28.3.23

Acesso à habitação mais difícil: preços das casas sobem 38% desde 2019 e rendimento das famílias apenas 9%

 Helder C. Martins, in Expresso

Estudo da Century 21 conclui que acesso à habitação é mais crítico em Lisboa, com taxa de esforço de 67%, no Porto, com 50%, e em Faro, com 39%

Comprar casa é cada vez mais difícil para os portugueses, cujo poder de compra caiu 9% entre 2019 e 2022, enquanto o preço médio das casas aumentou 38% no mesmo período. Esta é uma das conclusões do estudo “Acessibilidade à Habitação em Portugal”, realizado pela consultora Century 21 Portugal, que salienta que a situação é mais gravosa em Lisboa, seguida pelo Porto.

Nas duas principais cidades do país, as famílias enfrentam taxas de esforço face ao rendimento disponível muito superiores aos 40%, limite de referência dos bancos para a renegociação de créditos.

O exemplo de base do estudo é um apartamento com 90 metros quadrados de área, com 85% de recurso ao crédito com uma maturidade de 30 anos.

O estudo compara ainda os rendimentos líquidos médios anuais por família e os custos de acesso à habitação em 40 municípios nacionais, incluindo as capitais de distrito.

Os dados referentes ao rendimento das famílias são baseados nas declarações de rendimento fiscal analisadas pelo INE, enquanto os valores para a habitação vêm da Confidencial Imobiliário.

COMPRAR CASA EM LISBOA EXIGE TAXA DE ESFORÇO DE 67%

Segundo a Century 21, em Lisboa, um empréstimo para a compra de casa exige uma taxa de esforço de 67%, e no Porto de 50% (ver gráficos). Já em Faro é ligeiramente mais baixa, a atingir os 39%. Com a exceção das capitais de distrito das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto e no Algarve, nas restantes capitais de distrito este indicador é de 30% ou inferior, com grande parte das cidades a situar o esforço para aquisição no patamar dos 20%. A Guarda, com 13% de taxa de esforço, é onde é mais fácil pagar a casa.

“Nos últimos três anos, a taxa de esforço associada à compra de habitação agravou-se em todas capitais de distrito, mas apenas em Faro e no Porto esse aumento significou perda de acessibilidade à habitação, através de aquisição”, salientam os autores do estudo.

Porém, mesmo nas cidades onde a compra continuou a exigir uma taxa de esforço abaixo do aconselhado registou-se um aumento. De tal forma que, se em 2019 eram 15 as capitais de distrito onde comprar uma casa de 90 m2 consumia 20% ou menos do orçamento, atualmente só seis estão nesse patamar, concluem os autores do estudo.

ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA COM 43% DA OFERTA ACIMA DOS 330 MIL EUROS

Já quanto ao tipo de oferta de imóveis existente ajustado às famílias de acordo com o seu escalão de IRS, Ricardo Sousa, administrador da Century 21 Portugal salienta que na Área Metropolitana de Lisboa (AML) 43% das habitações em venda têm níveis médios de preço superiores a 330 mil euros, quando apenas 14% das famílias conseguirá responder a esse nível aquisitivo”.

O administrador da Century 21 Portugal acrescenta que na AML 55% das famílias inserem-se na classe média, ao passo que apenas 33% da oferta se adequa ao nível de rendimento dessa classe.

“Já na Área Metropolitana do Porto (AMP), a classe média agrega 61% das famílias, que dispõem apenas de 41% da oferta de imóveis nesse nível de rendimento, novamente, com uma grande parte dos imóveis para venda (28%) a direcionar-se para o público com maior capacidade financeira, mas que representa a menor fatia dos agregados familiares (11%)”, acrescenta.

MAIS 25 MIL EUROS PARA COMPRAR A MESMA CASA

A evolução do mercado nos últimos três anos põe a descoberto maiores dificuldades no acesso à habitação, com as famílias de Lisboa, Porto e Faro a ficarem ainda mais longe da compra.

Em termos de preços, nota a Century 21, nas capitais de distrito, o valor de um apartamento de 90m2 varia entre os 375.480 euros em Lisboa e os 59.040 na Guarda, enquanto a média nacional é de 152.159 euros. Já no Porto, os imóveis apresentam preços médios em torno de de 250 mil euros. No Algarve, há alguns concelhos com preços acima dos 200 mil euros.

As principais valorizações nos últimos três anos foram registadas em Aveiro, Braga e Setúbal, enquanto Guarda, Portalegre e Bragança tiveram as menores variações no custo das casas. Porém “em termos absolutos, comprar atualmente 90 m2 exige pelo menos mais 25.000 euros do que há três anos, na grande maioria das cidades”.