Joana Pereira Bastos e Raquel Albuquerque, in Expresso
Cerca de metade das famílias (44%) assumem já ter dificuldade em pôr comida na mesa e em pagar a renda ou a prestação da casa, segundo o barómetro anual sobre a capacidade financeira dos portugueses realizado pela DECO e divulgado esta quarta-feira.
De acordo com o inquérito, foi nos custos com a alimentação e com a habitação que mais se agravaram as dificuldades económicas dos agregados familiares no último ano.
No que diz respeito à alimentação, mercearias, carne, peixe, vegetais e frutas são os produtos que os consumidores têm cada vez mais dificuldade em pôr na mesa, com mais de metade das famílias a admitir que a subida do preço constitui um entrave à sua compra regular.
O COMBUSTÍVEL
Além da alimentação e da habitação, as principais parcelas que os consumidores dizem ter gerado mais constrangimentos na sua gestão orçamental são as despesas com o carro, nomeadamente combustível, manutenção e seguros (67%), as férias (57%), cuidados dentários (55%) e custos de manutenção da casa (54%).
No geral, cerca de três quartos das famílias (74%) enfrentam mensalmente dificuldades financeiras e 8% encontra-se mesmo em situação crítica, estando em risco de já não conseguir assegurar todas as despesas essenciais.
De acordo com a DECO, o índice que mede a capacidade financeira das famílias atingiu no ano passado o valor mais baixo dos últimos cinco anos: 42,1 numa escala de 0 a 100, em que o zero representa a total incapacidade de pagar as despesas mensais.
A GEOGRAFIA
Em termos geográficos, é nos Açores que o índice é mais baixo (37,2), seguindo-se os distritos de Vila Real (38) e Aveiro (39,4). Já o distrito de Coimbra (47,1) e a Região Autónoma da Madeira (45,1) são as regiões onde o índice apresenta melhores resultados.
As crescentes dificuldades económicas têm um impacto direto na capacidade de poupança das famílias. Segundo o barómetro, quase 75% afirmam que é impossível ou quase impossível poupar algum dinheiro ao fim do mês, mesmo uma pequena quantia.
“Estamos perante um cenário pouco animador para as famílias portuguesas. A incerteza da duração da guerra e os seus efeitos, a ausência de medidas que protejam os consumidores e a crise financeira que vem asfixiando a classe média na última década fazem antever uma evolução pouco auspiciosa da qualidade de vida em Portugal”, sublinha, em comunicado, a diretora de Comunicação e Relações Institucionais da DECO/Proteste, Rita Rodrigues.