Henrique Monteiro, in Expresso.pt
Sendo um dos melhores países a acolher imigrantes, Portugal continua a ser um país de emigrantes. Isto significa que os melhores vão embora, não por falta de apoios sociais, mas por falta de oportunidades.
A distinção com que Portugal foi brindado pela ONU no que toca ao modo como recebe os imigrantes, honra-nos. Pessoalmente, sempre fui a favor da abertura dos países - sobretudo de um país como o nosso - aos imigrantes de todo o mundo, os quais devem usufruir de todos os direitos essenciais, desde que cumpram todos os deveres que são impostos à comunidade.
A minorar esta distinção, que é mérito do Governo - porque o Governo tendo responsabilidades, há-de ter os correspondentes louvores -, temos um número terrível: por cada 15 novos imigrantes que chegam, 100 portugueses partem do país, segundo um estudo de Helena Rato, do Instituto Nacional de Administração.
Ou seja, o nosso saldo demográfico é negativo e, pior do que isso, devemos estar a deixar fugir qualificação.
Mas porque partirão estes portugueses? Por não terem emprego, é quase certo. Mas, acima de tudo, por não haver em Portugal oportunidades suficientes; porque, em matéria de apoio social prestado aos desempregados e pobres não se poderão queixar do país, que os tem disponibilizado de forma crescente. Vejamos, a este respeito, números divulgados esta semana: só o Rendimento Social de Inserção foi este ano distribuído a mais 11,3% das pessoas, atingindo um número recorde de 385 164 beneficiários.
O Governo deveria, pois, dar prioridade não apenas ao emprego, mas ao apoio às famílias e à mobilidade no emprego, para não continuar apenas a subsidiar quase indiscriminadamente quem recorre ao Estado.
Se repararmos bem nos indicadores, verificamos que há imenso a fazer no campo do combate à pobreza e à desistência social, se houver criatividade e, sobretudo, justiça.
O fim da protecção cega ao emprego de modo a permitir que quem não o tem a ele aceda é apenas um exemplo. Outro, é a prevenção da gravidez na adolescência e das famílias monoparentais, que são hoje duas das principais causas de pobreza. Mas há, seguramente, muitos outros aspectos escondidos ou nunca referidos por politicamente incorrectos e se terem tornado dogmas de certa esquerda.
Se o Estado não atender a estes e outros problemas relacionados com a pobreza, limita-se a actuar a jusante, quando eles já são insolúveis. E, de um país assim, fogem aqueles que querem singrar na vida, progredir, ter um emprego, uma casa, uma família.
Como nos anos 60 fugiram das aldeias os melhores, hoje em dia fogem dos subúrbios aqueles que não se rendem a uma vida de dependência, sem rumo, sem luta e sem dignidade.
Texto publicado na edição do Expresso de 9 de Outubro de 2009