Abel Coelho de Morais, in "Diário de Notícias"
46 mil refugiados estão em risco de "calamidade humanitária" na Grécia Amnistia internacional. ONG denuncia condições de acolhimento em território grego e responsabiliza dirigentes europeus. Travessia do Mediterrâneo volta a ser procurada após fecho da fronteira da Macedónia e acordo UE-Turquia. Mais de 46 mil refugiados e migrantes vivem atualmente "em condições horríveis e num estado de medo constante e incerteza" em diferentes locais do território continental da Grécia, denunciou ontem a Amnistia Internacional (AI) num relatório em que passa em revista a situação das pessoas obrigadas a permanecer naquele país, após o fecho da fronteira comum com a Macedónia.
Com o encerramento desta fronteira no passado dia 7 de março, aquelas pessoas, "maioritariamente mulheres e crianças", não têm forma de abandonar a Grécia e "arriscam-se a ser esquecidas pela comunidade internacional", lê-se no documento da AI.
A denúncia desta situação coincidiu com a notícia de que quatro embarcações teriam naufragado ao largo das costas egípcias, sendo referido como número provável de vítimas mais de "400 migrantes, a maioria somalis", segundo a edição em árabe da BBC. Os media italianos referiam, por seu lado, cerca de "200 vítimas", citando o ministro da Informação da Somália, Mohammed Abdi Hayir. Um número obtido através da "consulta à Embaixada no Egito", explicou o ministro à Reuters.
As embarcações deixaram o Egito e teriam como destino a Itália. As autoridades marítimas deste país afirmavam, por seu lado, não ter qualquer conhecimento do caso e garantiam, ao fmal do dia, não estar envolvidas em quaisquer operações de busca.
A notícia do naufrágio ao largo das costas egípcias coincidiu com o aniversário de uma outra tragédia em águas do Mediterrâneo, sucedida fez precisamente ontem um ano, quando naufragou um navio pesqueiro que partira da Líbia com cerca de 800 pessoas a bordo.
Destas, só 28 sobreviveram.
Ainda em relação a este caso, as autoridadeS italianas anunciaram estar em estado avançado as operações para o resgate da embarcação.
Esta será levada para um porto de Itália, onde se procederá à recolha dos restos mortais das vítimas ainda a bordo. O sucedido há um ano no canal da Sicília foi evocado pelo presidente italiano, Sergio Manarelia, que estabeleceu um Paralelo entre o "aniversário da ocasião em que 800 perderam a vida e a tragédia" de ontem, e como "os dois casos nos devem fazer pensar" sobre o tratamento que a Europa está a dar à questão.
Críticas à União Europeia Escreve-se no relatório da AI que se escreve que os "Estados da União Europeia estão a exacerbar esta crise com o seu fracasso em atuarem de forma real para ajudar a realojar as dezenas de milhares" de pessoas queestão "encurraladas na Grécia".
AAI considera que se os dirigentes europeus não se decidirem a atuar "de forma rápida e urgente" para mudar as condições daqueles refugiados e migrantes, "estão a criar com a sua atuação uma calamidade humanitária".
Ainda segundo as informações da AI, das 66400 pessoas que desde setembro de 2015 deveriam ter sido recolocadas apenas 61 5 o foram até 12 de abril, de acordo com informações fornecidas a esta ONG pela Comissão Europeia.
O relatório da Al recolhe testemunhos de inúmeros refugiados que transmitem uma imagem eloquente da realidade desoladora que se vive nas instalações, a grande maioria improvisadas e sem quaisquer condições. "Dormimos no chão; as mantas estão molhadas.
Não há casas de banho. Por tudo isto, as pessoas estão a adoecer", diz uma mulher síria em Idomeni.
AAI recenseou 31 destes campos, e, por exemplo, num deles, no porto de Pireu, passaram três mil a cinco mil pessoas entre o início de fevereiro e 13 de março do ano corrente, quando a missão desta ONG esteve no local.
Com o fecho da fronteira da Macedónia (Fyrom) e consequente encerramento da chamada "estrada dos Balcãs", os migrantes estão de novo a dirigir-se para Itália. Os números mais recentes ontem divulgados pela agência de fronteiras da UE, Frontex, o número de chegadas em março às costas italianas foram de 9600 migrantes, o dobro do verificado em fevereiro. Em relação a período homólogo do ano anterior, o aumento é ainda mais evidente. Em março de 2015 chegaram a Itália, via Mediterrâneo, 2283 migrantes. Então, como neste ano, a TRAVESSIA 9600 Migrantes Número de pessoas que chegaram a Itália em março, o dobro do verificado em fevereiro. Em março de 2015 tinham sido apenas 2283.
22900 Pessoas Entradas na Grécia nos primeiros 20 dias de março. Após fecho da fronteira com a Macedónia, o número caiu para 3500 até ao final do mês.
PRÉMIOS No ano que marca o 1002 aniversário dos Pulitzer, os prémios de excelência do jornalismo, a cobertura da crise de refugiados valeu ao departamento de fotografia da Reuters (juntamente com quatro fotógrafos do New York Times) a distinção de melhor trabalho de assuntos de última hora (na foto, uma imagem de outubro de 2015, captada pela agência norte-americana na ilha de Lesbos, Grécia). Outro destaque foi o prémio de serviço público da Associated Press sobre o uso de trabalho escravo na indústria da pesca no Sudeste da Ásia, bem como o atribuído à jornalista norte-americana Alissa R ubin, do New York Times, em reportagem internacional, pela voz dada V às mulheres afegãs.
maioria é proveniente de países como a Nigéria, Somália e Gâmbia.
Caso dos 108 africanos salvos no domingo ao largo da Líbia quando estava prestes a afundar-se o pneumático em que viajavam. O salvamento foi realizado por um navio da ONG SOS Méditerranée e, segundo esta organização, no início da viagem estavam a bordo 160 pessoas.
Evidência de que a travessia direta do Mediterrâneo está a sera via de escape para a Europa, os números da Frontex para a Grécia revelam que em março foram 26460 pessoas a chegar a este país-menos de metade do que no mês de fevereiro. A agência nota que esta diminuição está relacionada, além do fecho da "estrada dos Balcãs", com o início das patrulhas navais da NATO no mar Egeu e com a assinatura do acordo UE-Turquia, que prevê o retorno a este país daqueles que, aqui estando, tentem entrar no espaço europeu. Só para março, os números são eloquentes: 22900 chegadas nos primeiros 20 dias do mês e apenas 3500 nos últimos 11 dias.