12.4.16

Responsabilidade Social Empresarial na Europa

Marta Lopes, in "Oje"

A Responsabilidade Social Empresarial (RSE) nasceu e popularizou-se nos EUA com grandes empresas e magnatas a realizarem contributos para causas sociais. A Europa adotou esta prática muito mais tarde e com maior discrição. São, por isso, evidentes as diferenças entre os dois lados do Atlântico, nomeadamente em termos de linguagem, de orçamentos alocados à RSE e de maturidade empresarial. Apesar disso, nos últimos anos, o velho continente tem vindo a apostar no desenvolvimento e implementação de políticas de RSE recuperando o tempo perdido.
A Comissão Europeia (CE) tem sido a grande impulsionadora da RSE na Europa, sendo a sua iniciativa mais importante a publicação do Livro Verde “Promover um Quadro Europeu para a Responsabilidade Social das Empresas”, que reforça a base voluntária e alerta para a necessidade destas contribuírem para a promoção de uma sociedade mais justa e um ambiente mais limpo.

Neste Livro Verde distinguem-se duas dimensões de RSE: a interna e a externa.

No plano interno, destacam-se as práticas relacionadas com os trabalhadores - foco no investimento, no capital humano, na gestão de recursos humanos, na saúde, na segurança e na gestão da mudança - e nas práticas ambientalmente responsáveis - atividades relacionadas com a gestão dos recursos naturais e impacto ambiental. No plano externo, realça-se o envolvimento de todos os stakeholders com relevo para a temática das preocupações ambientais globais e o respeito pelos direitos humanos.

Em 2011, a CE reviu o seu conceito de RSE para uma visão mais simples e abrangente: “responsabilidade das empresas pelo seu impacto na sociedade”. Esta nova interpretação aproxima a Europa dos princípios reconhecidos internacionalmente para o âmbito da RSE, do conceito da OCDE, da ISO 26.000 e dos Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos das Nações Unidas. Um detalhe que passaria despercebido não fosse a primeira vez, em 10 anos, que a Comissão altera a sua definição, com o intuito de se adaptar às novas realidades, apelando às empresas para incorporarem a responsabilidade social nas suas estratégias de negócios, elaborando uma nova proposta legislativa relativa à comunicação e criando um prémio europeu.

Na vertente mais académica, a investigação tem mostrado diferenças acentuadas entre regiões fruto da legislação e da pressão dos stakeholders não existindo “um” modelo social na Europa mas diversos - anglo-saxónico, mediterrânico, central-europeu, escandinavo, nórdico, etc. É ainda evidente que os esforços para o desenvolvimento da RSE refletem as características estruturais e político-económicas, quer a nível nacional, quer internacional, e são afetados pelos sistemas e agendas nacionais dos diferentes países.

A investigação sugere que em Portugal as empresas têm uma forte preocupação externa da componente de RSE enquanto na Holanda o tema que dominante é a sustentabilidade. Na Finlândia o destaque vai para a importância da iniciativa por parte dos gestores de topo e na Alemanha as empresas assumem uma postura ambivalente no que diz respeito às iniciativas de RSE, devido às consequências das normas rígidas de regulamentação implantadas no país. No Reino Unido, os investidores que estão orientados para as questões de RSE são mais sensíveis às práticas explicitas e às políticas adotadas pelas empresas. No que diz respeito aos países nórdicos, a existência de um estado social forte é uma vantagem para o desempenho de RSE resultando numa alta integração corporativista.

Apesar de todos os esforços (meritórios), os dados mostram que a RSE está diretamente ligada ao desenvolvimento económico de um país, ou seja, quanto mais desenvolvido, maior a incidência de políticas na área de RSE.

Esta evidência também é realçada na Europa em que os países com índices de desenvolvimento superior são os que apresentam práticas mais consistentes e, essencialmente, são os que estão menos dependentes da pressão legislativa.