In "Esquerda"
No Encontro Nacional da rede Anti-Pobreza, o investigador Carlos Farinha Rodrigues contrariou a ideia de que foi a classe média a ver mais reduzido o seu rendimento nos últimos anos. Os números disponíveis mostram que os 10% mais pobres perderam 24% do rendimento.
Entre 2009 e 2013, “o rendimento dos 10% mais ricos desceu 8%. Quando analisámos a quebra do rendimento dos 10% mais pobres verificámos que desceu 24%”, revela o especialista do ISEG em estudos sobre pobreza em declarações à TSF.
Apesar de ser comum a ideia de que foi a classe média a perder mais nos anos da troika, com cortes salariais e aumento de impostos, enquanto os mais pobres estariam mais protegidos dos sacrifícios, a realidade desmente a propaganda do processo de ajustamento português. Os cortes nas prestações sociais levaram à queda acentuada do rendimento dos que já tinham muito pouco, conclui Farinha Rodrigues.
"O balanço social deste processo de ajustamento é, quase que poderíamos dizer, trágico. Regredimos em termos de indicadores de pobreza e exclusão social praticamente para o ínicio do século”, acrescenta o investigador do ISEG, que alerta para o agravamento da taxa de pobreza, apoiando-se nos números disponíveis.
A Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN) em Portugal esteve reunida em Santarém e à saída do encontro a diretora executiva falou à Rádio Renascença sobre os contactos mantidos com o atual governo. Sandra Araújo diz ter encontrado “abertura a um trabalho de parceria efectivo”, além de “muita sensibilidade para a necessidade de uma estratégia nacional” de combate à pobreza.
A EAPN Portugal também desafiou a Assembleia da República a assumir o combate à pobreza como prioridade e a avaliar anualmente “as políticas públicas com impacto na pobreza e na exclusão social”. Esta rede vai organizar uma petição pública por uma estratégia nacional de combate à pobreza.
“O objectivo é mobilizar toda a sociedade, todos os cidadãos e instituições, para os sensibilizar para a importância de Portugal construir uma estratégia integrada de combate à pobreza e o que isso implica na mudança das políticas e na nossa forma de estar enquanto cidadãos”, afirmou Sandra Araújo à Rádio Renascença.