Por Andreia Sanches, em Bruxelas, in Jornal Público
Estudo revela que 17 por cento dos inquiridos em Portugal tiveram dificuldades em suportar despesas básicas nos últimos 12 meses
Acha que existe o risco (alto ou moderado) de nos próximos 12 meses não conseguir pagar as contas normais e a alimentação? Um em cada três portugueses acredita que sim. Um em cada dez considera até que é de algum modo possível ter de abandonar a casa onde vive. E 20 por cento confessam que não estão muito confiantes na manutenção do emprego que têm. Quase seis por cento vão mais longe: não estão nada confiantes; acham mesmo que vão deixar de ter trabalho no próximo ano.
Não são só os portugueses que temem o futuro próximo. A crise económica e as elevadas taxas de desemprego estão a deixar os europeus assustados: 18 por cento dos inquiridos nos 27 Estados-membros acham que existe o perigo de, em breve, ficar sem trabalho.
Os homens e os jovens são, regra geral, mais optimistas quando convidados a olhar para o futuro das finanças das suas famílias. E os cidadãos da Dinamarca, Itália, Suécia e Roménia estão entre os que mais acreditam que, na verdade, neste ponto, as coisas até podem melhorar.
Os dados constam de um relatório ontem divulgado em Bruxelas durante uma conferência europeia sobre pobreza e exclusão social. E dão conta das grandes conclusões de um Eurobarómetro baseado em 25 mil entrevistas realizadas em Julho na União Europeia.
O objectivo é medir o impacto da crise nas percepções das pessoas sobre a sua situação financeira, sobre as expectativas que têm em relação ao futuro e sobre as dificuldades reais que já sentem no dia-a-dia.
"Há grandes diferenças de país para país", disse Robert Manchin, o especialista em sondagens que apresentou os dados do novo relatório (o segundo divulgado esta semana sobre pobreza).
Mas "26 por cento dos europeus acham que a sua situação financeira vai piorar nos próximos 12 meses". E mais de 70 por cento dizem que a pobreza tem vindo a aumentar no país onde vivem.
Ficar sem dinheiro
Numa Europa onde a taxa de risco de pobreza é de 16 por cento (18 por cento em Portugal), o presente já é, para alguns, mais difícil: 11,4 por cento afirmaram, por exemplo, que se tornou, nos últimos seis meses, muito mais complicado suportar os cuidados de saúde. E ao longo do último ano, 18 por cento tiveram a experiência de ficar sem dinheiro para pagar despesas básicas. São os adultos entre os 25 e os 39 anos que relatam ter tido mais dificuldades.
Em Portugal, as respostas são mais preocupantes: um em cada quatro diz que se tornou muito mais difícil pagar os serviços de saúde (os seus e os dos seus familiares); e 16,6 por cento declaram ter tido dificuldades em fazer face às despesas normais, incluindo alimentação.
Os gastos com os serviços de apoio à infância também parecem mais pesados para algumas famílias (sete por cento dos inquiridos).
O Eurobarómetro procurou, por fim, saber como vêem os europeus a sua velhice. Perguntando-lhes, por exemplo, se estão preocupados com a sua situação financeira quando chegarem à terceira idade. Em dez países, os níveis de preocupação não são muito elevados.
É na Dinamarca que a questão "não ter dinheiro suficiente na velhice para viver com dignidade" menos se coloca. Em Portugal, 23 por cento dos inquiridos disseram estar "muito preocupados". Em média, na União Europeia, 14 por cento dos inquiridos deram a mesma resposta.