20.4.16

Há 46 mil refugiados em risco de calamidade humanitária

Abel Coelho de Morais, in "Diário de Notícias"

46 mil refugiados estão em risco de "calamidade humanitária" na Grécia Amnistia internacional. ONG denuncia condições de acolhimento em território grego e responsabiliza dirigentes europeus. Travessia do Mediterrâneo volta a ser procurada após fecho da fronteira da Macedónia e acordo UE-Turquia. Mais de 46 mil refugiados e migrantes vivem atualmente "em condições horríveis e num estado de medo constante e incerteza" em diferentes locais do território continental da Grécia, denunciou ontem a Amnistia Internacional (AI) num relatório em que passa em revista a situação das pessoas obrigadas a permanecer naquele país, após o fecho da fronteira comum com a Macedónia.

Com o encerramento desta fronteira no passado dia 7 de março, aquelas pessoas, "maioritariamente mulheres e crianças", não têm forma de abandonar a Grécia e "arriscam-se a ser esquecidas pela comunidade internacional", lê-se no documento da AI.

A denúncia desta situação coincidiu com a notícia de que quatro embarcações teriam naufragado ao largo das costas egípcias, sendo referido como número provável de vítimas mais de "400 migrantes, a maioria somalis", segundo a edição em árabe da BBC. Os media italianos referiam, por seu lado, cerca de "200 vítimas", citando o ministro da Informação da Somália, Mohammed Abdi Hayir. Um número obtido através da "consulta à Embaixada no Egito", explicou o ministro à Reuters.

As embarcações deixaram o Egito e teriam como destino a Itália. As autoridades marítimas deste país afirmavam, por seu lado, não ter qualquer conhecimento do caso e garantiam, ao fmal do dia, não estar envolvidas em quaisquer operações de busca.
A notícia do naufrágio ao largo das costas egípcias coincidiu com o aniversário de uma outra tragédia em águas do Mediterrâneo, sucedida fez precisamente ontem um ano, quando naufragou um navio pesqueiro que partira da Líbia com cerca de 800 pessoas a bordo.
Destas, só 28 sobreviveram.

Ainda em relação a este caso, as autoridadeS italianas anunciaram estar em estado avançado as operações para o resgate da embarcação.
Esta será levada para um porto de Itália, onde se procederá à recolha dos restos mortais das vítimas ainda a bordo. O sucedido há um ano no canal da Sicília foi evocado pelo presidente italiano, Sergio Manarelia, que estabeleceu um Paralelo entre o "aniversário da ocasião em que 800 perderam a vida e a tragédia" de ontem, e como "os dois casos nos devem fazer pensar" sobre o tratamento que a Europa está a dar à questão.
Críticas à União Europeia Escreve-se no relatório da AI que se escreve que os "Estados da União Europeia estão a exacerbar esta crise com o seu fracasso em atuarem de forma real para ajudar a realojar as dezenas de milhares" de pessoas queestão "encurraladas na Grécia".
AAI considera que se os dirigentes europeus não se decidirem a atuar "de forma rápida e urgente" para mudar as condições daqueles refugiados e migrantes, "estão a criar com a sua atuação uma calamidade humanitária".

Ainda segundo as informações da AI, das 66400 pessoas que desde setembro de 2015 deveriam ter sido recolocadas apenas 61 5 o foram até 12 de abril, de acordo com informações fornecidas a esta ONG pela Comissão Europeia.

O relatório da Al recolhe testemunhos de inúmeros refugiados que transmitem uma imagem eloquente da realidade desoladora que se vive nas instalações, a grande maioria improvisadas e sem quaisquer condições. "Dormimos no chão; as mantas estão molhadas.
Não há casas de banho. Por tudo isto, as pessoas estão a adoecer", diz uma mulher síria em Idomeni.

AAI recenseou 31 destes campos, e, por exemplo, num deles, no porto de Pireu, passaram três mil a cinco mil pessoas entre o início de fevereiro e 13 de março do ano corrente, quando a missão desta ONG esteve no local.

Com o fecho da fronteira da Macedónia (Fyrom) e consequente encerramento da chamada "estrada dos Balcãs", os migrantes estão de novo a dirigir-se para Itália. Os números mais recentes ontem divulgados pela agência de fronteiras da UE, Frontex, o número de chegadas em março às costas italianas foram de 9600 migrantes, o dobro do verificado em fevereiro. Em relação a período homólogo do ano anterior, o aumento é ainda mais evidente. Em março de 2015 chegaram a Itália, via Mediterrâneo, 2283 migrantes. Então, como neste ano, a TRAVESSIA 9600 Migrantes Número de pessoas que chegaram a Itália em março, o dobro do verificado em fevereiro. Em março de 2015 tinham sido apenas 2283.
22900 Pessoas Entradas na Grécia nos primeiros 20 dias de março. Após fecho da fronteira com a Macedónia, o número caiu para 3500 até ao final do mês.

PRÉMIOS No ano que marca o 1002 aniversário dos Pulitzer, os prémios de excelência do jornalismo, a cobertura da crise de refugiados valeu ao departamento de fotografia da Reuters (juntamente com quatro fotógrafos do New York Times) a distinção de melhor trabalho de assuntos de última hora (na foto, uma imagem de outubro de 2015, captada pela agência norte-americana na ilha de Lesbos, Grécia). Outro destaque foi o prémio de serviço público da Associated Press sobre o uso de trabalho escravo na indústria da pesca no Sudeste da Ásia, bem como o atribuído à jornalista norte-americana Alissa R ubin, do New York Times, em reportagem internacional, pela voz dada V às mulheres afegãs.
maioria é proveniente de países como a Nigéria, Somália e Gâmbia.
Caso dos 108 africanos salvos no domingo ao largo da Líbia quando estava prestes a afundar-se o pneumático em que viajavam. O salvamento foi realizado por um navio da ONG SOS Méditerranée e, segundo esta organização, no início da viagem estavam a bordo 160 pessoas.
Evidência de que a travessia direta do Mediterrâneo está a sera via de escape para a Europa, os números da Frontex para a Grécia revelam que em março foram 26460 pessoas a chegar a este país-menos de metade do que no mês de fevereiro. A agência nota que esta diminuição está relacionada, além do fecho da "estrada dos Balcãs", com o início das patrulhas navais da NATO no mar Egeu e com a assinatura do acordo UE-Turquia, que prevê o retorno a este país daqueles que, aqui estando, tentem entrar no espaço europeu. Só para março, os números são eloquentes: 22900 chegadas nos primeiros 20 dias do mês e apenas 3500 nos últimos 11 dias.