Paulo Monteiro, in Correio do Minho
“Acabemos com a pobreza já”. Este é o lema para 2010, Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social. As linhas gerais dos objectivos a alcançar foram traçados em Madrid, sob a égide de Espanha que detém desde o dia 1 a presidência da União Europeia. A campanha, agora em curso, visa colocar a luta contra a pobreza, que afecta directamente um em cada seis europeus, no centro das prioridades em toda a União Europeia durante este ano.
Durão Barroso, no seu discurso foi bem claro: “a luta contra a pobreza e a exclusão social é uma parte integrante da estratégia para sair da crise. São geralmente as pessoas mais vulneráveis que acabam por ser mais duramente atingidas pelo impacto da recessão”.
E o presidente da Comissão Europeia não deixa de ter razão. Mas o certo, o mais preocupante e o mais dramático é que a situação de pobreza — no caso concreto de Portugal —, vai disparando números alarmantes. Não há dados concretos de 2009, mas há sintomas muito claros: as instituições e os organismos não governamentais têm transmitido casos assustadores; são cada vez mais os portugueses a pedir ajuda e muitos vivem em situações desesperadas.
Os dados que nos chegam são os de 2008. Mesmo assim são números que nos deixam a pensar… o risco de pobreza ameaçava 18% da nossa população. São dados divulgados este mês pelo Eurostat. Os dados deste organismo, responsável pelas estatísticas europeias mostram que, por exemplo, em 2008, a percentagem da população portuguesa que não conseguia pagar uma semana de férias anuais fora da sua residência era de 64% (a média europeia era de 37%). Por outro lado, os portugueses são os europeus mais friorentos, 35% não conseguia ter a casa aquecida de forma adequada. Mas, entre muitos outros dados, um alarmante: 4% dos portugueses não conseguia, pelo menos de dois em dois dias, pagar uma refeição com carne, galinha ou o equivalente em legumes.
Estes são números que nos deixam a pensar. A crise, que gera desemprego, e muitas vezes em simultâneo no homem e na mulher, cabeças de família, está a afectar em demasia os portugueses. E os números não são mais dramáticos uma vez que existe uma grande subsídio-dependência, que esconde uma maior onda de pobreza.
Mas o problema tende a aumentar, nunca a diminuir e sem os sucessivos governos a terem a frieza, a solidariedade e o diagnóstico correcto para os resolverem.
Em Setembro do ano passado, Aurora Teixeira, professora da Faculdade de Economia do Porto foi co-organizadora de uma conferência sob o título: “O que sabemos sobre a Pobreza em Portugal?”. E foi clara: “têm existido esforços em termos de políticas p ara mitigar a pobreza, mas as questões são de tal maneira estruturais e persistentes que os pobres são sempre pobres e é muito difícil saírem desta situação”. E considerou mesmo que os subsídios são “um remédio pouco eficaz” que, muitas vezes, se torna “pernicioso”. É que, o subsídio pode ajudar, mas não vai resolver o problema. A ideia é dar uma cana e ensinar a pessoa a pescar. Tem de ser uma acção concertada entre vários ministérios, centrada na educação.
E outra grande questão têm a ver igualmente com as políticas dos governos. Sempre políticas diferentes, caminhos descruzados e que variam de quatro em quatro anos. Aurora Teixeira tem razão quando afirma: “um governo não resolve por si só o problema da pobreza”, cuja solução tem de passar pelas próprias pessoas e implica a adopção de políticas “por períodos mais longos do que os quatro anos de um Governo”. E tem razão. No combate à pobreza devia forçosamente de existir um pacto de regime. Uma convergência quase que universal para acabar com este flagelo. Ninguém o merece…
O combate à pobreza devia ser uma das grandes prioridades deste nosso país. A União Europeia já lhe dedicou o ano mas é preciso trabalhar para que seja erradicada, ou fazer todos os esforços para a diminuir.
É que, pensando que não… os caminhos vão lá todos dar… O pobre continua cada vez mais pobre. A nossa classe média já há muito que deixou de existir, tão massacrada foi durante tantos anos de apertar o cinto que já não existem mais buracos para o apertar. E é preciso mudar o rumo dos acontecimentos. O rumo das políticas. É preciso pensar mais nos outros e deixar o nosso umbigo de lado. É preciso unir esforços e não esbanjar o pouco dinheiro que nos resta. É preciso ser mais solidário.
E a falta de dinheiro leva muitos portugueses para caminhos desesperantes…
Só mesmo para terminar mais um exemplo com três pontos saídos esta semana de um estudo feito pela DECO sobre a Saúde…
- 650 mil portugueses estão em dificuldades; o número de famílias que abdicou de terapias necessárias, por não conseguir financiá-las.
- Crédito em família; no último ano 15% pediram, em média, 1100 euros para a Saúde. Os principais credores são familiares.
- Pacientes em risco; devido à falta de tratamentos, um terço revelou implicações sérias no seu estado de saúde.,
Meus senhores, estamos a falar da Saúde. A Saúde a que todos temos direito. A Saúde que todos nós, ao iniciar um novo ano, pedimos.
Temos todos muito que reflectir e, se já não há respeito, haja, no mínimo solidariedade… O povo merece-o!