Pedro Araújo, in Jornal de Notícias
Custo com juros subiria muito se os títulos da dívida fossem agora emitidos
Em Dezembro, o stock da dívida pública estava em 126,3 mil milhões de euros. Se, por hipótese, o montante fosse emitido ontem, os custos com juros a pagar aos investidores seriam mais caros em 631 milhões de euros do que um ano antes.
Trata-se de uma simples simulação, mas dá uma ideia aproximada do custo acrescido que poderia ter para Portugal caso se aplicasse o valor de ontem do "spread" da dívida nacional a todo o endividamento acumulado até ao final do ano ano passado (simulação com valores das obrigações do tesouro a 10 anos).
Outro exercício possível consiste em supor que os 16,7 mil milhões de nova dívida a emitir este ano (elevando o stock para 142,9 milhões de euros) eram ontem emitidos, pagando o Estado aos investidores os juros à cotação do dia. Nesse caso, o custo acrescido para Portugal seria de 117 milhões de euros relativamente ao "spread" (custo) praticado um ano antes (4 de Fevereiro de 2009).
Para se ter uma ideia mais aproximada do que significam mais 631 milhões de euros, bastará dizer que é um valor quase cinco vezes superior à receita do Imposto Único Circulação que o Estado arrecadou no ano passado (129 milhões de euros).
Outro indicador importante para aferir o risco da dívida portuguesa prende-se com os chamados "credit default swaps" (CDS), que permitem ao comprador dos títulos da dívida protegerem-se do incumprimento de crédito de um determinado emitente (Portugal, na circunstância). Esses seguros [facultativos] contra o risco de incumprimento de Portugal atingiram ontem um novo máximo histórico, situando-se nos 224 pontos (14.ª dívida mais arriscada do Mundo). Ou seja, por cada 10 milhões de euros aplicados em dívida portuguesa, os investidores terão de pagar um seguro anual de 224 mil euros. Se a cotação dos CDS estava ontem nos 224 pontos, no primeiro dia do ano estava nos 98 pontos, isto é, por cada 10 milhões de euros os investidores pagavam 98 mil euros em seguros.
Mas a dívida pública, tão comentada pelas agências de rating, não afecta só o Estado. As empresas (banca incluída), sobretudo as maiores, também têm necessidade de se financiarem, nomeadamente através da emissão de dívida. Quando vão ao mercado tentar vender obrigações, os investidores não ignoram o próprio risco da república e, portanto, penalizam essas entidades lusas, fazendo-as pagar mais juros. E as famílias podem sofrer alguma consequência? Os bancos podem reflectir nos clientes os custos da dívida, aumentando spreads e as empresas em geral subir o preço dos seus produtos e serviços. Um verdadeiro efeito dominó.