Rui Peres Jorge, in Jornal de Negócios
A ordem económica que vigorou até agora não era grande coisa , sendo marcada por desigualdades crescentes, problemas de sustentabilidade financeira e ineficiências no processo de adaptação à globalização económica e financeira, defendeu hoje Alberto de Castro, professor da Universidade Católica do Porto.
A ordem económica que vigorou até agora “não era grande coisa”, sendo marcada por desigualdades crescentes, problemas de sustentabilidade financeira e ineficiências no processo de adaptação à globalização económica e financeira, defendeu hoje Alberto de Castro, professor da Universidade Católica do Porto.
Alberto de Castro falou hoje no III congresso da Ordem dos Economistas após João César das Neves – que defendeu que a crise foi um detalhe, tendo preferido salientar as evoluções das últimas décadas em termos maiores de taxas de crescimento em várias economias do mundo e de redução na taxa de pobreza –, deixando uma reposta ao seu antecessor: “É verdade que houve uma redução da pobreza no mundo [nas últimas décadas], mas o diabo está nos detalhes”
E que detalhes são estes? Castro deu dois exemplos: o forte aumento da desigualdade entre ricos e pobres do mundo – em 1980 o rendimento dos 1% mais ricos do mundo equivalia ao dos 50% mais pobres, hoje equivale a 78% -, o surgimento de um “quarto mundo”, ou seja , de muitos pobres nas economias ricas.
O professor concedeu a César das Neves na avaliação de que “a actual crise pode não ter sido assim tão importante", mas salientou que "fez, pelo menos, uma coisa boa: evidenciou a importância de mudarmos algumas coisas na ordem económica que vigorou”. “É que o que tínhamos não era grande coisa”, vincou.
Castro considera que o resultado mais imediato da crise será “termos um mundo mais Europeu”, com mais desemprego, mais protecção social e mais Estado, mais défices e mais regulação. Mas se este é um caminho que parece inevitável, deve ser percorrido com cuidado, avisou.
O professor defendeu assim um processo de mudança gradual e pragmática do mundo, em que não se tente mudar tudo de uma vez, nem se tente regular tudo de uma vez. A favor de um “gradualismo pragmático de reforma, sem demasiada regulação e reconhecendo a diversidade de pessoas”, o professor argumentou que: “A ordem económica que existia não era adequada, mas é preciso ter em linha de conta soluções que permitam um espaço para todos”.
“A melhor forma de perder [os benefícios] da globalização é levá-la a extremos”, disse, referindo-se ao liberalismo que vigorou nos últimos anos, mas também ao risco de agora, em reacção, se procurarem implementar regras demasiado rígidas e que não considerem as diferenças entre países, defendeu.