23.10.09

Famílias recuperam parte da riqueza perdida na crise

Por Sérgio Aníbal, in Jornal Público

A riqueza dos portugueses, depois de ter sofrido uma quebra provocada pela crise financeira, voltou, durante o segundo trimestre deste a ano, a registar uma recuperação.

Os dados das contas financeiras dos portugueses ontem actualizados pelo Banco de Portugal indicam que os activos financeiros líquidos detidos pelos particulares ascendiam, no final do passado mês de Junho, a 208,4 mil milhões de euros, o que representa uma subida face aos 203,5 mil milhões que se tinham registado em Março. Interrompe-se, assim, a sequência de descidas deste indicador que se prolongava já por cinco trimestres, ou seja, desde os primeiros meses de 2008, quando a crise financeira internacional estava a ganhar intensidade.

Os activos líquidos financeiros correspondem ao total dos activos financeiros detidos por uma pessoa, tal como o dinheiro em numerário, os depósitos bancários, os seguros de vida ou as acções, menos os passivos acumulados, nos quais se destacam claramente os empréstimos pedidos à banca. Não estão incluídos neste indicador os activos não financeiros, como as casas ou automóveis.

A recuperação da riqueza financeira líquida das famílias portuguesas acontece principalmente devido à evolução mais recente dos mercados. Nos três meses até Junho, as bolsas começaram a recuperar e os títulos accionistas detidos pelos particulares, que de Dezembro de 2007 até Março de 2009 tinham diminuído mais de 20 mil milhões de euros, voltaram a aumentar, passando de 111,4 para 113,5 mil milhões de euros. Durante o período de queda das bolsas, a riqueza investida em acções tinha diminuído, não só por causa da desvalorização dos títulos, mas também porque muitas pessoas decidiram transferir o dinheiro para depósitos. Agora, a ligeira recuperação deverá estar relacionada com a retoma das bolsas, que tinham atingido em Março o seu valor mínimo. Do lado dos passivos, as dívidas acumuladas à banca continuam a crescer de forma mais moderada.

Um recuperação da riqueza financeira das famílias portuguesas pode ser uma ajuda importante para concretizar a retoma da economia. Em condições normais, este facto pode criar condições para que suba a confiança dos particulares e, como consequência, se registe uma melhor evolução do consumo.
Ainda assim, é preciso notar, apesar da subida verificada durante o trimestre, quando se faz a comparação com o mesmo período do ano passado, continua a verificar-se uma variação negativa dos activos financeiros líquidos. Em Junho, a descida foi de um por cento, quando em Março era de 4,1 por cento.

Lucros das empresas caem
Do lado das empresas, as más notícias parecem estar a querer ser mais persistentes. Para além dos seus activos líquidos financeiros terem passado de um valor negativo de 270 mil milhões de euros para 276 mil milhões, os resultados conseguidos pelas empresas continuam a ser bastante piores do que os registados em igual período do ano passado.

De acordo com a central de balanços do Banco de Portugal - que agrega dados de empresas que correspondem a 39,5 por cento das vendas e prestações de serviços realizadas em Portugal -, durante o terceiro trimestre os resultados operacionais das empresas caíram 33,6 por cento face a igual período do ano anterior. Prolongou-se, assim, a tendência de descida deste indicador, que se regista já desde o terceiro trimestre de 2007.

Apesar de os custos com o pessoal terem voltado a abrandar, devido à redução do número de pessoas empregadas e ao abrandamento dos salários, as vendas analisadas caíram 14,9 por cento, face ao ano passado.