Sérgio Aníbal, in Público
Alimentos e bebidas não alcoólicas contribuiram com 58,1% da taxa de inflação homóloga de Março. Em Abril, há motivos para acreditar numa melhoria destes indicadores.
Entre Fevereiro e Março, das oito categorias de alimentos utilizadas pelo INE para o cálculo da inflação, apenas numa se registou uma descida dos preços. Esta tendência contínua de pressão nos custos suportados pelos consumidores já faz com que os bens alimentares contribuam para 58% do total da taxa de inflação homóloga registada no país.
Esta quinta-feira, o Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmou que os preços dos bens e serviços em Portugal aumentaram 1,7% em Março e que a taxa de inflação homóloga diminuiu de 8,3% em Fevereiro para 7,4% em Março.
Uma parte substancial desta descida na taxa de inflação homóloga deve-se ao efeito base: a comparação passou a ser feita com o nível de preços registado em Março de 2022, já com o efeito da subida registada logo no arranque da guerra na Ucrânia.
Mas a verdade é que, mês após mês, os preços não deixaram ainda de registar uma tendência constante de subida e isso é particularmente evidente no que diz respeito aos bens alimentares.
De acordo com os dados do INE, os preços dos bens alimentares, embora a variação homóloga tenha descido de 21,9% para 20%, voltaram a subir durante o mês de Março, mais 1%. E o agravamento de preços foi uma realidade em quase todas as as categorias de alimentos.
Entre as oito categorias de alimentos apresentadas pelo INE, apenas no caso dos óleos e gorduras se registou em Março uma descida de preços face ao mês anterior, de 0,6%. Neste caso, a variação dos preços face ao mesmo mês do ano passado recuou significativamente, de 35% em Fevereiro para 17,4% em Março, um resultado que se explica principalmente devido ao forte efeito base que se verifica nestes bens (os óleos vegetais foram uma das categorias de produtos com maiores subidas de preços logo no início da guerra).
No pólo oposto, os produtos hortícolas foram, entre os bens alimentares, aqueles onde os preços mais subiram durante o mês de Março, com uma variação de 3,1%. No peixe, a subida foi de 1,5% e na carne, leite, queijo e ovos de 1%.
Ao contrário do que acontece com os bens energéticos, que têm vindo a registar uma tendência geral de descida – e que, nalguns casos, como o dos combustíveis para transporte automóvel, estão neste momento 15,4% mais baixos do que em Março do ano passado –, os bens alimentares continuam assim a contribuir decisivamente para a manutenção de uma taxa de inflação alta no país.
De facto, os números publicados pelo INE revelam que os bens alimentares e as bebidas não alcoólicas contribuem, em Março, tal como já tinha acontecido em Fevereiro, para mais de metade da taxa de inflação homóloga, com este contributo a aumentar a cada mês que passa. Desta vez, 58,1% da taxa de inflação homóloga de 7,4% deveu-se aos alimentos e bebidas não alcoólicas.
Melhoria provável em Abril
Há algumas razões para esperar que, em Abril, alguns destes indicadores de preços nos alimentos registem uma melhoria.
A primeira é a entrada em vigor, agendada para a próxima semana, da eliminação temporária do IVA dos bens alimentares classificados como essenciais. Se o acordo assinado entre Governo, retalhistas e produtores trouxer os resultados pretendidos, poder-se-á assistir a uma maior contenção na evolução dos preços dos alimentos que já há mais de um ano registam variações mensais positivas.
Para além disso, no que diz respeito aos bens alimentares, o efeito base positivo que já se verificou na inflação homóloga do mês de Março poderá ser ainda mais notório no mês de Abril. De facto, quando a guerra na Ucrânia estava no seu início, o mês em que os preços dos bens alimentares não transformados mais subiram foi o de Abril, com uma inflação mensal de 4,3%. Em Fevereiro de 2022 tinha sido de 0,1% e em Março de 2,2%.
Deste modo, torna-se bastante provável que, no mês em que a medida de redução do IVA entra em vigor se assista, pelo menos, a uma queda importante da taxa de inflação homóloga nos alimentos, com um impacto também significativo na inflação homóloga total.