Ana Paula Lima, in Jornal de Notícias
Cluster pode dar mais valor acrescentado às exportações do Norte
A constituição no Norte do Health Cluster de Portugal (HCP) - Pólo de Competitividade da Saúde foi um passo pioneiro na interligação das áreas de actividade ligadas a este sector que parecia passar despercebido na sociedade portuguesa.
O JN está a publicar uma série de trabalhos sobre os desafios estratégicos que se colocam ao Porto e ao Norte, na sequência do repto lançado pelo presidente da República.
A investigação e inovação em áreas como a dos medicamentos ou dos dispositivos médicos existe em Portugal e este cluster pretende dar visibilidade a esta realidade nacional, mas visa sobretudo fomentar a divulgação internacional do que se faz em Portugal.
Para o professor de economia, especialista na área da saúde, da Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais FCEE), da Universidade Católica Portuguesa, Miguel Gouveia, este cluster apesar de ser recente e ter poucas iniciativas desenvolvidas, "é bem pensado e é uma forma interessante de se conseguir internacionalizar" as empresas portuguesas.
"Acho que o potencial é grande, mas a internacionalização é muito difícil, porque fora de portas a concorrência é muito grande", frisa Miguel Gouveia. Para o professor da FCEE o HCP, "o cluster tem potencial", apesar de ter uma formação "muito heterogénea, o que pode não ter muito impacto a nível da economia".
A sede do cluster a Norte é outra das características que este economista diz "fazer todo o sentido". Além de ser nesta região que estão as indústrias é também no Norte que estão "as pessoas que sabem o que é concorrência internacional", frisa Miguel Gouveia.
A expectativa é que este cluster modifique a perspectiva sobre a economia da região que perdurou nos últimos anos. "Uma das coisas que este cluster vai permitir é uma nova integração da região no mundo", salienta Jaime Quesado, especialista em estratégia, competitividade e inovação.
"O perfil clássico das exportações em volume e baixo valor acrescentado está a mudar. Hoje existe uma lógica diferente e a região Norte aposta em áreas de ponta, em novos produtos e serviços. Há uma reorganização do perfil da economia do Norte" que este cluster pode potenciar, conclui Jaime Quesado. Neste sentido, o especialista acredita que este tipo de iniciativa pode contribuir para que "novos sectores de actividade induzem novos desafios em sectores tradicionais", como é o caso do têxtil que ainda predomina na região.
Igualmente relevante, segundo o especialista, é a vantagem competitiva que uma integração de empresas da área da saúde e serviços a ela ligados e universidades pode significar para a investigação, tendo como finalidade a criação de novos produtos que se afirme no mercado a nível global. "A investigação assim coordenada pode resultar no aparecimento de produtos mais rapidamente", defende Jaime Quesado.
Entre as empresas ligadas ao sector da saúde a expectativa é grande. Victor Rodrigues, administrador da Lineamedica, empresa que criou uma marca própria de dispositivos cirúrgicos de uso no bloco operatório, acredita no potencial do HCP. O gestor tem, de resto, vontade de se tornar membro do HCP, porque acredita que este é um pólo importante "de troca de informação e conhecimento entre empresas e empresários do sector" que pode potenciar novos negócios.
Entre os objectivos a concretizar de futuro, divulgados pelo HCP, está a meta de nos próximos dez anos lançar cinco novos medicamentos nacionais e 50 métodos de diagnóstico ou dispositivos médicos inovadores. O pólo de competitividade pretende, ainda, chegar a 2018 com um volume de negócios de cinco mil milhões de euros e uma quota de exportação de 70%.