21.10.09

Jogo é um vício para 16 mil pessoas e leva ao aumento do crime, do divórcio e do suicídio

Por José Bento Amaro, in Jornal Público

Jogos de cartas eonlinesão os que causam maior dependência. Estudo diz que perfil está a alterar-se: jogador é cada vez mais novo


O número de jogadores dependentes está a aumentar em Portugal. Os valores não são alarmantes, sendo até um pouco inferiores à média europeia, mas indicam que já há no país cerca de 16 mil pessoas nessa situação. A maior preocupação para os autores de um estudo ontem divulgado a pedido da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa prende-se com o facto de os viciados serem cada vez mais novos, o que no futuro pode fazer disparar os valores e aumentar consequências sociais tão graves como a delinquência, o divórcio ou o suicídio.

No estudo desenvolvido, entre 2005 e 2007, por uma equipa da Universidade Católica de Lisboa, foi possível apurar que há 0,2 por cento dos portugueses que são dependentes do jogo. Essa dependência, segundo disse ontem o coordenador, Henrique Lopes, verifica-se, principalmente, nos jogos acedidos pela Internet e nos jogos de cartas. Uma conclusão que, de resto, veio dar motivos de satisfação à Santa Casa, que recentemente viu o Tribunal Europeu dar-lhe razão na acção que interpusera contra a empresa austríaca de apostas Bwin.

"O jogador dependente português, ao contrário do que sucedia há anos, já não é exclusivamente o homem com mais de 40 anos, com hábitos nocturnos, de consumo de tabaco e de álcool", adiantou Henrique Lopes, explicando depois que, a julgar pelos dados recolhidos após centenas de entrevistas telefónicas, existe agora uma percentagem muito elevada de jogadores (de risco e dependentes) cuja idade oscila entre 18 e 40 anos.

Por género, quase não existem diferenças entre os jogadores considerados de risco, sendo que as mulheres são, neste caso, mais dois por cento do que os homens. No entanto, apesar das mulheres serem classificadas de maior risco, são os homens os que apresentam maior dependência - 79 por cento contra 21 por cento. Uma outra das conclusões do estudo é a de que os dependentes do jogo quase nunca reconhecem essa mesma dependência. Só a título de exemplo basta referir que, entre os cerca de 40 mil jogadores de risco do país, há 68 por cento que admitem problemas com o jogo a dinheiro, mas, por outro lado, dos 16 mil considerados dependentes, apenas 20 por cento reconhecem esse problema.

Ressalvando o facto de nem todas as respostas às entrevistas poderem ser totalmente fiáveis, Henriques Lopes lembrou depois que entre 476 indivíduos entrevistados menos de um por cento dos que são considerados jogadores de risco recorreram aos préstimos de agiotas (actuação criminal), enquanto que entre os jogadores dependentes essa percentagem atinge quase os 18 por cento. Significativo é ainda o facto de entre o primeiro grupo de jogadores apenas um por cento já ter vendido património familiar, enquanto que a mesma actuação já foi praticada por 23 por cento dos que não se libertam do hábito do jogo.

O estudo apresenta ainda a particularidade de estabelecer conexões entre diversos hábitos. Assim, fica a saber-se que enquanto os fumadores são cerca de 15 por cento dos portugueses, os que fumam no grupo dos jogadores dependentes são 33 por cento do total. Quanto à dependência de bebidas alcoólicas a mesma é de um por cento no país e de 17 por cento entre os que se reconhecem como dependentes do jogo. A aposta nacional para prevenir problemas sociais decorrentes da dependência do jogo passará, em breve, pelo levantamento estatístico entre os mais jovens. Ontem, perante representantes de diversas instituições estrangeiras, Henrique Lopes disse que no futuro se procurará saber quantos menores até aos 12 anos já jogam regularmenteonline.