8.2.10

Opinião - Combater a pobreza: compaixão ou com paixão?

Edmundo Martinho*,in Jornal de Notícias

Apobreza conduz à violação dos direitos humanos..." Este poderia ser o lema inspirador de 2010, Ano Europeu de Combate à Pobreza e Exclusão Social.

Aceitar resignadamente ou numa atitude de compaixão que um milhão e oitocentas mil pessoas em Portugal vivam abaixo do limiar da pobreza, é abdicar de afirmar os ideais de democracia e justiça social que Portugal tem vindo a consolidar.

Por isso precisamos de entender este combate como uma paixão. Que se afirma no empenho que aí colocamos mas de igual modo no profundo afecto que a determina. Sem lugar à desistência ou à hesitação. Combater a pobreza é nesse sentido uma tarefa de cada dia, mobilizando todas as energias de que pudermos dispor e percebendo que se o não fizermos é cada um de nós que fica mais pobre.

Chega de nos refugiarmos no conforto da ideia de que individualmente pouco podemos fazer. A imensidão da tarefa, a par da sua urgência, não dispensa ninguém.

Nenhum de nós pode ficar de fora. Cabe-nos acender e manter viva a esperança em quem já não acredita. Cabe-nos tudo fazer por quem não encontra motivos para olhar de frente para a vida e se projectar no futuro.

Em cada homem, em cada mulher, em cada criança que vê esmagado o seu direito mais básico de cidadania, encontremos a força e o exemplo de determinação que nos mobilize. Entreguemo-nos com paixão a esta causa do respeito pela dignidade e pelos direitos, única forma de respeitarmos a própria condição humana.

Pobreza é ficar indiferente.

*Coordenador nacional do Ano Europeu do Combate à Pobrezae à Exclusão Social