9.2.10

Subida dos juros é "inexorável" e já começou

Alexandra Figueira*, in Jornal de Notícias

Banqueiros avisam que pedir dinheiro será mais difícil e mais caro. Associação diz que "spread" pode subir já 0,5%.

Até quanto subirá o preço do dinheiro depende da imagem de Portugal junto dos investidores, mas a actual suspeição já fez subir os juros do Estado, depois da Banca e, agora, do resto do país. Associação de banqueiros admite aumento de 0,5% ainda este mês.

António de Sousa, presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), admitiu nos ecrãs de televisão o que os bancos já tinham deixado adivinhar: "o novo crédito à habitação com certeza que vai ser mais difícil e mais caro. Aliás, já está a ser mais caro". Logo depois, o presidente executivo do BPI, Fernando Ulrich, reforçou a ideia e disse que o aumento dos "spread" - a margem de lucro que os bancos somam à taxa de juro cobrada - é "inexorável".

"Muito provavelmente, durante o mês de Fevereiro já vamos ver a subida dos "spread" nos novos contratos", disse António de Sousa. O valor da subida "pode ser de meio por cento ou mesmo mais", Ou seja, quem fizer um crédito à habitação este mês poderá ter que pagar mais 0,5 pontos percentuais do que pagaria se o tivesse assinado em Janeiro, admitiu.

No caso de um empréstimo de 150 mil euros a 35 anos, indexado à Euribor a 6 meses e com um "spread" de 1%, a prestação mensal seria de 495 euros; se o "spread" subir para 1,5%, a prestação eleva-se a 535 euros, quase mais 40 euros por mês.

Entre os maiores bancos a operar em Portugal, só o Santander esclareceu, ontem, cobrar um "spread" mínimo de 0,7% (tanto quanto em Fevereiro de 2009) e máximo de 2,4% (acima dos 2% cobrados há um ano).

A lei que proíbe cobrar comissões na renegociação de créditos abre a porta para que o banco mude o "spread", pelo que é possível que o momento da renegociação seja aproveitado para subir o valor cobrado.

O que pensam os investidores

Se a subida dos "spread" será de 0,5 pontos percentuais ou não dependerá "do que acontecer esta semana", disse o presidente da APB. Ou seja, da forma como evoluir a percepção que os mercados internacionais têm da situação de Portugal. Em causa está o lucro que os investidores externos exigem pelo risco que correm em investir em títulos nacionais. Quanto mais arriscado acreditarem que esse investimento é, maior será a margem de lucro - a taxa de juro) - exigida (ler em baixo).

Neste momento, diz a APB, a Banca já está a pagar mais pelo dinheiro que pede emprestado no exterior. Como exemplo, lembrou que, há um ano, era normal encontrar "spread" de 1%, ou menos, no crédito à habitação, o que indicia que as entidades bancárias pagavam ainda menos; mas, na "sexta-feira passada, os bancos estavam a pagar "spread", em termos internacionais, de 2,2 a 2,5%", disse. E se os investidores internacionais se convencerem que Portugal é um país arriscado, o aumento poderá ser ainda maior, conduzindo a economia a "uma situação muito complicada".

Ainda ontem, a agência de "rating" Fitch voltou a comparar Portugal (e Espanha) à Grécia, dizendo que os três países vivem dias "inquietantes".

* COM AGÊNCIAS