in Jornal de Notícias
Mulheres, com idade média de 35 anos, sozinhas, frágeis e na maioria provenientes da América do Sul, são as principais vítimas de tráfico para exploração sexual.
A descrição é de Paulo Machado, presidente do Observatório Português contra o Tráfico de Seres Humanos, entrevistado pela agência Lusa por ocasião do dia internacional e europeu pelo combate contra este fenómeno, que se assinala domingo.
O tráfico de seres humanos é um negócio muito rentável, que anualmente movimenta largos milhões de euros e que funciona com redes de distribuição transnacionais complexas e eficazes, estando sempre associado ao tráfico de droga, lenocínio e auxílio à imigração ilegal, entre outros crimes.
As centenas de milhares de mulheres e homens (estes utilizados para exploração laboral) traficados anualmente percorrem um circuito no qual são várias vezes vendidos, em diversos países.
"Uma mulher que vem de um país terceiro para a União Europeia para ser explorada pode ser vendida uma primeira vez por quatro ou cinco mil euros e passadas poucas semanas volta a ser vendida por igual quantia. Este processo pode repetir-se quatro ou cinco vezes", explica Paulo Machado.
"O valor de uma pessoa traficada neste terrível mercado pode atingir os 25, 30 ou 50 mil euros", sublinha.
As vítimas são identificadas pelas autoridades através de um conjunto de indicações: "não conhecem o local onde estão, não conhecem ninguém e não estabelecem relações sociais".
As acções de fiscalização dos inspectores do trabalho e das forças de segurança são consideradas fundamentais para sinalizar as vítimas.
Desde o ano passado existe em Portugal um sistema de monitorização deste crime, que tem actualmente 150 casos sinalizados. Desde Janeiro de 2008 foram confirmados 20 casos de mulheres, "novas e estrangeiras", utilizadas para exploração sexual.
"Há mais vítimas registadas, mas não significa que o número tenha aumentado", frisa o presidente do Observatório.
"As vítimas sinalizadas e confirmadas vêm da América do Sul, a grande maioria, da África, da Ásia e da antiga Europa de Leste", pormenoriza.
Contudo, "Portugal não é particularmente importante no tráfico como país de destino, funciona mais como uma passagem, um país de transição", destaca.
Segundo estudos sobre o tráfico de seres humanos, "não há apenas um país de origem e só um de destino, mas sim um país de origem e vários de destino".
"As vítimas, nomeadamente mulheres, podem passar por vários países e serem vítimas de vários actos de tráfico. A mobilidade é uma condição fundamental para quem pratica estes crimes, por isso, a troca de informação é vital", sustenta.
Este fenómeno é precisamente uma das prioridades da presidência sueca da União Europeia, que propôs aos Estados-membros um novo plano de acção que vai ser aprovado em Novembro.
A criação de um novo plano, mais pró-activo, significa, para Paulo Machado, "o reconhecimento de que é necessário mais ambição para combater o fenómeno, de que é preciso trocar mais e melhor informação".
No caso português, precisou, "poderá significar uma troca de informações mais profícua com o Brasil".