in Notícias de Viseu
Ganha cada vez maior força a certeza de que a sociedade é a grande responsável pelas causas da pobreza. O grave da questão é os responsáveis não quererem ver o mal que têm feito, cada vez mais difícil de sarar. ‘É tempo de nos interrogarmos sobre o que é ou não a pobreza’ afirmou, no Solar dos Peixotos, em Viseu, Bruto da Costa. Falava no âmbito das conferências subordinadas ao tema ‘Novas Respostas a Novos Desafios’, levadas a efeito pelas Fundações do Inatel e de Mário Soares. Bruto da Costa, na explanação das suas ideias, adiantou que hoje é necessário encarar a pobreza de frente, embora tivesse reconhecido que a sociedade não está preparada para acolher as medidas necessárias para erradicar algumas das moléstias que se foram avolumando, o que obriga a ter outros procedimentos para que os pobres não fiquem ainda mais pobres. A ciência rompeu barreiras, quebrou tabus. Mas quais as ‘Novas Respostas da Ciência’ e que ‘Novas Éticas’? Até aqui quase só palavras.
Só palavras. Na verdade, ‘apesar de progresso persistem profundas desigualdades sociais’. Daí a actualização da palestra de Bruto da Costa sobre ‘Novas Respostas à Exclusão Social’, que tardam a ser verdadeiramente implementadas. A sessão foi extremamente participada, lotando por completo o salão. Mas será que todos saíram da reunião mais esclarecidos sobre e para os problemas da miséria? Nenhuma das pessoas que aderiram à iniciativa estava nesse rol, a menos que a sua ‘miséria’ seja outra (…). De qualquer forma é de elogiar a iniciativa que levou ao salão da Assembleia Municipal muita gente, sobretudo jovens, o que ‘é estimulante’. Oxalá, e perdoem-nos a ‘liberdade’ de expressão, que não tenham estado ali apenas para serem vistos, marcando presença... O orador disse que a lei mais completa para combater a mendicância e a errância foi a ‘Lei das Sesmarias’. Lei que obrigava a que todos trabalhassem.
Quem não o quisesse fazer ‘só tinha uma saída: abandonar o país’. Foi promulgada em Santarém a 28 de Maio de 1375, durante o reinado de D. Fernando. Hoje paga-se para não trabalhar… As únicas entidades que procuraram combater o ‘flagelo’ da pobreza, em todos os sentidos, desde o monetário ao cultural foram as ordens religiosas e as diversas instituições de origem cristã, que chegaram onde o estado nunca foi capaz de o fazer com a mesma ou semelhante eficiência. ‘Cultura básica de bem-estar… O Estado que resolva’ Bruto da Costa não ‘sabe’ explicar porque é que a pobreza continua a existir em Portugal em tão larga escala. Porém, pensando bem, uma das ‘razões’ pode assentar no facto de a ‘sociedade portuguesa desenvolver a cultura básica de bem estar’, deixando que o ‘Estado resolva’… A ‘persistência da pobreza desencadeou um fenómeno de habituação’. Um terço da população ‘atribui à pobreza um carácter fatalista’, outro terço diz que ser pobre se fica a dever ‘à preguiça’… No entender de Bruto da Costa a sociedade não está preparada para enfrentar ‘as medidas necessárias’. Duvida-se da ‘autenticidade dos poderes’.
O combate à fraude e a ‘emergência da cultura consumista atinge a própria noção de justiça’. Talvez por se misturar a ideologia e o fundamentalismo do mercado ou o cariz individualista com o facto da taxa de pobreza continuar a agravar-se, por falha da ‘política redistributiva’. Pensa que ‘é tempo de nos interrogarmos sobre o que é ou não a pobreza’, certo de que as suas ‘causas estão na sociedade’. O tempo da miséria ser ‘cultivada com ternura’ já ‘perdeu o seu tempo’. Subindo a outros patamares, adiantou que ‘com a globalização chegou o fim da geografia’, colocando em permanência o ‘clima de incertezas e de insegurança’. A isto tudo junta-se o ‘egoísmo’ e as deficientes ‘estruturas do poder’, com os ‘mais fortes a quererem ainda mais domínio’. E poder. A ‘revalorização do bem comum’ e a ‘existência de uma autoridade capaz de o promover’ nunca foi tão importante.