Luís Henrique Oliveira, in Jornal de Notícias
A qualificação da mão-de-obra "em sectores estratégicos" e a aposta na formação foram, ontem, sexta-feira, defendidas como as principais medidas contra a pobreza, realidade que afecta "mais de um quinto" da região de Viana.
"Entre 20 e 25 por cento da população do distrito de Viana do Castelo vive na pobreza, ou no limiar da pobreza, sendo a qualificação dessa mão-de-obra a principal aposta que o Alto Minho tem pela frente." Falando à margem de encontro ontem promovido pelo núcleo de Viana do Castelo da Rede Europeia Anti-Pobreza (REAPN), Hélder Pena, responsável por aquele organismo, considerou que, para a situação em que se encontra "um elevado número de famílias" de todo o distrito, "com relevo para as residentes em concelhos do interior", contribui a baixa produtividade que se verifica na região.
"Várias são as razões que estão na origem dessa baixa produtividade, principalmente, a reduzida qualificação de elevado número de trabalhadores, sectores de actividade de baixo valor acrescentado e, mesmo, uma débil gestão empresarial, o que leva a que diversas empresas estejam a atravessar momentos críticos no que concerne à sua estabilidade financeira", disse, aludindo aos municípios de Caminha, Ponte de Lima e Viana do Castelo como aqueles onde o flagelo social se fará sentir "com menor intensidade".
Contudo, no entender do responsável, o principal problema de exclusão social que se verifica na região do Alto Minho não está no desemprego, "mas sim nos baixos salários auferidos por elevado número de trabalhadores, pessoas cujos rendimentos não lhes permitem uma vida digna". Além da qualificação da mão-de-obra, a resposta para a problemática está na "reorientação estratégica dos sectores, de modo a incorporar valor acrescentado".
Hélder Pena afiançou, ainda, existirem casos de pobreza extrema na região: "Não temos qualquer dúvida disso. Não estamos é ainda em condições de quantificá-los, uma vez que muitas são as famílias que, por vergonha, optam por não dar a conhecer a situação económica em que se encontram, a nenhuma entidade".
Docente da Universidade Técnica de Lisboa, José António Pereirinha aludiu ao grau de instrução como o critério "que mais diferencia quem é ou não pobre", enfatizando que "nas camadas mais instruídas da sociedade a taxa de pobreza é das mais reduzidas". Considerando existir "muita demagogia" sobre a matéria, o governador civil, Pita Guerreiro, defendeu que a pobreza e a exclusão social "não devem ser apenas problema dos agregados que deles padecem e das instituições de solidariedade que os apoiam, mas de toda a comunidade".