27.3.23

Vila sem lar de idosos. Associação quer trazer para Portugal projeto espanhol

Por Lusa, in DN

Um projeto de apoio ao envelhecimento saudável em curso desde 2011 em Pescueza, Espanha, apresentado na sexta-feira no Porto, vai ser recomendado ao Governo português, revelou esta segunda-feira à Lusa a presidente da Associação Nacional de Gerontólogos.

Com menos de 200 habitantes, a pequena vila espanhola saiu do anonimato em 2011, depois de dois anos a trabalhar a ideia de criar um melhor apoio para os idosos, assim nascendo a Associação Amigos de Pescueza, relatou Constancio Martin, no 7.º Encontro Nacional de Estudantes de Gerontologia e Gerontólogos, que decorreu na quinta e na sexta-feira no Porto.

Criada a parceria com o município situado na província da Extremadura, a pouco mais de 100 quilómetros de Castelo Branco, nasceu o Centro de Dia Municipal e com ele "deu-se de imediato a conversão do serviço de apoio domiciliário, que passou a ser prestado pelo centro, primeiro para cerca de seis pessoas", num projeto virado "para servir as pessoas nas suas casas, no seu meio, e não para as institucionalizar", precisou.

O projeto assenta em quatro objetivos: trabalhar para que nenhum idoso tenha de abandonar a vila por falta de cuidados, sem renunciar ao exercício pleno da sua cidadania, sem prejuízo de direitos e obrigações por viver no meio rural, gerar e propor estratégias, alianças e políticas de intervenção favoráveis ao envelhecimento ativo e saudável, criar ambientes amigáveis e inclusivos com todas as pessoas durante todo o ciclo de vida e independentemente das suas circunstâncias e reativar a participação social dos idosos e colocá-los na agenda pública, social, política e económica.

Hoje em dia, assinalou o presidente, a associação tem "100 associados entre os cerca de 150, incluindo crianças, habitantes da vila".

Já Pescueza passou a ser conhecida em Espanha como a "vila sem lares", onde "as pessoas podem entrar e sair no nosso centro de dia sempre que quiserem, [pois] não funciona como um depósito de idosos", frisou Constancio Martin.

Sublinhando que "a lição" é, sem pressas, "responder às necessidades sentidas, sem deixar de ter objetivos amplos, antecipando novos cenários", o dirigente garantiu trabalharem "para converter as vilas num espaço onde viver e envelhecer seja uma opção voluntária ou de rebeldia, mas nunca uma resignação".

Em declarações à Lusa, a presidente da Associação Nacional de Gerontólogos, Filipa Luz, considerou que o projeto apresentado no âmbito do I Congresso Internacional de Gerontologia "pode vir a ser replicado em Portugal" e que integrará o conjunto de sugestões no "memorando" que estão a preparar com as "conclusões do congresso para enviar ao Governo".

Para além disso, e dado o caráter municipal do projeto em Pescueza, Filipa Luz mencionou que "vários municípios portugueses estiveram no congresso convidados pela associação e que, certamente, tomaram boa nota do exemplo apresentado".

"O seu interesse pelo envelhecimento saudável certamente enriqueceu com esta partilha", disse a especialista.

Filipa Melo, vice-presidente da Domus Social, empresa municipal que gere a habitação social no Porto, falou sobre as residências sénior partilhadas, projeto onde intervêm como entidades parceiras, para além do município, uma junta de freguesia e uma instituição particular de solidariedade social (IPSS).

Atualmente, descreveu, "existem oito residências partilhadas que albergam 20 pessoas com idades entre os 60 e 90 anos", variando a tipologia entre o T2 e o T3, "não tendo os residentes qualquer encargo".

"Nestas habitações, só o quarto é privado", assinalou Filipa Melo, informando que a "higienização das casas e das roupas está a cargo da IPSS parceira".

Desde que o projeto se iniciou, há seis anos, "já foram apoiados 25 idosos", sendo que "nenhum aceitou mudar para outra habitação, em regime normal, assim que o seu número na lista de espera foi atendido".

Para o futuro, desvendou Filipa Melo, o município quer criar "uma residência partilhada de maior dimensão e, posteriormente, uma 'co-housing' de raiz, completamente integrada e com parceiros nas áreas da saúde, sociais e de habitação", projeto que gerou uma "candidatura da Área Metropolitana do Porto ao Plano de Recuperação e Resiliência".

"Esperamos no próximo ano ter novidades", concluiu a responsável da Domus Social.