10.10.09

Países da OCDE aceleram para a retoma mas a ritmos distintos

Por Sérgio Aníbal, in Jornal Publico

A zona euro, com a França e a Itália a liderarem, está a sair da crise mais rápido dos que os EUA, mostram


Os países industrializados do mundo continuam a dar fortes sinais de melhoria na conjuntura económica, com a zona euro a ser a região que lidera a recuperação e Portugal a conseguir, embora de forma mais lenta, acompanhar a tendência.

Estas projecções resultam dos dados referentes aos indicadores avançados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico ontem revelados. Estes indicadores têm como objectivo antecipar as mudanças de ciclo económico nos países membros desta organização e registaram durante o mês de Agosto, para o conjunto dos países industrializados do globo, a sexta subida consecutiva, um sinal claro de que estas economias estão a conseguir fugir da crise e já numa fase ascendente do ciclo.

Os números também mostram que é na zona euro que a retoma está a ser feita de forma mais rápida. No total dos países da moeda única, o indicador avançado chegou em Agosto aos 101,9 pontos, a sétima subida mensal consecutiva e um resultado que é superior em 4,1 pontos ao do mesmo mês do ano passado. Quando o indicador está a subir e fica acima dos 100 pontos, a leitura dada pela OCDE é a de que a economia está já numa fase de expansão.

O cenário europeu é mais positivo do que o dos EUA, onde o indicador avançado, apesar de também ter subido em Agosto, se encontra nos 97,4 pontos, um valor 1,6 pontos inferior ao do mesmo período do ano passado. Quando este indicador está a subir mas fica ainda abaixo dos 100 pontos, isto significa que a economia está já a inverter o ciclo negativo, mas ainda não está em expansão.

É de notar contudo que a OCDE avisa, nos seus relatórios, que os indicadores avançados que publica são mais eficazes a detectar mudanças de ciclo económico do que a distinguir, com exactidão, se uma economia já está em expansão ou se ainda continua a contrair-se.

Europa a várias velocidades

Dentro da zona euro também se registam diferenças significativas entre os países. França e Itália, com valores de 103,7 e 105,9 pontos respectivamente, estão entre os países que apresentam sinais mais claros de uma recuperação forte da economia. Algo que é confirmado pelos dados já disponíveis de produção industrial, que em Itália cresceram sete por cento em Agosto e na França 1,8 por cento, segundo dados também publicados ontem.

Outros países, no entanto, mostram, olhando para os indicadores avançados da OCDE, estar a fugir da crise de forma mais lenta. Portugal é um desses casos. Segundo os dados ontem divulgados, o indicador avançado para Portugal passou de 95 para 96,8 pontos em Agosto. Foi a quinta subida mensal consecutiva - o que comprova que Portugal já está a conseguir inverter a tendência negativa da economia -, mas coloca o indicador ainda 3,8 pontos abaixo do resultado de há um ano atrás, o que constitui uma das evoluções mais negativas entre os países da zona euro analisados.

Os indicadores avançados da OCDE têm revelado, ao longo dos anos, uma precisão considerável na forma como antecipam a ocorrência de viragens nas economias. Desta vez, estes indicadores também foram dos primeiros a "anunciar" a retoma, alguns meses antes de os dados oficiais começarem a mostrar que, especialmente em alguns países europeus, a recessão técnica tinha chegado ao fim.

Ainda assim, desta vez, os dados revelados parecem entrar em contradição com algumas da previsões efectuadas por outras instituições internacionais. No caso português, em particular, se é verdade que os indicadores avançados da OCDE mostraram que a contracção da economia seria mais moderada durante a crise - o que vai ao encontro da previsão do FMI de redução do PIB de três por cento contra 4,2 por cento na zona euro em 2009 -, agora projectam uma retoma portuguesa mais lenta - o que não bate certo com a previsão de crescimento de 0,4 por cento em 2010 contra 0,3 por cento na zona euro.