Alexndra Inácio, in Jornal de Notícias
Conferência apresenta balanço "extremamente positivo" do Plano Nacional de Leitura
00h30m
É "fundamental investir no pré-escolar" para se melhorar o rendimento escolar e atenuar as desigualdades de como cada criança entra no sistema - o princípio não é novo mas foi defendido ontem, quinta-feira, após um estudo comprovar a sua necessidade.
O "estudo longitudinal sobre níveis de desenvolvimento da leitura e da escrita - do 1º ao 6º ano de escolaridade", coordenado por José Morais da Universidade de Lisboa, foi apresentado, ontem, na III Conferência Internacional do Plano Nacional de Leitura (PNL), que termina hoje na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.
Quase 500 alunos do 1º ao 6º ano, de três escolas da região de Lisboa, serão avaliados anualmente. "O estudo ainda está numa fase inicial", começou por advertir José Morais. Os alunos dos 3º, 5º e 6º anos só começarão a ser avaliados a partir deste ano lectivo e os inquéritos feitos aos professores e encarregados de educação ainda não foram tratados, explicou.
No entanto, a partir dos primeiros resultados feitos aos 1º, 2º e 4º anos há uma constatação que sobressai: a distância entre as escolas mantém-se. Por exemplo, a fluência de leitura, no final do 4º ano, dos alunos da escola "B" é similar à dos alunos da escola "A" no final do 2º ano - os três estabelecimentos foram escolhidos com base nos resultados das provas de aferição de 2008 passando a ser designados por "A", a escola que revelou alto rendimento, por "M" a que teve médios e "B" a que teve baixos. Os alunos da escola "B" demonstraram dificuldades em distinguir palavras distintas com o mesmo som (por exemplo "nós" e "noz"). Não era suposto fazerem-no no final do 4º ano.
"Há o efeito escola - "A" e "M" têm rendimentos claramente superiores a "B"", sublinhou José Morais, atribuindo ao contexto socio-cultural das famílias e aos percursos diferenciados no pré-escolar razões para esses rendimentos escolares.
A diferença, argumentou depois João Costa do Conselho Científico do PNL, "é que os meninos da escola A já entraram no 1º ano a saber ler". O ponto de partida é determinante e por isso, recomendou, o "investimento no pré-escolar é fundamental".
"Fico sempre deslumbrado com o progresso da escola B - apesar de ter os piores resultados, globalmente são os que revelam maior evolução", defendeu. Para o docente, deveriam ser definidos "marcadores" - metas equilibradas para cada nível, independentemente dos contextos.
"O PNL não esgota todas as acções do sistema de ensino é apenas um complemento", defendeu António Firmino da Costa, responsável pela avaliação externa ao PNL que será hoje apresentada. Ontem, o professor do ISCTE limitou-se a sublinhar que o balanço é extremamente positivo: "Há mais pessoas a ler e maior reconhecimento social da importância da leitura".
Já a comissária do PNL não escondia o entusiasmo. Aos jornalistas, não se cansou de referir os novos projectos - como o "crescer a ler", que pretende oferecer livros a todas as crianças para estimular a leitura em família; o "voluntariado da leitura" ou o programa destinado aos adultos que frequentam o Novas Oportunidades.
"Alguém me abre o Ministério da Educação?!" - afirmou Isabel Alçada, na conferência, quando pediu aos técnicos ajuda informática na sua apresentação. Tanto a comissária - que se confirmou à tarde é a próxima ministra da Educação - como todos os presentes na sala soltaram uma enorme gargalhada. É, que de manhã, o convite ainda não tinha sido feito, garantiu a comissária à Imprensa.