23.1.12

Ser solidário com os outros começa em cada um de nós

Texto Eduardo Santos, in Fátima Missionária

A semana que ontem findou ficou marcada pelas palavras do Presidente da República em relação às suas reformas individuais. Sintetizando, declarou que o que recebe "não vai chegar para pagar todas as minhas despesas"

Perante a crise económica que assola o país e que levou os seus responsáveis a fazer um pedido de ajuda financeira à troika da União Europeia, foi necessário ao atual Governo implementar medidas orçamentais bastante duras.Uma das mais sensíveis e contestadas foi o corte do 13.º e 14.º meses para os reformados com rendimento mensal de 600 euros. O Presidente da República (PR) justifica a sua opinião desta forma: "Tudo somado, o que irei receber do Fundo de Pensões do Banco de Portugal e da Caixa Geral de Aposentações quase de certeza que não vai chegar para pagar as minhas despesas porque (...) eu também não recebo vencimento como Presidente da República". Recordamos que Cavaco Silva auferirá mais de 10 mil euros de reformas na totalidade e de acordo com o seu trabalho enquanto professor e gestor da banca.

As reações que surgiram às palavras do PR vieram dos mais variados quadrantes políticos e foram bastante contundentes, apontando para a sua falta de sensibilidade, especialmente em relação aos restantes portugueses com baixas reformas. Uma das críticas mais notadas foi a de Fernando Nobre, presidente da AMI e ex-candidato à presidência da República que disse, em declarações à TSF: "Se efetivamente o que o Presidente da República disse está correto (...) pergunto-me o que estarão agora a pensar os mais de 300 mil portugueses que têm reformas inferiores a 300 euros. Por isso, lamento porque na situação que estamos a viver, em que muitas vezes se fala de coesão social, acho que tem que haver recato e porque não dizê-lo também: haja decência". Também Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, afirmou: "Num contexto tão difícil para os portugueses, particularmente os que vivem das suas baixas reformas e pensões (...) isso é quase ofensivo para os ouvidos e a vida desses portugueses que não sabem como é que se hão de governar com 200 e 300 euros de reforma".


As declarações do PR geraram ainda uma enorme onda de críticas provindas de pessoas anónimas descontentes, umas corretas, outras nem tanto, que o manifestaram na página do Facebook do presidente. Os comentários, críticas e perguntas aumentam constantemente, até foi fundado um grupo também no Facebook chamado “SOS Cavaco Silva”. Foi criado esta sexta-feira para ajudar o presidente a fazer face às suas despesas. É uma brincadeira que se repete também em imagens como a campanha para ajudar o «Aníbal», leia-se Aníbal Cavaco Silva, o Presidente da República. As redes sociais são uma realidade saudável e acabam por permitir às pessoas determinado tipo de “desabafos” que de outra forma não fariam, mas constitui uma amostra substancial da forma de interagir dos portugueses que as usam.



Toda esta controvérsia seria desnecessária se o PR fosse mais coerente com aquilo que diz pretender para Portugal. Também ele não está ilibado em relação à situação atual do nosso país, pois teve funções governamentais durante muitos anos, sobretudo em anos decisivos.
Enquanto PR, neste segundo mandato, tem apelado ao sentido de patriotismo dos portugueses, aconselhando-os e exercendo a sua influência junto do Governo, mas agora que teve oportunidade de falar na sua própria reforma demonstrou pouco senso, desiludindo aqueles que nele acreditavam e porventura, continuam a acreditar.
Num país com um nível de pobreza como o nosso, os políticos têm que estar atentos e não “provocar” os mais fracos, pois não se sabe se eles, um dia, não conseguirão ir buscar forças para varrer com aqueles que “em nosso nome” dirigem os destinos de Portugal, mas no fundo, estão mais preocupados com as suas próprias pessoas.