Isabel Vicente, in Expresso
Governador do Banco de Portugal afirma que, no final de 2022, para metade das famílias com crédito à habitação, o rendimento disponível era “suficiente para fazer face às prestações do crédito à habitação”. E que "só 12,3% das famílias têm taxas de esforço superiores a 36%”
O Governador do Banco de Portugal está atento à evolução dos juros no crédito à habitação, mas não está alarmado. Os salários médios estão a crescer 18% desde o início da pandemia, mais de metade dos proprietários apenas gastava, no final de 2022, 15,5% do rendimento no empréstimo para a casa e a grande maioria tem taxas de esforço comportáveis.
Mário Centeno, que responde aos deputados na Comissão de Orçamento e Finanças, é assertivo ao dizer que os números que levou são a “realidade”. Ou seja, no final de 2022 não se antevia problemas de incumprimento no pagamento das prestações das famílias no crédito à habitação.
Centeno sublinha que há casos problemáticos que terão de ser acompanhados pelos bancos, mas também diz que “apenas 12,3% das famílias tem taxas de esforço superiores a 36%”. "Para três quartos das famílias, a taxa de esforço é inferior a 25% do rendimento anual”, e “para famílias em que o empréstimo tem dois mutuários (71% do total), a taxa de esforço reduz-se para 14%”.
Para os deputados, os números de Centeno são otimistas, porque à luz dos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) existirá uma perda de poder compra em torno dos 4% em 2023.
EURIBOR A TRÊS E SEIS MESES COM PICO EM AGOSTO
O governador do Banco de Portugal alerta ainda para a factualidade dos números, referindo que deve ter-se em conta que as famílias que têm a Euribor indexada a 3 e 6 meses já viram os os juros subir nos seus créditos enquanto as que têm os seus créditos indexados á Euribor a 12 meses podem não ter tido ainda o aumento da prestação, pelo que qualquer levantamento global ainda não pode ser feito.
E dá estatísticas que apresentou no inicio da sua audição sobre a utilização das famílias nos respetivos indexantes da Euribor“: 40% utiliza Euribor a 6 meses, 30% a 3 meses e 30% a 12 meses”. “Todos os contratos a 3 e 6 meses já sofreram alguma atualização”, mas a "12 meses apenas metade já contou com uma atualização.
Mais, continuando otimista e confiante Centeno diz que “75% dos contratos que utilizam a Euribor a 3 meses têm um indexante inferior ao indexante utilizado no contrato inicial” e que para a “Euribor a 6 meses esta percentagem é de 69%”. Já para a “Euribor a 12 meses a percentagem com indexante inferior ao utilizado no contrato inicial é de 34%”.
O governador do Banco de Portugal esclarece ainda que os dados que tem indicam que “a Euribor a 3 e 6 meses atingirão o seu pico em agosto, mas a Euribor a 12 meses já atingiu o seu pico em fevereiro e até já está a descer em março”.
Mário Centeno esteve esta terça-feira no Parlamento para falar sobre a atuação do sector bancário na comercialização ou pedidos de renegociação de crédito habitação e também sobre o desajustamento dos juros nos depósitos a prazo face às condições de mercado, de subida das taxas de juro.
Sobre a subida das taxas nos depósitos, Centeno justifica o que já disse várias vezes: “as taxas têm estado a evoluir positivamente, ainda é insuficiente mas tenho confiança que vai continuar”.
Uma tema que acaba sempre na argumentação de que os bancos têm excesso de liquidez e como tal não têm interesse em captar mais liquidez nem pagar pelos depósitos, e por isso o que tem acontecido nos últimos meses passa especialmente pela oferta de taxas de juros promocionais.
Mário Centeno foi bastante criticado pelo facto de dizer que o as remunerações do trabalho subido em 2022 e pelo facto de ter dito que “o salário médios dos trabalhadores que mudaram de emprego em 2022 cresceu 15%”.
Centeno socorre-se ainda da elevada taxa de emprego. E contrapões as criticas referindo que “não podemos continuar a usar dados que não correspondem à realidade, com todo o mérito dos dados que a Deco possa trazer”.