a resolver situações como “a assiduidade escolar dos jovens, o acesso a cuidados básicos de saúde ou a importância da empregabilidade”.

Ao mesmo tempo, adiantou, o projecto visa a necessária "desconstrução de estereótipos entre as comunidades ciganas e as restantes, e promover uma maior articulação entre as várias comunidades de ciganos" residentes em Abrantes.

O projecto, que conta com o apoio do Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI), através do GACI - Gabinete de Apoio às Comunidades Ciganas, tem como principais objectivos o acesso das comunidades ciganas a serviços e equipamentos locais, bem como promover a comunicação entre a comunidade cigana e a comunidade envolvente, com vista à prevenção e gestão de conflitos.

Celeste Simão, vereadora da acção social na Câmara de Abrantes, disse à Lusa que a iniciativa está a revelar-se "bastante interessante e proveitosa", tendo realçado o facto da mediadora municipal ser precisamente uma mulher de etnia cigana, conhecedora da realidade local.

"Em Abrantes e nas freguesias rurais temos cerca de 40 famílias de etnia cigana, sem os denominados patronos ou alguém de referência que escutem e respeitem, e que constituem uma comunidade perfeitamente atípica de 135 pessoas, a maioria das quais não interage nem se entende entre si", observou.

A mediadora afirmou ser "com orgulho" que desenvolve este papel, um trabalho que pretende assegurar a "inclusão" das comunidades ciganas portuguesas na sociedade e resolver os seus principais problemas, salvaguardando o respeito pelos seus valores e pelas suas tradições.

Tânia Sousa destacou ainda o facto de ser "mulher" e de ser ela a desenvolver este projecto junto de um grupo cujas tradições não permitem que o elemento feminino trabalhe habitualmente fora da comunidade onde está inserido.

"Eu sou casada, tenho dois filhos, estudei e estou a trabalhar. Há pessoas que criticam, mas sinto-me respeitada e orgulhosa pelo que faço e não é por isso que renego a minha cultura e as minhas tradições", vincou.

O projecto Mediadores Municipais reúne um total de 20 municípios do país, que trabalham com as suas comunidades ciganas e não-ciganas.