26.4.10

Escolas pedem a lésbicas e 'gays' para esclarecer alunos

por Ana Bela Ferreira, in Diário de Notícias

Mais de 80 escolas do País, secundárias e básicas, solicitaram à associação de jovens homossexuais a promoção de debates e explicação do tema aos adolescentes


Dezenas de escolas básicas e secundárias estão a pedir à associação de jovens gays e lésbicas para esclarecerem os alunos sobre o tema da homossexualidade e bissexualidade. Segundo avançou a associação ao DN, no ano lectivo passado promoveram debates em 40 escolas e nos primeiros meses deste ano já tiveram pedidos para 37, tendo já realizado sessões em algumas.

O objectivo é combater a desinformação e a discriminação. Inicialmente, o projecto destinava-se apenas aos alunos mais velhos do 7.º ao 12.º ano, situação que começou a mudar, pois o ano passado foram feitos debates para os alunos do 3.º ciclo. "Começámos no ano lectivo de 2004/2005 e até ao ano passado falávamos mais com turmas do 12.º ano", reconhece Manuel Abrantes, da direcção da "rede ex aequo" - associação de jovens lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros e simpatizantes.

De ano para ano o projecto tem recebido cada vez mais convites para estar presente em escolas. "Há certas escolas onde vamos em anos consecutivos", conta o dirigente.

No início do ano, a associação envia informação sobre o projecto para os estabelecimentos de ensino e para o Ministério da Educação. "Mas o convite para irmos falar às turmas é sempre da escola", explica o responsável da rede.

Outras vezes, os voluntários do projecto educação são também convidados por outras organizações a falar para a população estudantil, mas em espaço fora das escolas. Em todas as formações é distribuído um manual para os alunos, com respostas, e um guia para os professores.

A discussão pública do casamento entre pessoas do mesmo sexo veio tornar este tema mais comum no dia-a-dia dos jovens. "Isso tornou-se assunto público e em 2008 fomos chamados a muitas escolas para falar do tema", adianta Manuel Abrantes.

Uma discussão que ajudou também a fazer com que se fale mais das questões relacionadas com a sexualidade, considera o dirigente. Por isso, "agora já não é estranho um professor convidar-nos para irmos falar com miúdos de 12 ou 13 anos", acrescenta.

No entanto, o maior interesse dos jovens durante as conferências é ouvir a experiência de cada orador. "As perguntas deles são sobre a nossa orientação e a experiência pessoal, as questões da discriminação e dos insultos", diz Manuel Abrantes. Uma tarefa facilitada pelo tom informal dos debates, já que os oradores têm todos menos de 30 anos, e tentam "que a conversa seja de igual para igual".

Os oradores notam ainda que o tema da orientação sexual é algo muito distante para a grande maioria dos jovens. "Eles não conhecem nenhum homossexual, bissexual ou transgénero", aponta o dirigente, que também participa nos debates.

Ainda assim, alguns jovens contactam mais tarde a rede para falar da sua própria orientação sexual. "Eles vêm ter connosco não porque a nossa conversa tenha despertado a sua homossexualidade mas porque não têm com quem falar sobre a sua orientação sexual", acrescenta Manuel Abrantes. Este contacto, contudo, não costuma acontecer no fim dos debates, por vergonha.

Ao longo dos anos, os voluntários da "rede ex aequo" perceberam que os alunos sentem falta de falar destes temas na escola. Manuel Abrantes entende que não é preciso uma disciplina particular, mas uma abordagem ao tema em várias disciplinas. "Mas não se fala disso em nenhuma disciplina, porque é um tema que diz respeito à privacidade de cada um", aponta.