Agência Lusa, in Diário as Beiras
A Universidade de Coimbra (UC) coordena um projeto que visa aprofundar a compreensão da relação entre desigualdades socioespaciais e a vida das pessoas com demência e os seus cuidadores informais, revelou hoje aquela instituição de ensino superior.
O projeto denominado “SINDIA: Desigualdades socioespaciais na demência”, em curso até 2026, vai “identificar e examinar, em todo o país”, a forma como o lugar de residência impacta a qualidade de vida e a trajetória da demência, através do trabalho junto de pessoas diagnosticadas com esta condição de saúde, seus cuidadores e associações que lhes prestam apoio.
“A demência afeta as pessoas de diferentes formas, em função de muitos fatores. As características individuais, familiares, socioprofissionais e socioespaciais, por exemplo, podem influenciar a qualidade de vida e a progressão da demência”, disse Miguel Padeiro, docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), investigador do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT) da UC e coordenador do projeto.
Nesse sentido, “as desigualdades que afetam as pessoas com demência não são apenas sociais, são também espaciais: as características do local onde vivem (com mais ou menos espaços verdes, trânsito, poluição ou tratamento do espaço público) e o acesso aos recursos e oportunidades que o lugar proporciona também influenciam a trajetória da demência, a qualidade de vida das pessoas que vivem com a doença e dos seus cuidadores informais”, acrescentou.
Apesar de existir evidência científica que “comprova o impacto das condições do local de residência na qualidade de vida”, Miguel Padeiro referiu que a combinação dos vários mecanismos que influenciam este impacto “não foram suficientemente reconhecidos até ao momento”.
Por isso, esta investigação pretende aprofundar o conhecimento sobre esses fatores e os seus impactos, de modo a contribuir para a “promoção de medidas, políticas e estratégias voltadas para a redução das desigualdades em saúde entre populações e entre territórios”.
O projeto, que vai envolver profissionais das áreas da geografia, psicologia, gerontologia, economia e ciências da saúde, tratará de fazer um levantamento das respostas existentes no país, tanto para a pessoa com diagnóstico de demência como para os cuidadores informais.
Esta análise vai decorrer junto de várias instituições que dão respostas nesta área, avaliando os serviços prestados e as necessidades não satisfeitas, sendo que as pessoas com demência e seus cuidadores vão ser também inquiridos.
Todas as pessoas que pretendam participar no estudo podem manifestar o seu interesse através do ‘site’ do projeto, em www.sindiaproject.org/participe.html.
“A ciência tem-nos mostrado que é possível e desejável construir o conhecimento com o envolvimento das pessoas com demência e não de forma distanciada e, neste projeto, as pessoas e seus cuidadores vão participar no desenho dos inquéritos e entrevistas, para que a sua voz possa ser mais audível”, afirmou Miguel Padeiro.
O docente da UC acrescentou que, com os resultados que pretende alcançar ao longo dos três anos de desenvolvimento do projeto, a equipa de investigação vai procurar “esclarecer e sensibilizar os cidadãos, os técnicos das diversas áreas que lidam com a demência e os decisores políticos sobre a existência de desigualdades e vulnerabilidades que podem piorar o percurso da pessoa com demência e de quem dela cuida”.
O “SINDIA: Desigualdades socioespaciais na demência” é financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e é coordenado pela docente da FLUC e investigadora do CEGOT, Paula Santana.
O projeto conta com a participação do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde da Universidade de Aveiro, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, da Universidade de Liverpool, da Universidade de Lancaster, da Associação Alzheimer Portugal e da Associação Nacional de Apoio ao Idoso.
A Associação Nacional de Cuidadores Informais, a Associação de Apoio a Cuidadores de Pessoas Dependentes, a Câmara Municipal de Ílhavo, a Rede Portuguesa de Municípios Saudáveis, assim como o EC2U – Campus Europeu de Cidades Universitárias, através do Instituto Virtual Saúde e Bem-Estar, participam também no estudo.