Aos 24 anos, Magda Mendes é responsável por um projeto que pretende contribuir para um envelhecer vivido com mais qualidade de vida. Além de promover a atividade física e a estimulação cognitiva, a gerontóloga foca-se no trabalho das emoções. Tudo porque as pessoas não têm de ser “aquilo que a sociedade espera do que é ser velho”
Naquele momento ainda não tinha certezas sobre o caminho que iria seguir, mas agora sabe que a semente esteve ali: quando fez voluntariado com idosos – tinha apenas 15 anos – na Casa de Saúde Rainha Santa Isabel, em Condeixa-a-Nova, vila onde reside. Agora com 24, Magda Mendes é já gerontóloga e criadora do projeto CAF - Cuidar com Amor & Felicidade, cujo objetivo é contribuir para um envelhecimento com mais saúde, autonomia e dignidade.
“A missão e o propósito da CAF é ir ao encontro das pessoas idosas, à procura das necessidades e evitar um dos maiores medos, que é a institucionalização. Ao encontrar os pontos mais fracos, torná-los em pontos fortes através de intervenções não farmacológicas”, explica Magda em conversa com o Expresso.
Depois da licenciatura em Gerontologia Social na Escola Superior de Educação de Coimbra e do respetivo estágio, o projeto da jovem nasceu em 2022, com o apoio da Microninho – incubadora social que, através da promoção do empreendedorismo e da inovação, quer contribuir para um desenvolvimento local sustentável. Além de colocar a ideia em prática, a parceria ajuda a trabalhar o que distingue o projeto e a forma como “pode ser sustentável a longo prazo”.
Apesar de se destinar a pessoas a partir dos 60, 65 anos, se alguém estiver interessado e for mais novo, tal não representa um impedimento – é, até, algo que já aconteceu. “Sou apologista de que quanto mais cedo prevenirmos, melhor. Não esperar que a pessoa já precise dessa ajuda, mas prevenir que se chegue a um estado mais agravado.”
São cinco os serviços disponibilizados: consulta gerontológica, movicorpo, ligações brilhantes, sentir com alma e reaprender com emoção. A “base” é a consulta, em que se realiza a “avaliação multidimensional” da pessoa. A partir daí, traça-se “um plano de intervenção e um plano individual de cuidados”, conforme as necessidades.
Por exemplo, no caso de ter ocorrido uma queda e ser preciso recuperar o equilíbrio, o movicorpo será opção – trata-se de um “leque de atividades” preparado para ajudar a melhorar os “movimentos do dia a dia”. Já nas ligações brilhantes, o foco está na estimulação cognitiva, ao “trabalhar o cálculo, a memória, a linguagem e a atenção” através de jogos, contribuindo para o desempenho das tarefas do quotidiano.
Para sentir com alma, Magda centra-se no estímulo dos cinco sentidos. No caso da audição, ouvir uma música ou os sons num jardim, de olhos fechados, e abordar o que se sente, é umas das técnicas praticadas. “Aqui também entra a questão da psicologia positiva, de abrandar os pensamentos. O que vou proporcionar é um sentimento de bem-estar.”
Enquanto estes serviços são pensados a nível individual, reaprender com emoção é desenvolvido em grupo. Em associações ou estruturas dedicadas a idosos, a gerontóloga dinamiza um conjunto de 14 sessões, com cerca de uma hora, para “trabalhar as emoções e uma visão holística da vida, menos tóxica, com mais vibrações positivas”.
“O passo primordial é a aceitação de que não somos jovens para sempre. Se aceitamos que vamos envelhecer, temos a oportunidade de sonhar com o nosso envelhecimento.”
A questão das emoções é, aliás, uma das chaves do trabalho de Magda – que defende que é determinante, antes de mais, a forma como se encara o envelhecimento. “O passo primordial é a aceitação de que não somos jovens para sempre. Se aceitamos que vamos envelhecer, temos a oportunidade de sonhar com o nosso envelhecimento. Sonhar de que forma é que vamos querer vivenciar essa parte da nossa vida e não ir ao encontro dos cenários que vemos hoje em dia, em que uma pessoa idosa é vista como alguém limitado ou que tem uma série de doenças.”
Contribuir para a possibilidade de viver com maior qualidade de vida e “querer fazer a diferença” estão entre as principais motivações. “Sentir que estou a conseguir ajudá-los não a sobreviver, mas a viver. A serem eles mesmos e não aquilo que a sociedade espera deles e do que é ser velho”, resume. E há mais uma parte especial: ouvir as histórias e ver os sorrisos nos rostos. “A pessoa torna-se mais frágil, mais vulnerável, e deixa de ser ouvida. Mas podemos aprender tanto com eles.”