12.10.09

Restaurantes oferecem 60 refeições por dia a famílias

Salomão Rodrigues, in Jornal de Notícias

Numa acção de solidariedade exemplar, 12 restaurantes de Santa Maria da Feira decidiram fornecer, diariamente, 60 refeições gratuitas a famílias que precisem de ajuda. A iniciativa começa na próxima sexta-feira.

Estima-se que sejam mais de 1800 as refeições que, ao longo de um ano, serão distribuídas gratuitamente pelos restaurantes do concelho a famílias que se encontrem em situação de comprovada necessidade. A Câmara, entidade promotora do projecto, enaltece a disponibilidade dos estabelecimentos de restauração, lembrando que foram os próprios a mostrarem disponibilidade para ajudarem os mais desfavorecidos.

"Aderimos à iniciativa de imediato porque faz todo o sentido". "Há muita gente desempregada e a necessitar de ajuda" justificam Miguel Bernardes e Ricardo Matos, proprietários do Restaurante Praceta, na Feira.

Naquele estabelecimento, frequentado por clientela da classe média e média-alta, "as pessoas que vieram fazer a sua refeição serão tratadas como qualquer outro cliente, podendo escolher da carta o que quiserem comer", garante Miguel Bernardes considerando que não há razão para ninguém se sentir constrangido em recorrer àquele apoio que é prestado com "toda a boa vontade", "sem pensar em contrapartidas".

O empresário diz-se preocupado e salienta que "não será fácil às pessoas desempregadas no concelho voltarem ao mercado de trabalho". Contudo, até nesta área se mostra disposto a dar uma ajuda. "Conhecemos muitos empresários e até posso, de forma informal, dar a minha colaboração para que essas pessoas possam arranjar emprego. Já tenho conseguido resolver alguns casos" afirma.

Para estes empresários da área da restauração, a simples vinda de uma família ao restaurante pode representar "um estímulo para saírem de casa e não estar apenas a pensar nos problemas". "Há trabalhadores que raramente podem ir a um restaurante", referem.

Uma atitude que é elogiada pela responsável da acção social da Autarquia. "Foram todos excepcionais e mostraram-se desde logo solidários com os mais necessitados", afirma Manuela Coelho. Diz que não há contrapartida para este gesto, mas ressalva que poderão ser os feirenses a compensarem os restaurantes solidários se os colocarem entre as suas preferências nas refeições.

"Responder rapidamente às situações de carência identificadas pelos diferentes serviços de acção e apoio social e estimular a responsabilidade social de algumas entidades particulares", é, de acordo com a responsável, a principal missão da iniciativa.

Sobre a possibilidade de algumas famílias carenciadas virem a mostrar algum receio na exposição pública, Manuela Coelho reafirma que os abrangidos por este apoio serão tratados "como qualquer cliente". E, sossegando quem receia estigmas, diz: "Se não quiserem usufruir da refeição no restaurante, podem levá-la para casa". A identificação das famílias a quem serão oferecidas refeições diárias será feita com base no trabalho integrado das várias instituições e grupos informais concelhios, que poderão accionar o apoio em parceria com a Autarquia. Estima-se que o desemprego atinja os 10% da população que se aproxima dos 150 cidadãos.

"Quem for seleccionado será tratado como um cliente"

"Já fui empregada de uma fábrica e sei bem o que é passar necessidades. Sempre tenho apoiado quem me pede ajuda e esta será apenas mais uma colaboração. Prefiro dar refeições do que andar a contribuir com dinheiro que nunca sabemos como vai ser gasto". As palavras são de Anabela Madureira, proprietária do Restaurante Feirense, um dos 12 que aderiram à rede solidária.

" As rendas estão caras. Há muitos desempregados que preferem pagar a renda para não ficarem sem casa do que fazer uma refeição adequada. Quem for seleccionado pode vir à vontade que será tratado como um cliente. Não vai haver diferença".

Grande parte dos proprietários dos estabelecimentos aderentes rejeita a divulgação pública no nome do seu restaurante. Uma das justificações, segundo fonte da Autarquia, prende-se com a protecção das famílias que ali se possam deslocar, garantindo-lhes o anonimato.