por Paula Cordeiro, in Diário de Notícias
'Rating'. Agência S&P baixou a notação de Portugal em dois níveis, para 'A-', ao considerar que metas orçamentais estão mais longe
A economia portuguesa conheceu ontem mais um duro golpe. A agência de notação financeira Standard & Poor's (S&P) cortou o rating da dívida da República Portuguesa, passando dos anteriores 'A+' para 'A-', um corte de dois níveis de que não há memória no mercado português. O outlook permanece "negativo".
A nova classificação de Portugal, a mais baixa de sempre, coloca o País como o segundo mais arriscado da Zona Euro para se investir, segundo esta agência, logo a seguir à Grécia, que onde também conheceu uma revisão em baixa, de 'BBB+' para 'BB-', o último patamar de risco, classificado como "lixo" (junk), abaixo do limiar mínimo que o Banco Central Europeu (BCE) requer para ceder liquidez.
Para a S&P, a justificação para esta descida está na maior probabilidade de Portugal não conseguir atingir as metas de redução do défice público, associada à previsão de uma estagnação da economia. "A descida de dois níveis reflecte a nossa perspectiva de que Portugal enfrenta riscos orçamentais amplificados", refere a agência, no relatório ontem emitido.
Causa ou consequência, a dívida portuguesa voltou ontem a subir, com os juros da yield (rentabilidade) em alta pelo 11.º dia consecutivo. O spread dos juros das obrigações a 10 anos superaram os 250 pontos-base face aos títulos de referência, ou seja, as obrigações alemães, com os juros nacionais a chegar aos 5,511%.
Também no que respeita ao mercado dos seguros da dívida, os CDS (credit default swaps), o risco de Portugal atingiu um valor recorde, subindo 351,9 pontos-base.
Segundo a S&P, "o pontecial de crescimento económico irá provavelmente permanecer fraco, limitado pela reduzida competitividade internacional, baixos ganhos de produtividade, estagnação do investimento e queda do crédito a nível doméstico, dado o elevado nível de endividamento do sector privado".
Reagindo a este corte no rating, Teixeira dos Santos, ministro das Finanças, afirmou que Portugal está a atravessar "um momento decisivo" e que "o País tem de responder a este ataque dos mercados" (ver texto ao lado).
Sem ter ocorrido divulgação de novos dados económicos nos últimos dias e depois de recentemente a S&P ter dado um parecer positivo ao Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) português, este corte agora anunciado resulta da actual crise qu se vive na Zona Euro, nomeadamente na Grécia, e do efeito contágio desta situação, com os especuladores a apostarem em que Portugal será o próximo país a entrar em dificuldades.
Para evitar este e outros efeitos, a UE já anunciou que vai aprovar o pacote de ajudas à Grécia numa cimeira extraordinária que terá lugar a 10 de Maio.
Por cá, responsáveis e analistas consideram que esta decisão da S&P foi um pouco inesperada. Para Filipe Garcia, da consultora financeira IMF, nem toda a responsabilidade por esta situação "é nossa". O País tem de encontrar alternativas de financiamento, através de empréstimos bilaterais, antes de ir ao mercado financiar-se.
Rui Constantino, do Santander Negócios, considera que a primeira prioridade consiste "em assegurar que não há necessidade de financiamento e recurso aos mercados internacionais".
Para a analista do BPI, Paula Carvalho, a revisão da S&P foi forte de mais, "excessivamente influenciada por uma situação" que nos escapa.
O presidente da CMVM, Carlos Tavares, disse que, na qualidade de regulador dos mercados, não deve comentar o tema, mas não deixou de tecer críticas à demora da criação de regras europeias que emprestem mais transparência ao mercado da dívida